Muito além da ilustraçãoA inusitada caricatura de Drummond criada por Carlus Campos para ilustrar a matéria O poeta gauche de sete faces (publicada em 12 de agosto deste ano no caderno Vida & Arte Cultura do jornal O Povo de Fortaleza) conquistou o primeiro lugar da categoria no 9.º Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco.
Leigos poderiam avaliá-la como uma simples caricatura, tradicional e com a esperada ênfase exagerada nas características físicas de Drummond. Mas o olhar especializado do júri do FIHQ 2007 não teve a menor dúvida em premiá-la, entre mais de 700 trabalhos de artistas de 28 países, com o primeiro lugar da categoria Caricatura do Salão, cuja exposição fica em cartaz até 7 de outubro nas dependências da Torre Malakoff, em Recife (PE).
Quem assina a imagem é Francisco Carlus Campos, o Carlus (ou Carlão, como é conhecido na redação do jornal em que trabalha). Para conseguir o resultado final, o ilustrador e caricaturista resolveu pôr a mão na massa — ou melhor, na macaxeira. Sim, a cabeça de Drummond, na imagem, foi esculpida a partir daquele rizoma também conhecido, Brasil afora, como aipim.
A caixa que guarda a peça recebeu texturas de tinta acrílica, assim como o inusitado "Drummond". Depois, o próprio Carlus fotografou a peça e, no computador, fez as interferências necessárias com o software Photoshop. "Confesso que, quando terminei, ela (a caricatura) me surpreendeu. Aproveitei esse trabalho e mandei-o pro Salão. E aí venceu, né?", conta Carlus, revelando a timidez e poupando predicados à própria arte.
Quem vê tanta humildade numa resposta com certeza se impressiona com o currículo do artista. Carlus Campos já faturou o primeiro prêmio no mesmo Salão, em 2002, também na categoria Caricatura. Este ano, foi finalista com outras três peças inscritas na modalidade Ilustrações Editoriais. Em outras edições do FIQH, recebeu menções honrosas e já obteve destaque em eventos nacionais e internacionais — como o Salão Nacional de Humor de Lajeado (2002) e Le Salon International du Dessin de Presse et d'Humour Saint-Just-Le-Martel (França, 1994).
O sucesso das caricaturas e ilustrações de Carlus deve-se, principalmente, à ousadia do artista, que gosta de sair do trivial na hora de desenhar. "Ultimamente estou experimentando sair um pouco do traço e do papel e começando a usar fotografia. Faço a foto e faço interferências com desenho. É uma procura que a gente faz de sair do senso comum da caricatura, da simples distorção. Procuro levar um caminho mais para a arte. É um diferencial", detalha.
A construção artística de Carlus segue uma tendência de inovação na composição das imagens caricaturais. Ultimamente, nos salões internacionais de humor de Piracicaba e de Pernambuco, alguns dos mais importante do País, os primeiros lugares foram justamente para os trabalhos que buscaram esse tipo de viés surpreendente. O artista toma esta idéia para si por ela romper as barreiras que delimitam o que é um ilustrador e o que é um artista plástico.
"De repente você é um caricaturista tradicional, que só trabalha com bico de pena, mas de repente você é um artista plástico, de outra área, mas que tem uma sacada de um trabalho que é das duas áreas", explica. Na conquista desse primeiro lugar, Carlus Campos faturou R$ 6.000, quantia que já tem destino certo. "Vou sair do vermelho, né? Quem sabe comprar um computador novo?". Para quem quer seguir a carreira de caricaturista e ilustrador, vai aí a dica preciosa do vencedor: "O segredo do caricaturista, do ilustrador de humor, é estar antenado com o que está rolando, tanto em termos de arte como de fatos. Isso é fácil porque a gente tem um mundo na Internet, mas tem que estar sempre descobrindo técnicas, se reciclando", conclui.
PRIMEIROS TRAÇOS
Todo artista mostra que é da área logo na infância. Com Carlus Campos não foi diferente: o artista começou a revelar-se ainda pequeno em Russas, no interior do Ceará. "As lembranças mais remotas que tenho são debaixo de um pé de tamarindo que ficava em frente lá de casa. Quando chovia, ficava aquele chão úmido. Então eu começava a reproduzir monstros de seriados de TV que eu via naquela época", lembra.
Autodidata, Carlus praticou desenho durante toda a infância e adolescência. Profissionalmente, mesmo, ele começou só em 1997, quando chegou ao jornal O Povo como estagiário e, por sua competência, acabou ficando. Atualmente, Carlus estuda Jornalismo. Sem revelar pretensões de ser repórter, mas crendo que o curso pode ajudá-lo a aperfeiçoar o ofício, ele dá um passo além na vida profissional. "Quero que seja algo que venha a acrescentar à minha carreira de artista. Se vou escrever, acho que isso será uma conseqüência, mas, no momento, eu quero é pegar essas informações que estou tendo na faculdade e colocá-las no meu trabalho como artista".
*matéria especial publicada por Guilherme Cavalcante no jornal O Povo
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