20 janeiro 2010

A TERRA & A HUMANIDADE

Comunidade de destino*



Temos que começar o ano com esperança: urge fazer frente ao clima de revolta e frustração que significou a COP 15 de Copenhague.

Seguramente, o aquecimento global comporta graves consequências. Numa perspectiva mais filosófica, o fenômeno não se destinaria a destruir o projeto planetário humano. Mas, vem, porém, obrigá-lo a elevar-se a um patamar mais alto, existir concretamente: do local ao global e do nacional ao planetário.

Se olharmos para trás, para o processo da antropogênese, podemos seguramente dizer: a crise atual -- como as anteriores --, não nos levará à morte, mas a uma integração necessária da Terra com a Humanidade.

Será a geossociedade. Neste caso estaríamos, então, face a um sol nascente e não a um sol poente.

Tal fato objetivo comporta um dado subjetivo: a irrupção da consciência planetária com a percepção de que formamos uma única espécie, ocupando uma casa comum com a qual formamos uma comunidade de destino.

Isso nunca ocorreu antes e constitui o novo da atual fase histórica.

Inegavelmente, há um processo em curso que já tem bilhões de anos: a ascensão rumo à consciência. A partir de geosfera (Terra) surgiu a hidrosfera (água), em seguida a litosfera (continentes), posteriormente a biosfera (vida), a antroposfera (ser humano) -- e, para os cristãos, a cristosfera (Cristo).

Agora, estaríamos na iminência de outro salto na evolução: a irrupção da noosfera, que supõe o encontro de todos os povos num único lugar -- vale dizer, no planeta Terra -- e com a consciência planetária comum.

Noosfera, como a palavra sugere (nous em grego significa mente e inteligência), expressa a convergência de mentes e de corações que dá origem a uma unidade mais alta e complexa.

O que, entretanto, nos falta é uma Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade, que coordene as consciências e faça convergir as diferentes políticas.

Até agora nos limitávamos a pensar no bem comum de cada país. Alargamos o horizonte, ao propor uma Carta dos Direitos Humanos. Esta foi a grande luta cultural do século XX.

No entanto emerge, premente, a preocupação pela Humanidade como um todo e pela Terra, entendida não como algo inerte, mas como um superorganismo vivo, do qual nós, humanos, somos sua expressão consciente.

Como garantir os direitos da Terra junto com os da Humanidade? A Carta da Terra, surgida nos inícios do século XXI, procura atender a esta demanda.


*Leonardo Boff é teólogo, escritor e professor universitário

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