Bandes dessinées, fumetti, tebeos, mangá, muñequitos, comics, comiczeichnungen, historietas, banda desenhada: diferentes formas de dizer, ao redor do mundo, o que no Brasil conhecemos como "histórias em quadrinhos".
Em Fortaleza, uma exposição foi inaugurada dia 22 de novembro, com a proposta de ser um recorte da produção independente contemporânea mundial de quadrinhos. O quadrinho independente (comix) surgiu nos anos 60 e fez desta mídia uma expressão artística, ao contrário do que acontecia até à década anterior, quando os gibis não eram mais que meios de entretenimento, explorados pelos grandes editores.
Reunindo 44 artistas representados por trabalhos originais e pranchas ampliadas — sendo sete cearenses, 17 de outros Estados brasileiros e 20 de países como África do Sul, Bélgica, Estados Unidos, Finlândia, França, México e Suíça — praticamente todos os artistas estrangeiros participantes jamais tiveram seus trabalhos publicados no Brasil. Trata-se da maior exposição de HQ já realizada na capital cearense.
A "Monstra Comix", segundo os responsáveis pela produção e curadoria (Weaver Lima, Franklin de Oliveira e Érica Zoe, do Núcleo ArtZ), traz ainda atividades paralelas para agitar ainda mais a exposição, incluindo palestras e debates com autores de quadrinhos e mostra temática de filmes. A seguir o bate-papo que o jornalista Claude Bornél, que assina a coluna Seqüencial no portal www.opovo.com.br, teve com os responsáveis pela exposição.
Seqüencial - O que é a "Monstra Comix"?
Franklin de Oliveira - A exposição "Monstra Comix" é uma continuação natural dos trabalhos desenvolvidos por nós do Núcleo ArtZ, de valorização do trabalho autoral. A exposição faz parte de um projeto maior que demos início nesse final de ano (2008), o projeto Monstra – que se divide em vários eventos (exposições, encontros, oficinas, festas, feiras etc).
Weaver Lima - A "Monstra Comix", especificamente, é uma exposição que exibe um pouco da produção contemporânea de histórias em quadrinhos. Trabalharam na seleção das HQs 3 pessoas: eu, o Franklin de Oliveira e a Érica Zoe. Selecionamos autores que se destacam dentro da cena independente dos quadrinhos.
Érica Zoe - São artistas que se utilizam do meio das HQs para expressar sua visão de mundo.
S - Como surgiu a idéia de montar a exposição "Monstra Comix"? Quanto tempo demorou para organizá-la?
WL - O convite partiu da equipe do Sobrado Dr. José Lourenço. Selecionamos o material e montamos toda a exposição em duas semanas. Isso claro, só foi possível nesse tempo porque a gente já tinha o material em mãos e trata-se de uma área que temos conhecimento. Mas a "Monstra Comix" vai mudando, aos poucos vamos acrescentando coisas e lançando publicações como parte da programação da exposição.
FO - Podemos dizer que a exposição já estava montada, no sentido de que estamos sempre observando o q está sendo produzido, vamos catalogando e criando "listas" com os nomes mais interessantes que encontramos. A "Monstra Comix" teve que ser montada nesse pouco espaço de tempo para abrir junto com a Bienal Internacional do Livro do Ceará. O difícil foi decidir quais entrariam e quais teríamos que deixar de fora. Mas era conseguir realizar nesse tempo ou deixar para o ano que vem... Esquecemos o que era dormir e entregamos tudo a tempo.
EZ - A exposição vai ficar em cartaz até fevereiro de 2009, portanto até lá teremos muitos acréscimos. É bom ressaltar que a nossa idéia é que a "Monstra Comix" aconteça sempre e que viaje pra outros locais também, já que trata-se de uma exposição de intercâmbio.
S - Qual é o principal objetivo da exposição?
EZ - Trabalhar um intercâmbio entre artistas ligados a HQ...
WL - Divulgar artistas que produzem boas histórias em quadrinhos. Divulgar artistas que buscam uma forma própria de produzir histórias em quadrinhos e conseguem bons resultados em suas tentativas.
FO - Desde 2005, quando realizamos o evento "Panorama Nona Arte", no Centro Cultural Dragão do Mar, buscamos identificar os produtores e repassar essa informação, principalmente para aqueles que não tem contato com histórias em quadrinhos. Nesse evento (PNA) focamos na produção de HQs no estado do Ceará. No ano seguinte, já dentro da Bienal do Livro, criamos uma programação exclusivamente dedicada às histórias em quadrinhos e à ilustração: o "Festival Internacional de Ilustração" (leia mais em www.opovo.com.br/colunas/sequencial/623536.html e www.opovo.com.br/colunas/sequencial/619564.html), que contou com a participação de Fábio Zimbres (SP/RS), Jean Galvão (SP) e do português José Carlos Fernandes e iniciou o processo de intercâmbio com artistas de outros estados e países. A exposição "Monstra Comix" continua esse trabalho de intercâmbio entre artistas e pretende apresentar até mesmo para os já iniciados em HQs, diversas propostas e estilos de se fazer histórias em quadrinhos, focando principalmente nos artistas independentes, e temos como artistas independentes aqueles que buscam formas alternativas, não apenas de impressão e comercialização de seus trabalhos, mas principalmente de concepção e realização de idéias.
S - Quantos países estão representados na exposição? Quais são os destaques em termos de autores e trabalhos?
FO - Dentro dessa edição da "Monstra Comix", três artistas ganharam salas especiais: Alberto Monteiro (RJ) considerado o mais influente nome da produção independente nacional dos anos 90; Rafael Sica (RS), desenhista que se destaca na atualidade por sua maneira singular de produzir tiras em quadrinhos; e José Carlos Fernandes (Portugal) autor de A Pior Banda do Mundo, premiada série que colocou o nome do artista entre os melhores autores de histórias em quadrinhos da atualidade.
WL - Até o momento, são 44 artistas de 11 países (Brasil, Portugal, Argentina, Espanha, México, França, Bélgica, África do Sul, EUA, Finlândia, Suíça) É difícil destacar um ou outro artista da exposição porque todos os selecionados são nomes importantes da atual produção mundial de HQs. Muitos, apesar de não tão conhecidos, são artistas que possuem obras muito bem resolvidas, que os destacam como grandes artistas além dos limites do meio das HQs. Quando a gente fez a seleção da exposição não procuramos selecionar artistas por países. A seleção foi feita priorizando a qualidade das HQs. Em decorrência do espaço físico, muita coisa ficou de fora. A "Monstra" é uma pequena mostra do que, na nossa opinião, existe de mais interessante no atual cenário atual da HQs.
EZ - No momento. (risos)
S - O que os visitantes da exposição vão encontrar sobre quadrinhos produzidos no Ceará?
FO - Separamos uma das salas para expor trabalhos realizados pelo Núcleo ArtZ, nem todos os trabalhos são histórias em quadrinhos, mas todos se utilizam da linguagem e da influência das HQs como suporte conceitual nas imagens expostas.
EZ - A exposição exibe trabalhos do Marcus Francisco, já falecido. Vamos tentar relançar em janeiro de 2009 a sua publicação Tipo blocomagazine que é uma raridade da história do quadrinho cearense...
WL - Tem também o Saulo Tiago, que é da nova geração de desenhistas de Fortaleza. É um cara que só lançou um zine, até o momento, mas seu trabalho possui uma forte carga pessoal que o destaca como uma das grandes promessas das HQs no nosso Estado.
S - A "Monstra Comix" é a maior exposição sobre quadrinhos já realizada em Fortaleza. Qual é o alcance que uma exposição como esta pode ter? Apenas quem curte quadrinhos ou um público mais amplo, ainda não iniciado na nona arte?
WL - A "Monstra Comix" exibe obras de artistas que utilizam o meio das histórias em quadrinhos para se expressar. é uma mostra de arte que discute muitas questões: ganância, fome, religião, filosofia, amor, costumes... São temas universais que interessam a todos.
FO - Nosso objetivo sempre foi esse, não delimitar para apenas um grupo específico. O que esta sendo exposto em primeiro lugar são idéias, observações sobre o mundo, há quem goste, há quem não goste. Há também aqueles não conhecem, que não sabiam que idéias como aquelas poderiam ser contadas através de quadrinhos.
EZ - São HQs pra quem tem estômago. Não são HQs pra menininhas mimadas... (riso geral)
S - De que forma a "Monstra Comix" pode contribuir para o público ver os quadrinhos de uma forma diferente, desprendendo-se do quadrinho comercial?
FO - Esperamos que o contato com tantas formas variadas de se usar a linguagem das HQs já sirva pra quebrar a regra de que quadrinho só pode ser feito de uma forma ou de outra, que só se pode abordar tal tema etc.
S - Acredita que a exposição pode evoluir para uma Bienal Internacional de Quadrinhos, como a que foi realizada no Rio de Janeiro em novembro de 1991? Por quê?
WL - Aí no caso seria regredir... (risos)
FO - Não é nosso objetivo ter uma Bienal Internacional de Quadrinhos e sim ter um evento de cultura pop, que abrange sim as histórias em quadrinhos, mas não se restringe a elas.
EZ - As HQs precisam dialogar com o mundo, não é? As HQs que estão na "Monstra Comix" fazem isso.
WL - Já acontecem vários eventos de quadrinhos no Brasil seguindo o formato dos eventos de quadrinhos que acontecem no mundo (convenções). Com a "Monstra Comix" queremos ser uma alternativa a mais. A proposta da Monstra é ser a Monstra mesmo...
S - Qual é a diferença entre quadrinho independente e quadrinho comercial (os Marvels e DCs)?
WL - Nos quadrinhos comerciais, escritores e desenhistas produzem produtos que têm que se adequar a regras e modismos para continuar a vender. Tudo é pensado em função do lucro financeiro. É impossível um artista trabalhar dentro da indústria comercial de quadrinhos. Quando eu cito artista, estou referindo-me a alguém que tem embasamento cultural e sabe o que é ser um artista na atualidade. A produção independente parte (em sua maioria) do desejo de se expressar artisticamente. Os artistas que trafegam nesse segmento nem sempre conseguem lucro financeiro com o seu trabalho, mas são responsáveis por mudanças significativas para o desenvolvimento e o reconhecimento das HQs enquanto arte.
FO - O termo independente não inclui o zineiro que escreve e desenha suas próprias histórias do Superman para tentar entrar na DC Comics.
EZ - Tem muita gente que edita suas próprias revistas, mas segue fórmulas das HQs comerciais. É um tipo de gente que se vende como independente, mas o que estão a produzir não representa o espírito da cultura independente.
S - Como você define o quadrinho independe no Ceará? De que forma ele se insere como manifestação cultural da rica cultura do Estado?
WL - No Ceará não existe uma tradição de quadrinho independente que possa definir algo. Mesmo se existisse uma tradição, tendo como base a nossa produção em outras áreas artísticas (musica, teatro, audiovisual etc) não seria tão fácil ser definida. A produção artística cearense tem como sua principal característica: "cada um, cada um". O formato "história em quadrinhos" é uma categoria artística como outra qualquer (literatura, audiovisual, musica, teatro, dança, artes visuais) que artistas utilizam para se expressar. Infelizmente, apesar de existir bastante gente produzindo quadrinhos no Ceará ainda não há incentivo específico para a área de quadrinhos em nosso estado. O motivo disso é a falta de conhecimento sobre essa área por parte dos responsáveis pelo incentivo as artes no nosso Estado.
EZ - Com falta de perspectivas, poucas pessoas dão continuidade à produção de HQ... No Ceará existe uma produção invisível que fica restrita a um publico segmentado, que vai se renovando através de desenhistas que surgem e somem rapidamente...
WL - A idéia do quadrinho independente tem se espalhado pelo mundo e isso vêm gerando uma série de HQs que apresentam outras propostas, criando um campo de discussão mais rico dentro das HQs. É claro que sempre vai existir quem prefira os enlatados. Mas, felizmente, agora podemos dizer que já existe um público que não quer mais os enlatados. É um processo lento, mas as coisas estão mudando.
FO - A "Monstra Comix" serve pra mostrar que um quadrinho de qualidade independe do local onde é feito.
*Autores que integram a "Monstra Comix": Everton (SP/CE), Érica Zoe (CE), Franklin de Oliveira (CE), Marcílio S. (CE), Marcus Francisco (CE), Saulo Tiago (CE), Weaver Lima (CE). Alberto Monteiro (RJ), Allan Sieber (RS/RJ), André Kitagawa (SP), Caco Galhardo (SP), Cavalcante (RJ), Clayton (PR), Fabio Zimbres (SP/RS), Guazelli (RS), Jaca (RS/SP), LAW (RS), Lourenço Mutarelli (SP), Melius (DF), MZK (SP), Odyr (RS/RJ), Paulo Batista (SP), Rafael Sica (RS), RHS (PR). Aurelie Guillerey (França), Cizo & Winshluss (França), Conrad Botes (África do Sul), Daniel Clowes (EUA), Gully (México), Hans Nissen (Finlandia), Jorge Alderete (México), José Carlos Fernandes (Portugal), Liniers (Argentina), Luís Lázaro (Portugal), Maria Colino (Espanha), Martinez (Espanha), Matt Groening (EUA), Paco Alcázar (Espanha), Phillipe Vuillemin (França), Remi (Bélgica), Stephane Blanquet (França), Thomas Ott (Suiça).
SAIBA MAIS
Monstra Comix, exposição organizada pelo Núcleo ArtZ Produção Cultural www.orkut.com/Main#Profile.aspx?uid=14258415608625743465
a Monstra ocupa quatro andares no Sobrado Dr. José Lourenço,
à rua Major Facundo, 154 - Centro - Fortaleza/CE
Entrada: Grátis
Funcionamento: De terça a sexta, das 9h às 19h; aos sábados, das 10h às 19h; e aos domingos, das 10h às 14h
Aberta ao público até fevereiro de 2009
Em Fortaleza, uma exposição foi inaugurada dia 22 de novembro, com a proposta de ser um recorte da produção independente contemporânea mundial de quadrinhos. O quadrinho independente (comix) surgiu nos anos 60 e fez desta mídia uma expressão artística, ao contrário do que acontecia até à década anterior, quando os gibis não eram mais que meios de entretenimento, explorados pelos grandes editores.
Reunindo 44 artistas representados por trabalhos originais e pranchas ampliadas — sendo sete cearenses, 17 de outros Estados brasileiros e 20 de países como África do Sul, Bélgica, Estados Unidos, Finlândia, França, México e Suíça — praticamente todos os artistas estrangeiros participantes jamais tiveram seus trabalhos publicados no Brasil. Trata-se da maior exposição de HQ já realizada na capital cearense.
A "Monstra Comix", segundo os responsáveis pela produção e curadoria (Weaver Lima, Franklin de Oliveira e Érica Zoe, do Núcleo ArtZ), traz ainda atividades paralelas para agitar ainda mais a exposição, incluindo palestras e debates com autores de quadrinhos e mostra temática de filmes. A seguir o bate-papo que o jornalista Claude Bornél, que assina a coluna Seqüencial no portal www.opovo.com.br, teve com os responsáveis pela exposição.
Seqüencial - O que é a "Monstra Comix"?
Franklin de Oliveira - A exposição "Monstra Comix" é uma continuação natural dos trabalhos desenvolvidos por nós do Núcleo ArtZ, de valorização do trabalho autoral. A exposição faz parte de um projeto maior que demos início nesse final de ano (2008), o projeto Monstra – que se divide em vários eventos (exposições, encontros, oficinas, festas, feiras etc).
Weaver Lima - A "Monstra Comix", especificamente, é uma exposição que exibe um pouco da produção contemporânea de histórias em quadrinhos. Trabalharam na seleção das HQs 3 pessoas: eu, o Franklin de Oliveira e a Érica Zoe. Selecionamos autores que se destacam dentro da cena independente dos quadrinhos.
Érica Zoe - São artistas que se utilizam do meio das HQs para expressar sua visão de mundo.
S - Como surgiu a idéia de montar a exposição "Monstra Comix"? Quanto tempo demorou para organizá-la?
WL - O convite partiu da equipe do Sobrado Dr. José Lourenço. Selecionamos o material e montamos toda a exposição em duas semanas. Isso claro, só foi possível nesse tempo porque a gente já tinha o material em mãos e trata-se de uma área que temos conhecimento. Mas a "Monstra Comix" vai mudando, aos poucos vamos acrescentando coisas e lançando publicações como parte da programação da exposição.
FO - Podemos dizer que a exposição já estava montada, no sentido de que estamos sempre observando o q está sendo produzido, vamos catalogando e criando "listas" com os nomes mais interessantes que encontramos. A "Monstra Comix" teve que ser montada nesse pouco espaço de tempo para abrir junto com a Bienal Internacional do Livro do Ceará. O difícil foi decidir quais entrariam e quais teríamos que deixar de fora. Mas era conseguir realizar nesse tempo ou deixar para o ano que vem... Esquecemos o que era dormir e entregamos tudo a tempo.
EZ - A exposição vai ficar em cartaz até fevereiro de 2009, portanto até lá teremos muitos acréscimos. É bom ressaltar que a nossa idéia é que a "Monstra Comix" aconteça sempre e que viaje pra outros locais também, já que trata-se de uma exposição de intercâmbio.
S - Qual é o principal objetivo da exposição?
EZ - Trabalhar um intercâmbio entre artistas ligados a HQ...
WL - Divulgar artistas que produzem boas histórias em quadrinhos. Divulgar artistas que buscam uma forma própria de produzir histórias em quadrinhos e conseguem bons resultados em suas tentativas.
FO - Desde 2005, quando realizamos o evento "Panorama Nona Arte", no Centro Cultural Dragão do Mar, buscamos identificar os produtores e repassar essa informação, principalmente para aqueles que não tem contato com histórias em quadrinhos. Nesse evento (PNA) focamos na produção de HQs no estado do Ceará. No ano seguinte, já dentro da Bienal do Livro, criamos uma programação exclusivamente dedicada às histórias em quadrinhos e à ilustração: o "Festival Internacional de Ilustração" (leia mais em www.opovo.com.br/colunas/sequencial/623536.html e www.opovo.com.br/colunas/sequencial/619564.html), que contou com a participação de Fábio Zimbres (SP/RS), Jean Galvão (SP) e do português José Carlos Fernandes e iniciou o processo de intercâmbio com artistas de outros estados e países. A exposição "Monstra Comix" continua esse trabalho de intercâmbio entre artistas e pretende apresentar até mesmo para os já iniciados em HQs, diversas propostas e estilos de se fazer histórias em quadrinhos, focando principalmente nos artistas independentes, e temos como artistas independentes aqueles que buscam formas alternativas, não apenas de impressão e comercialização de seus trabalhos, mas principalmente de concepção e realização de idéias.
S - Quantos países estão representados na exposição? Quais são os destaques em termos de autores e trabalhos?
FO - Dentro dessa edição da "Monstra Comix", três artistas ganharam salas especiais: Alberto Monteiro (RJ) considerado o mais influente nome da produção independente nacional dos anos 90; Rafael Sica (RS), desenhista que se destaca na atualidade por sua maneira singular de produzir tiras em quadrinhos; e José Carlos Fernandes (Portugal) autor de A Pior Banda do Mundo, premiada série que colocou o nome do artista entre os melhores autores de histórias em quadrinhos da atualidade.
WL - Até o momento, são 44 artistas de 11 países (Brasil, Portugal, Argentina, Espanha, México, França, Bélgica, África do Sul, EUA, Finlândia, Suíça) É difícil destacar um ou outro artista da exposição porque todos os selecionados são nomes importantes da atual produção mundial de HQs. Muitos, apesar de não tão conhecidos, são artistas que possuem obras muito bem resolvidas, que os destacam como grandes artistas além dos limites do meio das HQs. Quando a gente fez a seleção da exposição não procuramos selecionar artistas por países. A seleção foi feita priorizando a qualidade das HQs. Em decorrência do espaço físico, muita coisa ficou de fora. A "Monstra" é uma pequena mostra do que, na nossa opinião, existe de mais interessante no atual cenário atual da HQs.
EZ - No momento. (risos)
S - O que os visitantes da exposição vão encontrar sobre quadrinhos produzidos no Ceará?
FO - Separamos uma das salas para expor trabalhos realizados pelo Núcleo ArtZ, nem todos os trabalhos são histórias em quadrinhos, mas todos se utilizam da linguagem e da influência das HQs como suporte conceitual nas imagens expostas.
EZ - A exposição exibe trabalhos do Marcus Francisco, já falecido. Vamos tentar relançar em janeiro de 2009 a sua publicação Tipo blocomagazine que é uma raridade da história do quadrinho cearense...
WL - Tem também o Saulo Tiago, que é da nova geração de desenhistas de Fortaleza. É um cara que só lançou um zine, até o momento, mas seu trabalho possui uma forte carga pessoal que o destaca como uma das grandes promessas das HQs no nosso Estado.
S - A "Monstra Comix" é a maior exposição sobre quadrinhos já realizada em Fortaleza. Qual é o alcance que uma exposição como esta pode ter? Apenas quem curte quadrinhos ou um público mais amplo, ainda não iniciado na nona arte?
WL - A "Monstra Comix" exibe obras de artistas que utilizam o meio das histórias em quadrinhos para se expressar. é uma mostra de arte que discute muitas questões: ganância, fome, religião, filosofia, amor, costumes... São temas universais que interessam a todos.
FO - Nosso objetivo sempre foi esse, não delimitar para apenas um grupo específico. O que esta sendo exposto em primeiro lugar são idéias, observações sobre o mundo, há quem goste, há quem não goste. Há também aqueles não conhecem, que não sabiam que idéias como aquelas poderiam ser contadas através de quadrinhos.
EZ - São HQs pra quem tem estômago. Não são HQs pra menininhas mimadas... (riso geral)
S - De que forma a "Monstra Comix" pode contribuir para o público ver os quadrinhos de uma forma diferente, desprendendo-se do quadrinho comercial?
FO - Esperamos que o contato com tantas formas variadas de se usar a linguagem das HQs já sirva pra quebrar a regra de que quadrinho só pode ser feito de uma forma ou de outra, que só se pode abordar tal tema etc.
S - Acredita que a exposição pode evoluir para uma Bienal Internacional de Quadrinhos, como a que foi realizada no Rio de Janeiro em novembro de 1991? Por quê?
WL - Aí no caso seria regredir... (risos)
FO - Não é nosso objetivo ter uma Bienal Internacional de Quadrinhos e sim ter um evento de cultura pop, que abrange sim as histórias em quadrinhos, mas não se restringe a elas.
EZ - As HQs precisam dialogar com o mundo, não é? As HQs que estão na "Monstra Comix" fazem isso.
WL - Já acontecem vários eventos de quadrinhos no Brasil seguindo o formato dos eventos de quadrinhos que acontecem no mundo (convenções). Com a "Monstra Comix" queremos ser uma alternativa a mais. A proposta da Monstra é ser a Monstra mesmo...
S - Qual é a diferença entre quadrinho independente e quadrinho comercial (os Marvels e DCs)?
WL - Nos quadrinhos comerciais, escritores e desenhistas produzem produtos que têm que se adequar a regras e modismos para continuar a vender. Tudo é pensado em função do lucro financeiro. É impossível um artista trabalhar dentro da indústria comercial de quadrinhos. Quando eu cito artista, estou referindo-me a alguém que tem embasamento cultural e sabe o que é ser um artista na atualidade. A produção independente parte (em sua maioria) do desejo de se expressar artisticamente. Os artistas que trafegam nesse segmento nem sempre conseguem lucro financeiro com o seu trabalho, mas são responsáveis por mudanças significativas para o desenvolvimento e o reconhecimento das HQs enquanto arte.
FO - O termo independente não inclui o zineiro que escreve e desenha suas próprias histórias do Superman para tentar entrar na DC Comics.
EZ - Tem muita gente que edita suas próprias revistas, mas segue fórmulas das HQs comerciais. É um tipo de gente que se vende como independente, mas o que estão a produzir não representa o espírito da cultura independente.
S - Como você define o quadrinho independe no Ceará? De que forma ele se insere como manifestação cultural da rica cultura do Estado?
WL - No Ceará não existe uma tradição de quadrinho independente que possa definir algo. Mesmo se existisse uma tradição, tendo como base a nossa produção em outras áreas artísticas (musica, teatro, audiovisual etc) não seria tão fácil ser definida. A produção artística cearense tem como sua principal característica: "cada um, cada um". O formato "história em quadrinhos" é uma categoria artística como outra qualquer (literatura, audiovisual, musica, teatro, dança, artes visuais) que artistas utilizam para se expressar. Infelizmente, apesar de existir bastante gente produzindo quadrinhos no Ceará ainda não há incentivo específico para a área de quadrinhos em nosso estado. O motivo disso é a falta de conhecimento sobre essa área por parte dos responsáveis pelo incentivo as artes no nosso Estado.
EZ - Com falta de perspectivas, poucas pessoas dão continuidade à produção de HQ... No Ceará existe uma produção invisível que fica restrita a um publico segmentado, que vai se renovando através de desenhistas que surgem e somem rapidamente...
WL - A idéia do quadrinho independente tem se espalhado pelo mundo e isso vêm gerando uma série de HQs que apresentam outras propostas, criando um campo de discussão mais rico dentro das HQs. É claro que sempre vai existir quem prefira os enlatados. Mas, felizmente, agora podemos dizer que já existe um público que não quer mais os enlatados. É um processo lento, mas as coisas estão mudando.
FO - A "Monstra Comix" serve pra mostrar que um quadrinho de qualidade independe do local onde é feito.
*Autores que integram a "Monstra Comix": Everton (SP/CE), Érica Zoe (CE), Franklin de Oliveira (CE), Marcílio S. (CE), Marcus Francisco (CE), Saulo Tiago (CE), Weaver Lima (CE). Alberto Monteiro (RJ), Allan Sieber (RS/RJ), André Kitagawa (SP), Caco Galhardo (SP), Cavalcante (RJ), Clayton (PR), Fabio Zimbres (SP/RS), Guazelli (RS), Jaca (RS/SP), LAW (RS), Lourenço Mutarelli (SP), Melius (DF), MZK (SP), Odyr (RS/RJ), Paulo Batista (SP), Rafael Sica (RS), RHS (PR). Aurelie Guillerey (França), Cizo & Winshluss (França), Conrad Botes (África do Sul), Daniel Clowes (EUA), Gully (México), Hans Nissen (Finlandia), Jorge Alderete (México), José Carlos Fernandes (Portugal), Liniers (Argentina), Luís Lázaro (Portugal), Maria Colino (Espanha), Martinez (Espanha), Matt Groening (EUA), Paco Alcázar (Espanha), Phillipe Vuillemin (França), Remi (Bélgica), Stephane Blanquet (França), Thomas Ott (Suiça).
SAIBA MAIS
Monstra Comix, exposição organizada pelo Núcleo ArtZ Produção Cultural www.orkut.com/Main#Profile.aspx?uid=14258415608625743465
a Monstra ocupa quatro andares no Sobrado Dr. José Lourenço,
à rua Major Facundo, 154 - Centro - Fortaleza/CE
Entrada: Grátis
Funcionamento: De terça a sexta, das 9h às 19h; aos sábados, das 10h às 19h; e aos domingos, das 10h às 14h
Aberta ao público até fevereiro de 2009