Pupunheiras
estão entre as primeiras plantas domesticadas pelos indígenas
(conteúdo publicado por Evaldo Ferreira:
19.01.17, em http://portalamazonia.com)
Foto: Divulgação
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A pupunha é um poderoso antioxidante, devido aos carotenoides e selênio que há em sua composição |
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Todo início de ano é a mesma coisa.
Como um presente dos deuses da floresta, o mercado Adolpho Lisboa, a feira da
Manaus Moderna, as demais feiras e os vendedores das esquinas enchem a cidade
de belos cachos de pupunha (Bactris gasipaes), com seus frutos verdes, amarelos
ou vermelhos. Quem resiste a pupunhas cozidas no café da manhã? E a tradição
vai longe, mesmo que a princípio seu uso primeiro fosse a extração da
madeira.
Segundo pesquisas realizadas por
Margaret Cymerys e Charles Clement do Instituto de Pesquisas da Amazônia
(Inpa), indicam que as pupunheiras estão entre as primeiras plantas
domesticadas pelos indígenas, há milhares de anos, mas seu uso como alimento é
muito tardio.
Eles não sabiam o que estavam
perdendo. Aliás, o palmito da pupunha, rico em nutrientes e vitaminas,
atualmente é bastante requisitado por chefs de restaurantes renomados do Sul do
país. Em comparação a outros palmitos, o da pupunha tem a vantagem comercial de
se formar mais rapidamente. Já o fruto é um poderoso antioxidante, devido aos
carotenoides e selênio que possui em sua composição, o que auxilia no combate o
envelhecimento da pele.
A pupunha pode ainda ser utilizada na
fabricação de pães, bolos e muito mais, conta a nutricionista do Inpa, Dionísia
Nagahama. "São preparações culinárias saudáveis com alimentos encontrados
na região, de baixo custo, utilizando as partes geralmente desprezadas desses
alimentos, como talos, cascas e sementes", explicou Dionísia que pesquisa
a culinária a partir das pancs (plantas alimentícias não convencionais), como o
tucupi de cubiu. No caso da pupunha, ela usa a polpa. E ainda tem o óleo, que
corresponde de 2% a 30% do fruto, e pode substituir o azeite de oliva.
Rica em nutrientes
As cores amarelas, laranjas e
vermelhas da pupunha são resultado do caroteno (70 ml por cada 100 gramas de
polpa), explicou Margaret Cymerys. "Quanto mais vermelha a polpa, mais
vitamina A ela possui, contribuindo para a saúde dos olhos, cabelos, unhas e
pele. A polpa de pupunha também oferece cálcio, ferro e fósforo", escreveu
Margaret. Outro estudo, sob a coordenação de Helyde Marinho, também do Inpa,
pesquisa quatro produtos à base dos óleos da pupunha e do buriti: sabonetes
líquido e sólido, emulsão evanescente e creme antioxidante. Todos patenteados e
prontos para serem industrializados.
500 cachos/dia
A família de Mel Gbson Dantas (que
não é o ator australiano), trabalha há mais de 15 anos na Manaus Moderna.
"Quando inicia dezembro começam a chegar os cachos de pupunha, vindos de
Coari, onde temos um sítio. Até março as remessas diárias não param" disse
o comerciante da feira da Banana. No sítio a família produz açaí, macaxeira,
mandioca, guaraná, abacaxi e pupunha, tudo vendido a seu tempo na feira, em
Manaus.
Por dia, a banca, onde trabalham
Gelcineide Dantas, tia de Mel, e mais quatro ajudantes, recebe 400 cachos de
pupunha. "Mas vendemos cerca de 500 cachos. Esses 100 a mais,
compramos de outros produtores que trazem a fruta do distrito de Caviana (na BR
174), de Fonte Boa e até de Boa Vista (RR). Não é porque é nossa, não, mas a
pupunha de nosso sítio é melhor que as outras, pois dura mais e chega aqui
fresquinha", garantiu.
As embarcações saem de Coari, do
sítio dos Dantas, diariamente, e levam um dia para chegar a Manaus. "Para
baratear o frete, as pupunhas vêm em pencas com três cachos e pagamos R$ 1,
pela penca. Se viessem os cachos separados, pagaríamos R$ 1 por cacho",
disse. Na banca da família os cachos custam de R$ 5, a R$ 35, "dependendo
da aparência dos frutos", revelou o feirante.
De 5 a 26 cachos
A pupunheira alcança 25 metros de
altura e cada tronco atinge de 10 a 25 cm de diâmetro. A planta forma uma
touceira com até 15 troncos espinhosos. Há muitas variações na cor da casca do
fruto (verde, vermelha, amarela, laranja), no teor de óleo (de 2% a 30% do peso
fresco) e no tamanho do fruto (de 10 a 200 gramas). Além disso, existem frutos
sem sementes.
A pupunheira floresce entre agosto e
outubro e frutifica entre dezembro e março, raramente até abril. Porém, existem
indivíduos que reproduzem fora dessa safra, especialmente em anos de chuvas
abundantes e em solos mais ricos em nutrientes. Quando está com flores, a
pupunheira é visitada por milhares de gorgulhos e outros besouros
polinizadores.
Cada pupunheira produz de cinco a dez
cachos por ano. No entanto, há palmeiras que chegam a produzir 25 cachos em
apenas um ano chuvoso, em solo bom. Cada cacho de pupunha pesa entre dois e
doze quilos e contém aproximadamente 100 frutos, podendo atingir até 400 frutos
por cacho.
Uma pupunheira pode produzir de 10 a
120 quilos de frutos. A colheita de um hectare pode variar de quatro a dez
toneladas por ano. Às vezes, ocorre baixa produção por causa da polinização
insuficiente, falta de chuva, falta de matéria orgânica ou solos compactados.
Festa da Pupunha
As tribos indígenas do alto dos rios
Solimões e Negro, no Amazonas, fazem uma festa durante a safra da pupunha. A
festa é regada por caissuma e por comidas feitas com os frutos cozidos e
farinha. Caissuma é uma bebida fermentada de pupunha e tem aroma de pêssego
maduro. Por isso o geógrafo, naturalista e explorador nascido na Prússia (atual
Alemanha) Alexander Von Humboldt criou, em sua passagem pelo Amazonas no século
19, os nomes europeus para a pupunha: "palmeira de pêssego"
(Portugal), "palmera de melacotón" (Espanha) e "peach palm"
(Inglaterra).
Palmito de pupunha
As vantagens do palmito da pupunheira
em relação às outras espécies do seu gênero é o pouco tempo para a formação do
palmito, o seu sistema de perfilhamento e as qualidades químicas do próprio
palmito. Ao cortar o primeiro palmito da palmeira (mãe), depois de 12 a 18
meses no campo, o perfilho já está bem crescido e dará seu palmito em mais 6 a
9 meses.
Bons para a saúde
Em Manaus, os frutos são
frequentemente consumidos depois de cozidos em água e sal e têm várias
qualidades. Valor nutricional: são uma excelente fonte de fibra alimentar,
proteína e alguns minerais, tais como ferro, zinco, cobre, manganês, magnésio,
cálcio, fósforo e potássio.
Benefício na prevenção de doenças
degenerativas: as cores vivas do fruto não são à toa: os tons que variam do amarelo
para o vermelho indicam alta concentração de carotenoides, substâncias ricas em
antioxidantes e que estão associadas à prevenção de doenças degenerativas.
Benefício para a pele: para quem
deseja combater o envelhecimento precoce, um dos principais benefícios do fruto
é sua grande quantidade de antioxidantes. Além de deixar a pele mais firme,
beneficia a visão, o sistema imunológico e os ossos, que são fortalecidos.
Benefício para a digestão: o palmito
da pupunha é um alimento pobre em gorduras e rico em fibras.