25 maio 2012

ORGULHO NERD

Eles estão entre nós (faz tempo)*

Jornal O Povo, de Fortaleza/CE, antecipa comemoração do
Dia do Orgulho Nerd e traz entrevista exclusiva com autores
da Enciclonérdia, Luís Flávio Fernandes e Rosana Rios

Rosana Rios e Luís Flávio Fernandes, os autores: "Caminhamos em direção
a uma nova espécie: o Homo sapiens está se tornando o Homo nerdus..."









Talvez você nem saiba, mas no dia 25 de maio é comemorado  internacionalmente o Dia do Orgulho Nerd. A data, que não foi escolhida de forma aleatória, presta homenagem à estreia do primeiro filme da série Star wars (em 25 de maio de 1977), e também ao Dia da Toalha para os aficionados pela trilogia O guia do mochileiro das galáxias. Estas e outras informações do gênero passam batidas entre não-nerds, mas são fundamentais para aqueles que se identificam como integrantes desta "tribo" urbana.
Este é o tipo de informação que você encontra no livro Enciclinérdia - Almanaque de Cultura Nerd, escrito a quatro mãos pelo especialista em software, e nerd assumido, Luís Flávio Fernandes e pela escritora de literatura fantástica Rosana Rios. Em entrevista exclusiva, eles explicam como o mundo se “nerdificou” e como os que antes eram rotulados de "esquisitos" hoje estão no comando.
O Povo - Como surgiu a ideia de escrever a Enciclonérdia?
 Rosana Rios - Estávamos escrevendo um outro livro, uma aventura juvenil de mistério. E vivíamos colocando referências nerds nos diálogos dos personagens... Aí, tivemos a ideia de escrever um livro juntando todas essas referências. Ora, a “nerdice” não tem fim! Quando começamos a relacionar e a pesquisar livros, filmes, seriados, frases, conteúdos de tecnologia e ciência que são apreciados pelo público nerd, quase ficamos loucos! E o resultado dessa loucura toda foi a Enciclonérdia.
O- Existe diferença entre nerd e geek?
 Rosana - Em essência, nerd e geek significam a mesma coisa. Mas a palavra geek acabou tendo um sentido mais ligado à tecnologia. Então, normalmente considera-se que um(a) nerd é uma pessoa inteligente, curiosa e que aprecia a faceta nerd da cultura - literatura, cinema, seriados, games, alta ciência, etc. A palavra geek passou a ser mais usada para definir o nerd que, especificamente, entende de tecnologia, física quântica, T.I. etc.
OP - Em que momento histórico o nerd vira o jogo, deixa de ser um defeito e passa a ser uma qualidade? A que se deve essa mudança?
 Rosana - Antigamente, o nerd era o CDF, a pessoa inadequada socialmente, tímida, retraída. Hoje, a “nerdice” é uma qualidade porque, com a mudança ocorrida no mundo, após a popularização dos computadores e da Internet, as sociedades perceberam que só tem sucesso acadêmico e profissional quem está acostumado a lidar com tecnologia, trabalhar em modo multitarefa, decodificar linguagens, ler muito... e todas essas características descrevem um nerd. Logo, o nerd passou a ser valorizado por sua inteligência , criatividade e curiosidade, enquanto os não-nerds precisam se “nerdificar” se quiserem fazer parte do século XXI...
 Luís Flávio Fernandes - Acho que a grande virada dos nerds acontece no momento em que surge uma verdadeira revolução tecnológica, com a popularização dos computadores pessoais e o advento da Internet, nas últimas décadas do século XX. É quando surgem também ícones nerds do sucesso econômico e pessoal, dos quais os mais famosos são Bill Gates e Steve Jobs. A partir daí, as pessoas começaram a perceber que ser nerd não é uma coisa negativa, mas é eventualmente um fator de sucesso.
O- O que caracteriza, nos dias de hoje, um nerd?
Rosana - Há vários tipos de “nerdice” hoje em dia. Não existe apenas um tipo particular de nerd: há aqueles que se especializam em informática, os cientistas (e há nerds em todos os campos da ciência), os escritores e apreciadores de literatura, os gamemaníacos... A lista é infinita. O que todos eles têm em comum é aquilo que já citamos: inteligência, curiosidade e capacidade de mergulhar em uma vasta gama de assuntos. E um nerd sempre pode se tornar mais nerd ao encontrar outro nerd e ambos trocarem figurinhas!
 Luís Flávio - Atualmente, a cultura nerd é muito mais valorizada, o que facilita que as pessoas se identifiquem com ela. Prova disso é a popularidade, principalmente entre os jovens, dos videogames, quadrinhos, filmes e livros de fantasia e ficção científica, que antigamente eram quase que restritos aos nerds mais hardcore. Por exemplo, há 40 anos, não acredito que um filme sobre heróis de quadrinhos, como os Avengers, pudesse bater todos os recordes de bilheteria. Acho até que, nos dias de hoje, e principalmente, nas gerações futuras, os nerds estão deixando de ser uma minoria.
OP - Ser nerd está ligado a alguma faixa etária ou transcende limites de idade? 
 Rosana - Não há limites de idade. Há crianças que já nascem com tendências nerds; e se conferirem a Enciclonérdia, verão que já existiam nerds em todos os períodos da História, só que a palavra para defini-los ainda não existia. Temos encontrado nerds dos 2 aos 100 anos... e, se observarem as crianças que nascem nos dias de hoje, concluirão, como nós, que caminhamos em direção a uma nova espécie: o Homo sapiens está se tornando o Homo nerdus...
 Luís Flávio - Concordo com a Rosana. Acho que o futuro da humanidade está nas mãos dos nerds, que estão em toda parte, independente de idade, sexo, ou qualquer outra categorização. O que deve tornar o mundo no mínimo muito mais divertido do que é hoje.

SERVIÇO  
 Enciclonérdia – Almanaque de Cultura Nerd,
 de Luís Flávio Fernandes e Rosana Rios (248 páginas)
 Preço:
R$ 39,90


 *Émerson Maranhão é editor da página  
Tendências e titular da coluna Cena G
em 
www.opovo.com.br



21 maio 2012

ADÃO & MIRIAN

Sem pecado e sem juízo*


Sexo, corpo, traição e risadas conduzem o bem-humorado livro lançado pela antropóloga Mirian Goldenberg, ilustrado pelo cartunista gaúcho Adão Iturrusgarai.

Pedalando no calçadão de Ipanema em 2006, Adão abordou a antropóloga e lhe disse ter ideias que afinavam com temas estudados por ela: sexo, relacionamento, corpo, infidelidade...

Os dois nunca mais se cruzaram, até que, cinco anos depois, Mirian escreveu ao cartunista propondo enfim consumar a parceria. O resultado é o livro Tudo o que você não queria saber sobre sexo, que acaba de sair pela editora Record.


Baseado em pesquisas da antenadíssima antropóloga, professora da UFRJ e colunista do caderno "Equilíbrio", da Folha de S.Paulo, Adão, que também colabora no jornal, desenhou cartuns e tiras coloridos para o volume.


São três os estudos de Mirian, realizados com homens e mulheres do Rio de Janeiro: um sobre infidelidade, casamento e sexualidade; outro dedicado à risada; e o terceiro, centrado em questões que abordam corpo, felicidade e envelhecimento (só este último tema ficou fora do livro).


Os desenhos de Adão por vezes refletem os resultados das pesquisas, noutras são licenças criativas que se mesclam a ilustrações com gráficos que reproduzem mais diretamente os questionários (exemplo: 60% dos homens já foram infiéis, contra 47% das mulheres).


"Descobri, no meu trabalho, que o humor mobiliza e faz as pessoas pensarem mais do que se estivessem diante de um texto analítico pesado. Este livro coroa essa tendência", explica Mirian.


Uma boa sacada de edição foi reproduzir a troca de e-mails entre os autores, descrevendo as brincadeiras e o processo de construção conjunta do trabalho.


Ali ficamos sabendo também que, com o dinheiro das vendas do livro, Adão sonha comprar uma casa maior, enquanto Mirian quer um belo massagista.


"Espero que consigamos atingir nossos objetivos: minha mansão com barco e seu massagista com cérebro", escreve Adão em uma mensagem. Ao que Mirian responde: "Quem disse que precisa ter cérebro?".


Confira algumas tiras:


















(*com edição de conteúdo publicado em www1.folha.uol.com.br)


11 maio 2012

PAISAGEM EM REDE

Tudo pelo social*




Você e sua empresa não precisam mais decidir se e como entrarão nas redes sociais: vocês já estão dentro delas.

A esta altura do jogo, as redes já estão falando de você, da sua marca, dos seus produtos. Ouvi-las tem que fazer parte do seu negócio. Pesquisá-las tem que fazer parte do seu negócio. Mas o que você mais precisa mesmo é de uma estratégia.

E não é uma estratégia de defesa, mas de ataque, e estratégia não só para o que dizer, mas também para o que ser. Porque só existe uma coisa mais social do que uma pessoa: uma empresa.

 
Quem não agregar esse valor da comunicação total ao seu negócio terá desvantagem competitiva diante das empresas que já fazem ou farão isso bem.

Há um potencial social natural em toda empresa — que agora terá de ser mais acessado e desenvolvido, sob o custo da obsolescência. Olhe para a sua atividade e pense como a capacidade de comunicação total pode transformá-la, para dentro e para fora. 


É preciso encontrar esse ângulo, que certamente está lá e será necessário, neste mundo com a velocidade do último chip.

Não é fácil, não tem histórico, mas é intenso e rápido, muito rápido. Fortes emoções estão garantidas.

 
As marcas agora devem ter sua personalidade, sua integridade e sua opinião.

Antes era um monólogo, agora é uma conversação, mais dissonante que consonante, e muito mais democrática do que antes. Impossível de entender pensando pequeno, criando limites.
Para começar, social não é uma mídia, é um espírito. Um espírito animal. Tudo o que poderia um dia ser social, agora será.

Música pode ser social. Leitura pode ser social. Fotografia pode ser social. TV pode ser social. Comprar pode ser social. Viajar, se informar, estudar, encontrar um emprego, um(a) namorado(a) são todas atividades que podem ser sociais e por isso se organizam e se organizarão cada vez mais em torno de redes como Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e outras que virão e irão.

 
Você não precisa se tornar um especialista nessas novas ferramentas, até porque elas passam.

 
Mas seja — sim! — um especialista em comportamento, entenda a suprema tecnologia humana, aquilo que chamamos de alma.
 
Aliás, é bom lembrar que as redes sociais sempre foram dominantes e determinantes — das associações mercantis da Idade Média aos fluxos de migração global. Foi com essa capacidade de organização social que vencemos tantos desafios.
 
No Coliseu romano, a plateia já usava o dedão para cima ou para baixo, como fazemos hoje no Facebook, para mostrar aprovação.
  
As redes sociais estão com tudo, mas elas não têm uma regra fixa. O que já sabemos: não basta anunciar, é preciso comunicar; não é só oferta, é relacionamento; não fique indiferente.


Mais do que a mensagem e do que o meio, agora é o modo. O modo social.
Mas é preciso tomar cuidados.
 
O sujeito entrou cabisbaixo no consultório do psiquiatra e explicou:
 
"Doutor, não sei o que está acontecendo comigo. Só ando com a cabeça baixa, olhando na direção do chão, não falo com ninguém, não ouço ninguém, não consigo ter longas conversas, manter o foco. Minhas mãos doem, meu pescoço dói. Doutor, o que eu tenho?".
"Um Blackberry."

Piada é uma das maneiras mais fáceis de contar verdades. O perigo das redes é o da alienação, do distanciamento pela proximidade superficial. É preciso equilíbrio e coerência. O que se faz na rede deve-se fazer fora da rede. Quanto mais o "on" estiver junto com o "off", mais força as duas bandas dessa nova realidade terão.
 
E não podemos confundir conexão com conversação. Afinal, fãs não são próximos e seguidores não são amigos.
 
O brasileiro é um ser social por definição e criação. As redes aqui avançam com rapidez maior do que na maioria dos lugares, e ficamos conectados mais tempo do que os outros.

 Isso só vai aumentar. Você não pode ficar de fora. Você já está dentro. Acomode-se. Incomode-se. Comunique-se.
 
E não digite com os dedos, digite com a alma
 

*Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC.
Imagem em FredCavazza.net


04 maio 2012

EM TORNO DA MARCA

Criando uma comunidade
de experiência e interesse*
 



Cada vez menos as pessoas curtem e seguem as marcas nas redes sociais. Com tanta coisa para fazer e descobrir, será que ainda temos tempo para segui-las? Será que elas estão sabendo como impactar, envolver e engajar de forma consistente seus fãs? 

Ainda estamos aprendendo a desenvolver essas comunidades de marca em torno de novos
tastespaces e a utilizar as novíssimas ferramentas em um meio tão complexo e dinâmico.

Mas estrategistas e marcas presentes nas redes sociais já sabem da importância de dialogar, envolver e se relacionar com seus públicos de interesse. O modelo B2C agora funciona muito mais na contramão: de fora para dentro. Invertendo-se o binômio: C2B e tornando os canais de comunicação vias de mão dupla.

Os tastespaces de marca são criados quando elas ouvem os feedbacks e as conversas de suas comunidades e são capazes de fazer curadorias de conteúdo relevantes e criativas. 
Cabe às marcas entender as práticas, atitudes e temas de interesse dos seus públicos, para criar uma comunidade por nexos de experiência e gostos compartilhados.

As comunidades de marca são plataformas coletivas, interativas e colaborativas, onde os diálogos são sempre horizontais, líquidos e amarrados aos temas de interesse dos diversos membros do grupo. Um bom estudo de caso é o da fanpage da Coca-Cola, entre outros inúmeros casos de sucesso. Estes tastespaces funcionam como um espaço interativo e colaborativo, on ou offline, que constitui um clube social ou um meeting point, onde podemos conhecer e trocar ideias com pessoas com os mesmos gostos e práticas.

Além de reforçar o posicionamento da marca, estas comunidades nos ajudam a dizer quem somos e a nos identificar com outras pessoas em um universo digital cada vez mais massivo e indistinto.


O papel das marcas é prever e antecipar, criar e oferecer valor através de uma eficiente gestão de conteúdos de interesse, informar, entreter e divertir, gerar fóruns de discussão, estabelecer nexos de filiação e diálogo entre as partes, orientar sobre os temas de interesse, selecionar e apresentar de forma atraente vídeos, imagens e textos que nos permitam conhecer mais do universo e do contexto em que a marca e seus fãs estão inseridos.

Não é ponto de venda e nem tampouco de promoção de seus atributos. É um espaço de socialização e interação, de troca de conteúdos e opiniões.
Alguns autores tentam explicar a razão que leva um grande número de consumidores a participar destas comunidades e tastespaces patrocinados por empresas e marcas nos mais diversos segmentos: Cova, 2002, Tapscott, 2006; Turner, 2006; Zwick, 2008, Kozinets, 2008, Anderson, 2009.

Muitas razões subjetivas e comportamentais são elencadas: por envolvimento com a marca; por busca de notoriedade, reconhecimento social no grupo ou capital social na rede; por serem entusiastas declarados de temas, interesses e gostos compartilhados; por pura diversão e passatempo.

Muitos se envolvem por algum tipo de recompensa material e objetiva: em forma de descontos, prêmios e amostras, convites para eventos; participando de concursos e competições ou pela possibilidade de ser contratado para o quadro interno da empresa ou ganhar expressão dentro de sua área de atuação.


Uma leitura mais antropológica nos mostraria talvez uma busca por diferenciação e pertencimento, ou quiçá, por uma busca ainda mais subjetiva de "sentidos da vida" ou construção de projetos de identidade e sociabilidade em um mundo esvaziado de significado e sentido.

Muitos desses consumidores que interagem nas comunidades de marca são os antigos participantes das tribos urbanas, que reaparecem em uma outra dimensão da realidade, num processo facilitado pela experiência de interação das redes sociais, para se reorganizarem como tribos de consumo ou comunidades de marca.


Os tastespaces de marcas e consumidores são uma tendência crescente nas mídias sociais: comunidades, fanpages, aplicativos, vlogs, flogs e blogs. Os brand lovers e os evangelistas das marcas e tribos de consumo, as comunidades de lead users e experts cooperativos, as crowds, swarms, hives e mobs de Kozinets, mas também os grupos de resistência e movimentos e coletivos de consumo ético, não consumo e consumo emancipado, estão cada vez mais presentes e ativos nas redes e comunidades de marca.

Este engajamento desses consumidores na rede e a busca por capital social dentro de suas comunidades são um sinal de que vivemos em uma época na qual o consumo, mais do que nunca, articula as relações entre os indivíduos e se tornou a principal forma de afirmação identitária, seja para negar ou afirmar pertencimentos a grupos ou se diferenciar buscando a afirmação de um estilo pessoal e de uma autoexpressão marcante.

Podemos entender esse modelo sociologicamente, a partir da lógica durkheiminiana: o incremento dos processos colaborativos vem aumentar o grau de interdependência entre os agentes, articulando novas formas de "solidariedade orgânica". Nesse sentido, as marcas constroem-se a partir da lógica dialógica com seus grupos de consumidores e estes se ressocializam a partir de práticas e ações dentro destes tastespaces

O branding de relacionamento é um facilitador social, cria e promove um novo campo de interações e diálogos em torno de interesses e práticas de estilos de vida e consumo, que movimentam e fortalecem as relações entre as pessoas.


*Sérgio Lage Carvalho é Mestre em Sociologia e Publicidade
pela USP e Consultor e Professor de Comportamento do
Consumidor dos cursos de MBA e Pós-Graduação da FIA,
ESPM, Rio Branco, FIT E IED. Artigo publicado
em 
http://mundodomarketing.com.br. Imagem em