Honestamente, nunca imaginei que tantas coisas positivas acontecessem ao Brasil nas últimas décadas. Ou melhor, pensei que as coisas mudassem para melhor logo após o final da ditadura militar, mas os primeiros governos civis foram frustrantes, com resultados pífios.
Entre as boas surpresas, destaco o sucesso no combate à inflação, o CDC-Código de Defesa do Consumidor e suas consequências, a redução da pobreza e a ascensão das classes C e D.
Confesso que esperava muito mais das agências reguladoras, e que é triste ver os brasileiros ansiosos por bons serviços públicos, submetidos a apagões de energia, a aeroportos mal administrados, a telefonia móvel de má qualidade e acesso à banda-larga idem.
A continuidade do poder absoluto do sistema financeiro é outra pedra no sapato do consumidor.
Entre as boas surpresas, destaco o sucesso no combate à inflação, o CDC-Código de Defesa do Consumidor e suas consequências, a redução da pobreza e a ascensão das classes C e D.
Confesso que esperava muito mais das agências reguladoras, e que é triste ver os brasileiros ansiosos por bons serviços públicos, submetidos a apagões de energia, a aeroportos mal administrados, a telefonia móvel de má qualidade e acesso à banda-larga idem.
A continuidade do poder absoluto do sistema financeiro é outra pedra no sapato do consumidor.
Nos últimos anos, com a valorização do real ante o dólar e a ampliação dos consumidores com alguma renda, enfrentamos outro fenômeno preocupante, que poderá desfazer parte da inclusão social: o encarecimento do País.
Especialmente em São Paulo e em outras grandes cidades, pagamos preços absurdos, extorsivos, quase inacreditáveis, por um prato de macarrão, pelo estacionamento do automóvel, por serviços em geral.
Estamos longe de contar com uma boa distribuição de renda. Há mais empregos formais, mas somos, em média, muito mal remunerados. É verdade que um empregador que pague R$ 2.000 para um profissional destina outro tanto em impostos e taxas ao governo.
Há vários fatores que condicionam a elevação de preços: alta carga tributária; especulação livre e desenfreada; crescente oligopolização da economia nacional; falta de mobilização dos consumidores.
Esqueçamos, por um instante, os três primeiros itens. Afinal, dificilmente mudarão no curto prazo, ainda mais sem ações concretas dos três Poderes para que isso ocorra. A mobilização, contudo, cabe a nós.
Por que não brigamos pelos nossos direitos? Por que não usamos nosso poder de fogo, como consumidores organizados, para boicotar, por exemplo, as empresas de estacionamento que nos cobram, em São Paulo, R$ 30 por três horas de “serviços”?
Porque podemos pagar. E também para não quebrar nossa rotina de imobilismo. Somos capazes de sair às ruas para protestar contra o fraco desempenho da seleção brasileira em campo.
Mas não nos dignamos a comparecer a uma esporádica reunião de condomínio do prédio, que decidirá, entre outras coisas, o reajuste da mensalidade cobrada pelos serviços prestados no edifício em que moramos.
Enfrentamos uma longa espera em um restaurante da moda, pagamos muito caro por um prato mais ou menos, e por um serviço de má qualidade, sem nenhum questionamento. Porém, se boicotássemos aqueles que abusam dos preços — sem nenhum espírito dos antigos "fiscais do Sarney" —, a situação mudaria. Mas, não, se há como pagar, que se pague.
Imóveis dobraram de preço. Nossos automóveis são caríssimos e não dispõem de itens de segurança para lá de básicos em países desenvolvidos. As tarifas de luz, de água, de telefone e de banda larga estão entre as mais salgadas do mundo.
Apesar disso, nem nos damos ao trabalho de avaliar, periodicamente, o trabalho dos políticos que elegemos. Na maioria das vezes, esquecemos os nomes dos candidatos nos quais votamos.
A cidade de São Paulo, uma das mais ricas do mundo, uma cornucópia de geração de tributos em todos os níveis de governo, está à matroca. Ruas esburacadas, trânsito infernal, transporte coletivo ruim, tudo isso permeado por apagões e por uma poluição insana, nos dias mais secos do inverno.
Assistimos a tudo como se fosse um filme ruim, de um Freddy Krueger que nos ameaça impunemente.
Ou nos mexemos, ou em breve tudo custará o dobro, porque quem cala, e aceita quieto, consente.
Como dizia uma personagem de humor, com sotaque norte-americano, "Brasileiro, tão bonzinho!".
*Maria Inês Dolci é coordenadora institucional da ProTeste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) e colunista do jornal Folha de S.Paulo (caderno Mercado). Imagem em http://media.photobucket.com