Uma reflexão político-astrológica
Corre na língua do mito grego que no princípio existiam Rhea ou Gaia (a Terra) e Urano (o Céu Estrelado). Mãe e filho. E cônjuges: todas as noites, Urano (ou Saturno) deitava-se sobre Gaia e fertilmente ia gerando e multiplicando sua prole. Entretanto, a deusa, exausta dessa copiosa relação, pede a um de seus filhos, Chronos, que a retire deste seu destino tão sofredor. Chronos, compartilhando da dor de sua mãe, decide ajudá-la. Com sua foice, aproveitando um momento de distração de seu severo pai, corta-lhe os testículos. O sangue do castrado cai sobre a Terra, fertilizando-a, enquanto seu sêmen jorra entre as águas do mar, dando vida à deusa Afrodite — divindade do Amor e da Beleza.
Tendo a acreditar que confundimos Estado com Nação. Não saberia entendê-los como sinônimos. Como Nação, entendo povo. É a Lua. Nossas raízes, heranças, o que trazemos conosco. É nossa família, nossas rastros que se reúnem. Pedaços entrelaçados, que ajudaram a construir o início do que nos somos. Povo é sinônimo de Nação. Nação sem povo, inexiste. Entretanto, existe povo sem nação. Pessoas que, unidas, vinculadas pelo sangue, pela história e pelo destino forjam sua nação.
Por Estado, entende-se um aparelho burocrático, que na idéia inicial de construção de uma realidade digna para seus cidadãos, forja-se nas entranhas da Nação. Qual é o seu objetivo, afinal? Saturno, sendo regente natural da Casa 10 de uma carta astrológica, é nosso pai, as figuras de autoridade, aqueles que estão no poder, o Estado. A Lua, significadora do povo, é senhora natural da Casa 4, oposta à casa 10.
São casas opostas, que realizam entre si um aspecto tido como difícil dentro do Saber Astrológico: a função de ambos é unir-se e completar-se. Dialogar com suas diferenças, enamorar-se. Será que isso se mostra como uma verdade constante? O Estado dialoga com o povo? Onde está o verdadeiro namoro? Ao confundir Estado com Nação, perdemos o verdadeiro enamorar-se. Valores essenciais — como o patriotismo — esvaem-se. Pelos caminhos da História, percebe-se um vício constante: o poder, simbolizado pelo Estado, na figura de seus governantes humilha e declina daqueles que são — em tese — seus filhos.
O pai (que, como citado, é simbolizado pela Casa 10 e por Saturno) é aquele que cuida, protege e fornece a seus filhos os subsídios para seu crescimento e fortificação. Um ótimo entendimento entre Casa 4 e Casa 10. Um namoro perfeito entre a Lua e Saturno.
Mas, petrificados há muito tempo, estão os deveres do Estado. Entre eles, o de fornecer ao povo (seus filhos) os subsídios para um crescimento digno e uma vida sadia: saúde, moradia, escola, alimentação, segurança. Será que o raciocínio está errado? Onde estão os deveres do Estado? Perderam-se no caminho?
O Estado aparece contraditoriamente como uma figura castradora, retirando do povo sua fertilidade — assim como Chronos fizera com o pai. No Brasil de hoje, muito pode ser percebido através da "Carta Astrológica do Grito do Ipiranga", onde Saturno — castrador e cerceador — localiza-se na Casa 3, a casa do ensino e da aprendizagem. Um forte indicador da deficiência do ensino brasileiro.
Nada melhor do que alienar seus filhos (o povo) por meio de uma base educacional limitada e deficiente. Obviamente que a figura de Urano ou Saturno mostra-se coerente, ao impor limites necessários para a exclusão do caos. Entretanto, a ordem preestabelecida deve ser simétrica aos interesses dos filhos da Nação, e não aos mandos e desmandos dos senhores do Estado. Diz o mito que Afrodite nasce da castração. De um ato de terror, nasce a deusa do amor. Esperando que o amor supere o terror, finalizo estas parcas reflexões iniciais de filhos que desejam entender e dialogar com seus pais.
*Binho Silva é apaixonado pela Astrologia e carrega a esperança dentro do peito aonde quer que vá.
(A figura de Chronos integra o acervo da Michael Whelan Gallery)
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14 fevereiro 2007
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