Propaganda sugere má alimentação
Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília (UnB) constatou que 72% das propagandas de alimentos veiculam mensagens para o consumo de produtos que fazem mal à saúde. A maioria desses produtos contém altos teores de gordura, açúcar e sal.
As cinco categorias mais veiculadas de produtos que afetam a saúde são 1) os fast-food; 2) guloseimas e sorvetes; 3) refrigerantes e sucos artificiais; 4) salgadinhos de pacote; 5) biscoitos e bolos. Estes alimentos contribuem para o aumento de doenças crônicas — como obesidade, hipertensão e diabetes.
A pesquisa revelou ainda que, entre canais de televisão abertos e fechados, 44% do total das propagandas de alimentos são direcionados para a persuasão das crianças. Abaixo, em entrevista concedida à Radioagência Notícias do Planalto, o presidente da ABJC-Associação Brasileira de Jornalismo Científico, Wilson Bueno, afirma que seria necessário haver uma restrição a essas propagandas, já que as publicidades que utilizam o depoimento (testemunho) de artistas induzem as crianças a um consumo não saudável.
Radioagência NP: Como você avalia as propagandas sobre alimentos no Brasil?
Wilson Bueno: Temos um problema sério. A propaganda de alimentos, sobretudo aquela voltada para o público infantil, tem realmente um efeito danoso. Não adianta as indústrias e muitas vezes as agências negarem. Falar que as crianças e as pessoas têm condições, elas próprias, de decidir o que é bom ou é ruim. Ou que não há esse tipo de influência, no sentido de conduzir a uma má nutrição, obesidade, aumento de colesterol, porque a propaganda é feita e é paga para funcionar. E se ela funciona, o efeito que causa é o de conduzir as pessoas, em particular as crianças, para a péssima alimentação.
RNP: As propagandas devem sofrer restrições?
WB: Sim. Deve haver restrições, como no caso do tabaco. Devem existir restrições às bebidas e às propagandas de medicamentos em geral. Não dá para acreditar na auto-regulação. Não devemos deixar esse tipo de coisa nas mãos das entidades que representam as empresas — as agências e os anunciantes — porque certamente eles trabalharão em causa própria.
RNP: Existem políticas públicas voltadas para uma boa alimentação? O que pode ser feito?
WB: Não, mas existem as pesquisas e um trabalho que está sendo muito condenado, mas na maior parte das vezes é bem feito é o da ANVISA-Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no sentido de indicar, sobretudo, para a propaganda de alimentos, de bebidas e de medicamentos, abusos inaceitáveis que influenciam a postura e comportamentos dos cidadãos. Institutos como o IDEC-Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e o Instituto Ethos poderiam trabalhar, de maneira que não seja truculenta, formas de discutir e restringir tais práticas. Não é possível deixar celebridades e artistas de televisão, em programas de horário infantil, induzirem as crianças ao consumo não saudável.
RNP: Como você avalia os hábitos alimentares do brasileiro?
WB: Muito ruins. Certamente não só influenciados pela propaganda, mas por uma educação que não contempla esse tipo de informação nas escolas. Há o problema da falta de vigilância nas escolas em relação ao uso de produtos não saudáveis, como por exemplo nas cantinas. E há um papel não-assumido de maneira adequada pela escola, pela família e pela sociedade como um todo.
RNP: É saudável o consumo de alimentos transgênicos?
WB: Devemos ter precaução. Devemos exigir rotulagem dos transgênicos. Tenho o direito de escolha de consumir ou não o transgênico. Esse direito não pode ser negado. Há esforço e um lobby poderoso de empresas de biotecnologia, no sentido de fazer com que a gente substitua culturas tradicionais que são importantes, sobretudo no caso do Brasil. Essa mudança para os transgênicos nos leva a uma perigosa dependência tecnológica, no caso específico das sementes de soja ou de algodão. Acho que falta discussão e observação de pesquisas que mostram os impactos ambientais e os problemas que esses produtos trazem para a saúde humana. Devemos ficar atentos, porque há interesses econômicos.
*por Desirèe Luíse, da Radioagência NP em São Paulo/SP
AGROECOLOGIA VERSUS ALTA DE PREÇOS DOS ALIMENTOS
Paralelamente a estas preocupações, integrantes de movimentos sociais brasileiros e representantes de países latinos estão reunidos desde quarta-feira (23 de julho), para debater formas alternativas para a produção de alimentos.
A VII Jornada de Agroecologia acontece em Cascavel, interior do Paraná, discutindo a reforma agrária, a alta do preço dos alimentos e a viabilidade de outros modelos de agricultura para produção de alimentos sem agrotóxicos e sem uso de sementes transgênicas — geneticamente modificadas. Durante o encontro, os camponeses irão trocar experiências bem-sucedidas de produção agroecológica.
Segundo o coordenador da Via Campesina — entidade que reúne movimentos do campo sediados nos quatro continentes — José Maria Tardin, as discussões ao redor da Agroecologia são importantes não só pela questão essencial da produção de alimentos saudáveis, mas também pela autonomia tecnológica que estas práticas podem gerar. “Essa autonomia tecnológica significa uma ruptura total da relação do camponês com a indústria da agricultura, porque sua base é organizar na produção os processos ecológicos da vida, o que se dá de forma totalmente desvinculada dos atuais processos industriais.”
Tardin afirma ainda que esta ruptura é um fator essencial atualmente, diante da crise gerada pela alta no preço dos alimentos. Na verdade, a crise está relacionada com a produção e distribuição de alimentos que são controladas por empresas transnacionais. Nesse contexto, a agricultura camponesa ainda é responsável por 70% dos alimentos que são consumidos pela população brasileira.
O coordenador da Via Campesina avalia que, como resultado desejável, a VII Jornada deverá pautar a reivindicação de políticas governamentais visando desvincular a distribuição destes alimentos do domínio das grandes empresas.
*por Juliano Domingues, da Radioagência NP em São Paulo/SP
SAIBA MAIS
www.radioagencianp.com.br
www.coopenbh.com.br/projetos%20pedagogicos%20-%202007/alimentacao_saudavel.htm
www.viacampesina.org
http://pt.wikipedia.org/wiki/Via_Campesina
24 julho 2008
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