09 julho 2008

VOVÓS METRALHA

Chapeuzinho Vermelho reloaded?


Pois é, a cada dia que passa e que vivo, cada vez mais me espanto com as coisas do Brasil. Leio recentemente pelos jornais que foi desarticulada uma bem-organizada quadrilha de vovós — todas de aparência tão inofensiva quanto um beija-flor, mas que eram, na verdade, um geriátrico bando de exímias meliantes. As espertas macróbias integravam uma gangue especializada em furtos a lojas, shoppings e igrejas dos nossos chamados "bairros nobres", agindo em Fortaleza e em capitais de outros Estados.

As velhinhas atacavam as incautas vítimas com uma perícia de veteranas profissionais. Pelo que se vê, apesar dos discursos ufanistas de nossos bem-intencionados governantes, nosso torrão natal transformou-se num paraíso de gatunos de todos os calibres, de todas as espécies, de todas as idades. Até as idosas estão abraçando (dedicadas com intimorato afinco) a carreira do crime, especializando-se em vários ramos da bandidagem — inclusive o lucrativo tráfico de drogas nacional e internacional.

Do jeito que marcha a carruagem, não duvido de que, em breve, teremos vovós pistoleiras profissionais. Em quem agora podemos confiar, ao caminharmos não mais despreocupadamente pelas ruas da cidade? E se alguma velhinha, de rostinho simpático, faces rosadas, andarzinho trôpego, me pedir para ajudá-la a atravessar uma rua?

Quem me garante que ela não me vai bater a carteira com a maestria de um um punguista peruano? De agora em diante, não se contará jamais a história da Chapeuzinho Vermelho, porque, sabe-se lá se o verdadeiro fato não foi um seqüestro de conluio com o lobo mau? E aquela velhinha ao seu lado no caixa-eletrônico, o que estará tramando contra você?

Tristes tempos vivemos no Brasil de hoje, em que se perdeu até a confiança nas vovós e a velhice nos mete medo como se fosse um pivete, um assaltante armado até os dentes, o sujeito que nos segue quando saímos de um banco com um minguado dinheirinho que significa a nossa sobrevivência.

Que desgraçado País é este, em que a simples visão de uma cabeça aureolada de cabelos brancos não nos impõe mais respeito e sim, um laivo de medo? Sim, as vovós-metralha estão à solta e eu, capiongo e gravebundo, me pergunto: o que virá depois?


*O médico psiquiatra e escritor cearense Airton Monte é um atento cronista de sua época. A imagem retrata The Beagle Family (a Família Metralha), da obra de Walt Disney

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