04 novembro 2008

PRODUÇÃO VERTICAL

Use seu dedo verde!



Há pessoas que desejam muito cultivar uma horta em casa — ou até na empresa —, mas não sabem como fazer isso. Nas casas em geral, um espaço que poderia ser destinado à horta acaba sendo revestido com piso de cerâmica ou concreto, não restando terra sequer para um canteiro.

Quem mora em apartamento, então, conta com outra dificuldade, além da área restrita: a falta de insolação adequada.

Bem, certamente é possível plantar hortaliças em vasos cerâmicos ou potes de plástico, mas estes recipientes têm o inconveniente de ocupar muito espaço e dispor de pouca profundidade, o que impede o desenvolvimento das mudas. Os vasos de barro, por exemplo, não servem, pois são pesados, trincam e quebram-se com facilidade. Já os vasos de plástico preto, além do custo mais alto, esquentam demais, mostrando-se inadequados para esse tipo de cultivo.

Refletindo sobre estas e outras particularidades, algumas mentes criativas vêm desenvolvendo uma técnica inédita a partir de características aparentemente inusitadas: a combinação de um espaço vertical com o plantio em vários níveis, utilizando para isso tambores e outros recipientes de plástico reutilizáveis (como bombonas e até garrafas PET).

A primeira experiência realizada na residência de um casal, em Jundiaí (SP), resultou na montagem de uma prática horta vertical em uma área de apenas 16 m² (4 m x 4 m) de piso de concreto. Foi o suficiente para produzir e satisfazer o consumo diário de hortaliças de uma família com seis membros. E de repente, o número de pessoas interessadas no cultivo de uma horta mostrou ser maior do que o que eles imaginavam.

Sem dúvida, a Horta Vertical Orgânica pode ser uma solução prática e eficiente até para quem tem apenas a sacada do próprio apartamento, por exemplo, e quer produzir e consumir suas próprias hortaliças. Porém, mais importante do que a satisfação de um desejo talvez seja a constatação de que este sistema pode solucionar um dos grandes problemas contemporâneos — a incerteza da procedência e qualidade dos vegetais adquiridos nas feiras, mercados e supermercados.

Os que aprenderam a técnica estão se abastecendo com legumes, verduras e temperos tenros e saborosos, livres de quaisquer agrotóxico, composto químico ou bactérias nocivas. E os benefícios de sua adoção não se restringem apenas aos frutos de uma alimentação mais saudável, mas tornam possível inclusive o aspecto terapêutico de uma prática extremamente agradável, quase em desuso na região urbana, que consiste em lidar com a terra, produzir e colher seus próprios alimentos.

A seguir, mais sobre o funcionamento da Horta Vertical Orgânica:

ESPAÇO OCUPADO E RENDIMENTO
A unidade produtora (foto) mede 1 m de altura por 40 cm de diâmetro e permite a produção de até 25 pés de hortaliças — o suficientes para o consumo mensal de uma pessoa, desde que novas mudas sejam replantadas imediatamente após a colheita para consumo.

TEMPO DISPENDIDO
O tempo necessário para a manutenção de uma horta já implantada, para uma família de seis pessoas, é de no máximo 20 min diários, em média, para regar, colher, semear, transplantar e cuidar da compostagem (adubo). Agora, apreciar e mostrar aos amigos — isso demora um pouco mais!

IMPLANTAÇÃO
Cada unidade produtora igual à da foto tem um custo inicial de montagem aproximado de R$ 50, mas poderá ser reaproveitada indefinidamente. Outros tipos de unidades têm custos menores.

CUSTO DE MANUTENÇÃO
Após a implantação, os custos passam a ser mínimos, em média R$ 8 por mês para uma horta que abastece uma família de seis pessoas.

CONSUMO DE ÁGUA
Uma das vantagens da Horta Vertical é a economia de água — apenas o suficiente para manter a terra úmida. A perda pela evaporação é muito menor do que em uma horta convencional.

FAZ SUJEIRA?
Após a montagem das unidades não haverá sujeira.

A COMPOSTAGEM CHEIRA MAL?
A compostagem, quando realizada conforme as instruções, não deverá produzir qualquer mau cheiro e pode ser realizada no ambiente doméstico.

O QUE PODE SER CULTIVADO?
Alface, chicória, rúcula, agrião, almeirão, tomate, beterraba, berinjela, couve, salsa, salsinha, escarola, pimentão, cenoura, brócolis, orégano, hortelã, sálvia, poejo, manjerona, manjericão, tomilho, rabanete, mostarda, morango, maracujá, uva etc.

MANUAL DE INSTRUÇÕES
Pode-se adquirir um Manual da Horta Vertical Orgânica completo pelo e-mail contato@hortavertical.com.br. Nas versões impressa ou digitalizada, apresenta fotos coloridas e todas as instruções para a montagem e cuidados de uma horta. Os responsáveis por escolas ou projetos comunitários que atendem pessoas carentes, quando devidamente identificados, podem receber o Manual gratuitamente por e-mail.


SAIBA MAIS
www.abhorticultura.com.br/Dicas/Default.asp?id=5751

www.fazfacil.com.br/jardim/horta_organica_vertical.html

O JOGO

Nas ondas da crise


Pediram-me para comentar a crise global que começou com os tais subprimes nos EUA. Fico apreensivo, não sou economista e provavelmente falaria besteiras. Mas aí me lembro daquelas famosas duas regras da economia: 1. Para cada economista existe outro igual dizendo exatamente o contrário. 2. Ambos podem estar errados...

Poxa, então posso dar meus pitacos! Olha só.

Luca Bartolomeo de Pacioli foi um monge franciscano e matemático italiano considerado o pai da contabilidade moderna. Em 1494 publicou um livro que ficou famoso, a Summa de Arithmetica, Geometria proportioni et propornaliti. Um capítulo desse livro definiu o que veio a ser a contabilidade de dupla entrada: entra um tanto, sai outro tanto e a diferença é o que vai dizer se o negócio vai bem ou mal. Esse método ficou famoso, mas tem uma limitação: é baseado em interações, na troca de bens ou serviços por dinheiro ou por outros bens ou serviços.

Quando a internet surgiu com força total, o mundo mergulhou de cabeça em transações bilionárias que prescindiam de produtos e serviços. As transações eram baseadas em idéias, em algo que poderia valer no futuro. Assistimos a coisas malucas, como uma companhia aérea cujas centenas de aviões valiam menos que o software criado para gerenciar as emissões de passagens. Uma idéia na cabeça valia mais que um produto na mão.

E o mundo enlouqueceu, pois o modelo de Luca Pacioli não contemplava a transação de nada com coisa nenhuma. E quando se percebeu que aquelas idéias não tinham lastro, a bolha explodiu. E ninguém entendeu...

Outro exemplo: uns trinta anos atrás o Japão era o tigre asiático, crescendo como ninguém, tornando-se a segunda maior economia do mundo e mostrando uma exuberância econômica de fazer inveja. No auge dos meus vinte e poucos anos eu não entendia o milagre japonês.

- Eles não têm terras. Não têm matérias-primas. Não têm água. É impossível sustentar essa posição sem ter base, sem ter raízes, sem ter extensão territorial.

E ao longo dos anos 1980 o Japão foi definhando e para mim o que aconteceu foi simples: o Japão só tinha promessas. Desenvolveu capacidade tecnológica e criatividade para trabalhar sobre as matérias-primas de outros países.

A falta de raízes, de base, de lastro, logo esgotou o modelo japonês, que interrompeu aquela exuberância para entrar num processo infinito de quase estagnação. Ainda são poderosos e ricos, mas não podem ir mais adiante. O Japão não tem lastro.

A bolha da internet, aquele Japão e a atual crise dos subprimes dos EUA têm muito em comum: são complexos processos de interações econômicas baseados em percepções. Em riquezas virtuais. Em algo que não existe. São, portanto, insustentáveis.

Estamos assistindo a um jogo no qual todos os jogadores blefam. Na hora de mostrar as cartas, a casa cai. E quem arriscou mais, perde mais. Ou ganha mais.

E no meio desse tiroteio, só tenho certeza de uma coisa: o capitalismo curará suas feridas e sairá ainda mais forte.

O que verdadeiramente me apavora é a tentativa de explicar a crise econômica pelas lentes da ideologia. Isso é papo de jogador que não sabe perder.

*o jornalista Luciano Pires é o demiurgo da despocotização