27 agosto 2009

DROGAS: UMA DROGA!

LIBERAR OU REPRIMIR?



Quando me perguntam, durante as poucas palestras que profiro, se eu já usei algum tipo de droga na longínqua juventude, digo sinceramente que sim, porque não vejo nenhuma razão para negar certos fatos ou certos excessos cometidos no passado. Afinal de contas, todos nós temos uma vida pregressa e garanto, com toda a pureza d’alma, que não fui nenhum santinho do pau oco.

Fiz lá as minhas juvenis presepadas, perpetrei besteiras piramidais e cometi erros crassos — alguns dos quais eu até preferiria esquecer, se assim me permitisse o meu senso de honestidade comigo mesmo. O que fiz está feito e não tenho mais jeito de voltar atrás.

Sim, usei vários tipos de drogas, tanto lícitas como ilícitas, só não experimentei as injetáveis por morrer de medo de injeção. Algumas pessoas se espantam ou até mesmo ficam chocadas com as minhas revelações, enquanto outras costumam dizer que sou bastante corajoso por confessar tais pecadilhos. No que me diz respeito, as drogas simplesmente representaram uma faceta do meu longo aprendizado da vida e de mim mesmo. Nada mais que isso.

As drogas jamais tiveram uma demasiada importância em meu existir, porém, já do álcool e do cigarro não posso dizer o mesmo, tanto que bebo e fumo até os dias de hoje. Contudo, quando me perguntam se eu sou a favor ou contra a liberação geral e irrestrita do uso de drogas, penso que a conversa é outra e o buraco é mais embaixo.

Como trabalho em hospital psiquiátrico, posso ver bem de perto o estrago que o crack, por exemplo, vem fazendo com a nossa estudiosa juventude de todas as classes sociais. É uma coisa nada bonita de se ver.

Convivo com o drama de famílias destruídas, com pais e mães desesperados na excruciante agonia de tentar salvar os filhos desta droga, cujo consumo hoje é, na minha modesta opinião, uma das mais graves tragédias nacionais.

Entretanto, dois dos mais importantes defensores da liberação das drogas são Milton Friedman, prêmio Nobel de Economia, já falecido, e o nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No contexto, a ONU estima que cinco em cada cem adultos usaram alguma espécie de droga ilícita nos últimos doze meses.

Os defensores da liberação afirmam que os governos poderiam taxar e regulamentar o comércio de drogas. Além de arrancar o poder dos traficantes, o dinheiro arrecadado financiaria o tratamento dos dependentes.

Os que são contra, têm medo da banalização e do aumento do uso. Eu, particularmente, defendo a primeira hipótese, mas creio que esta discussão mal começou e não há nenhuma solução simples à vista.


*O cronista Airton Monte é psiquiatra, fumante inveterado e colaborador do Jornal da Praia há mais de 20 anos. Sua renda como escritor ajuda-o a financiar "a cervejinha das crianças"...


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