Espírito olímpico
Vejam vocês, caríssimos leitores meus, quantas vezes e tantas o velho destino acaba escrevendo certo por linhas tortas -- ou, então, por linhas mais certas ainda, que a gente nem é capaz de imaginar!
Do contrário, como eu poderia explicar haver sido o velho Monteiro Lobato quem me despertou a fascinação pela mitologia grega?
Eu, quando pequeno, contumaz frequentador do Sítio do Picapau Amarelo, não pude deixar de ler os maravilhosos Os Doze Trabalhos de Hércules, que certamente foi a minha ponte para chegar ao resto dos habitantes do Olimpo.
Assim aprendi que os deuses gregos possuíam a alma igualzinha à nossa, cheia de mesquinharias e grandezas. Os gregos deram também aos seus deuses uma forma humana porque, como bem disse Fídias, o maior escultor grego da Grécia Antiga, o povo heleno desconhecia uma forma mais perfeita existente nesse mundo.
E, assim, nasceram os Jogos Olímpicos, criados para celebrar a beleza e preparar os olímpicos atletas competidores para as futuras porfias nos campos de batalha, como bem convinha a um povo guerreiro como eram os gregos.
O mais interessante é que os competidores se batiam completamente pelados, nus, em nome dos honrados Zeus e Apolo, homenageando o poder e a inteligência, agradando a gregos e troianos. Ao invés de receberem medalhas folheadas a ouro, os vencedores tinham a fronte ornada apoteoticamente por uma coroa de louros.
Além do mais, as Olimpíadas também serviam para quebrar o galho dos helênicos artistas de todas as formas de arte, que tinham assim a ocasião de garantir uns trocados respeitáveis se apresentando em público.
Pintores, escultores, poetas, oradores, dramaturgos, acrobatas e até os filósofos faziam a sua feira em meio à multidão de pessoas presentes aos jogos. Para mim, as Olimpíadas jamais perderam a aura poética, por mais que tenham sido submetidas, ao longo de sua história, a um processo de comercialização.
Isso porque acredito piamente que em cada atleta olímpico ainda resta um brilho, ainda arde uma pequena pira da mais puríssima paixão -- a paixão do desafio, a paixão de vencer os seus próprios limites.
Vencer ou vencer -- eis o único, o verdadeiro espírito olímpico. Simplesmente porque os simples competidores comuns não sobem ao pódio nem entram para a História.
*O psiquiatra e cronista Airton Monte -- aqui no traço do cartunista Lobo (DN) -- escreve para o Jornal da Praia desde a década de 1980
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www.revista.agulha.nom.br/airtonmonte2.html
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=275231
13 outubro 2009
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