14 dezembro 2009

PROPAGANDA ENGANOSA

Óleo: menos é melhor



Por que há toda esta preocupação com o óleo de cozinha usado, que é 100% biodegradável? Porque dá dinheiro e tem gente oportunista se aproveitando da falta de informação das pessoas para obter matéria-prima de graça. Será mesmo que elas estão preocupadas com o meio ambiente?

É contraditório, porque os mesmos que dão ênfase ao óleo de cozinha não se preocupam com o óleo que vaza dos motores de carros e caminhões: reparem, nas vagas de estacionamento, quanto óleo vaza do cárter dos veículos.

E quanto aos lubrificantes, que são descartados no ambiente de qualquer jeito? E quanto aos resíduos de óleo (filtros, peças quebradas e estopas encharcadas de óleo) das oficinas mecânicas, desovados em áreas preservadas? Estes resíduos é que poluem para sempre, já que não são biodegradáveis e afetam gravemente a saúde das pessoas e são cancerígenos.

O óleo de cozinha é um resíduo totalmente biodegradável e, se fosse tão terrível assim, não poderia ser usado como alimento. O volume que é lançado no esgoto não chega a ser mais do que um litro a cada 100 mil litros de esgoto. A própria água é um bom solvente de óleos vegetais. Por isso, nunca ninguém viu um filme de óleo de cozinha na estação de tratamento de esgoto, muito menos nos rios. O impacto de pasta de dentes, sabão, xampu, detergentes, produtos de limpeza em geral, resíduos de remédios e hormônios dos humanos é muito maior.

Para as pessoas, apenas um litro de óleo de cozinha usado não vale nada. Mas, para quem consegue juntar centenas de litros sem ter custos, vale bom dinheiro. Então, tudo o que precisam para conseguir matéria-prima de graça (e faturar) é de uma boa propaganda enganosa, de que as pessoas "ajudam o meio ambiente" se depositarem o óleo de cozinha usado em algum lugar.

Com este lucrativo negócio de obter matéria-prima a baixo custo, ou até de graça, estão proliferando indústrias químicas altamente poluentes para processar óleo de cozinha e transformá-lo em algo altamente nocivo para o planeta: em combustível, tintas e vernizes, substâncias que não se degradam nunca mais e que vão poluir mais ainda o planeta e agravar o problema do aquecimento global. Que ajuda para a natureza é essa?

A indústria que processa óleo de cozinha é uma indústria química como qualquer outra e requer, portanto, atenção especial dos órgãos de fiscalização ambiental. A transformação do óleo de cozinha em biodiesel, por exemplo, consome vários insumos (substâncias químicas) e gera resíduos altamente tóxicos e perigosos que necessitam de destinação especial, em locais devidamente licenciados para receber este tipo de material tóxico — e isso custa caro.

Nada contra as entidades assistenciais coletarem o óleo de cozinha para arrecadar fundos. Mas não é ético apelar para a questão ambiental, enganando as pessoas, ao dizer que elas "ajudam o meio ambiente" se depositarem o óleo usado. Porque, com certeza, não ajudam.

Trata-se de um apelo de marketing enganoso. Na verdade, as pessoas ajudariam o meio ambiente se diminuíssem um pouco o consumo de óleo de cozinha. O impacto considerável que o meio ambiente sofre é para produzir o óleo. Basta ver os índices de desmatamento batendo recordes sucessivos para plantar soja.

E, justamente, nessa questão mais crucial, neste momento em que vivemos, estas campanhas deixam a desejar, porque passam uma falsa ideia de que não há problemas em consumir à vontade o óleo de cozinha.

Ou seja, aliviam a nossa consciência e podem até estimular as pessoas a consumirem mais óleo de cozinha.


*Germano Woehl Junior é mestre em Física pela USP e doutor em Física pela UNICAMP, e um dos fundadores do Instituto Rã-bugio em Jaraguá do Sul/SC.

SAIBA MAIS
www.ra-bugio.org.br

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