Solitária marcha*
Não, de jeito nenhum, caríssimo(a)s leitore(a)s meu(minha)s. De forma alguma, que não sou homem pra desanimar fácil, de recolher as velas à menor mudança de ventos ou prenúncio de tempestade.
Sim, eu bem sei, há tempos em que tudo dá certo e logo depois, sem que se espere, dá tudo errado, no chamado revertério. Mas e daí?
Se a vida é assim mesmo, com dias ruins, com dias bons, o importante mesmo é jamais desistir de brigar pelo que se quer, até que não reste uma gota mais por que valha a pena lutar. Todo o resto não passa de desculpas furadas ou pura covardia.
Uns querem demais da vida e estão absolutamente certos, porque não há quereres demais em se tratando de viver. O diabo é que a vida não nos dá nadinha de graça, nem sequer a infância -- existe sempre um preço a pagar por nossas promissórias existenciais.
Se é caro ou barato, depende do quanto você é capaz de arriscar, nessa sutil roleta vital de perdas e danos. Por vezes, penso cá com os meus botões se aprender a viver não seria aprender a suportar os perderes em troca de outros ganhares -- que nem sempre sabemos se nos deixarão satisfeito(a)s.
E assim lá vamos nós, levantando e caindo, caindo e levantando, porque pra frente é que se anda ou então se desiste da empreitada, seja ela qual for.
E por falar em perder e ganhar, ao que parece o brasileiro, este ilustre desconhecido, está mais sozinho do que bem-acompanhado em matéria de amor, digamos assim: não sei se isso é verdade ou se a fonte é fidedigna, porém afirmam existir no País perto de dezessete milhões de patrícios sem mulher, junto a uns quatorze milhões de mulheres sem homem.
A continuar por tal e tamanha solitária marcha, daqui a pouco ou cairemos forçosamente na castidade total ou, então, nos perderemos na galinhagem universal. Até que ponto chegamos em termos de cultura e de civilização!
Sofisticamos de tal modo a solidão compulsória que, para nós, o Outro tornou-se uma mera abstração virtual na tela de um computador.
Até onde chegaremos (se é que chegaremos a algum lugar que não seja o precipício) com esse nosso desenfreado narcisismo?
Não sei e nem quero saber. Quero mais é saber de mim mesmo e do Outro -- ou melhor, da outra, que me completa e me eterniza.
*Médico-psiquiatra e escritor, colunista do Jornal da Praia desde a década de 1980, Antônio Airton Machado Monte é um cronista de sua época
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26 agosto 2010
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