Ninguém sabe, ninguém viu?*
Pois é. Parece que passou despercebida a insigne data do Descobrimento do Brasil, tanto pela mídia como por grande parte dos brasileiros.
Talvez porque o dia 22 de abril tenha caído bem no meio dos feriados da Semana Santa?
Talvez porque o dia 22 de abril tenha caído bem no meio dos feriados da Semana Santa?
Ah, como é frágil a nossa brasílica memória! Esquecemo-nos do que, por suposto, deveria ser inesquecível.
Afinal, apenas quinhentos e onze anos (!) se passaram desde que a frota de Pedro Álvares Cabral aportou em nosso paraíso tropical.
A não ser uma notinha aqui e ali no pé de página dos jornais, nada de maior significância foi dito ou até modestamente comemorado. Nem sequer os políticos, que adoram um discurso patriótico, se pronunciaram sobre o fato do alto das tribunas.
Os intelectuais também silenciaram, como se a data nenhuma relevância possuísse. O mutismo e a indiferença foi geral. Pois é: vai ver, todos estão perfeitamente certos, ao darem de ombros para o histórico acontecimento.
Quem sabe, o Brasil realmente nunca tenha sido descoberto coisa nenhuma. Nem em 1500 ou em 2011. E que permaneça sendo, para nós, brasileiros, um país de certo modo fictício e uma grande incógnita.
E o dia do seu descobrimento veramente mereça ser exilado de nossa lembrança. Eu mesmo só não passei batido por haver casualmente lido sobre o assunto em uma mensagem eletrônica enviada por um amigo, cultivador contumaz de um patriotismo renitente, por muitos considerado ultrapassado, inclusive por mim.
Pelo pouco que conheço da minha tribo de botocudos, o brasileiro somente vira um ferrenho patriota de quatro em quatro anos, durante a Copa do Mundo. Fora isso, esquecemo-nos completamente da nossa pátria, como se ela jamais houvesse existido — quanto mais descoberta por nossos irmãozinhos portugueses!
Além do mais, tornou-se um ancestral e arraigado hábito, entre os habitantes desta Taba de Tupã, colocar sobre os ombros dos nossos lusitanos colonizadores a culpa de todas as nossas mazelas e dos nossos piores defeitos.
Costumamos justificar tal abalizada opinião citando, a título de exemplo, os Estados Unidos — que foram descobertos apenas oito aninhos antes de nós e findaram por tornar-se a maior nação do mundo, graças à colonização inglesa.
Claro ser uma límpida verdade o fato de que os navegadores britânicos tinham como seu principal objetivo a fundação de uma nova sociedade nas terras do Novo Mundo anunciado por Colombo.
Já os portugueses por aqui se abancaram unicamente com o intuito pirata de saquear nossas riquezas e retornar o mais breve possível a Portugal, carregados de ouro, e viver à tripa-forra em sua terrinha de nascença, dignos merecedores de um brasão de nobreza.
Dizem que, se os holandeses houvessem nos conquistado, tomando na marra o Brasil dos portugueses, a nossa história teria um final bastante diferente e melhor. Não sei, não. Tenho cá as minhas dúvidas a respeito de tal falácia.
Talvez por jamais olvidar que não é simplesmente a História que faz o homem, mas é o homem quem faz a História, quem verdadeiramente constrói o vir-a-ser. O Brasil é o que é pela simples razão de que o fizemos do nosso jeito e da nossa maneira.
Se o olharmos com a devida atenção e profundidade, veremos que este País não passa do reflexo do que somos, sem mistificações, sem desculpas obsoletas, sem razão de ser.
No dia 22 de abril, deveríamos era sair cantando em bloco pelas ruas os versos da imorredoura canção de Ary Barroso, Aquarela do Brasil, nosso mais autêntico hino nacional: "Brasil / Meu Brasil brasileiro...", e dar-nos por muito satisfeitos.
É o que, em verdade, merecemos.
Afinal, apenas quinhentos e onze anos (!) se passaram desde que a frota de Pedro Álvares Cabral aportou em nosso paraíso tropical.
A não ser uma notinha aqui e ali no pé de página dos jornais, nada de maior significância foi dito ou até modestamente comemorado. Nem sequer os políticos, que adoram um discurso patriótico, se pronunciaram sobre o fato do alto das tribunas.
Os intelectuais também silenciaram, como se a data nenhuma relevância possuísse. O mutismo e a indiferença foi geral. Pois é: vai ver, todos estão perfeitamente certos, ao darem de ombros para o histórico acontecimento.
Quem sabe, o Brasil realmente nunca tenha sido descoberto coisa nenhuma. Nem em 1500 ou em 2011. E que permaneça sendo, para nós, brasileiros, um país de certo modo fictício e uma grande incógnita.
E o dia do seu descobrimento veramente mereça ser exilado de nossa lembrança. Eu mesmo só não passei batido por haver casualmente lido sobre o assunto em uma mensagem eletrônica enviada por um amigo, cultivador contumaz de um patriotismo renitente, por muitos considerado ultrapassado, inclusive por mim.
Pelo pouco que conheço da minha tribo de botocudos, o brasileiro somente vira um ferrenho patriota de quatro em quatro anos, durante a Copa do Mundo. Fora isso, esquecemo-nos completamente da nossa pátria, como se ela jamais houvesse existido — quanto mais descoberta por nossos irmãozinhos portugueses!
Além do mais, tornou-se um ancestral e arraigado hábito, entre os habitantes desta Taba de Tupã, colocar sobre os ombros dos nossos lusitanos colonizadores a culpa de todas as nossas mazelas e dos nossos piores defeitos.
Costumamos justificar tal abalizada opinião citando, a título de exemplo, os Estados Unidos — que foram descobertos apenas oito aninhos antes de nós e findaram por tornar-se a maior nação do mundo, graças à colonização inglesa.
Claro ser uma límpida verdade o fato de que os navegadores britânicos tinham como seu principal objetivo a fundação de uma nova sociedade nas terras do Novo Mundo anunciado por Colombo.
Já os portugueses por aqui se abancaram unicamente com o intuito pirata de saquear nossas riquezas e retornar o mais breve possível a Portugal, carregados de ouro, e viver à tripa-forra em sua terrinha de nascença, dignos merecedores de um brasão de nobreza.
Dizem que, se os holandeses houvessem nos conquistado, tomando na marra o Brasil dos portugueses, a nossa história teria um final bastante diferente e melhor. Não sei, não. Tenho cá as minhas dúvidas a respeito de tal falácia.
Talvez por jamais olvidar que não é simplesmente a História que faz o homem, mas é o homem quem faz a História, quem verdadeiramente constrói o vir-a-ser. O Brasil é o que é pela simples razão de que o fizemos do nosso jeito e da nossa maneira.
Se o olharmos com a devida atenção e profundidade, veremos que este País não passa do reflexo do que somos, sem mistificações, sem desculpas obsoletas, sem razão de ser.
No dia 22 de abril, deveríamos era sair cantando em bloco pelas ruas os versos da imorredoura canção de Ary Barroso, Aquarela do Brasil, nosso mais autêntico hino nacional: "Brasil / Meu Brasil brasileiro...", e dar-nos por muito satisfeitos.
É o que, em verdade, merecemos.
*Médico-psiquiatra, escritor, cronista do jornal O Povo e colunista do Jornal da Praia desde
a década de 1980, Antônio Airton Machado Monte é um autêntico repórter da nossa época
a década de 1980, Antônio Airton Machado Monte é um autêntico repórter da nossa época
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