Nasci em 1956 em Bauru, no interior de São Paulo, numa família católica apostólica romana. Cresci sob a moral cristã num contexto em que uma maçã teve peso absoluto. Foi experimentando uma que Adão e Eva desobedeceram a uma ordem divina e foram expulsos do Paraíso.
Mesmo que você argumente que Adão e Eva são apenas uma alegoria e que nada daquilo existiu de fato, aquela maçã determinou um momento de virada que influenciou a história da humanidade e a formação moral de milhões de pessoas.
Sou o que sou como reflexo daquela primeira maçã.
Em 1965, com 9 anos de idade, ganhei um compacto duplo com quatro músicas: Help!, I'm down, Not a second time e Till there was you, de uma banda chamada The Beatles. Mas eu era muito jovem para entender aquilo. Foi só a partir de 1969, aos 13 anos, depois de ganhar um elepê chamado The Beatles, que percebi que algo diferente acontecia no mundo.
E comecei a trilhar um caminho no qual meu modo de vestir, de dançar, de pentear o cabelo comprido, de falar e de interagir com os amigos e com a família entrava em choque com a geração de meus pais. O mundo estava em revolução.
Vietnam, rock'n'roll, as drogas, os hippies, a contracultura, os quadrinhos, o cinema, tudo mudou. Mas foi aquele disquinho de 1969 que abriu meus olhos para o que estava acontecendo. Ah, sim, aquele elepê foi editado por um selo novíssimo, chamado... Apple.
Sou o que sou como reflexo daquela segunda maçã.
Cresci, fiz minhas escolhas e nos anos 1980 fui trabalhar como executivo numa multinacional de autopeças. Em 1986, produzindo um anúncio em homenagem à Volkswagem, fui a uma agência de criação onde conheci uma novidade: um computador Macintosh.
Assisti maravilhado o artista fazendo diabruras com o logotipo da empresa, botando abaixo tudo aquilo que eu conhecia de fotomontagem, paste-up, letraset e fotolitos. Uma máquina com um design diferente, tela em preto e branco, um mouse e a capacidade de fazer coisas que a gente via na tela antes de ter o produto pronto!
Eu sabia que naquele momento minha vida começava a mudar. O computador passou a ser minha ferramenta indispensável para pesquisar, brincar, criar e me comunicar. Mudei a forma de trabalhar, a forma de pensar, a forma de me relacionar com o mundo.
Depois veio o IPod com o ITunes, a base da tecnologia que me possibilitou criar o podcast Café Brasil. E por fim, o IPhone e o IPad. Nunca me cansei de admirar aquela turma capaz de criar coisas com as quais a gente nem mesmo sonhava... Ah, o nome da empresa é: Apple.
Sou o que sou como reflexo dessa terceira maçã.
Pois agora morreu Steve Jobs, o gênio criador da Apple, um espetacular editor de idéias que sabia antes da gente o que é que a gente queria.
Não tenho dúvidas que junto com ele morreu muito do espírito inquieto que fez da Apple a empresa revolucionária que mudou a vida até de quem não sabe o que é um computador.
Mas hoje acordei com uma dúvida...
Qual será a quarta maçã?
*O jornalista multimídia Luciano Pires almeja despocotizar o Brasil com as armas da Comunicação
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