Lição do Taoísmo*
Diz a sabedoria popular: “Não há bem que dure para sempre, nem mal que nunca acabe”. Na vida, tudo passa. As próprias estações do ano mostram que tudo está em constante mutação, que tudo é transitório.
Mas as estações também ensinam algo importante: que as coisas sempre acontecem em ciclos, que há um movimento maior por trás da transitoriedade. Isto é algo essencial: aprender a perceber a vida em uma perspectiva maior.
Existe uma frase que resume tudo isso: “Os anos ensinam coisas que os dias desconhecem”. Ou seja, de nada vale ficar observando os dias, que são pequenos e transitórios. Para compreender a vida, é necessário olhar os anos, os grandes ciclos.
O sábio chinês Lao-Tsé ensina, no seu extraordinário livro Tao-Te-Ching: “Poupem as palavras,/ e tudo mudará por si mesmo. / Um ciclone não dura a manhã inteira./ Um aguaceiro não dura todo um dia./ E quem os produz?/ O céu e a terra./ Se o céu e a terra nada podem fazer de durável,/ muito menos o pode o homem”.
É preciso compreender que a vida vai muito além do que se convencionou chamar de "bem" e de "mal". Certo dia, um mestre descobre que seu único cavalo desaparecera. E os vizinhos falaram: “Que coisa ruim”. O sábio, disse, porém: “É ruim, mas também é uma coisa boa”.
Os vizinhos não entenderam o que poderia haver de bom naquilo. Só que, dias depois, o animal volta, trazendo consigo outro cavalo que o acompanhou pelo caminho. E vieram os vizinhos: “Que coisa boa, você agora tem dois cavalos”. O velho respondeu: “É bom, mas também é uma coisa ruim”.
Novamente, ninguém o entendeu. Passa-se mais um tempo, o filho do velho tenta domar o cavalo selvagem, mas é derrubado e quebra a perna. Mais uma vez dizem os vizinhos: “Que coisa ruim”. E o sábio: “É ruim, mas também é uma coisa boa”. Desta vez, o povo fica indignado, chamando o velho de insensível.
Aconteceu porém, logo depois, a deflagração de um grande conflito na região, e todos os jovens foram convocados para a guerra, com exceção dos deficientes e dos feridos. Aí chegam os vizinhos: “Que coisa boa, seu filho não vai para a guerra”. Ao que o mestre respondeu: “É bom, mas também é uma coisa ruim”. Essa história não termina nunca.
Na verdade, não há uma coisa exclusiva que se chame causa, nem uma coisa isolada que se chame efeito. Tudo é causa e tudo é efeito de algo. O problema é quando se olha apenas para um aspecto da realidade. Daí, a coisa vai ser boa ou vai ser ruim mesmo. Mas quando se tem uma visão panorâmica, quebrar a perna é só quebrar a perna, perder o cavalo é só perder o cavalo. Não é bom e não é ruim, apenas é.
A sabedoria está em ver o contexto maior da vida, percebendo que, na realidade, nada é isto ou é aquilo; tudo é processo de mudança. Para cada face da realidade, existe um oposto.
Qualquer evento é parte de uma mudança natural, que está em constante transição. É assim que o sábio vê a vida, e é assim que se deve vê-la.
*professor de Filosofia, escritor e poeta, Edilson Santana Gonçalves
é titular da 8.ª Promotoria de Justiça Cível da Comarca de Fortaleza
(fonte: jornal O Povo de 19/08/12; imagem em www.asiaticos.org)
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