Gestos que contam*
Garanto que vocês nunca ouviram falar em Samara Oliveira, Jéssica Silva, Camila Beatriz e Jéssica Camarço. Nem eu. Mas, cada uma delas recebe meus aplausos e mil beijos de gratidão.
Seguinte: o Lar Torres de Melo foi assaltado no dia 20 de março e os ladrões levaram toda a grana dos velhinhos. Quem já anda mal, imagine quando lhes roubam tudo.
Estas garotas, estudantes universitárias, resolveram por conta própria, lançar uma campanha de ajuda/socorro à instituição. Tudo que seja alimento não perecível e leite em pó, aveia, café, açúcar, biscoitos, roupas, toalhas, material de higiene pessoal (pasta, escova etc.).
Elas combinaram com alguns centros acadêmicos que se tornaram pontos de arrecadação. As doações foram entregues no sábado seguinte.
Não tenho a informação de quanto foi arrecadado, pois nenhuma notícia saiu na imprensa sobre a coleta. Parece não ser assunto palpitante. Não anima pauta. Não tem sangue.
Entretanto, quando se fala tanto em “mundo perdido”, que a juventude “não está nem aí”, que “formam um bando de alienados” e outras coisas que tais, aparecem estas meninas, dizendo e fazendo o contrário. Passagem ao ato.
Elas não criticam o governo, que não faz. Que se mostra totalmente alheio. Nem condenam os ladrões… De uma maneira silenciosa, elas reprovam os bandidos dizendo que a sociedade sempre terá mais força e mais solidariedade para mostrar.
Fatos como este precisam ser divulgados, mostrados. Deveriam torna-se exemplo para outros jovens. E até virar um movimento social de transformação da sociedade.
Um dia, uma costureira negra recusou-se a ceder o seu lugar no ônibus a um homem branco (1.o de dezembro de 1955). Os Estados Unidos viviam o racismo brabo. Ela não aceitou a humilhação. Foi detida e condenada à prisão.
O pequeno gesto deu origem à mais profunda transformação da sociedade americana: o fim do racismo. Hoje, essa mulher – Rosa Parks – é símbolo dos movimentos dos direitos civis dos negros.
Sinceramente meninas, fico muito orgulhoso do gesto de vocês. Mostra que a coragem e o amor ainda são as maiores armas que possuímos.
*Antonio Mourão Cavalcante é médico, antropólogo e professor universitário
(imagem em www.wvwc.edu)
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