Quando o dinheiro acaba com a riqueza*
O leitor não se assuste com o título, aparentemente
contraditório. É que estive nas férias de início de ano em Bonito/MS, próximo
ao Pantanal Matogrossense.
Fiquei encantado com a natureza, a se mostrar
exuberante: vegetação belíssima, fauna diversificada, preservada em mananciais
e florestas mediante uma consciência ambiental raramente vista.
Fascinado com
esta riqueza, me veio ao mesmo tempo a triste sensação de que locais como
aquele deveriam existir, aos milhares, em todo o território brasileiro. Ao
invés, assistimos estiagem atípica, que vai além dos limites tradicionalmente
impostos pelo semiárido nordestino.
Mesmo a região Sudeste, abençoada pela Mata
Atlântica, apresenta situação na qual a população pena para conseguir o que
deveria ter — porque tradicionalmente sempre teve — em profusão: água para
beber.
O exemplo de São Paulo é clássico. Na cidade que se orgulha
de dizer que “nunca para”, a indústria e o comércio, em nome da expansão
indiscriminada das necessidades do capital, exterminaram rios, lagos e reservas
florestais, condenaram espécies à extinção, comprometeram o equilíbrio do meio
ambiente e transformaram os recursos naturais — a meu ver a verdadeira riqueza,
presente divino — num entorno de poluição, onde a convivência entre seres
humanos é apenas suportável.
O dinheiro atropelou esta riqueza, usando como
justificativa uma visão de progresso insana.
Em menor grau, os mais pobres, geralmente por ignorância,
têm sua culpa no processo de poluição. Mas os mais ricos, teoricamente bem-educados, são os maiores responsáveis, pela produção volumosa de detritos e
agentes químicos.
A natureza, que não faz o jogo do mercado, cobra agora sua
conta de outra forma. É lamentável que milhões de pessoas, a maioria carentes,
sofram pela ação predatória dos ricos.
É paradoxal ver cidadãos sem água à
beira do Tietê, rio morto em decorrência da ganância.
“A criação geme em dores de parto”, diz a Epístola de São Paulo aos Romanos (8; 22). O grito da natureza está mais alto e perceptível mesmo aos que não querem ver.
“A criação geme em dores de parto”, diz a Epístola de São Paulo aos Romanos (8; 22). O grito da natureza está mais alto e perceptível mesmo aos que não querem ver.
Gandhi ensina: “A cada dia a natureza
produz o suficiente para a nossa carência. Se cada um tomasse apenas o que lhe fosse
necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”.
O que se
espera é que cada um(a) perceba a necessidade da preservação. E que o Estado
estude formas de punir responsáveis por este absurdo: aqueles que colocaram o
lucro como meta de vida, acima das reais necessidades humanas.
*Vanilo Cunha de Carvalho Filho é diretor-executivo
da Escola Superior de Advocacia do Ceará.
Publicado em www.opovo.com.br
Imagem em www.luizclaudiomarcolino.com.br
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