O sensacional e o normal*
A capa da revista Veja da semana passada (com a data 22/07/2015) foi feita com o objetivo de refletir dias repletos de fatos extraordinários e relacionados que se sucederam no Brasil, em uma sequência quase impossível de ser editorialmente retratada com uma capa tradicional.
Montada como se fosse a primeira página de um tabloide sensacionalista, a capa agradou e surpreendeu os leitores.
Nesta semana foi nossa vez de ser surpreendidos: muitos leitores elogiaram o que pensaram ser uma mudança gráfica permanente da capa de Veja. Sinal dos tempos.
Quando o extraordinário é tomado por normal, o País está mesmo fora dos eixos. Fizemos a capa sensacionalista para pontuar uma semana particularmente nervosa, movida pelo inesperado no centro da vida política brasileira.
O País passa por um período político conturbado, com reflexos paralisantes na economia. Surpresa mesmo será se tudo se acalmar de repente. Toda crise chega ao fim um dia. Esta é, atualmente, a única certeza positiva no cenário.
Mas toda crise, para terminar, tem de ser percebida, enfrentada e vencida. Para vencer sem maiores traumas os períodos instáveis, o essencial é que nunca se perca o horizonte institucional. Não existem soluções fora das instituições.
Os homens públicos sempre podem falhar. As instituições que eles dirigem, no entanto, não contam com esse benefício.
"Que você viva em tempos interessantes", expressão inglesa atribuída duvidosamente aos chineses, tem um significado que só pode ser compreendido quando se conhece a maneira como ela é utilizada.
Pois quando alguém diz isso está rogando praga, torcendo para que, onde você estiver, prevaleça o caos, este notório inimigo do progresso material e espiritual.
Estamos atravessando tempos interessantes, mesmo que não tenham sido trazidos por uma praga. Para superá-los, o esforço de todos tem que ser pela volta da previsibilidade na economia e da transparência, honestidade e confiabilidade na política.
A duras penas nós, brasileiros, conseguimos derrotar a inflação, a irresponsabilidade fiscal e a instabilidade política. É inaceitável que a atual geração no poder nos arremesse de volta àqueles dias trevosos.
As autoridades e políticos, se quiserem, que vivam em tempos interessantes, mas não arrisquem neles a paz e a prosperidade dos brasileiros.
*Carta ao Leitor publicada na Veja com a data 29/07/2015.
(editor assistente: Eduardo Tedesco)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe, deixando aqui sua opinião: