18 outubro 2016

AGOSTO, MÊS DO... OVERSHOOT!


O Dia da Sobrecarga da Terra*


Em 2016, mais uma vez ultrapassamos o limite de recursos naturais gerados pelo planeta. Dados de 2014 mostraram que o consumo do brasileiro correspondeu a 50% a mais do que a capacidade da Terra. 

Naquele longínquo 2014, demorou menos de oito meses para a humanidade usar todos os recursos naturais do planeta disponíveis para o ano. Em 19 de agosto daquele ano, o Planeta Azul entrou no vermelho: foi o Dia da Sobrecarga da Terra (em inglês, Overshoot Day). 

Pelo resto do ano, mantivemos o nosso déficit ecológico, já que reduzimos nossas reservas e aumentamos ainda mais a quantidade de CO² produzidos na atmosfera. O cálculo é feito anualmente pela Global Footprint Network, uma organização internacional pela sustentabilidade, parceira global da Rede WWF. 

Em 2015, o Overshoot Day deu-se em 13 de agosto. De novo, foram menos de oito meses para que a humanidade utilizasse todos os recursos naturais existentes para aquele ano inteiro. A data marcou a demanda humana anual sobre a natureza, que foi além do que o planeta poderia regenerar durante um ano.

E mais: desde 2000, esta data surge cada vez mais cedo: de 1.º de outubro em 2000 a 13 de agosto em 2015.

É uma data sem motivo algum para comemoração. Os custos para a população mundial ultrapassar os limites do planeta se tornam mais evidentes, ano após ano e dia após dia. 

Incêndios, desmatamento, escassez de água doce, erosão do solo, perda de biodiversidade e o aumento de CO² na nossa atmosfera fazem crescer ainda mais a nossa dívida ecológica e trazem prejuízos humanos e econômicos. 

Os governos que seguirem ignorando os limites dos recursos renováveis no processo de tomada de decisão de políticas públicas vão pôr em risco a performance econômica a longo prazo.

"O uso dos recursos naturais acima da capacidade da Terra está se tornando um dos principais desafios do século 21. É um problema tanto ecológico quanto econômico. Países com déficits de recursos e baixa renda são ainda mais vulneráveis. Até mesmo países de renda per capita alta, que têm a vantagem financeira de se bloquearem dos impactos mais diretos da dependência de recursos, precisam saber que uma solução a longo prazo deve abordar essas dependências antes que a coisa se transforme numa situação de crise econômica", afirmou Mathis Wackernagel, presidente da Global Footprint Network.

Àquela altura, 85% da população mundial vivia em países que demandavam mais da natureza do que os seus ecossistemas podiam renovar. De acordo com os cálculos da GFN, seriam necessários 1,5 planeta para produzir os recursos ecológicos necessários para suportar a pegada ecológica mundial de então (mais informações abaixo). 

Projeções sobre a população, o uso de energia e a produção de alimentos sugerem que a humanidade vai precisar usufruir da biocapacidade de três planetas bem antes da metade do século. Isso pode ser fisicamente impossível.

No caso do Brasil, o consumo médio de recursos ecológicos equivale a 1,6 planeta — bem próximo à média mundial. Mesmo assim, estamos consumindo acima de 50% da capacidade anual da Terra.

Para evitar um colapso dos recursos naturais, que são a nossa fonte de sobrevivência, precisamos avaliar e repensar nossos hábitos de consumo. E adotar uma postura mais responsável, de forma que possamos viver de acordo com a capacidade ecológica do nosso mundo. 

De acordo com a CEO do WWF-Brasil, Maria Cecilia Wey de Brito, todos os setores — sociedade civil, poder público e empresas — precisam estar envolvidos no processo de redução dos impactos.

"Temos que entender que tudo isso afeta diretamente o meio ambiente e também a vida das pessoas, de cada um de nós. O cidadão pode fazer a sua parte adotando uma postura crítica e melhorando os seus hábitos de consumo. 

O poder público, por sua vez, é responsável por planejar e implementar políticas públicas de mitigação, como transporte público menos poluente, instalação de ciclovias e planejamento ambiental

Na outra ponta, as empresas têm o papel de melhorar suas cadeias produtivas e oferecer aos consumidores produtos mais sustentáveis", explicou ela.

O WWF-Brasil atua com a Pegada Ecológica, buscando mobilizar e incentivar as pessoas a repensar hábitos de consumo e a adotar práticas mais sustentáveis no seu dia a dia. Além de utilizá-la como uma forma de mobilização e de conscientização, iniciou já em 2009 um trabalho pioneiro no Brasil com a realização de cálculos em cidades como Campo Grande (MS), Rio Branco (AC) e São Paulo (estado e capital). 

Há cerca de dois anos, lançou o concurso de vídeos Fest Curteco (Festival de Curtas Ecológicos) que premia o autor do vídeo mais criativo contendo atitudes responsáveis do cotidiano para estimular outros cidadãos brasileiros através do exemplo positivo.

Além do trabalho com a Pegada Ecológica, a rede WWF também é parceira da GFN na edição do Relatório Planeta Vivo, publicado a cada dois anos. 

Pegada Ecológica 
 É uma metodologia que permite avaliar a demanda humana por recursos naturais, com a capacidade regenerativa do planeta. A Pegada Ecológica de uma pessoa, cidade, país ou região corresponde ao tamanho das áreas produtivas de terra e de mar necessárias para gerar produtos, bens e serviços que utilizamos no nosso dia a dia. 


É uma forma de traduzir, em hectares (ha), a extensão de território que uma pessoa ou toda uma sociedade utiliza, em média, para se sustentar.

Ela mede a quantidade de recursos naturais biológicos renováveis (grãos, vegetais, carne, peixes, madeira e fibra, energia renovável entre outros), que estamos utilizando para manter nosso estilo de vida. 

E se esse consumo está dentro da capacidade ecológica do planeta, ou seja, da biocapacidade (eficiência dos ecossistemas em produzir recursos úteis e absorver os resíduos gerados pelo ser humano).

O cálculo é feito somando-se as áreas necessárias para fornecer os recursos renováveis utilizados, com as que são ocupadas por infraestrutura (pelas cidades, por exemplo) e as áreas necessárias para a absorção de resíduos. Para realizar o cálculo, é utilizada uma unidade de medida: o hectare global (gha), que representa a média mundial para terras e águas produtivas em um ano.

SAIBA MAIS
www.wwf.org.br

(*conteúdo publicado em www.revistaecologico.com.br)
(imagem em www.ecobrasilia.com.br)

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