Um astro cujo brilho revela-se enigmatizado
Colo. Consolo. Guarita. Sinônimos constantes, visceralmente entrelaçados ao maternal. As mães são como a Lua, deusa que surge na vastidão da escuridão e dedica-se a um espiar atento sobre os que necessitam fechar os olhos para um sonhar sem possessão.
Guarda, protege e alimenta. É o casulo seguro, forjado no fogo ardente, que comove a alma dos ausentes e os faz privilegiar os sentimentos que gritam pela absolvição.
Em seus seios, dilata-se o alimento que nutre sem reservas, sem abster-se de sua função. Seios nos quais as garras firmamos, com medo de perdermo-nos nas arestas do nosso terreno caminhar.
Seu colo instiga ao adormecer, já que entre os seus braços sentimos o acolher incondicional, recebido em seu amor maternal.
No caminhar de Diana*, um olhar compassivo mede e determina o tamanho de seu coração. Já adultos, encontramo-nos com a mãe/mulher. Como tal, a Lua surge nas peregrinações cotidianas, forjadas em um feminino que dilacera o homem por meio de uma melodia constante.
Declina entre Lilith e Eva as perdições de Adão, responsáveis pelo êxodo do Paraíso. Mas, incontestavelmente, imputadas pela perdição de inúmeros corações.
Entre o início e o final do percurso, eis um vício corriqueiro: nas lágrimas que escorrem por um rosto infantil, ou mesmo na falsa autonomia do homem crescido, seus braços são chamados à atenção.
Porém, é preciso que o cordão umbilical seja cortado. Um sofrimento perturbador trilha durante o processo. O mundo chama para um caminhar autônomo. Mas que saudades temos de um colo de mãe constante!
* Diana é o nome da deusa-caçadora da mitologia greco-romana. Deusa da luz, irmã de Apolo, filha de Zeus, como Ártemis, seu nome original, protegia as florestas e os animais, mesmo que, como deusa da caça, orientasse as setas dos homens em seu objetivo. Deusa mais popular da Grécia Antiga, habita as florestas, bosques e campinas verdejantes, onde dança e canta com ninfas que a acompanham. Em seu culto, estão presentes danças orgiásticas e o ramo sagrado. Deusa de múltiplas facetas, associadas ao domínio da Lua, virgem, caçadora e parteira que representa o feminino em todos os seus aspectos.
Representa o ideal e a personificação do aspecto selvagem da natureza, a vida das plantas, dos animais e dos homens, em toda a sua exuberante fertilidade e profusão. Na Itália chamaram-na Diviana, que significa “A deusa”. Era de fato a caçadora, deusa da Lua e mãe de todos os animais, que aparece em suas estátuas coroada com a Lua crescente e carregando uma tocha acesa. A palavra equivalente em Latim para “vela” era "vesta" e Diana era também conhecida como Vesta. No seu templo, um fogo perpétuo era conservado aceso. Sua festa anual na Itália era comemorada no dia 13 de agosto. Neste dia os cães de caça eram coroados e os animais selvagens não eram molestados. Bebia-se muito vinho e comia-se carne de cabrito, bolos eram servidos bem quentes junto a maçãs ainda pendentes dos ramos.
A Igreja Católica santificou esta grande festa da deusa virgem — que pediu ao pai, Zeus, que nunca a fizesse casar-se —, transformando-a na festa católica da Assunção da Nossa Senhora, a 15 de agosto. A Lua, que muda de forma tão rapidamente, pode ser encontrada a cada noite de uma forma diferente no céu, sendo um símbolo de inconstância. Sua aparente relação com o ciclo menstrual tornou a Lua representativa de tudo o que é mutável nas mulheres. Ártemis/Diana celebrizou-se pela maneira como se voltava vingativamente contra os que se apaixonavam por ela ou que tentassem abusar de sua feminilidade.
A mensagem deste arcano no Tarot (A Lua) nos previne de que não devemos ter medo de nos dirigir ao desconhecido, de assimilar nossos próprios medos, debilidades, erros, de olhar cara-a-cara a sombra que levamos dentro de nós e de não temê-la. Em nossa época, o arquétipo da feminilidade desta deusa-virgem começa a se tornar importante novamente. Por muito tempo permanecemos à sombra da feminilidade absoluta, sob a influência de uma realidade masculinizada. Mas Ártemis/Diana é tão linda quanto Afrodite e nos fala que a solidão, a vida natural e primitiva pode ser benéfica em algumas fases de nossa vida. Amazona e arqueira infalível, a deusa garante a nossa resistência a uma domesticação excessiva. Além disso, como protetora da fauna e flora, ela é uma figura associada à ecologia contemporânea, onde há necessidade de salvaguardarmos o que ainda nos resta.
Antes que nada nos reste. Vc já ouviu After the garden do cantor canadense-americano Neil Young? Faça-o em http://www.myspace.com/neilyoung, podendo acessar a letra também em http://www.neilyoung.com. O papo é (pra lá de) sério!
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o colunista Fábio Silva:
binhofilho@yahoo.com.br
10 maio 2006
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