O risco geopolítico alto por causa da instabilidade no Oriente Médio e Norte da África somou-se ao risco econômico elevado pelo desastre no Japão e ao risco financeiro ainda não debelado, acompanhado por déficits públicos elevados em grande parte dos países desenvolvidos, crise da dívida pública em vários países europeus e desequilíbrio cambial.
Países emergentes como China e Brasil também mostram problemas como pressão inflacionária, nos dois casos, artificialidade cambial na China e desequilíbrio nas contas públicas no Brasil.
Assim, é possível que estejamos diante de uma elevação do risco do sistema global pela convergência de processos naturais, econômicos e políticos, alguns inesperados e incontroláveis como o desastre no Japão.
Assim, é possível que estejamos diante de uma elevação do risco do sistema global pela convergência de processos naturais, econômicos e políticos, alguns inesperados e incontroláveis como o desastre no Japão.
O desastre japonês tem dois lados igualmente complexos. Um é a repercussão na economia política do país e do mundo dos estragos, no momento incomensuráveis, advindos da combinação entre um violento terremoto de grande magnitude e um tsunami devastador. Os dois destruíram infraestrutura, subverteram toda a logística do país, romperam cadeias de suprimento, interromperam atividades econômicas, destruíram ativos significativos.
Só para se ter uma idéia da extensão desses danos econômicos, o Ipad 2, recém-lançado pela Apple com estrondoso sucesso no EUA e ansiosamente esperado em outros mercados, tem entre seus componentes dois chips fornecidos, em parte, por fábricas que estão na região atingida. O suprimento pode ser afetado por tempo indeterminado, embora fábricas em outras localidades continuem produzindo os chips. É que a demanda pelos iPads é forte e deve crescer.
A crise nuclear, que abrange seis usinas atômicas japonesas e chegou à situação crítica em uma delas, a unidade 3 de Fukushima, já alterou todos os planos de investimento nos mercados mais sérios a respeito de segurança, como EUA, União Européia, Austrália e Nova Zelândia. Certamente terá impacto muito negativo nas ações de empresas do setor nuclear e nos fundos que detenham papéis de empresas de energia nuclear.
Na Alemanha, planos de investimento no setor já voltaram para a prancheta e a chanceler Angela Merkel determinou revisão geral do sistema de segurança de todas as usinas nucleares do país. Algumas delas provavelmente serão fechadas. Aliás, pelos menos três das usinas japonesas, nas quais foi injetada água do mar, podem ter que ser abandonadas, por causa do efeito corrosivo da água marinha.
Na Alemanha, planos de investimento no setor já voltaram para a prancheta e a chanceler Angela Merkel determinou revisão geral do sistema de segurança de todas as usinas nucleares do país. Algumas delas provavelmente serão fechadas. Aliás, pelos menos três das usinas japonesas, nas quais foi injetada água do mar, podem ter que ser abandonadas, por causa do efeito corrosivo da água marinha.
O efeito desses dois desastres, o natural e o nuclear, na indústria de seguros e resseguros será também devastador.
Esses eventos totalmente inesperados somam-se à crise continuada no Oriente Médio e Norte da África, que tem profundas implicações geopolíticas de médio e longo prazo, com potencial para afetar o preço do petróleo de forma sustentada.
Ontem (13/03/11) a Liga Árabe decidiu por unanimidade pedir ao Conselho de Segurança da ONU uma área de restrição aérea sobre a Líbia (no-fly zone). Se o CS tomar essa decisão, ela implica, necessariamente, em bombardear as bases aéreas de Kadafi e suas instalações anti-aéreas. Ou seja, um ato de combate.
Não se sabe exatamente qual seria a reação de Kadafi. Ele aproveitou a tragédia japonesa e a vacilação dos países da OTAN para deflagrar um ataque geral e sangrento contras os rebeldes, na esperança de debelar a revolta antes que a decisão do CS seja tomada. Mas os rebeldes, embora recuando, estão se reagrupando e, aparentemente, recebendo armas e munições de setores anti-Kadafi da região.
O que pode ser um complicador para além da continuidade da beligerância, pois esses setores, no caso de saída do ditador, podem aumentar sua influência no governo que venha a substituí-lo.
Ontem (13/03/11) a Liga Árabe decidiu por unanimidade pedir ao Conselho de Segurança da ONU uma área de restrição aérea sobre a Líbia (no-fly zone). Se o CS tomar essa decisão, ela implica, necessariamente, em bombardear as bases aéreas de Kadafi e suas instalações anti-aéreas. Ou seja, um ato de combate.
Não se sabe exatamente qual seria a reação de Kadafi. Ele aproveitou a tragédia japonesa e a vacilação dos países da OTAN para deflagrar um ataque geral e sangrento contras os rebeldes, na esperança de debelar a revolta antes que a decisão do CS seja tomada. Mas os rebeldes, embora recuando, estão se reagrupando e, aparentemente, recebendo armas e munições de setores anti-Kadafi da região.
O que pode ser um complicador para além da continuidade da beligerância, pois esses setores, no caso de saída do ditador, podem aumentar sua influência no governo que venha a substituí-lo.
No Bahrein, o aumento da rebelião popular levou o governo para o caminho do confronto e não o da negociação, como se esperava. Ele pediu ajuda aos países do Golfo Arábico e há notícias de que tropas da Arábia Saudita estão em seu território para ajudar na repressão. O governo saudita havia, dias antes, reprimido duramente manifestações de protesto em duas regiões, uma delas de grande concentração xiita, na fronteira com o Bahrein.
A maioria na Arábia Saudita é sunita mas, em Bahrein e no Iraque, as maiorias são xiitas. A repressão saudita em Bahrein pode se revelar um grave erro estratégico porque pode acirrar o conflito xiita-sunita. Neste caso, sunitas de outro país estariam atacando a população xiita de Bahrein. Pode desestabilizar o rei Hamad bin Issa al-Khalifa em Bahrein e complicar o quadro na Arábia Saudita.
A maioria na Arábia Saudita é sunita mas, em Bahrein e no Iraque, as maiorias são xiitas. A repressão saudita em Bahrein pode se revelar um grave erro estratégico porque pode acirrar o conflito xiita-sunita. Neste caso, sunitas de outro país estariam atacando a população xiita de Bahrein. Pode desestabilizar o rei Hamad bin Issa al-Khalifa em Bahrein e complicar o quadro na Arábia Saudita.
Essa situação de maior instabilidade pode consolidar o patamar de US$ 100 p/b para o preço do petróleo e contribuir para as tendências recessivas oriundas de outras crises. Já se fala, por toda a UE, em risco de estagflação.
É um cenário de alto risco, que não estava nos cálculos e que pode adquirir contornos sistêmicos pelos efeitos dinâmicos de cada uma das crises nas demais. Do ponto de vista de duração, esse cenário ainda está em aberto. A se confirmar essa contaminação sistêmica, como se sabe, o resultado é sempre maior que a soma das partes.
O grau de incerteza aumentou muito. Situações complexas, de alta capacidade de dano político, econômico, social, humanitário e físico, sobre as quais há grande incerteza, estão, por definição, no ponto mais elevado na escala de risco. Risco tem a ver com incerteza, imprevisibilidade e pouco conhecimento de causas ou efeitos. É o que estamos vivendo atualmente.
*Sérgio Abranches é cientista político, analista de riscos políticos e um dos diretores do site (O) Eco .
Imagem by www.topnews.in
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