18 fevereiro 2021

Colecionando os dias alheios





“Buscavidas” do argentino Carlos Trillo e  do uruguaio-argentino Alberto Breccia, reúne histórias publicadas nos  anos 1980, em que um estranho e rotundo personagem caça relatos da vida de pessoas de todo tipo, como ocupação integral. Não se sabe quem ele é, ou de onde vem, e seus traços fisionômicos são inexpressivos.

Não obstante, tais relatos têm, invariavelmente, tortuosos e surpreendentes enredos, cujos desfechos nunca são felizes, catalogando, para os “arquivos” deste “colecionador”, contextos tão exóticos quanto familiares, retratando a sociedade contemporânea que habitamos.



Há sempre um detalhe mórbido ou picaresco nessas histórias, e os desenhos, sim, os desenhos em P&B de Breccia  que magistralmente já colaborara com o também argentino Héctor Oesterheld (roteirista desaparecido em 1977 durante a ditadura militar) em “El Eternauta”, onde desenvolveu sua ímpar criatividade , evoluíram para um traço inimitável, avassalador, desnorteante, muito particular. 


O artista afronta limites acenando caricaturalmente à técnica do chiaroscuro e transcende o comportamento e as fronteiras possíveis de uma história em quadrinhos: se Trillo é genial, Breccia é bestial. 

Os dois juntos vieram celebrar um encontro póstumo, nesta versão brasileira da Comix Zone (2020), que é verdadeiramente para connaisseurs. Confira.



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