O que é mesmo a moda?!?
M de mudança, M de manifestação. Para muitos, a moda não passa de simples indumentária. Acabam não se dando conta do quanto pode a moda expressar sobre o indivíduo. Afinal, existem várias formas de declarar algo a alguém — entre elas a fala, a escrita, os gestos e uma outra possibilidade de expressão: o estilo pessoal.
A comunicação pode ocorrer de forma verbalizada ou não-verbal. A moda possibilita, através da indumentária, essa comunicação não-verbal. A partir do vestuário, você pode construir a imagem de uma pessoa, ou saber como ela é o que gosta de fazer, ou ainda apreender a visão que ela tem do mundo à sua volta, entre outras percepções.
O modismo pode ser considerado um fenômeno admiravelmente presente na sociedade, demarcando o tempo, o lugar e as pessoas dentro de uma determinada cultura. Sendo assim, a moda é que influencia a sociedade, ou ao contrário? Como exatamente é a moda considerada uma manifestação sócio-cultural?
Não é tão simples nem tão óbvio como muitos pensam: a roupa tem, sim, o poder de comunicar e influenciar a sociedade. A partir do momento em que fazemos uso de certa indumentária, adquirindo hábitos e nos transformando de diversas formas para nos ajustarmos à realidade, estamos também produzindo e respondendo aos estímulos que nos rodeiam — estamos nos comunicando fazendo uso da moda.
A roupa assume uma função distintiva, marcando aquilo que há de mais aparente: a diferença entre as camadas da sociedade. E a classe mais baixa, para tentar se igualar à mais alta, acaba tentando imitá-la, começando pela aparência. Essa reação estimula a inovação por parte da classe alta, para continuar mantendo essa distinção. A busca pelo "novo" passa a ser a meta dessas "camadas superiores", gerando movimentos circulares intermináveis.
Mas a moda não pode ser pensada apenas como uma espécie de diferenciador social, sendo, também, um indicador cultural. A sociedade acompanha a moda, que acaba sendo uma tradução da atual situação de um determinado povo, numa determinada época. Conforme o "profeta da aldeia global" Marshall McLuhan, a moda "dá conta de uma certa estruturação simbólica própria de uma determinada cultura”.
É com apoio nessas afirmações que podemos constatar que o pensamento às vezes assumido por algumas pessoas sobre a moda, de que seja algo desnecessário e fútil, é equivocado. Verificamos que a aparência pode refletir, traduzir ou simplesmente veicular idéias fortes e complexas, que a moda expressa ou provoca, em certos casos.
Quando uma determinada pessoa usa uma roupa de marca muito conhecida, de valores altos, logo a sociedade subentende que aquela pessoa tem uma situação financeira elevada. Quando um indivíduo está feliz, de bem com a vida, ele se veste de um jeito alegre. Quando está triste, insatisfeito, veste-se de forma discreta. Assim, a roupa acompanha o status social e o estado de espírito das pessoas.
Ora, as "tribos" são formadas por pessoas que têm pensamentos, ideais e comportamentos em comum. Também podemos dizer que esses grupos acabam formando "territórios", em que as pessoas são acolhidas, adquirindo segurança e um sentimento de familiaridade. A aparência, neste caso, se apresenta como um elemento agrupador, pois a moda se torna um instrumento do “reconhecer-se”.
Para representar, apresentar, manifestar algo não é preciso necessariamente só o uso das palavras. Neste caso, o visual, a comunicação não-verbal, consegue atingir esse objetivo. Portanto, nada no ramo da moda é por acaso: o uso das cores, estilos, materiais, tendências nas coleções, tudo é feito para representar alguma coisa, tem um significado.
Só que às vezes há pessoas que utilizam a indumentária para esconder, camuflar. A roupa transforma-se em escudo, defendendo um homem de outro. Serve, assim, de falsificação do “eu”, não deixando ver o que se realmente é, mas sim o que se gostaria de ser. Vai-se fabricando, desse jeito, através do vestuário, um ser ideal, objeto de desejo que supostamente irá ser bem acolhido por todos.
Enfim, a palavra "moda", com apenas quatro letras e duas sílabas, tem muita coisa a nos dizer. Antes de julgá-la de forma preconceituosa, procuremos conhecê-la melhor. Desvendemos a moda e suas peculiaridades.
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Nayara Gusmão é jornalista e especialista em Moda & Comunicação
arayan_rosa@hotmail.com
21 setembro 2006
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