05 setembro 2006

PELA PAZ UNIVERSAL

Conhecimento com valores humanos


A pedagogia vigente sofre os efeitos colaterais da cultura de violência, através da separatividade do saber e da fragmentação do conhecimento. Nas escolas em que nós e nossos filhos estudamos, as estruturas de construção pedagógica existem a partir de fundamentos materialistas e mecanicistas.

O modelo de escola que conhecemos e a maneira pela qual se estabelecem os métodos que organizam o saber foram pensados pelas mentes capitalistas, que constituíram um modelo de escola semelhante ao de uma fábrica, que dispõe os alunos seqüenciados em números, em séries e em compartimentos que lembram linhas de produção industrial.

Até hoje, a grande maioria das escolas ainda possui sirenes como as antigas fábricas e ainda se escutam professores dizendo “soltei os alunos” ao término das aulas, como se eles estivessem realmente presos. A linguagem pedagógica é, ainda, recheada de adjetivos da cultura de violência, refletindo a massificação do imaginário capitalista: “grade curricular”, “hora do recreio”, “autoridade do professor”, “dia de teste”, “semana de provas”, “nota baixa”, “nota alta”, são alguns dos chavões que permeiam a linguagem do cotidiano das escolas do mundo.

Os professores também são frutos desse sistema e robotizam-se na repetitividade, e sem se darem conta ocupam um papel autoritário de “detentores do conhecimento”, operando uma pedagogia impositiva que forma gente submissa, obediente e direcionada, fazendo o jogo da ideologia dominante que atua em um “espaço oculto” da escola, cujo objetivos fundamentais são a não-participação e a subserviência.

Os prejuízos colhidos ao longo do tempo são inúmeros. O resultado no longo prazo foi a produção final de uma sociedade marcada pela indiferença e omissão, fruto de uma escola que induz a competitividade e a antissocialização. Até hoje, o objetivo da escola, cantado e decantado “é a preparação do aluno e sua transformação em uma ferramenta qualificada para disputar o mercado de trabalho”. As escolas do mundo não estão preocupadas em formar seres humanos para serem melhores. As escolas preparam o homem para a vida, mas não preparam o homem para viver.

O professor tornou-se um mecanicista, um especialista apenas na sua disciplina. O enfoque disciplinar gerou a especialização e o especialista, o expert, que passou a ser o novo herói moderno. A fragmentação do saber robotizou a moderna civilização, reduzindo o homem, com o seu complexo mistério, a um conjunto de engrenagens. Os efeitos colaterais deste modelo se fazem evidentes na alienação e empobrecimento do ser, que vem resultando na construção das sociedades infelizes que compõem o mundo, fruto de uma escola que reproduz conhecimento e oferece educação sem valores humanos.

O MovPaz-Movimento Internacional pela Paz e Não-Violência desenvolve uma campanha de alfabetização em Cultura de Paz que acontece simultaneamente entre professores, alunos e diretores de escolas. O intuito é produzir o impacto de uma mudança de percepção nas estruturas educacionais, construindo uma nova abordagem que transforme a escola em um espaço de construção da Paz. Nesse sentido, educadores e estudantes aprendem ao mesmo tempo, através do Kit-Paz — um conjunto de conteúdos pedagógicos que reprogramam educadores e estudantes para estabelecerem a mudança da cultura de violência para a Cultura de Paz.

O Kit Paz reúne várias pedagogias que se integram em uma síntese denominada Educação pela Paz. Essas pedagogias aproximam as culturas do Oriente e do Ocidente, superando a fragmentação e a separatividade do conhecimento, reconstruindo a religação dos saberes e desenvolvendo o surgimento da consciência de inteireza dos educadores e dos alunos. Os conteúdos do Kit Paz estabelecem as bases fundamentais para uma educação com valores humanos. Esses conteúdos são utilizados durante a implantação da semana da Cultura de Paz que integra o programa do projeto Educação Pela Paz nas Escolas.

Quando o Kit-Paz é entregue durante a capacitação dos professores e pedagogos, elabora os primeiros elementos para construir uma educação transformadora, que pouco a pouco vai se tornando uma revolução silenciosa. São as primeiras conquistas de mudança de consciências que formarão as bases de uma nova cidadania no futuro.

Atividades nas escolas

Durante a Semana da Cultura de Paz — que antecede o Dia Municipal da Paz (que é comemorado em Fortaleza no segundo domingo de setembro), a escola se transforma em um espaço de construção da Cultura de Paz, uma vez que, ao invés das aulas ordinárias em seu lugar estabelece-se um programa onde estuda-se a Paz em três aspectos simultaneamente integrados: Paz Ambiental, Paz Social e Paz Interior.

Todo o conteúdo foi planejado para alcançar principalmente as escolas públicas, devendo se adaptar com mais facilidade às escolas particulares. Com o programa Educação Pela Paz nas Escolas, invertemos o “currículo oculto”, e substituímos o “mercado de trabalho” pela “conquista da excelência humana”. Sempre buscando a importância dos valores humanos, constrói-se assim, através da pedagogia, uma educação que ensine os seres humanos a serem mais felizes.

Ao invés da robotização mecanicista das estruturas dominantes da pedagogia vigente, a Educação Pela Paz acessa o indivíduo para que seja feita a sua transposição de “competidor do mercado de trabalho” para “construtor de soluções para o mundo”.

Quem são nossos heróis?

As escolas do mundo nos impuseram e ainda impõem aos estudantes, como condição obrigatória para recebermos o diploma de formação, a necessidade imperiosa de estudar todas as guerras, com seus componentes de degradação e horror, de morte e destruição. Contudo, nas salas de aula do mundo não se estuda, uma hora sequer, de Paz. Somos obrigados a reverenciar como heróis guerreiros matadores que venceram as mais importantes batalhas, homens e mulheres que estiveram envolvidos em conflitos revolucionários.

A cultura de violência estabeleceu que a História fosse contada pelo vencedor: por isso, o Duque de Caxias, que venceu a Guerra do Paraguai, é o Herói Patrono do Exército Brasileiro. No entanto, quando visto pelos paraguaios, Luís Alves de Lima e Silva era apenas um destemido matador de mulheres grávidas e de crianças. Assim Mem de Sá, Herói do Desbravamento Nacional, quando visto pelos índios, revela-se um dos maiores matadores de silvícolas da América do Sul.

As escolas nos fazem ainda reverenciar os heróis internacionais, como Napoleão Bonaparte, Alexandre – O Grande, os Césares e muitos outros, todos guerreiros matadores, invasores, violentos e sanguinários. A cultura de violência também se universaliza, quando prestamos atenção às letras compostas para os Hinos de todas as Nações do Mundo, que unanimemente evocam as batalhas, a dominação pela luta, o derramamento de sangue, as espadas, as mortes, as guerras.

Porque os heróis das escolas não são os homens que trabalharam pela excelência humana, os construtores da Paz, os arautos da não-violência, como Mahatma Gandhi, Albert Schweitzer, Chico Xavier, Martin Luther King Jr., Francisco de Assis, Tereza de Calcutá, Steve Biko, John Lennon, Carol Wojtyla e tantos outros que seguem desconhecidos dos cotidianos das salas de aula do mundo? O motivo fundamental é a tônica da cultura de violência, que conduz o imaginário coletivo das sociedades humanas exercendo seu poder de dominação sobre as estruturas pedagógicas das escolas do mundo.

Está provado cientificamente que ninguém nasce com um gene ou uma determinação genética para ser violento, ninguém nasce detestando outra pessoa por causa da cor de sua pele: tudo isso aprendemos pela cultura. Ora, se aprendemos a sermos violentos pela cultura de violência, também podemos aprender a ser pacíficos pela Cultura de Paz. Paz, princípio governante de todas as relações

É a cultura de violência que estabelece que o objetivo fundamental das escolas é o mercado de trabalho, cujo princípio governante são as estruturas financeiras que determinam os modelos econômicos de dominação e exploração do homem pelo homem. Quando os valores humanos forem inseridos na educação, não construiremos apenas técnicos repletos de informações no cérebro, aprimorados no intelecto, porém pobres de sentimento no coração.

A instrução puramente dita, sem ética e sem valores, se torna perigosa. O conhecimento, sem a bondade, nos deu as bombas e as armas. A educação com valores humanos molda e transforma o caráter e nos dará, no futuro, uma sociedade mais humanizada, com construções éticas de valorização pela vida. Quando a Cultura de Paz se tornar dominante, passaremos a construir as bases de uma sociedade mais feliz. Somente com uma Educação pela Paz poderemos alcançar, um dia, a condição de termos a Paz como princípio governante de todas as relações. Quando isso acontecer, faremos por este Planeta, em 10 anos, o que não conseguimos em muitos séculos.

Resgate da consciência

Dizia Mahatma Gandhi que, “para uma mente não violenta, a humanidade é uma só família”. A construção de um mundo inter-relacionado, inter-dependente, nos remete a uma nova visão de humanidade. José Martí, durante a luta pela independência de Cuba, sua pátria, declarou que sua verdadeira terra-natal era a humanidade inteira. Ele também disse que não pode haver ódio entre as raças, porque “não há raças”, ou seja, "raça" é um conceito artificialmente formado.

Foi a percepção de uma humanidade universal — a grande família humana — que também inspirou a expressão de Martin Luther King Jr., quando proferiu “eu tenho um sonho: que um dia meus filhos vivam num país onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo valor do seu caráter”.

Na Educação pela Paz é importante realçar a noção de percepção da Terra, como a nossa grande casa. Quando todas as escolas do mundo fizerem disso uma prioridade, isso terá um grande efeito benéfico na própria vida familiar. Todos esses princípios propiciam o surgimento de um sentimento vivo, de altruísmo universal. Nasce a percepção de que cada um de nós é responsável por toda a humanidade. É preciso para isso desenvolver, a partir de nós mesmos, uma globalização da consciência, como uma constante construção.

Hoje, mais do nunca, precisamos mostrar às crianças que as distinções entre o “meu país e o seu país”, a “minha religião” e a “sua religião”, são considerações secundárias. Ao invés, devemos insistir no fato de que o “meu” direito à felicidade não deve ter mais importância do que o direito “dos outros”. Indo ainda mais além, é preciso desenvolver uma Pedagogia da Terra, a fim de que possamos traduzir em vontade a realização de uma cidadania terrena, para que também cresça e se desenvolva uma consciência planetária que resgate a identidade terrena do ser humano.

Se perguntarmos numa sala de aula, a qualquer estudante, para apontar a natureza, ele se dirigirá a uma janela e apontará para uma árvore ou uma montanha, mas nunca apontará para si mesmo. Com a cultura da separatividade, perdemos a relação com a Terra — e por nos sentirmos tão separados dela é que nos tornamos predadores. Como maus agricultores, tiramos a laranja batendo na laranjeira. Embora precisemos da Terra para a nossa subsistência, não a tratamos como fonte essencial das nossas vidas.

Com uma Pedagogia da Terra, desenvolveremos em nós a consciência de inteireza que determina a percepção de que todas as coisas estão interligadas. Foi essa lucidez que norteou a percepção de Francisco de Assis, como “homem ecológico”, o “irmão universal”. Ele viveu há 800 anos e ainda está muito à frente da humanidade. Francisco se confraternizava com tudo, religava todas as coisas, casou os céus com a Terra, as estrelas com as formigas. E o vento, o sol, a lua e o lobo eram seus irmãos, e sua vida uma síntese das mais fascinantes e generosas potencialidades do ser humano.

Paz plural versus religião singular

A percepção da paz é plural. Já a percepção religiosa nos dá a esperança de uma humanidade pacífica pela igualdade. Não corresponde à verdade, embora se apregoe religiosamente que um dia haverá um só rebanho para um só pastor. Mas enquanto tivermos religiões institucionalizadas isso nunca será possível. Somente teremos um só rebanho para um só pastor, quando a única religião da Terra for o Amor e o único pastor, Deus. Nunca teremos uma humanidade absolutamente igual, porque existem desigualdades evolutivas.

A percepção da Cultura de Paz nos remete à uma humanidade pacífica, em que o respeito às diferenças e à compreensão de que é nas diferenças que somos iguais é que contitui as bases de uma humanidade pacífica. A percepção religiosa é singular porque a religião limita, uma vez que estabelece a fronteira nos horizontes de seu partido de crença.

O Instituto do Milênio, organização Internacional da qual participam mais de 50 Prêmios Nobel de diversas áreas, estabeleceu que durante o período da "civilização" foram perpetradas por todos os povos cerca de 15 mil guerras que deixaram um doloroso rastro de horror e destruição, mais de 80% delas motivadas pela intolerância religiosa. O Século XX foi o mais sangrento de toda a História, quando mais se matou seres humanos.

Assim, o passado histórico das religiões determina que elas não tiveram competência para construir a Paz no mundo. Todas elas se subdividiram motivadas por conflitos, politizaram-se e muitas se estatizaram, produzindo segregações e divisões que deram margem à manutenção da intolerância. A Paz no mundo será o resultado de uma construção da sociedade civil organizada, que norteará seus próprios caminhos no processo de mudança da cultura de violência para a Cultura de Paz. O método eficaz para alcançarmos esse objetivo no mais curto prazo é através de uma educação que construa suas bases fundamentadas na Cultura da Paz. Paz e Não-Violência são as éticas que podem mudar o mundo.

A percepção da Paz é plural porque a Paz é absoluta, não pode ter partido, está acima das religiões, dos homens e das instituições. Paz é síntese integrada entre as diferenças, não podendo ser um resultado de uma forma de crer, que é relativa, mas sobretudo um processo sistêmico de construção interior, uma vez que não a encontraremos em nenhum lugar externo.

Isso simplesmente porque a Paz não é um ser, não é uma entidade, nenhum precipitado isolado em algum lugar, à espera de um encontro. A única Paz possível é a Paz construída e ela não está em lugar algum, a não ser dentro do próprio indivíduo. Dentro de nós mesmos.

*Este instigante símbolo foi desenvolvido em 1935 por Nikolai Konstantinovich Roerich (9/out/1874 - 13/dez/1947) . Preocupado com a paz mundial, ele criou a "Pax Cultura", em que os círculos vermelhos representam as artes, as religiões e as ciências, dentro de um círculo aberto maior que simboliza a cultura. A cor utilizada seria a do fluido que os seres humanos têm nas veias do corpo. Tudo coerente a uma ideologia de fraternidade.

Roerich foi um pintor e professor espiritual russo. Nascido em São Petersburgo, visitou, na década de 20, Nova York (EUA), aonde criou, junto com sua esposa, várias fundações de mecenato cultural e de teosofia. Educado no seio de uma família apologista da paz, interessava-se por literatura, filosofia, arqueologia e, especialmente, arte.

Roerich depois percorreu a Ásia, estabelecendo-se na Índia em 1928, país conhecido por seus líderes pacificadores e teósofos. Ali fundou o Intituto Himaláico de Arqueologia. No ano seguinte foi nomeado para o Nobel da Paz, pela Universidade de Paris.

Em 1935, recebeu a segunda nomeação. A 15 de abril assinou com os EUA o Pacto de Roerich, um antecipado instrumento de proteção às artes. Entre os seus trabalhos destaca-se Convidados ao estrangeiro, obra concebida em 1899. Roerich faleceu em Punjab, na Índia. A maioria de suas obras conserva-se hoje em museus europeus, como o Museu Nacional de Artes da Letônia.

SAIBA MAIS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nikolai_Konstantinovich_Roerich


PARTICIPE
2.ª Caminhada Pela Paz em Fortaleza
Domingo, 10 de setembro, a partir das 16 horas na Av. Leste-Oeste (Kartódromo), com grande encerramento musical ao lado da igreja de Sta. Edwirges. No evento, a presença dos artistas Geraldo Azevedo, Waldonys, Dorgival Dantas, Eliane Chagas, Márcia Porto e outros.

SAIBA MAIS
www.movpaz.com.br
http://www.londrinapazeando.org.br/
www.movpaz.org

CONTATE
Clóvis Nunes, coordenador do MovPaz Nacional
Tel.: (85) 8888-5533
pazpelapaz1@yahoo.com.br

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