Uma cidade
e um Theatro*
O jardim desenhado por Burle Marx e a sede do IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional formam um conjunto arquitetônico belíssimo, harmonioso e monumental numa cidade carente de edifícios de prestígio.
Só isso já justifica sua inserção na iconografia urbana, e muitos, especialmente, os de fora, associam imediatamente a imagem do José de Alencar com a própria cidade. O que seria de Fortaleza sem ele?
Foi-se o tempo em que as casas de espetáculos de grande porte, equipadas para suntuosas apresentações, ocupavam lugar de destaque na paisagem urbana. Fortaleza conta com palcos para os mais variados espetáculos. Contudo, nenhum se destaca. Podem contar com modernos recursos cênicos, mas não compõem o perfil urbano da cidade.
Essa condição e qualidade são exclusividades do charmoso Theatro. Raros são os artistas que não registram sua emoção ao se apresentar no palco do garboso José de Alencar.
Sua arquitetura majestosa se destaca na extremidade sul da Praça com o mesmo nome. A cidade cresceu, seguiu novas direções e o velho Centro se ressente muito. Tentaram tirar tudo do bairro mais tradicional de Fortaleza. Entretanto, o velho Theatro resiste, contraria os que apostavam em sua decadência.
O povo reverencia o José de Alencar a seu modo. Ninguém é indiferente à sua grandiosidade. Os adeptos da dramaturgia e de outros espetáculos continuam prestigiando sua programação. Ficam pouco tempo. Formam fila na bilheteria, assistem às apresentações e saem rapidamente. Nas ocasiões de grandes solenidades, o Theatro se engalana, amplia sua sala de estar avançando pelos jardins e garante festas concorridas e elegantes.
Entretanto, é na faina cotidiana da vida da cidade, no meio de um povo apressado, que se percebem os vínculos afetivos do cidadão com a tradicional casa de espetáculos. Ninguém passa por ele de forma indiferente. Uns se benzem. Pensam tratar-se de igreja. Outros alteram o ritmo dos passos e, curiosos, olham as portas enormes, o frontal, a vidraça da fachada interna. Observam o jardim.
O tempo passou e o Theatro resistiu. Uma visita guiada é imperdível. Contemplar as pinturas de Ramos Cotoco, subir as escadinhas helicoidais das torrinhas e do alto constatar a ousadia da fachada vitral com suas cores fortes.
Atravessar as passarelas, transpor a moderna cortina de vidro, garantia da climatização do foyer, parar e admirar a delicada estrutura de ferro, os balcões, as cadeiras de palhinha, o teto ricamente pintado e seu belo lustre. Fortaleza faz muito bem em se orgulhar de seu belo Theatro. Quantos são tão belos quanto ele?
*José Borzacchiello da Silva é geógrafo e professor titular da Universidade Federal do Ceará.
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