08 janeiro 2013

DAPRAIA COMIC RELIEF

Riso fácil é...
mangação!


Uma hilária sequência de amostras do
trabalho de 4 feras do traço cearense!


1) GUABIRAS
Meu filho Luís: vida pelus óio!
Uma parada animalesca!



2) DENILSON ALBANO


História da evolução da Terra


Pressão e possibilidades




3) JEFFERSON PORTELA








4) NEWTON SILVA
Após as eleições...





Foco parlamentar



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25 dezembro 2012

LOST TAPES FOUND

The Beatles in Melbourne, Australia


Esta apresentação ao vivo dos "Fab Four" realizada em 1964 na Austrália é um verdadeiro "achado" -- hoje aqui, um grande presente de Natal. As canções utilizadas para fazer este concerto foram apenas recente e plenamente divulgadas (em 2004): andavam "perdidas". Os textos do vídeo trazem estas e outras informações.

Mas agora podemos saborear o visual restaurado e remasterizado desses momentos de nua & crua Beatlemania, com a musicalidade das bandas que abriram o show e o aparato artístico à época em que estas performances ocorreram. Parece que foi ontem, um tempo em que ainda não se haviam popularizado os jeans, as T-shirts e os tênis... 

Enjoy!







29 novembro 2012

"FAÇA O MELHOR QUE PUDER"

Decisões morais*




É uma da tarde, e você dirige uma caminhonete pelas ruas de São Paulo. De repente, você esbarra num carro parado; ao lado dele, dois motoqueiros; um dos dois enfia seu braço armado pelo vidro do motorista do carro; o assaltante ameaça e grita, ele pode atirar a qualquer momento, quer seja porque não estão lhe entregando o que ele pediu, quer seja porque não gostou do que lhe foi entregue, quer seja porque, simplesmente, ele está nervoso e a fim de matar.


Atrás de você e da cena do assalto, só buzinam os mais afastados, que não enxergam o que está acontecendo. Os mais próximos ficam paralisados, divididos entre o medo e a vergonha por não reagirem e por serem cidadãos de um lugar onde isso é possível e corriqueiro.

Você está na posição ideal para pisar fundo e atropelar os dois meliantes, antes que atirem ou que fujam, ganhando, mais uma vez, dos assaltados e de todos nós.

Você não vai acelerar. É por medo de que o assaltante evite seu carro e acerte você com um tiro? É por preguiça de se envolver com polícia e investigação? Ou receia que cúmplices e familiares dos criminosos se vinguem?

Tudo bem, imaginemos que seja noite funda: não há ninguém, só os assaltantes, os assaltados e você. Ninguém verá nada. Ainda assim, você não vai acelerar?

Talvez prevaleça em você a inibição que paralisa a muitos na hora de machucar um semelhante, mesmo odioso. Ou talvez você queira agir "segundo a lei". Mas você sabe que a lei contempla e admite a "legítima defesa de terceiro"? Tudo bem, sua única obrigação jurídica é acionar a autoridade competente: fique no seu carro e ligue para a PM, uma viatura chegará a tempo para interromper o assalto e proteger os assaltados -não é verdade?

Ok, você hesitou demais, um dos assaltados acaba de ser baleado. Juridicamente, você não tem responsabilidade por não ter agido. A lei não exige de ninguém que seja herói. Mas será que isso é verdade também da moral? Você vai dormir tranquilo?

Outro dilema. Agora, imagine que, exatamente na mesma cena, você seja o assaltado. A caminhonete do dilema anterior apareceu, atropelou os assaltantes e sumiu. O bandido para quem você entregou sua bolsa está no asfalto, numa poça de sangue. Você faz o quê? Chama uma ambulância e espera para dar depoimento? Ou recupera o que lhe foi roubado e vai embora?

Já escrevi aqui mais de uma vez: admiro a teoria dos estágios do pensamento moral, de Lawrence Kohlberg. Resumindo, com nosso exemplo: é inútil querer decidir se é mais moral jogar a caminhonete para cima dos ladrões ou se esconder atrás do volante.

O que importa é a razão de nossa escolha. Se decidirmos por medo da punição, por conformidade ou mesmo por respeito à lei, nossa conduta será moralmente medíocre. Se decidirmos segundo o que nos parece certo, em nosso foro íntimo, nossa conduta -seja ela qual for- será de uma qualidade moral superior.

Mais uma coisa: Kohlberg também mostrou que a gente não melhora moralmente à força de memorizar valores ou exemplos a seguir, mas destrinchando dilemas e ponderando como e por que agiríamos de uma maneira ou de outra.

Os dois dilemas que acabo de expor são extraídos de um filme excelente, que não me sai da cabeça, Disparos, de Juliana Reis, em cartaz desde sexta passada.

"Disparos" acontece no Rio, embora seu roteiro seja, hoje, mais paulistano do que carioca. De qualquer forma, não perca o filme e não fuja do debate íntimo sobre o que você faria numa situação parecida (até porque as chances de viver uma situação parecida aumentam a cada dia).

O Senado acaba de incluir disciplinas de ética no currículo do ensino fundamental e médio. Espero que se evite a monumental estupidez de ensinar ética normativa, ou seja, de querer enfiar valores em nossas crianças -goela abaixo, como se fossem partículas consagradas.

Para crianças como para adultos, "aprender" ética significa aprimorar a disposição a pensar moralmente, ou seja, a capacidade de debater, em nosso foro íntimo, os enigmas complexos (e, muitas vezes, insolúveis) que a realidade nos apresenta. Como disse, essa disposição só melhora à força de encarar dilemas.

Sem esperar o mais que provável desastre do novo curso, podemos ir (e levar nossos adolescentes) ao cinema. Disparos é um filme perfeito para pesar a complexidade da vida urbana no Brasil, ou seja, para pensar o que significa sermos morais hoje, aqui, no lugar em que estamos vivendo.



*o psicanalista italiano Contardo Calligaris é Doutor em Psicologia Clínica e escritor. Ensinou Estudos Culturais na New School (NY, USA) e foi professor de Antropologia Médica na Universidade da Califórnia em Berkeley (CA, USA). Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo -- as patológicas e as ordinárias. Texto publicado na versão impressa do caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo (www1.folha.uol.com.br). (imagem por iga.com em http://videogamecritic.net)






14 novembro 2012

O SOM DO FEELING

Overdose sonora

Jeff Beck exibe garra, destreza e timbres muito pessoais. Este guitarman é, ao lado de Jimmy Page e Eric Clapton, o responsável pela alta qualidade e experimentalismo do Rhythm & Blues procedente da Grã-Bretanha há cerca de 40 anos.







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http://uwall.tv





12 novembro 2012

CIÊNCIA & CONSCIÊNCIA ANIMAL

Descoberta aquece debate*

O grau de humanização de uma sociedade pode ser
medido pela forma como nela são tratados os animais


   
As confusões reinantes no planeta por conta de guerras e crises financeiras tiraram de foco um importante manifesto lançado, há duas semanas, por neurocientistas, alertando para confirmações de pesquisas que apontam a existência de graus de consciência —mais do que os suspeitados— em animais. As implicações de tais resultados poderão revolucionar a forma como os humanos veem e se relacionam com os animais.

A prova de que não se trata de sensacionalismo está na respeitabilidade de instituições envolvidas na pesquisa – tais como os institutos de tecnologia Caltech, MIT e Max Planck. A eles pertence o grupo de neurocientistas responsável pelo manifesto no qual se afirma que o estudo da neurociência evoluiu de modo tal que não é mais possível excluir mamíferos, aves e até polvos do grupo de seres vivos que possuem consciência. 

A declaração está sendo encarada como um possível marco divisor na forma como o pensamento filosófico e o pensamento político encararam a questão dos animais até agora.

Tais conclusões reforçam a luta pelos direitos dos animais. O racionalismo ocidental havia quebrado a respeitosa visão originária das antigas tradições em relação aos bichos. No entanto, no próprio Ocidente, a evolução da doutrina dos direitos fundamentais levou à incorporação também de outros seres vivos, além dos humanos. 

Hoje, não é possível conceber o Estado Democrático de Direito sem incluir uma legislação protetora dos animais. É a base para se combater a crueldade contra eles.

Por isso, o grau de humanização alcançado por uma sociedade pode ser medido também pela forma como nela são tratados os animais. O combate à crueldade deve ser feito não só pela repressão, mas, sobretudo, pela educação. 

Em certas áreas rurais, por exemplo, considera-se natural a tortura empregada por crianças e adolescentes contra animais silvestres e domésticos. Isso embota a qualidade da compaixão e cria as condições psicológicas para a violência contra o próprio ser humano.

Que esta nova descoberta da ciência sirva para remover tal deformação cultural e melhorar a legislação e as formas de tratar os animais, inclusive, os meios de abate dos que são sacrificados para servirem de alimento ao bicho homem. Até que um dia, quem sabe, o próprio abate possa ser dispensado para sempre.


(Editorial publicado em www.opovo.com.br)
(imagem em petshopandmore.com)



10 novembro 2012

DESPEDIDA

Mudanças*



Mais uma semana começa sem alarde, discreta, iniciando seu ciclo igual a todas as semanas de sempre. E minha vida também parecer recomeçar com ela, pois assim caminha, descaminha a humanidade em qualquer lugar desse mundo velho sem porteiras nem fronteiras. Certamente, se o inesperado não mostrar a sua cara, todos os dias decorrerão tão rotineiramente semelhantes feito irmãos gêmeos e o tédio será, sem dúvida, minha companhia mais frequente. Nada poderei fazer para mudar tal estado de coisas. 

Só me restará seguir, acompanhar obediente o marchar do resto do rebanho a batalhar, sem descanso, pela sobrevivência. Raros homens estão libertos desse cotidiano, esmagador destino. Dessas obrigações, desses compromissos dos quais é impossível escapar, fugir, desde que Adão e Eva foram expulsos injustamente do terrenal paraíso por um locador de maus bofes. E eu, que sonhava tanto, quando moço, em ser um sujeito completamente livre, preocupado apenas comigo mesmo e ninguém mais. Entretanto, a juventude nos dá esse direito de sermos tolos e ingênuos, preparando a alma para suportar, mais tarde, o terrível peso da realidade.

Claro que a vida, embora seus pesares, indubitavelmente vale a pena de ser vivida. Não profiro aqui nenhuma novidade. Tampouco besta não sou de pensar o contrário, porque se assim o fosse, de há muito já teria dado cabo da minha por desespero e desencanto totais. Por maiores e mais graves que sejam os problemas que nos afligem, nos atormentam, roubam descaradamente o nosso sono, existe sempre um jeito de resolvê-los, de encontrar uma solução, uma saída de uma maneira ou de outra, por bem ou por mal, quer nos custe mais ou menos. 

Ou então, na pior das hipóteses, de conseguir atenuá-los do melhor modo possível que esteja ao nosso alcance. Nada é definitivo. Tudo é circunstancial, deletério, provisório, assim acredito. Para quem já esteve perto da morte e viu, de vislumbre, a sua assustadora carantonha como eu, a vida passa a possuir um valor de imensidão desmesurada. Aprendi, com tal aterradora experiência, a procurar viver intensamente um dia de cada vez, preso a cada momento, a cada instante do tempo presente, do aqui e agora, despido de preocupações quanto ao futuro, pois sei que ele chegará impreterivelmente, pontual como um cobrador, ao meu encontro. Enquanto o amanhã não acontece, somente o hoje me importa, interessa, faz parte do meu show, seja ele alegre ou triste, me mostre uma cara simpática ou me exiba um sardônico sorriso.

Há gente que escolhe viver à moda peru de Natal, morrendo de véspera, cingido pelo abraço doentio da ansiedade. Já fui assim nas antigas quebradas do meu existir. Se as coisas não ocorriam como eu as havia planejado, costumava armar uma tosca tragédia de circo mamulengo. Mergulhava de cabeça numa cava depressão e a vida perdia, então, todo e qualquer sentido. Em verdade, comportava-me qual um adolescente mimado quando meus desejos e quereres eram contrariados, sem dar-me conta que me tornava um chato insuportável para todos aqueles que comigo conviviam dentro e fora de casa. Faltava-me senso de humor suficientemente capaz de me fazer rir das minhas próprias desgraças e desditas. E sem senso de humor, até uma prosaica topada num paralelepípedo assume ares de uma tremenda catástrofe. 

Pronunciava a palavra "azar" por qualquer dá-cá-aquela-palha, sem perceber que a má-sorte sempre atende a quem a chama, a invoca com imbecil assiduidade. Custei a aprender a viver, mas fui forçado a adquirir esse demasiado necessário aprendizado, que diferencia os homens dos meninos na hora da onça beber água. Disse, uma vez, o poeta Torquato Neto: “Levem um homem e um boi ao matadouro. O que berrar primeiro é o homem, mesmo que seja o boi”. A velhice e o sofrimento podem não nos tornar mais sábios, mas nos ensinam a compreender que as coisas são como são. Algumas podem ser por nós mudadas e outras, não. As coisas estão no mundo, só que é preciso aprender.

Hoje, a minha tolerância ficou mais elástica, inclusive para com a burrice alheia. Claro que não desenvolvi a infinita paciência de um monge trapista, porém deixei de correr continuamente o risco de morrer de raiva, de um ataque de apoplexia, enfurecido por qualquer besteira. Findei por descobrir a verdade mais simples de que não posso controlar tudo aquilo que acontece ao meu redor, a falar menos e escutar mais, tornar-me mais flexível em minhas opiniões, mantendo, entretanto, a rigidez dos meus princípios éticos. Até chego a levar, como não fazia dantes, desaforo pra casa, desde que não me sinta profundamente ofendido nem desrespeitado, porque aí o negócio muda de figura e minha reação é do tamanho ou maior que a ação. 

Meu sangue continua quente, contudo aprendi como esfriá-lo nos momentos em que se faz preciso tentar resolver os conflitos usando a calma de um pacifista. Manter a tranquilidade tornou-se uma arte que busco exercitar todos os dias e vi que minha vida melhorou bastante em qualidade. Sei que inda falta muito o que aprender na dura escola do existir, porém procuro ir me transformando em um aluno bem comportado — mas não tanto que termine por virar covarde e saia correndo, rabo entre as pernas, diante dos insultos e ameaças alheias.

*O médico-psiquiatra Antônio Airton Machado Monte, poeta do cotidiano que publicara textos 
no Jornal da Praia já nos anos 1980, deixou-nos em 10/09 passado. Deus o guarde, cronista





06 novembro 2012

MATERNIDADE PLANETÁRIA

Quando vamos crescer?*




A infância nos faz deparar com a surpresa, com o encantamento, com o olhar sensível às belezas esquecidas. A infância é capaz de despertar no adulto o desejo de proteger e de ser melhor. Talvez sejam esses alguns dos motivos pelos quais a maternidade é um presente.

Ser mãe, cada vez mais, é uma opção e não uma consequência de ser casada ou de ser mulher. Embora muitas mulheres pensem assim, há poucas décadas isso era impensável e ainda hoje há quem acredite  que ser mãe é a principal função da mulher, e que a vida sem filhos é vazia ou mesmo egoísta.

"Uma grande opressão paira sobre toda a feminilidade terrena, desde que foi difundida a ilusão de que o destino principal de uma mulher seria a maternidade", considera o escritor Abdruschin, na obra Na Luz da Verdade.

Muitas ideias contaminam o solo do senso comum, sem que se saiba exatamente sua origem e, de repente, cresce um exército, que caminha sem consciência ou convicção, numa mesma direção.

"A sociedade contemporânea prega esse ideal da igualdade não individualizada porque necessita de átomos humanos, cada um idêntico ao outro, para fazê-los funcionar em massa, suavemente, sem atrito. Todos obedecendo aos mesmos comandos, embora todos estejam convencidos de que estão seguindo seus próprios desejos", analisa o psicanalista Erich Fromm.

Ainda que obedecer possa ser uma virtude, de vez em quando é preciso levantar a cabeça e avaliar a que comandante estamos obedecendo e por qual motivo. Convicção, comodismo ou ignorância?

Os grandes desafios e inúmeros encantos que envolvem a maternidade e a paternidade são indiscutíveis. Porém, contribuir para marcar a infância de forma positiva e ser referência não é papel exclusivo dos pais, que geralmente já carregam uma carga grande de responsabilidades e culpas.

Basta fazer um breve exercício de imaginação: como seria criar filhos num mundo diferente? Em um país com publicidade responsável? Numa sociedade em que adultos cuidam de crianças, independentemente de quem sejam seus pais? Em um agrupamento que efetivamente respeita direitos e deveres, que cultiva a ética e os interesses coletivos?

Além da minha mãe, grandes mulheres marcaram a minha infância e continuam marcando a minha vida. Mulheres que buscam humanizar as relações e o cotidiano. Mulheres pensantes, que conseguem misturar ternura e tenacidade. Lembro-me de uma professora que cuidou da minha infância: ela não fazia todas as nossas vontades e era exigente, mas era capaz de me cativar na mesma medida em que me estimulava a ser melhor. Ela sabia acolher sem perder de vista o rumo.

Nós todos podemos proteger as crianças, definir que tipo de atitude teremos enquanto adultos frente à infância que nos cerca. Mais do que gerar uma criança, é preciso ter a consciência sobre a relevância de ser adulto, de ser humano, sem perder a conexão com o encantamento.

"Não é em vão que nas recordações da infância se insere uma leve melancolia. Trata-se do sentimento inconsciente de ter perdido alguma coisa que deixou um vazio, a incapacidade de intuir ainda infantilmente. Mas decerto tendes notado muitas vezes o efeito maravilhoso e revigorante que causa uma pessoa, apenas com sua presença silenciosa, de cujos olhos irrompe de vez em quando um brilho infantil", escreve Abdruschin. A minha professora tinha um brilho infantil no olhar.

Quando vamos crescer a ponto de sermos exemplos para as crianças? Quando vamos exercitar uma maternidade planetária, que cuida de tudo o que é vivo e precisa de proteção? Quando a nossa pegada pelo planeta vai ser menos árida e mais fértil? Me ajuda a sonhar?


*o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Hughes Galeano é autor de As Veias Abertas da
América Latina
, O Livro dos Abraços e Memória do Fogo, entre mais de 40 livros 


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www.graal.org.br/




22 outubro 2012

MANIFESTO

Em defesa da Civilização


Economistas formados na Unicamp escreveram 
o “Manifesto em Defesa da Civilização”


Em um texto cuja concisão não aparenta refletir a ampla dimensão de sua finalidade, economistas egressos da Universidade de Campinas-Unicamp alertam para a profunda regressão social em curso nos países desenvolvidos e apontam que a crise atual intensifica um processo iniciado no início dos anos  1970. 
"Sob o ideário liberal dos mercados, em nome da eficiência e da competição, a ética da solidariedade foi substituída pela ética da concorrência ou do desempenho. O desempenho no mercado é o que define a posição do indivíduo na sociedade: vencedor ou perdedor. Neste cenário, o desemprego e o trabalho precário atingem proporções dramáticas, ampliando a massa de perdedores". 
"O Welfare State, ao invés de se espalhar pelo planeta, encampando as tradicionais hordas de excluídos, encolhe, aumentando a quantidade de deserdados", afirmam. Diante desse quadro, perguntam: "estamos nós, hoje, vivendo uma crise que nega os princípios fundamentais que regem a vida civilizada e democrática? E se isso for verdade: quanto tempo mais a humanidade suportará tamanha regressão?"
O Manifesto em Defesa da Civilização organiza reflexões gestadas pelo núcleo Plataforma Política Social – Agenda para o Brasil do Século XXI, que pretende ser uma trincheira na defesa e na consolidação da cidadania conquistada pela sociedade brasileira em 1988 — inspiradas, em grande medida, nos princípios de seguridade social e de universalidade que orientaram a ação governamental nos “anos de ouro” (1945/1975) de "capitalismo regulado".  
Segue a íntegra do documento.

"Vivemos hoje um período de profunda regressão social nos países ditos desenvolvidos. A crise atual apenas explicita a regressão e a torna mais dramática. Os exemplos multiplicam-se. Em Madri, uma jovem de 33 anos, outrora funcionária dos Correios, vasculha o lixo colocado do lado de fora de um supermercado. Também em Girona, na Espanha, diante do mesmo problema a Prefeitura mandou colocar cadeados nas latas de lixo. O objetivo alegado é preservar a saúde das pessoas. 
Em Atenas, na movimentada Praça Syntagma situada em frente ao Parlamento, Dimitris Christoulas, químico aposentado de 77 anos, atira contra a própria cabeça numa manhã de quarta-feira. Na nota de suicídio ele afirma ser essa a única solução digna possível frente a um governo que aniquilou todas as chances de uma sobrevivência civilizada. Depois de anos de precários trabalhos temporários o italiano Angelo di Carlo, de 54 anos, ateou fogo a si próprio dentro de um carro estacionado em frente à sede de um órgão público de Bologna. 
Em toda a zona do euro cresce a prática medieval de anonimamente abandonar bebês dentro de caixas, nas portas de hospitais e igrejas. A Inglaterra de Lord Beveridge, um dos inspiradores do Welfare State, vem cortando recorrentemente alguns serviços especializados para idosos e doentes terminais. Cortes substantivos no valor das aposentadorias e pensões constituem uma realidade cada vez mais presente para muitos integrantes da chamada comunidade europeia. 
Por toda a Europa, museus, teatros, bibliotecas e universidades públicas sofrem cortes sistemáticos em seus orçamentos. Em muitas empresas e órgãos públicos, é cada vez mais comum a prática de trabalhar sem receber. Ainda oficialmente empregado é possível, ao menos, manter a esperança de um dia ter seus vencimentos efetivamente pagos. Em pior situação está o desempregado. 
Grande parte deles são jovens altamente qualificados. A massa crescente de excluídos não é um fenômeno apenas europeu. O mesmo acontece nos EUA. Ali, mais do que em outros países, a taxa de desemprego tomada isoladamente não sintetiza mais a real situação do mercado de trabalho. A grande maioria daqueles que hoje estão empregados ocupam postos de trabalho precários e em tempo parcial, concentrados no setor de serviços. Grande parte dos postos mais qualificados e de melhor remuneração da indústria de transformação foi destruída pela concorrência chinesa. 
Nesse cenário, a classe média vai sendo espremida, a mobilidade social é para baixo e o mercado de trabalho vai ficando cada vez mais polarizado no país das oportunidades. No extremo superior, pouquíssimos executivos bem remunerados, que têm sua renda diretamente atrelada ao mercado financeiro. No extremo inferior, uma massa de serviçais pessoais mal pagos sem nenhuma segurança, que vivem uma realidade não muito diferente dos mais de 100 milhões que recebem algum tipo de assistência direta do Estado. O Welfare State, ao invés de se espalhar pelo planeta, encampando as tradicionais hordas de excluídos, encolhe, aumentando a quantidade de deserdados. 
Muitos dirão que essa situação será revertida com a suposta volta do crescimento econômico e a retomada do investimento na indústria de transformação nestes países. Não é verdade. É preciso aceitar rapidamente o seguinte fato: no capitalismo, o inexorável progresso tecnológico torna o trabalho redundante. O exponencial aumento da produtividade e da produção industrial é acompanhado pela constante redução da necessidade de trabalhadores diretos. Uma vez excluídos, reincorporam-se – aqueles que o conseguem – como serviçais baratos dentro de um circuito de renda comandado pelos detentores da maior parcela da riqueza disponível. 
Por isso mesmo, a crescente desigualdade de renda é funcional para explicar a dinâmica desse mercado de trabalho polarizado. Diante desse quadro, uma pergunta torna-se inevitável: estamos nós, hoje, vivendo uma crise que nega os princípios fundamentais que regem a vida civilizada e democrática? E se isso for verdade: quanto tempo mais a humanidade suportará tamanha regressão? A angústia torna-se ainda maior quando constatamos que as possibilidades de conforto material para a grande maioria da população deste planeta são reais. É preciso agradecer ao capitalismo, e ao seu desatinado desenvolvimento, pela exuberância de riqueza gerada. 
Ele proporcionou ao homem o domínio da natureza e uma espantosa capacidade de produzir em larga escala os bens essenciais para a satisfação das necessidades humanas imediatas: diante dessa riqueza, é difícil encontrar razões para explicar a escassez de comida, de transporte, de saúde, de moradia, de segurança contra a velhice etc. Numa expressão: escassez de bem-estar
Um bem-estar que marcou os conhecidos 'anos dourados' do capitalismo. A dolorosa experiência de duas grandes guerras e da depressão pós-1929 nos ensinou que deveríamos limitar e controlar as livres forças do mercado. Os grilhões colocados pela sociedade na economia explicam quase 30 anos de pleno emprego, aumento de salários e lucros e, principalmente, a consolidação e a expansão do chamado Estado de Bem-estar Social (Welfare State). 
Os direitos garantidos pelo Estado não deveriam ser apenas individuais, mas também coletivos. Vale dizer: sociais. Dessa maneira, ao mesmo tempo em que o direito à saúde, à previdência, à habitação, à assistência, à educação e ao trabalho eram universalizados, milhares de empregos públicos de médicos, enfermeiras, professores e tantos outros eram criados. 
O Welfare State não pode ser interpretado como uma mera reforma do capitalismo, mas sim como uma grande transformação econômica, social e política. Ele é, nesse sentido, revolucionário. Não foi um presente de governos ou empresas, mas a consequência de potentes lutas sociais que conseguiram negociar a repartição da riqueza. Isso fica sintetizado na emergência de um Estado que institucionalizou a ética da solidariedade. O indivíduo cedeu lugar ao cidadão portador de direitos. 
No entanto, as gerações que cresceram sob o manto generoso da proteção social e do pleno emprego acabaram por naturalizar tais conquistas. As novas e prósperas classes médias esqueceram-se de que seus pais e avós lutaram e morreram por isso. Um esquecimento que custa e custará muito caro às gerações atuais e futuras. Caminhamos para um 'Estado de Mal-estar Social'! 
Essa regressão social começou quando começamos a libertar a economia dos limites impostos pela sociedade, já no início dos anos 1970. Sob o ideário liberal dos mercados, em nome da eficiência e da competição, a ética da solidariedade foi substituída pela ética da concorrência ou do desempenho. 
É o seu desempenho individual no mercado que define a sua posição na sociedade: vencedor ou perdedor. Ainda que a grande maioria das pessoas seja perdedora e não concorra em condições de igualdade, não existem outras classificações possíveis. Não por acaso, o principal slogan do movimento Occupy Wall Street é 'somos os 99%'. Não por acaso, grande parte da população espanhola está indignada. 
Mesmo em um país como o Brasil, a despeito dos importantes avanços econômicos e sociais recentes, a outrora chamada 'dívida social' ainda é enorme e se expressa na precariedade que assola todos os níveis da vida nacional. Não se pode ignorar que esses caminhos tomados nos países centrais terão impactos sobre esta jovem democracia que busca, ainda, universalizar os direitos de cidadania estabelecidos nos meados do século passado nas nações desenvolvidas. 
Como então acreditar que precisamos escolher entre o caos e a austeridade fiscal dos Estados, se essa austeridade é o próprio caos? Como aceitar que grande parte da carga tributária seja diretamente direcionada para as mãos do 1% detentor de carteiras de títulos financeiros? Por que a posse de tais papéis que representam direitos à apropriação da renda e da riqueza gerada pela totalidade da sociedade ganha preeminência diante das necessidades da vida dos cidadãos? 
Por que os homens do século XXI submetem aos ditames do ganho financeiro estéril o direito ao conforto, à educação e à cultura?As respostas para tais questões não serão encontradas nos meios de comunicação de massa. Os espaços de informação e de formação da consciência política e coletiva foram ocupados por aparatos comprometidos com a força dos mais fortes e controlado pela hegemonia das banalidades. É mais importante perguntar o que o sujeito comeu no café-da-manhã do que promover reflexões sobre os rumos da humanidade. 
A civilização precisa ser defendida! As promessas da modernidade ainda não foram entregues. A autonomia do indivíduo significa a liberdade de se autorrealizar. Algo impensável para o homem que precisa preocupar-se cotidianamente com a sua sobrevivência física e material. Isso implica numa selvageria que deveria ficar restrita, por exemplo, a uma alcateia de lobos ferozes. 
Ao longo dos últimos de 200 anos de história do capitalismo, o homem controlou a natureza e criou um nível de riqueza capaz de garantir a sobrevivência e o bem-estar de toda a população do planeta. Isto não pode ficar restrito a uma ínfima parte dela. Mesmo porque o bem-estar de um só é possível quando os demais à sua volta encontram-se na mesma situação. 
Caso contrário, a reação é inevitável, violenta e incontrolável: a liberdade só é possível com igualdade e respeito ao Outro. É preciso colocar novamente em movimento as engrenagens da civilização."


SAIBA MAIS

(imagem em http://minney.org)

16 outubro 2012

DAPRAIA SOUND TIPS

"Perto da Borda"
(ao vivo em 2009)





Ouça a versão original registrada em vinil nos anos 1970... e siga nesta a letra...




I. The Solid Time Of Change
  (Anderson/Howe)

A seasoned witch could call you from the depths of your disgrace,
And rearrange your liver to the solid mental grace,
And achieve it all with music that came quickly from afar,
Then taste the fruit of man recorded losing all against the hour.
And assessing points to nowhere, leading ev'ry single one.
A dewdrop can exalt us like the music of the sun,
And take away the plain in which we move,
And find the course you're running.

Down at the edge, round by the corner,
Not right away, not right away.
Close to the edge, down by the river,
Not right away, not right away.

Crossed the line around the changes of the summer,
Reaching out to call the color of the sky.
Passed around a moment clothed in mornings faster than we see.
Getting over all the time I had to worry,
Leaving all the changes far from far behind.
We relieve the tension only to find out the master's name.

Down at the end, round by the corner.
Close to the edge, just by a river.
Seasons will pass you by.
I get up, I get down.
Now that it's all over and done,
Now that you find, now that you're whole.


II. Total Mass Retain
(Anderson/Squire)


My eyes convinced, eclipsed with the younger moon attained with love.
It changed as almost strained amidst clear manna from above.
I crucified my hate and held the word within my hand.
There's you, the time, the logic, or the reasons we don't understand.

Sad courage claimed the victims standing still for all to see,
As armoured movers took approached to overlook the sea.
There since the cord, the license, or the reasons we understood will be.

Down at the edge, close by the river.
Close to the edge, round by the corner.
Close to the end, down by the corner.
Down at the edge, round by the river.

Sudden problems shouldn't take away the startled memory.
All in all, the journey takes you all the way.
As apart from any reality that you've ever seen and known.
Guessing problems only to deceive the mention,
Passing paths that climb halfway into the stars.
As we cross from side to side, we hear the total mass retain.

Down at the end, round by the corner.
Close to the edge, just by a river.
Seasons will pass you by.
I get up, I get down.

III. I Get Up, I Get Down
  (Anderson/Howe)

In her white lace, you could clearly see the lady sadly looking.
Saying that she'd take the blame
For the crucifixion of her own domain. I get up,
I get down,
I get up,
I get down.

Two million people barely satisfy.
Two hundred women watch one woman cry, too late.
The eyes of honesty can achieve.
How many millions do we deceive each day?
I get up, I get down.
I get up, I get down.

In charge of who is there in charge of me.
Do I look on blindly and say I see the way?
The truth is written all along the page.
How old will I be before I come of age for you?
I get up, I get down.
I get up, I get down.
I get up, I get down.

IV. Seasons of Man
(Anderson/Howe)


The time between the notes relates the color to the scenes.
A constant vogue of triumphs dislocate man, so it seems.
And space between the focus shape ascend knowledge of love.
As song and chance develop time, lost social temp'rance rules above.
Ah, ah.

Then according to the man who showed his outstretched arm to space,
He turned around and pointed, revealing all the human race.
I shook my head and smiled a whisper, knowing all about the place.
On the hill we viewed the silence of the valley,
Called to witness cycles only of the past.
And we reach all this with movements in between the said remark.

Close to the edge, down by the corner.
Down at the end, round by the river.
Seasons will pass you by,
Now that it's all over and done,
Called to the seed, right to the sun.
Now that you find, now that you're whole.
Seasons will pass you by,
I get up, I get down.
I get up, I get down.
I get up, I get down.
I get up.


[Lyrics from 
www.lyricsfreak.com]



Esta outra versão, registrada em Amsterdam (2001), também ao vivo, propunha visual editado
para conduzir ao Cosmos... uma performance capaz de estimular a mais pura reflexão. 



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