21 novembro 2006

A COLHEITA

Com a indignação de sempre


A maioria dos idiotas que conheço tem diploma universitário. E sobre este assunto, recebi um e-mail de minha amiga Jane Pólo: "A pocotização começou há muito tempo. Escolas medíocres, professores idem. Esse é o ponto de partida. Para onde vai toda essa gente malformada? Ocuparão postos em todos os lugares. Malformado não quer dizer que não tenha inteligência. A inteligência dilapidada dentro de um padrão medíocre, sem princípios morais e éticos, formará indivíduos aproveitadores, exatamente do tipo que vemos aos montes. Meu pai dizia que a educação e a imprensa estavam nas mãos de inescrupulosos e que a colheita seria rápida e trágica. Taí."

Colheita. É esse o nome do que vivemos nestes dias de valores morais tímidos e sacanagens explícitas. Qualquer empreendimento que substitua profissionais bem-formados por outros com fraca formação, colherá perda de competitividade, queda na satisfação dos clientes, perda de participação no mercado, aumento de custos e burocracia. É natural.

Mas o que significa gente “bem-formada"?

Atenção, senhoras e senhores ideologicamente estressados: quanto mais bem-preparadas, cultas, experientes e com formação sólida, mais conseguem interpretar, julgar e tomar decisões com segurança e acerto. No entanto, fazer uma afirmação como essa “nestepaiz” é um perigo. Serei rotulado de, no mínimo, preconceituoso...

Estamos perdidos numa discussão imbecil que incentiva a divisão de classes, taxando de preconceituosos os que acham que pessoas com cultura, instrução e formação são mais capazes que os ignorantes, mal-educados e toscos. Essa discussão transforma o termo “elite” em ofensa e “humildade” em pré-condição de competência, o que até nem seria problema se, para os que defendem essa tese, “ser humilde” não fosse apenas sinônimo de “ser pobre”...

Mas isto é tema para outro artigo. Hoje, o assunto é “colheita”.

Formação sólida não se resume a instrução. Envolve valores morais, referências e vivências... E os processos brasileiros de formação educacional e moral envelheceram, quebraram, ficaram ultrapassados. As escolas despejam no mercado gente cada vez menos preparada. A realidade mostra que os valores morais são... relativos. A mídia incentiva o “ter a qualquer preço”. As referências são substituídas por celebridades.

Um clima generalizado de impunidade faz com que ninguém se importe em dar respostas, cumprir promessas e entregar o que prometeu. Vivemos uma assustadora queda de qualidade nos processos que envolvem... gente. Daí essa pobre colheita. Tá na hora de criar um “ISO 9000” pra gente...

Na verdade, os ISOs e outros programas de qualidade até que tentam abordar os relacionamentos, mas nenhum deles sabe lidar com indicadores intangíveis. Nenhum deles sabe lidar com gente. Para esses programas, não existe vida inteligente fora de uma planilha Excel...

E ficamos assim: de um lado a máquina burocrática, fria e amarrada pelo controle. De outro, um monte de gente precisando de amor, atenção, carinho e compreensão. Aquelas viadagens que não cabem no nosso mundo competitivo, sabe como é? Pois é. E assim, vamos formando máquinas. Toscas máquinas. Capazes de recitar a tabela periódica, mas incapazes de se emocionar com um verso de Cecília Meirelles...

O super-engenheiro, médico, advogado ou empresário que não consegue emocionar-se com poesia, tem instrução. Mas não tem formação. O Brasil precisa de mais que instrução. Precisa de formação. Só assim poderemos ter uma colheita que preste.


*A ilustração desta crônica é a obra Study at a reading desk, de Lorde Frederick Leighton (1830-1896)


LEIA MAIS
http://www.lucianopires.com.br

http://biblio.crube.net

VEJA TAMBÉM
http://www.kingsgalleries.com/1024x768/galleries/leighton2.htm






18 novembro 2006

SOSSEGO E RISO

Cartoon cotidiano por Jefferson Portela


VEJA MAIS (por sua conta e risco)
www.sivirino.com.br

15 novembro 2006

REVOLUÇÃO VERDE

Por um planeta mais equilibrado


Um grupo de especialistas em assuntos ambientais baseado nos EUA calculou que 1 kg de carne obtida a partir de animais mantidos em sistema de criação intensiva requer, em média, 5 kg de grãos, 22,5 mil litros de água (50 vezes mais do que é necessário à produção de 1 kg de trigo) e ainda energia equivalente à proporcionada por quase 9 l de gasolina.

Ocorre que cerca de 60% da água consumida naquele país destina-se à criação de animais. E também que, nas últimas décadas, a produção de grãos aumentou em quase 100% só nos EUA (!). Onde vamos parar? Parece importante ressaltar alguns dados, aplicáveis ao Brasil hoje em dia:

  • calcula-se que atualmente os rebanhos americanos consumem 85% de todo o milho, cevada, aveia e soja produzidos e não-exportados;
  • 33% dos grãos produzidos no mundo são para alimentar os animais criados para o nosso consumo;
  • muitas nações em desenvolvimento plantam e exportam grãos para alimentar o gado das nações ocidentais, enquanto sua população praticamente morre de fome;
  • A maioria das pessoas concorda em que desperdiçar comida não seja algo correto. Contudo, todo o esforço e energia para produzir cerca de 1 kg de proteína de carne desperdiça cerca de 16 kg de proteínas de grãos(!). Este desperdício, só nos EUA, seria suficiente para cobrir 90% do déficit anual de proteína no mundo inteiro;
  • se criarmos um boi nos 4 hectares necessários a isso, teremos 39 kg de proteína após 4 anos (período que o animal "precisa" para estar "apto a ser consumido"). Se plantarmos arroz nesta mesma área e no mesmo período de tempo, obteremos 1,52 mil kg de proteína, sem contar os demais nutrientes;
  • um adulto com 70 kg consome cerca de 70 g de proteína por dia, o que significa que, se criarmos gado, teremos proteína para cerca de um ano e meio. Se, pelo contrário plantarmos arroz, teremos cereal para alimentar este homem durante cerca de 60 anos...

Então, parece que estamos demandando um bocado de mudança em nosso comportamento, frente ao que desfila diariamente em nossos pratos . Ou não?

ASSISTA AO VÍDEO
http://video.google.com/videoplay?docid=8936582183669773950&q=vegan&hl=en

OURO RUBRO

A Fortaleza dos vinhos


O vinho, a despeito de seu teor alcoólico alto, é uma bebida bastante apropriada para consumo sob o nosso clima, muito quente. Citemos alguns bem adequados, entre muitos:

• os vinhos brancos tranqüilos, de uma forma geral, principalmenteos os secos e ácidos, sabem a Verão, a calor e são refrescantes, cheios de vitalidade e otimismo. Não implicam em momentos especiais e são ótimos para serem bebidos em qualquer ocasião — e até mesmo sem motivo. E vão muito bem em barracas de praia, acompanhando a degustação de peixes, ostras, caranguejos e outros mariscos. Entre estes, lembramos os vinhos verdes de Portugal, os Sauvignon Blanc em geral (principalmente os do Novo Mundo), e alguns Chardonnay;

• os vinhos espumantes, leves, com pouco teor alcoólico, são as bebidas refrescantes perfeitas para climas quentes como o nosso. Além disso, têm grande versatilidade na harmonização com nossas comidas praianas. Aqui se destacam tanto os espumantes do Velho como os do Novo Mundo, e particularmente alguns do Brasil, que têm excelente qualidade;

• entre os vinhos tintos, para o dia-a-dia, aconselharíamos os mais leves, com pouco corpo, pouco carvalho, pouco tanino e jovens. Brasil, Chile e Argentina produzem excelentes exemplares, a preços razoáveis;

• e os vinhos rosés, que de tão vilipendiados por alguns falsos entendidos e preconceituosos, sofrem com a imagem frívola que lhes foi imposta de serem um vinho "feminino", mas que têm, normalmente, qualidade muito boa, adaptando-se perfeitamente ao nosso clima e possuindo grande versatilidade na harmonização com os mais variados pratos. Podem, quase sempre, substituir os brancos na sua utilização em praias, ao sol e com mariscos.

Uma prova da aceitação da idéia do vinho em nosso clima quente é que o consumo de vinhos no Ceará cresceu muito, nos últimos anos. A conseqüência natural é que, hoje, a população de Fortaleza que já está tomando vinhos está sendo beneficiada com uma oferta melhor, tanto na variedade como na qualidade dos vinhos disponibilizados, com o inevitável aumento e melhoria de locais especializados para a venda desta bebida, que inclusive observam as condições ambientais necessárias à correta comercialização dos vinhos.

Entre estes, Pão de Açúcar (Náutico), Expand Store, L’Auberge du Vin, Empório Delitalia, Domaine Montes-Claros e tantos outros. Bebamos então vinhos, com a consciência tranqüila de que não estamos cometendo nenhum sacrilégio, mas com moderação. Além de comprovadamente estimularem a saúde, são também refrescantes e apropriados ao nosso clima, harmonizando muito bem com nossas comidas, principalmente as praianas. Saúde a todos.


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jorge.calscoelho@gmail.com

03 novembro 2006

LUZES SOBRE A BÍBLIA

Cabala, Arqueologia e ciência atual


Pensador moderno, o rabino Aryeh Kaplan — um dos eruditos mais importantes, prolíficos e criativos da geração passada — legou-nos imensa obra ao falecer, em 1983. Em um de seus livros, Imortalidade e idade do Universo: Uma visão cabalista, Kaplan escreve sobre as leis da Torá (1), o misticismo e o pensamento judaicos e a Bíblia. Ao contrapor ensinamentos antiqüíssimos às mais recentes descobertas científicas, o autor brinda-nos com alguns de seus mais incisivos e estimulantes textos.

Navegando nas águas profundas da Cabala mostra, por exemplo, como a idade do Universo condiz (segundo a ciência moderna) com a cronologia da Criação relatada no Livro do Gênesis. Da mesma forma, traduz-nos a possibilidade (em termos biológicos) da longevidade dos Patriarcas antes do Dilúvio e a ressurreição dos mortos.

A obra inclui ainda uma discussão sobre Astrologia e Judaísmo e oferece ao leitor uma visão mística do relacionamento homem-mulher. Também integra este volume uma tradução ampliada do Or Hachayim (2) comentário do rabino Israel Lipschitz desenvolvido em 1845, considerado como primeira abordagem judaica sobre a descoberta de fósseis de milhões de anos à luz da Torá. (3)

E não é só: a obra O caminho de Deus, de Moshe Chaim Luzzatto, sistematiza toda a estrutura filosófica em consonância com a prática religiosa judaica, explorando o Regulamento Divino do Mundo e a interseção céus-Terra, de forma lógica e organizada. Aqui, as anotações e comentários esclarecedores do escritor-rabino Aryeh Kaplan tornam sua leitura mais agradável e fonte básica de inspiração e reflexão.

Para quem desejar aprofundar-se indo direto à fonte, o Or Hachayim de Chayim ben Attar (disponível em cinco volumes — respectivamente Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), é um extenso comentário sobre a Torá desenvolvido no séc. XVIII pelo rabino Chayim ben Attar. Sua versão para o Inglês, realizada por Eliyahu Munk, educador com mais de 30 anos de atividade, tornou a obra mais acessível e palatável a uma audiência maior.


SAIBA MAIS
http://www.shabuatov.com/articulos/salanter.php

LEIA MAIS
Or Hachayim. Commentary on the Torah. Volume One: Genesis. Volume Two: Exodus. Volume Three: Leviticus.Volume Four: Numbers. Volume Five: Deuteronomy. Versão inglesa de Eliyahu Munk,1999. Urim Publications (ISBN: 965-7108-12-8 – 2.066 páginas, US$ 125 o conjunto em capa dura)

Imortalidade, ressurreição e idade do Universo: Uma visão cabalística, de Aryeh Kaplan. Editora Sefer (ISBN 85-85583-49-5 - 200 páginas, 16x23 cm, capa flexível)

O caminho de Deus, de Moshe Chaim Luzzatto. Editora Maayanot (280 páginas, R$ 24,00)

SERVIÇO
Editora Sefer
Al. Barros, 893 – Santa Cecília – São Paulo/SP
Tel.: (11) 3826-1366

(1) Torá (do hebraico תּוֹרָה, significando instrução, apontamento, lei) é o nome dado aos cinco primeiros livros do Tanakh (também chamados de Hamisha Humshei Torah, חמשה חומשי תורה - as cinco partes da Torá) que constituem o texto central do judaísmo. Contém os relatos sobre a criação do mundo, a origem da humanidade, o pacto de Deus com Abrãao e seus filhos, e a libertação dos filhos de Israel do Egito e sua peregrinação de 40 anos até a Terra Prometida.

Inclui também os mandamentos e leis que teriam sido dadas a Moisés para o povo de Israel. Por vezes o termo Torá designa, no judaísmo rabínico, todo o arcabouço da tradição judaica, incluindo a Torá escrita, a Torá oral (Talmude) e os ensinamentos rabínicos. O cristianismo baseado na tradução grega septuaginta também conhece a Torá como Pentateuco, que constitui os cinco primeiros livros da Bíblia cristã.

(2) O Or Hachayim é um comentário clássico, cujo texto original encontra-se na maior parte das edições da Mikraot Gedolot (publicado pela primeira vez em Veneza, Itália, 1524-25) com base no Códex Aleppo, mais antigo manuscrito hebreu conhecido contendo o texto completo da Bíblia. É o mais acurado e sagrado documento-fonte, tanto para o texto bíblico quanto para sua transmissão oral, tendo sido através dele que as Escrituras Sagradas vêm sendo preservadas e transmitidas de geração a geração.

O Códex Aleppo foi copiado pelo escriba Shlomo Ben-Buya'a há mais de mil anos e sua autenticidade é garantida pelo Massorah de Aaron Ben-Asher (último e mais proeminente membro da dinastia Ben-Asher, que produziu o texto hebreu da Bíblia). A
o leitor atento, Masorah é um grande corpo de comentários e críticas textuais das Escrituras Hebraicas, incluindo anotações sobre suas características e a ocorrência de certas palavras, fontes varietais, instruções para sua pronúncia correta e outros apontamentos, compilado entre os anos 600 e 900 d.C. por escribas judeus, à margem ou ao final dos textos a que se refere).

Entre os proeminentes rabinos ortodoxos que afirmam ser o mundo mais antigo do que rezam as escrituras e que a vida evoluiu com o tempo incluem-se Aryeh Kaplan, Israel Lipschitz, Sholom Mordechai Schwadron e Zvi Hirsch Chajes. Em resumo, estes rabinos não aceitam a visão de ateístas (como Richard Dawkins, que sustém que a evolução não deixa espaço para a existência de Deus).

Na verdade, cada um desses rabinos toma posição propondo seu particular entendimento da evolução teística, na qual o mundo é muito antigo e a vida realmente evolui com a passagem do tempo de acordo com a lei natural, destacando, contudo, que Deus possui um papel preponderante neste processo.

(3) Israel Lipschitz (Israel Lipschütz, 1782-1860) foi rabino em Dassau e em Danzig, Alemanha. Em 1845, pronunciou célebre conferência sobre a Torá e a Paleontologia em que expôs os ensinamentos dos textos cabalísticos — segundo os quais o mundo atravessou muitos ciclos históricos, cada qual perdurando por muitas dezenas de milhares de anos.

Mais além, associou-os a descobertas geológicas e achados de eminentes paleontólogos (como o do mamute lanoso na Sibéria, Rússia, em 1807, e o de vários esqueletos de dinossauros), abrindo caminho a idéias sobre a evolução do homem um tanto ousadas para a ortodoxia de sua época.