17 fevereiro 2010

TRANSCICLAR É PRECISO

Arte revalorizadora


O documentário Lixo Extraordinário (Waste Land) recebeu dois prêmios em sua participação no 60.º Berlinale - Festival de Berlim: foi eleito pelo público, entre mais de 50 filmes, como Melhor Documentário da Mostra Panorama e ainda levou o prêmio independente concedido pela Organização de Defesa dos Direitos Humanos da AI-Anistia Internacional.

O longa-metragem mostra o desenvolvimento do trabalho do artista plástico Vik Muniz, tendo como cenário o Jardim Gramacho (foto) -- um dos maiores aterros sanitários do mundo.

Co-produzido pela O2 Filmes e pela inglesa Almega Projects, Lixo Extraordinário (Waste Land) já havia conquistado o prêmio do público como Melhor Documentário Internacional no Festival Sundance 2010.

Em Berlim, de 11 a 21 de fevereiro, Waste Land integrou a Mostra Panorama, paralela à disputa pelo Urso de Ouro -- seção do festival que se propõe a ser uma vitrine da produção mundial. Sua primeira exibição, no sábado 13, trouxe à metrópole alemã o co-diretor João Jardim e o produtor Hank Levine, que vieram acompanhar as sessões.

João Jardim, que dirigiu Janela da Alma e Pro dia Nascer Feliz, colabora em Waste Land com a cineasta Karen Harley e a documentarista inglesa Lucy Walker. Assinam a produção executiva os brasileiros Fernando Meirelles e Andrea Barata Ribeiro.

Com esta equipe, Lucy Walker propõe-nos um de seus mais elaborados projetos — uma instalação num imenso depósito de lixo, onde vivem os mais necessitados entre os desvalidos. Ali, muitos sobrevivem apenas dos descartes que encontram, reciclando-os de várias formas. Conhecidos como "catadores" ou "pluckers", alguns deles colaboram com Vik Muniz em seus experimentos de transcriação.

Um deles é Tiao, carismático sonhador que fundou uma cooperativa de catadores. Outro é o "traça" Zumbi, que devora livros como um genuíno intelectual. Há também a jovem Suelen, que com 18 anos já é mãe de duas crianças. Grávida de uma terceira, ela trabalha no lixão desde os 7 anos e tem orgulho de afirmar que nunca teve que se prostituir para viver.

Conduzidas por Vik Muniz, tais personagens transcriam-se em extraordinárias obras de arte. No processo, fotos dos catadores são ampliadas e reconstituídas com sucata, debris e outros descartes, sendo a seguir fotografadas para, por fim, retornarem transcicladas ao mercado.

Neste percurso, as personagens reciclam também a faina que inclui a transformação de si próprias, na constante ida e volta do aterro: o trabalho de Vik mexeu não somente com a visão que estas pessoas tinham de si mesmas, mas também alterou a forma de olharem para o mundo que habitam.

Em resumo, o documentário emoldura uma possível trajetória do lixo dispensado no Jardim Gramacho, maior aterro sanitário da América Latina, situado na periferia de Duque de Caxias (RJ) -- a de ser transmutado pelo artista plástico Vik Muniz, que após registrá-lo em fotografia o faz seguir rumo a prestigiadas casas de leilões internacionais.

Algumas destas obras inclusive retornam ao Rio de Janeiro, para compor as paredes da alta sociedade carioca. A estreia mundial do documentário Lixo Extraordinário, nos EUA, deixou o público do Sundance emocionado e perplexo, a ponto de aplaudir de pé o filme. "O instante em que uma coisa se transforma em outra é o mais belo de todos", sentencia Muniz.

“É surpreendente encontrar tamanha beleza no meio de tanto lixo, descaso e esquecimento. O trabalho do Vik funciona como um bálsamo no meio disso”, comemora Andrea Barata Ribeiro, co-produtora executiva do longa.



FICHA TÉCNICA
Waste Land* (Brasil/EUA/Londres - 2009), O2 Filmes & Almega Projects
Duração: 90 minutos
Ano de Produção: 2009
Diretores: João Jardim, Karen Harley, Lucy Walker
Produtores: Angus Aynsley e Hank Levine
Produtor Executivo: Fernando Meirelles e Andrea Barata Ribeiro
Fotografia: Duda Miranda
Patrocínio: BB Seguros, Brasilveículos, Brasilcap, Eletrobrás

*Viabilizado pela Lei do Incentivo ao Audiovisual (Art. 1.º A)


SAIBA MAIS
http://www.vikmuniz.net/

http://www.wastelandmovie.com/