16 agosto 2011

EUA: COMPLEXO MILITAR-ACADÊMICO

 Forças Armadas na América Latina*



A militarização imperialista na América Latina tem se expressado historicamente de maneiras diversas, mas sua essência permanece. 

Tanto nas novas como nas velhas formas, o objetivo foi e continua sendo o mesmo: obter a dominação e a exploração dos povos. Isto é particularmente válido em um período de crise sistêmica como o que estamos atravessando, quando, mais que nunca, o poder imperial precisa descarregar sobre os povos as consequências da crise, fazendo com que as políticas de dominação assumam contornos brutais.

É de todo importante conhecer as formas renovadas que o projeto imperial assume para poder denunciar seus planos e enfrentá-los. Com essa finalidade, convém concentrar a atenção em dois documentos elaborados nos últimos anos que orientam as ações das forças armadas dos EUA: são eles a Visão Conjunta 2020, VC2020, (Joint Vision 2020), emitido pelo Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, no ano de 2000, e a Estratégia do Comando Sul dos EUA 2018 (United States Southern Command Strategy 2018), preparado pelo Pentágono em 2008.


O núcleo do primeiro documento é a doutrina da dominação de espectro completo — Full Spectrum Dominance —, orientada para proteger o que se denominam “os interesses globais e as responsabilidades dos EUA” na nossa região e no resto do mundo. Segundo a definição, a "dominação de espectro completo" é “a capacidade das forças dos EUA, operando unilateral ou conjuntamente com aliados multinacionais ou forças inter-agências, de derrotar qualquer adversário e controlar qualquer situação em qualquer lugar do mundo”.

Isto inclui conflitos com emprego de forças estratégicas e armas de destruição em massa, guerras em teatro de operações convencional, conflitos regionais e contingências de menor escala, como situações ambíguas que caem entre paz e guerra, tais como as operações para manter e reforçar a paz, a ajuda humanitária e o apoio às autoridades locais. 



Sem subterfúgios, estão a nos advertir sobre o que poderemos esperar das guerras imperialistas do século XXI: uma ação global desdobrada em todos os domínios, no especificamente militar, com seu poder letal, mas também no plano político, econômico, ideológico e cultural, sem limitação ou condicionamentos jurídicos e morais de nenhuma espécie. Não se trata de uma simples ameaça, pois é exatamente o que estão fazendo com a Líbia.

Se alguém ainda duvida de suas intenções, a VC2020 explicita: “Para que nossas forças armadas sejam mais rápidas, mais letais e mais precisas em 2020 do que são agora, devemos continuar investindo e desenvolvendo novas capacidades militares”. Para isso o orçamento de guerra dos Estados Unidos cresce cada ano e na atualidade equivale à soma do orçamento militar dos demais países do mundo.


No atual contexto estratégico mundial, os EUA se percebem como um sheriff global. Por isso, afirmam que suas forças conjuntas devem estar preparadas para se projetar e atuar em qualquer lugar do mundo, aptas a conduzir operações rápidas e sustentáveis, dispondo de liberdade para operar em todo o planeta, seja no espaço, mar, ar, terra ou na área de inteligência.

Isso é exatamente o que propôs a recente cúpula da OTAN, realizada em Portugal, em novembro de 2010, onde proclamou-se o papel global dessa aliança agressiva encabeçada pelos EUA.

No segundo documento mencionado, a Estratégia do Comando Sul dos EUA 2018, são concretizados os conceitos de VC2020 como objetivos estratégicos do governo dos EUA para a América Latina e o Caribe. Vale a pena analisá-lo para se precaver e estar preparado para atuar. É um desafio que propomos aos leitores e que excede os limites deste artigo.


(Texto extraído do documento apresentado por Rina Bertaccini* à Mesa Redonda n.º 7 / O Complexo Acadêmico-Militar dos EUA e suas Relações com a América Latina, promovida no V Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, realizado em Fortaleza, no Seara Hotel, de 8 a 10 de agosto de 2011)
(versão em Português: Olga Benário Pinheiro para conteúdo publicado no jornal O POVO em 20.08.2011)

*Rina Bertaccini é engenheira, geógrafa, presidente do MOPASSOL-Movimento pela Paz, Soberania e Solidariedade entre os Povos (sediado
na Argentina), vice-presidente do Conselho Mundial pela Paz e colaboradora do Observatório das Nacionalidades 
www.nacionalidades.ufc.br

(Imagem de Barack Obama em 
http://southasiarev.wordpress.com/2010/11/page/2)