27 junho 2009

PAPO DE BUGRE

Idioma brasileiro


No Brasil dos paradoxos, acontecem coisas em que a mais fértil imaginação não teria condição de acreditar. O retrato da identidade nacional é composto por um branco, um índio e um negro e, obviamente, falamos um idioma formado por palavras oriundas destas três fontes lingüísticas. No entanto, temos a coragem de dizer que "no Brasil, fala-se o Português". Ledo engano.

No Brasil fala-se um idioma que só se fala no Brasil -- e em nenhum lugar mais. Aliás, somos a única ex-colônia portuguesa que não fala com sotaque português. E isto deve-se à influência da língua tupi, pois seja, o Nheengatú -- ou, como quer o presidente, ao nhén-nhén-nhén... Esta espinha dorsal lingüística brasileira está um tanto desbotada diante de tantas "lavagens culturais" a que foi submetida ultimamente, pelos estrangeirismos que empesteiam o nosso idioma.

A língua portuguesa original trazida para o Brasil continha 140 mil verbetes ou palavras. O Português, esta "língua de marinheiro", contém hoje 260 mil verbetes, fato que o torna a mais rica língua em sinonímica do mundo. Os 120 mil verbetes excedentes em nosso idioma falado, ficam por conta das culturas africanas e tupi-guarani.

Portanto, a tão alardeada "unificação ortográfica e gramatical" torna-se impossível a partir da própria conseqüência lingüística que este idioma adquiriu no Brasil. Isto porque o significado de milhares de palavras oriundas do Tupi, falados diariamente, são completamente desconhecidos por todos indistintamente. E isto, ainda, sem mencionarmos, obviamente, a contribuição lingüística africana.

As três línguas que formam o idioma brasílico têm um sentido e uma objetividade declaradamente importante: o africano nos deu verbetes com os quais nos expressamos na forma espiritual, culinária, lazer, gíria e glotologias. Exemplos: bunda, xodó, bizú, gogó, tijolo, zureta, muvuca, mumunha, maluco, garfo e por aí vai, aos milhares também.

O Tupi nos deu verbetes que permitem-nos ir e vir no real sentido locativo e toponímico. O Português nos deu verbetes que nos fornecem condições jurídicas, políticas e didáticas. Tornar-se-ia impossível a um brasileiro fazer tudo que faz diariamente usando apenas o recurso da língua portuguesa. Daí que....

É IMPOSSÍVEL UMA UNIFICAÇÃO ORTOGRÁFICA COM OS DEMAIS PAÍSES DE "LÍNGUA PORTUGUESA"!

Corrigir a injustiça histórica secular para com a cultura ameríndia brasílica, origem da formação nacional e espírito latente de insubmissão à dominação estrangeira, deve ser o objetivo de todos aqueles que lidam com a Educação e Cultura deste País e que tenham um pouco de amor ao verde-e-amarelo. Antes, devemos propiciar aos milhões de brasileiros que diariamente expressam-se na língua tupi a oportunidade de saberem o significado dessas palavras e, sabendo-o, terem condições de conhecer a história da grande nação Tupi, fato que gerará o inevitável espírito nacionalista e a responsabilidade por sua preservação.

A conseqüência imediata desta providência será a expansão, para além das nossas fronteiras, da verdadeira epopéia da estruturação brasileira, permitindo ainda que as demais nações, por intermédio dos milhares de turistas que pisam o território nacional, saibam, em seu próprio idioma, o significado dos nomes e palavras tão comuns nos logradouros públicos, locais e cidades mundialmente famosas, e, cujos nomes em Tupi não têm, até a presente data, tradução literal e significação, uma vez que os próprios brasileiros não o sabem.

Apenas como informação, longe de ser alguma língua morta e sem origem, o Tupi ou Nhengatú possui uma gramática expositiva dividida em quatro partes -- exatamente como a língua portuguesa: Fonologia, Morfologia, Taxonomia e Sintaxe.

Estamos, portanto, diante de uma prova de que os milhares de nomes toponímicos que descrevem e definem lugares, cidades, praças, ruas, produtos, objetos ou fenômenos da Terra, não foram jogados ao vento "por um caboclo brejeiro qualquer", como quer a explicação até hoje passada nas escolas do País, mas sim fazem parte do aspecto topográfico local, traduzido pelo idioma brasílico, genuíno irmão lingüístico do Português.

Se observarmos apenas algumas das palavras que pronunciamos diariamente, já teremos uma pequena idéia da nossa ignorância e da nossa conseqüente responsabilidade para com o futuro: jacarepaguá é "lago do jacaré"; andaraí é "água do morcego"; aracaju é "tempo de caju"; tijuca é "barro mole"; pará é "mar"; paraná é "rio afluente"; paraguai é "rio do papagaio"; paraíba é "rio ruivo" ou "encachoeirado"; pirapora é "peixe que salta"; pindorama é "país das palmeiras"; sergipe é "rio dos siris"; goiás é "gente da mesma raça"; piratininga é "seca peixe"; curitiba é "barro branco"; mogi-mirim é "riacho das cobras"; carioca é "casa de branco"; anhangabaú é "buraco do diabo"; e ipanema é "água suja".

Estas são apenas algumas das milhares de palavras do idioma tupi faladas e escritas diariamente e que, identificando locais e cidades nacional e internacionalmente conhecidas, fazem parte do nosso vocabulário diário. Porém, as suas traduções ou significados são desconhecidos por todos.

Os padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega dedicaram suas vidas ao estudo e codificação da língua tupi-guarani, bem como os usos, costumes, história e origem antropológica desta grande nação cujo sangue corre em nossas veias, direta ou indiretamente.

Centenas de outros jesuítas sucederam-se aos pioneiros na continuidade deste trabalho, legando-nos verdadeiros tratados acerca de tal assunto, vez que, já àquela época, previam a necessidade das futuras gerações acerca do conhecimento da língua brasílica que faria parte da nossa existência como nação. Mas a leviandade, o preconceito e o racismo de alguns "intelectualóides de beira de jardim" que se revezaram durante anos no controle da educação e da cultura, desprezariam por completo o trabalho destes jesuítas, preferindo dar cunho oficial aos anglicanismos, galicismos e outros estrangeirismos que corroem o nosso idioma e alteram o nosso comportamento.

De tal maneira desafiaram o conceito de "nação" que hoje, nas faculdades, ninguém sabe gramática portuguesa e muito menos gramática tupi-guarani. Só para exemplificar, aí vai um texto que prova a importância da cultura indígena na nossa vida:

"Aí, o presidente Fernando Henrique Cardoso saiu do palácio às margens do Lago do Paranoá, observou uma siriema que ciscava no Palácio do Jaburu e chegou ao seu gabinete, sendo recebido pelo mordomo Peri. Lembrou um assessor sobre as comemorações da Batalha do Humaitá, convocou o ministro do Itamaraty e o governador de Goiás, que visitava seu colega no Palácio do Buriti, e, uma vez juntos, tomaram um suco de maracujá, comentaram sobre as reformas do estádio do Maracanã e as recentes obras no Vale do Anhangabaú, riram de um antigo comentário do Barão de Itararé sobre obras públicas, e, abrindo uma agenda confeccionada em pele de jacaré, passaram, a decidir sobre o carvão de Criciúma, os suínos de Chapecó e a safra de arroz de Unaí."

Viram, falaram, beberam e escreveram em Tupi e não se aperceberam disto. O embaraço maior seria se tivessem que traduzir todas estas palavras para o chanceler francês que visitava o Brasil.

E já que é assim, por que não inserir em todas as placas de ruas, praças, avenidas, estradas, rodovias, monumentos e locais cujos nomes sejam originalmente em língua tupi, o significado em Português, o qual, via de regra, poderá ser traduzido para qualquer idioma estrangeiro?

E por que não explicar nas escolas primárias e secundárias esta fusão da língua portuguesa com a língua tupi-guarani e seus fenômenos toponímicos e gramaticais, usados no cotidiano desde a tenra idade?

Achamos esta saída ideal para um problema que tem gerado situações embaraçosas a brasileiros no Exterior, quando alguém pergunta o significado da palavra ipanema ou, dentro do seu próprio País, quando um filho ou uma filha pergunta: "...Papai, o que quer dizer 'carioca'?"

Diante do desconhecimento total por parte dos brasileiros acerca desta cultura e herança, corremos os riscos de permitir que as gerações futuras pensem que tais palavras, hábitos e costumes, fazem parte da cultura e da língua portuguesas, porém, sem significado e explicação. É o máximo!

E, caso algum especialista em educação e cultura ache que é possível viver sem esta influência lingüística, poderá começar por retirar todas as palavras em Tupi do nosso vocabulário. Inicialmente, terá que trocar o nome de dez estados e sete capitais brasileiras, cujos nomes são em Tupi. Ao depois, trocar os nomes de centenas de municípios, milhões de ruas, praças, avenidas, estradas, rodovias e localidades topográficas cujos nomes também são originários da língua tupi. E finalmente, terá que mudar milhares de nomes próprios e palavras comuns do nosso dia-a-dia, que são verbetes da língua tupi. Aí verá que a comunicação e a locomoção tornar-se-ão impossíveis.

Já que esta terra era propriedade de uma raça tão importante -- que mesmo dizimada, nos legou um tratado lingüístico e antropológico de beleza ímpar --, nada melhor do que repetir a célebre frase de Aimberê, o cacique-comandante da Confederação dos Tamoios no Rio de Janeiro: "Nhandê coive ore retama!" -- ou seja, "Esta terra é nossa!"...

Por esta razão, me considero um legítimo Tupinambá... mesmo porque, no Brasil, TODO DIA É DIA DE ÍNDIO!



*o carioca Eduardo Fonseca Jr. é jornalista e escritor, autor do livro Zumbi dos Palmares -- a História do Brasil que não foi contada e diretor da Sociedade Yorubana Teológica de Cultura Afro-brasileira



19 junho 2009

PSICOLOGIA NA WEB

Nova forma de comunicar


Pertencemos hoje a um mundo imediatista, em que a velocidade das informações tem impacto profundo, como nunca antes teve, na vida das pessoas e no destino das organizações. Graças às incessantes inovações tecnológicas promovidas pelo ser humano, profundas mudanças sociais vêm ocorrendo em todos os pontos do planeta.

Neste momento de grandes transformações que vivemos, em todos os campos, constatamos que as mudanças afetam também o campo de atuação da Psicologia -- que, ao inserir-se neste novo cenário, constrói o atendimento virtual.

No processo, novas formas de tratamento vêm responder às necessidades das pessoas, configurando o atendimento via web entre elas. Esta ferramenta, que dispõe as pessoas em contato com um especialista da Psicologia em tempo real, trabalha diferentes questões pessoais e profissionais, de forma breve e bastante construtiva.

Autoconhecimento, relacionamentos afetivos em conflito, angústia, somatizações, perdas, interpretação de sonhos, baixa auto-estima etc. são alguns exemplos do desempenho do atendimento via web no âmbito pessoal.

Para as pessoas que buscam desenvolver as competências no trabalho, este tipo de atendimento é uma opção que oferece o conhecimento necessário para debater e desenvolver liderança, proatividade, comunicação, relacionamento interpessoal, mudanças de paradigma, resolução de conflitos, estímulo à criatividade e à inovação, tomadas de decisão, apresentações em público, pré-aposentadoria etc...

A área organizacional também se beneficia desta nova abordagem comunicativa, principalmente os Recursos Humanos, campo em que pode-se contar com um consultor capacitado para implantar a Identidade Organizacional (Missão, Visão e Valores) nas empresas, visando alinhar suas equipes com os objetivos organizacionais. O custo torna-se bem mais acessível quando a orientação passa a ser realizada pela Internet e com a utilização de recursos como o Skype.

A web está, desta maneira, revolucionando o mundo, as pessoas e as organizações, na medida em que permite disponibilizar a informação em conexões infinitas de aprendizado.

Vale destacar que a Psicologia na web é reconhecida e aceita pelo CFP-Conselho Federal de Psioclogia, conforme a Resolução n.º 012/2005.


*a psicóloga Márcia H. Souto de Araújo (CRP 17590/06) está atenta às transformações tecnológicas e à evolução da comunicação via web

SAIBA MAIS
psicologanaweb@psicologanaweb.com.br
Skype: psicologanaweb

15 junho 2009

FRUTAS E VERDURAS

A dieta do câncer



A FAO-Food and Agriculture Organization of the United Nations tem proclamado em seus boletins de saúde: “O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e, também, o terceiro do ranking em mortalidade por câncer”.

Até os anos 60, o câncer era uma doença de escassa frequência em nosso País, com cerca de 2% de óbitos. Todavia, a partir dos anos 90, sua incidência tem crescido de foma vertiginosa, em mais de 5.000%.

Causa e efeito, justo em um período de 10 anos (1976 a 1985), crescia em mais de 600% o consumo de agrotóxicos em nossas lavouras. O crescimento destes — implicado em hortaliças, frutas e gêneros alimentícios envenenados — demandou uma preocupante assiduidade da enfermidade.

Câncer e agrovenenos são números ainda crescentes, em alarmante paralelismo. Ignorantes ou indiferentes a essa assertiva, médicos e nutricionistas — estes por excelência — continuam a prescrever dietas à base de frutas e hortaliças.

Tudo bem que o façam, desde que advirtam para o consumo de vegetais saudáveis, oriundos da agricultura orgânica. Lavar frutas e verduras envenenadas em vinagre ou água corrente corrente carece de qualquer validade: eis que os modernos agrotóxicos são sistêmicos, incorporam-se à seiva das plantas.

O fato é que, em quase todas as famílias, chora-se a perda de um ou mais entes queridos, vitimados pelo câncer. Curioso é que, amiúde, o goveno enceta campanha contra o álcool e o tabagismo, mas nunca contra os agrotóxicos, embora estes vitimem gradativamente a quase totalidade da população, enquanto o álcool e o fumo resumem-se a menos de 15%.

Ocorre que as multinacionais dos agrovenenos são poderosíssimas. Tomate, batata, repolho e folhosas em geral, trigo, morango, uva, citros, melão, soja, maçã, pêra e mamão alinham-se entre as culturas mais identificadas com os agrotóxicos.

É inaceitável que pesquisadores e agrônomos, vinculados a instituições governamentais (universidadades, Embrapa, Emater etc.) continuem a pesquisar e a recomendar agrotóxicos. Por quê?

Só sei que, em represália à minha luta contra tais venenos, cassaram-me a bolsa do CNPq que eu detinha há 20 anos. Igual destino teve a minha bolsa da Funcap.


*José Júlio da Ponte é presidente da ACECI-Academia Cearense de Ciências, professor Emérito da UFC, professor Visitante da UECE, livre-Docente de Fitopatologia, membro da New York Academy of Sciences e detentor de uma Medalha de Ouro de Fitopatologia. Lançou recentemente A Manipueira em Quadrinhos, com produção de sua esposa Maria Erbene Góis da Ponte e traços de Zhelio

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www.portalmessejana.com.br/clinicadeplanta

www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=27482

05 junho 2009

HÁ CRESCIMENTO?

MITO ECONÔMICO


Com o costumeiro alarde, há algum tempo foi apresentado à sociedade brasileira o PAC–Programa de Aceleração do Crescimento. Se o retorno a algo de planejamento público é fato positivo, não devemos pôr todas as apostas no mero crescimento econômico. A finalidade da argumentação (quase uma nota técnica) que se segue, é apenas qualificar (ou desmitificar) a crença no crescimento, demasiadamente repetida com ares de verdade absoluta.

Por exemplo, na edição de O Povo de 31.10.2006, lia-se: “O que o País precisa é de crescimento econômico, um fator que não tem componente ideológico...” Sabiamente, o colunista acrescentou: “Unindo-se ao crescimento das políticas de combate às desigualdades...” Repensou melhor, ou seja, pensou em desenvolvimento.

Como todo discurso, o das Ciências Sociais pode ser traiçoeiro, tornando-as facilmente atacáveis por um vírus inarredável, muito bem disfarçado (até inconscientemente) e conhecido pelo nome de “ideologia”. Por exemplo, a taxa anual de crescimento do produto (renda) total parece ser um simples número estatístico-contábil. Uma percentagem, número puro sem dimensão, sobretudo ideológica. Mas... não é.

Num antigo e excelente livro-texto, introdutório à teoria do desenvolvimento, o professor Michael Todaro faz um esclarecedor exercício, ademais muito simples, por utilizar Matemática elementar. Examina a taxa anual de crescimento (aumento da renda dividido pela renda inicial) e revela três situações: regressiva, em que o crescimento tende a aumentar a desigualdade; status quo, em que a desigualdade tende a permanecer a mesma; e progressiva, ou seja, desenvolvimento, em que há crescimento com tendência à diminuição das desigualdades sociais.

Assim, tudo depende das prioridades (pesos) que sejam dadas aos ricos e aos pobres. Isto é importante. Desta forma, numa abstração simples, divide-se a sociedade em duas classes: ricos e pobres. Todaro demonstra matematicamente que a taxa de crescimento da renda total é uma média aritmética ponderada da taxa de crescimento da renda dos ricos e da taxa de crescimento da renda dos pobres.

Aquela citada nas estatísticas oficiais e na imprensa é referente à situação regressiva: seus pesos são a percentagem da renda auferida pelos ricos (que tende a ser alta) e a percentagem da renda que cabe aos pobres (que tende a ser baixa). Então, os ricos valem mais do que os pobres — eis a ideologia sub-reptícia e os interesses absconsos dos que enfatizam apenas o crescimento econômico.

Situação regressiva: quando eu estudava em Berkeley, no início dos anos 1970, o professor e brasilianista Albert Fishlow comparou o período entre os dois Censos brasileiros de 1960 e 1970. Tornou-se aqui persona non grata, ao concluir que a renda dos ricos aumentara em 80% e a dos pobres em 8%.

Simplificando o presente exercício, consideremos (aritmeticamente) 8% e 0,8% ao ano; e tomemos as rendas do trabalho como renda dos “pobres” e as rendas do capital como renda dos “ricos”. Recentemente (2002), foram obtidas as seguintes estimativas: rendas do capital, 44%; do trabalho, 31%; do governo, 25%. Dividamos (conservadoramente) as rendas do Governo em 15% para os “ricos” e 10% para os “pobres”.

Obteremos a seguinte taxa de crescimento: 8% x 59% + 0,8% x 41% = 4,72% + 0,33% = 5,05%. Vemos que a taxa de crescimento da renda total (5,05%) é dominada pela importância da renda dos ricos (4,72%). O que indica, da parte dos mais aquinhoados, o interesse pelo crescimento e, de outro lado, o aumento da desigualdade relativa. Não há desenvolvimento.

Situação do status quo: utilizemos a tal média ponderada, adotando, porém, como pesos, as percentagens da população, distribuída entre ricos e pobres. Digamos que, no Brasil, há 20% de “ricos” e 80% de “pobres”. A nova taxa de crescimento apresentar-se-á como: 8% x 20% + 0,8% x 80% = 1,6% + 0,64 = 2,24%.

Com as mesmas taxas anteriores de crescimento das rendas dos “ricos” e dos “pobres”, a taxa de crescimento total é, agora, muito inferior (2,24% status quo ou a manutenção das desigualdades.

Situação progressiva: na Ciência Econômica convencional, não há uma teoria macroeconômica da distribuição da renda. A Teoria Econômica, ut sic, trata de alocação e eficiência econômicas e não de distribuição ou justiça. A distribuição é questão política, com pesos para cada classe social decididos politicamente.

Para diminuirmos as desigualdades na distribuição da renda (fluxos), os pesos para os pobres devem ser maiores do que sua proporção demográfica. E nem estamos falando de distribuição da riqueza (estoques)... Conservando as taxas de crescimento da renda das duas classes socioeconômicas, demos politicamente pesos de 10% para os “ricos” e de 90% para os “pobres”.

O resultado será: 8% x 10% + 0,8% x 90% = 0,8% + 0,72% = 1,52%. Pelo presente exercício, a importância das duas classes tornou-se praticamente igual (0,8% e 0,72%), no crescimento da renda total (1,52%). Somente com um peso, para os pobres, maior do que sua proporção na população (e uma maior taxa de crescimento de sua renda), serão diminuídas as desigualdades na distribuição da renda (não, ainda, da riqueza). Eis o significado de “políticas de combate às desigualdades”.

De qualquer modo, chama a atenção (em nosso exercício) o fato de que, à proporção em que fomos melhorando a distribuição, a taxa de crescimento da renda total apresentou-se como menor (5,05%, 2,24% e 1,52%). Enfatizemos, porém, que nos três exemplos não variaram as extremadas taxas de crescimento da renda de cada classe (8% e 0,8%).

Temos dois pontos: 1) a taxa de crescimento global diminuiu, mas as desigualdades também; 2) se conseguirmos aumentar significativamente a taxa de crescimento da renda dos pobres, reverteremos o decréscimo da taxa global e diminuiremos muito mais as desigualdades. É o que buscam os Programas Sociais.

Como o Presidente Lula argumentou, em um dos debates da campanha eleitoral, já tivemos períodos de elevadas taxas de crescimento da renda, concomitantemente com a das desigualdades (o “Milagre” brasileiro). Era a velha teoria ideológica do “crescimento do bolo”, a crença nos efeitos de gotejamento (trickle-down effects) ou transbordamento (spill-over effects).

A experiência nos mostra que nem o crescimento, nem o mercado sozinhos distribuem com justiça os fluxos econômicos. As iniqüidades sociais não podem então diminuir, sobretudo em um País que, em sua formação histórica, não repartiu entre todos os cidadãos os estoques da riqueza. Torna-se necessária a “opção preferencial pelos pobres”, enunciada pela Igreja católica na América Latina. A questão é política.

Temos que decidir que tipo de sociedade construiremos: será iníqua, desequilibrada, violenta, autoritária, “a Sociedade do Mal-estar”, ou será justa, decente, pacífica, democrática, “a Sociedade do Bem-estar”? (Ser ou não ser, eis a questão. Ou, o desenvolvimento é o novo nome da paz).

Por tudo isso, é preciso ter cuidado com a palavra “crescimento”, desbragadamente utilizada. Mas, além disso, nem introduzimos aqui as qualificações adicionais que levanta a nova ciência da Economia Ecológica. Por exemplo, estudos da Pegada Ecológica indicam que, se toda a população mundial buscasse atingir o padrão de vida do norte-americano médio, teríamos necessidade de 5,2 planetas Terra!.. Mais do que o crescimento, o que importa é a qualidade de vida. Há panos para muitos outros artigos...
(imagem: The Rich Jew and the Poor Jew: www.galerea.com)

*Osório Viana é Livre-docente em Desenvolvimento Sustentável, aposentado da UFC (PRODEMA) e do BNB (ETENE)


04 junho 2009

A INFLUÊNCIA DOS ASTROS

Cotidiano de estrelas


O Museu do Eclipse, em Sobral, foi fundado em 1999 em comemoração aos 80 anos da comprovação da Teoria da Relatividade. O espaço, climatizado, é dotado de um moderno observatório onde os visitantes podem conferir uma exposição de registros obtidos por luneta e fotos originais utilizadas para comprovar a Teoria de Einstein, além das fotos que registraram a presença de sua expedição científica a Sobral.

Além de imagens de galáxias e planetas, o primeiro mapa lunar do Brasil e o jornal The New York Times que noticiou a comprovação da Teoria, um simulador elétrico de eclipses e réplicas movimentadas do Sistema Solar traduzem, de modo virtual, as experiências das expedições astronômicas.

O Museu está localizado na Praça do Patrocínio, ponto da observação do eclipse de 1919. Para compor o complexo, há ainda um monumento erguido em 1974 em homenagem ao eclipse. O Museu do Eclipse é filiado à Associação Mundial de Astronomia.

Além de programação para visitantes com acompanhamento guiado, o museu também oferece cursos de capacitação para professores. Pelo menos uma vez por semana são realizadas palestras de divulgação científica para o público leigo sobre Astronomia, Cosmologia e História da Ciência.

No período noturno, quando as condições atmosféricas permitem, são realizadas observações detalhadas de corpos celestes de maior visibilidade, como a Lua e alguns planetas.

O Museu do Eclipse em Sobral ajuda também a demonstrar que muitas aplicações da Astronomia estão no dia-a-dia das pessoas. Esta ciência contribuiu para obtermos a nossa organização do tempo e do espaço, assim como na medição da duração do dia, das estações do ano, e na navegação.

Está presente também na vida atual quando, por meio de satélites, faz-se a transmissão de informações por telefone, via televisão, estudos sobre a desertificação, localização de bacias petrolíferas, prevenção de incêndios. São inúmeras as contribuições da Astronomia, inclusive no estudo de novos medicamentos.

Sua influência cultural é outro exemplo, que ampliou o conhecimento do homem sobre si mesmo. O presidente da Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia (SBAA) e diretor do Planetário Rubens de Azevedo em Fortaleza, Dermeval Carneiro, observa que a Astronomia parece abstrata, mas não é. “Ela está presente no nosso dia-dia de várias maneiras, pois na produção de alimentos e na agropecuária estão envolvidas questões relativas ao clima, vegetação e incidência dos raios solares”.

Ele acrescenta que tudo isso interfere na economia. Carneiro, que há 35 anos se dedica à Astronomia, ressalta que a iniciativa da ONU de eleger 2009 como o Ano Internacional da Astronomia (AIA), é uma maneira de estimular os países que fazem parte da organização a divulgarem mais esta ciência.

Afinal, foi a Astronomia que forneceu as ferramentas conceituais para a Astronáutica, bem como possibilitou chegar-se à análise espectral da luz e à fusão nuclear. Segundo o pesquisador, não obstante todas estas contribuições durante muitos anos a Astronomia foi considerada, no Brasil, como uma ciência que se limitava a observar as estrelas.

O estudante Cláudio Henrique, 12, afirma que se interessa pela Astronomia como um todo, principalmente quando se trata de sua parte prática, acrescentando que, além de ler sobre o assunto, gosta dos estudos em laboratório e no observatório.

Já Dennis Weaver, diretor do Observatório do Colégio Christus (também na capital cearense), aponta que estão previstas, como parte da programação do AIA, observações telescópicas em espaços públicos. As metas desta iniciativa incluem tornar as descobertas astronômicas mais presentes na vida diária das pessoas, por meio de sua divulgação em documentários de TV, rádio, jornais e exposições.

Os países que participam da programação do AIA vão relatar à coordenação internacional do evento a participação da sociedade e as atividades realizadas. Com a avaliação, os organizadores querem pesquisar o número de pessoas leigas, especialmente jovens e crianças, que viram o céu por meio de telescópio. “Entre as propostas do AIA está a difusão e a popularização da Astronomia”, ressalta o professor de Física e Astronomia Heliomarzio Rodrigues Moreira.
(do jornal O POVO)


O ECLIPSE DE 1919

Uma das observações científicas mais importantes de toda a história da Astronomia foi realizada no Brasil, em Sobral (CE), por astrônomos da Royal Astronomical Society de Londres, durante o eclipse total do Sol de 1919.

Segundo a Teoria Geral da Relatividade, publicada por Einstein em 1915, a matéria (massa) "distorce" o espaço e o tempo em suas proximidades. Como conseqüência desta distorção, um feixe de luz, ao passar próximo de uma grande massa, deve ser desviado (mudança em sua direção de propagação) por uma quantidade maior do que previa a Teoria da Gravitação formulada por Isaac Newton no século XVII e até então inquestionável.

A luz de uma estrela ao passar próxima ao Sol deveria ser desviada, segundo Einstein, por 1,75 segundos de arco, desvio esse duas vezes maior do que o previsto pela teoria de Newton. Em 1913, Einstein comunica a um astrônomo a sua nova teoria.

O astrônomo Arthur Eddington, da Universidade de Cambridge, rapidamente reconheceu a importância do que teoricamente afirmava Einstein e o fato de poder ser verificada tal teoria durante a totalidade de um eclipse solar — quando podemos ver estrelas que, naquele momento, se encontram quase atrás do Sol.

As posições dessas estrelas, nesse momento, seriam vistas deslocadas pela quantidade prevista por Einstein? O eclipse de 29 de maio de 1919 ofereceria as condições ideais para essa verificação, quando o Sol eclipsado ficaria, visto da Terra, bem próximo a estrelas relativamente brilhantes. (foto: Einstein e Eddington em Cambridge)

Duas expedições foram então organizadas pela Royal Astronomical Society para observar esse fenômeno. Uma delas, chefiada pelo astrônomo Andrew Crommelin, veio para Sobral (CE), cidade, à época, com 2 mil habitantes. Uma outra, chefiada pelo próprio Eddington, dirigiu-se para a Ilha do Príncipe na costa atlântica africana (proximidades da Guiné Equatorial): estes eram os locais apontados pelos cálculos astronômicos como os que apresentariam as melhores condições para comprovar ou refutar a teoria formulada por Einstein.

Na Ilha do Príncipe, o mau tempo prejudicou o trabalho. Na hora do eclipse o céu estava nublado, permitindo que apenas duas das várias fotografias efetuadas apresentassem imagens de estrelas. Porém, Sobral apresentou condições meteorológicas muito melhores, e assim foram obtidas sete boas imagens do fenômeno. No início de novembro daquele ano, a Royal Astronomical Society anunciou que os resultados obtidos confirmavam a teoria de Einstein.
(leia além em www.observatorio.ufmg.br)


SAIBA MAIS

Metas AIA 2009 :
>> Difundir na sociedade uma mentalidade científica;
>> Promover acesso a novos conhecimentos e experiências observacionais;
>> Promover comunidades astronômicas em países em desenvolvimento;
>> Promover e melhorar o ensino formal e informal da ciência;
>> Fornecer uma imagem moderna da ciência e do cientista;
>> Criar novas redes e fortalecer as já existentes;
>> Ampliar a mentalidade científica entre o público geral com a comunicação de resultados científicos na Astronomia;
>> Promover comunidades astronômicas em países em desenvolvimento por meio de colaborações internacionais;
>> Apoiar e melhorar o ensino formal e informal de ciências em escolas, centros de ciências, museus e planetários.


NAVEGUE
AIA-Ano Internacional da Astronomia 2009
www.astronomia2009.org

SAB-Sociedade Astronômica Brasileira
www.sab.org.br

SBAA-Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia
www.sbaa.com.br