31 agosto 2010

NOTA DE FALECIMENTO

Liberdade imprensada*


Circulou nesta terça-feira (31/8) a última edição em papel do Jornal do Brasil (1891-2010), que foi o primeiro diário brasileiro a publicar uma página na internet, em projeto de seu então editor-chefe, Rosental Calmon Alves.

De agora em diante, o JB tenta sobreviver no formato digital, com poucas chances de seguir existindo nos próximos anos. Agonizou nas mãos do empresário Nelson Tanure, o mesmo que tirou o último hálito da Gazeta Mercantil, também extinta no ano passado.

A morte virtual do Jornal do Brasil é tema de duas curtas reportagens na imprensa considerada mais influente. "Jornal do Brasil circula em papel pela última vez", diz o Estado de S.Paulo numa página da edição nacional.

"Última edição impressa do JB circula hoje", anuncia a Folha de S.Paulo na sessão "Poder". O Globo, que durante décadas tomou uma sova do agora extinto concorrente, não lhe dedica nem mesmo uma linha na edição desta terça-feira (31).

A Folha faz um pequeno registro da história do jornal, criado em 1891, lembrando que em 1959 o JB realizou uma revolucionária reforma gráfica e editorial que deu início à modernização da imprensa brasileira. Alinha, entre seus colaboradores históricos, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco.
O Estadão cita Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Manuel Bandeira e Antonio Callado.

Faltaram outros nomes, como o de Alberto Dines. Poucas linhas para muita história. Pouco respeito da imprensa para consigo mesma.

A morte do Jornal do Brasil resulta não apenas de décadas de má gestão. Ele também sofreu com a concorrência injusta da propriedade cruzada dos meios de comunicação, contra um opositor que conta com a maior rede de rádio e TV do país.

Na verdade, muitos de seus leitores já se haviam sentido órfãos havia mais de vinte anos, quando o jornal, cheio de dívidas, se transformou em bandeira de aluguel do ex-governador Paulo Salim Maluf.

Ao tratar com tamanho desprezo o desaparecimento daquele que foi o símbolo do melhor jornalismo brasileiro no século passado, seus antigos concorrentes também justificam a tese segundo a qual as velhas marcas da imprensa se tornam cada vez menos relevantes.

O JB morre sem ao menos uma nota respeitosa de obituário. A velha imprensa morre um pouco com ele e nem se dá conta.


*Comentário do editor do Observatório da Imprensa e colunista de Sustentabilidade do jornal Brasil Econômico, Luciano Martins Costa, para o programa radiofônico do OI

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www.observatoriodaimprensa.com.br

http://www.g1.com.br

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26 agosto 2010

PRA NÃO DESANIMAR

Solitária marcha*



Não, de jeito nenhum, caríssimo(a)s leitore(a)s meu(minha)s. De forma alguma, que não sou homem pra desanimar fácil, de recolher as velas à menor mudança de ventos ou prenúncio de tempestade.

Sim, eu bem sei, há tempos em que tudo dá certo e logo depois, sem que se espere, dá tudo errado, no chamado revertério. Mas e daí?

Se a vida é assim mesmo, com dias ruins, com dias bons, o importante mesmo é jamais desistir de brigar pelo que se quer, até que não reste uma gota mais por que valha a pena lutar. Todo o resto não passa de desculpas furadas ou pura covardia.

Uns querem demais da vida e estão absolutamente certos, porque não há quereres demais em se tratando de viver. O diabo é que a vida não nos dá nadinha de graça, nem sequer a infância -- existe sempre um preço a pagar por nossas promissórias existenciais.

Se é caro ou barato, depende do quanto você é capaz de arriscar, nessa sutil roleta vital de perdas e danos. Por vezes, penso cá com os meus botões se aprender a viver não seria aprender a suportar os perderes em troca de outros ganhares -- que nem sempre sabemos se nos deixarão satisfeito(a)s.

E assim lá vamos nós, levantando e caindo, caindo e levantando, porque pra frente é que se anda ou então se desiste da empreitada, seja ela qual for.

E por falar em perder e ganhar, ao que parece o brasileiro, este ilustre desconhecido, está mais sozinho do que bem-acompanhado em matéria de amor, digamos assim: não sei se isso é verdade ou se a fonte é fidedigna, porém afirmam existir no País perto de dezessete milhões de patrícios sem mulher, junto a uns quatorze milhões de mulheres sem homem.

A continuar por tal e tamanha solitária marcha, daqui a pouco ou cairemos forçosamente na castidade total ou, então, nos perderemos na galinhagem universal. Até que ponto chegamos em termos de cultura e de civilização!

Sofisticamos de tal modo a solidão compulsória que, para nós, o Outro tornou-se uma mera abstração virtual na tela de um computador.

Até onde chegaremos (se é que chegaremos a algum lugar que não seja o precipício) com esse nosso desenfreado narcisismo?

Não sei e nem quero saber. Quero mais é saber de mim mesmo e do Outro -- ou melhor, da outra, que me completa e me eterniza.


*Médico-psiquiatra e escritor, colunista do Jornal da Praia desde a década de 1980, Antônio Airton Machado Monte é um cronista de sua época


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REFESTELANÇA

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Eu, por mim mesmo E MAIS NINGUÉM









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ECOLOGIA E MISSÃO

Jogos de palavras*


A ecologia ambiental carece de maior fôlego. Não se trata de salvar “o meio ambiente”, mas o ambiente inteiro. Com esse jogo de palavras, arrancamos o olhar pequeno do sitiante que protege seu rincão: está em jogo o ser humano enquanto ser inserido na sociedade.

Os cuidados pessoais necessários e primeiros não bastam. Vivemos numa sociedade cada vez mais complexa. Soluções individuais não dão conta dos problemas.

Entra em questão a modificação de nossa concepção. E salta-nos aos olhos o fato de que os dois extremos da sociedade – os mais ricos e os mais pobres – degradam a natureza.

Os primeiros, pelo consumismo desvairado, pelo desperdício insano, sugam-na até à exaustão; os outros a contaminam, por falta de condições humanas de viver.

Ao invés de horrorizar-nos, fascina-nos a abundância de bens que shoppings quilométricos exibem. Nem nos passa pela cabeça o que significa tal esbanjamento de objetos em termos de gasto de energia, de destruição da natureza, de extração de minérios e materiais não-renováveis.
Os ecologistas denunciam sem cessar a inviabilidade total da expansão desse alto nível de consumo para as gigantescas massas asiáticas. E, em grau menor, também para as nossas.

Basta imaginar cidades como Beinjing, México e São Paulo, se cada família tiver dois ou mais automóveis saindo à rua. Tudo para.

Só a gigantesca injustiça social consegue manter as massas pobres longe do consumo conspícuo, abundante, dos ricos.

Do seu lado, os pobres destroem a vida por serem forçados a viver na precariedade: falta de saneamento básico, de assistência à saúde e de outras condições dignas de sobrevivência. Moram em lugares inadequados e perigosos, devem conviver com mais doenças e até com o lixo.

De novo, a injustiça social os mantêm em situação de morte e de semeadores de morte. Só uma ecologia social traz resposta a tal situação.


*J. B. Libanio, sj, originalmente no semanário O Domingo, publicado pela Pia Sociedade de São Paulo (Paulus), num Ano C (verde). Image by Susan at Photobucket

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09 agosto 2010

CRESCIMENTO INSUSTENTÁVEL

Batendo no teto*


"Decrescimento", diz o graffiti inscrito sobre a Coluna de Julho (monumento localizado na Praça da Bastilha em Paris, França) durante protestos dos trabalhadores (greve geral) realizados em 28 de março de 2006 (vivos, certamente, até hoje).

Decrescimento é um conceito essencialmente econômico, mas também político, cunhado na década de 1970, parcialmente baseado nas teses do economista romeno e criador da bioeconomia, Nicholas Georgescu-Roegen, as quais foram publicadas em seu livro The entropy law and the economic process (1971).

A tese do decrescimento baseia-se na hipótese de que o crescimento econômico -- entendido como aumento constante e progressivo do PIB-Produto Interno Bruto em qualquer sociedade humana -- não é sustentável pelo ecossistema global. Esta ideia opõe-se cabalmente ao pensamento econômico dominante, segundo o qual a melhoria do nível de vida só seria possível em decorrência do crescimento do PIB e, portanto, o aumento do valor da produção deveria ser um objetivo permanente da sociedade.

A questão principal, segundo os defensores do decrescimento -- dos quais o também economista e filósofo francês Serge Latouche é o mais notório -- é que os recursos naturais são limitados e, portanto, não existe crescimento infinito. A melhoria das condições de vida deve, consequentemente, ser obtida sem aumento do consumo -- o que implica, necessariamente, na mudança do paradigma atualmente dominante.

Segundo seus críticos, as principais consequências do produtivismo, entendido como a ênfase dada aos aumentos de produtividade e ao crescimento, nas sociedades industriais, tanto socialistas como capitalistas, seriam:

• o esgotamento dos recursos energéticos (petróleo, gás, urânio, carvão) no próximo século, caso se mantenha o atual ritmo de crescimento do consumo;
• o valor decrescente de diversas matérias-primas e o crescente de outras;
• a degradação ambiental, evidenciada pelo efeito estufa, pelo aquecimento global, pela perda da biodiversidade e pela poluição;
• a degradação da flora, da fauna e da saúde humana;
• a evolução do padrão de vida dos países do hemisfério Norte em detrimento dos do Sul, no que diz respeito a transportes, saneamento, alimentação etc.

Embora o produtivismo tenha sido parcialmente questionado pelos defensores do desenvolvimento sustentável, a crítica dos adversários do crescimento é mais radical, já que consideram o próprio desenvolvimento (ou crescimento) sustentável como um oxímoro -- ou seja, uma contradição, em termos.

O desenvolvimento (ou crescimento) não pode ser sustentável, uma vez que o aumento constante da produção de bens e serviços também provoca o aumento do consumo de recursos naturais -- acelerando, assim, o seu esgotamento. É urgente perceber que 20% da população mundial já consomem 85% dos recursos naturais do planeta (!).

Além disso, os adeptos do decrescimento tentam mostrar que mesmo a tão esperada "desmaterialização da economia" -- que deveria ocorrer pelo deslocamento do eixo da atividade econômica para o setor terciário, menos demandante de recursos naturais e, particularmente, de energia -- acabou por se revelar uma ilusão.

Segundo Serge Latouche, a "nova economia" é relativamente imaterial (ou menos material), porém, mais do que uma substituição da antiga economia pela nova, o que existe são relações de complementaridade entre ambas. No final, todos os indicadores mostram que a extração de recursos continua a crescer.

Conforme Latouche, o conceito de decrescimento baseia-se, num primeiro momento, na crítica antropológica da modernidade e do homo economicus, elaborada a partir dos anos 1970, quando a mensagem de pensadores (como o austríaco Ivan Illich) é a de que viveríamos melhor de outra maneira -- ou seja, seria desejável sair deste sistema.

O segundo momento da Teoria do Decrescimento -- ligado, principalmente, à ecologia e ao relatório do Clube de Roma -- é perceber quando se torna imperativo, por razões físicas, sair desse sistema (mais sobre a entidade em < http://www.clubofrome.org/ >).

"Fomos formatados pelo imaginário do 'sempre mais', da acumulação ilimitada, dessa mecânica que, se um dia pareceu'-nos virtuosa, agora se mostra infernal, por seus efeitos destruidores sobre a humanidade e o planeta. A necessidade de mudarmos esta lógica é a de reinventar a sociedade em uma escala humana, uma sociedade que reencontre seu sentido da medida e do limite que nos é imposto, porque, como dizia meu colega Nicholas Georgescu-Roegen, 'um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito'", afirma Latouche.

E há mais (muitos mais) argumentos:

• o funcionamento do sistema econômico atual depende essencialmente de recursos não renováveis e, portanto, não pode se perpetuar: as reservas de matérias-primas são limitadas, sobretudo quanto a fontes de energia, o que contradiz o princípio de crescimento ilimitado do PIB;
• não existe evidência da possibilidade de se separar o crescimento econômico do aumento do seu impacto ambiental;
• a riqueza produzida pelos sistemas econômicos não consiste apenas de bens e serviços, mas há outras formas de riqueza social -- tais como a saúde dos ecossistemas, a qualidade da justiça e das relações entre os membros de uma sociedade, o grau de igualdade e o caráter democrático das instituições. O crescimento da riqueza material, medido apenas por indicadores monetários, pode ocorrer apenas em detrimento dessas outras formas de riqueza;
• as sociedades ocidentais, dependentes do consumo supérfluo, em geral não percebem a progressiva perda de riquezas (como a qualidade de vida) e subestimam a reação das populações excluídas (a exemplo da violência nas periferias e o ressentimento em relação ao Ocidente, por parte dos países que não apresentam o padrão de desenvolvimento econômico ocidental).

Para os teóricos do decrescimento sustentável, o PIB é uma medida apenas parcial da riqueza e, se se pretende restabelecer toda a variedade de riquezas possíveis, é preciso deixar de utilizá-lo como bússola. Neste sentido, defendem a utilização de outros indicadores -- tais como o IDH-Índice de Desenvolvimento Humano, a "pegada ecológica" e o Índice de Saúde Social.



*membro-diretor (Região Nordeste) da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, Manuel Osório Viana pesquisa há 40 anos sobre desenvolvimento e ambiente osorioviana@live.com


SAIBA MAIS
http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=375&PHPSESSID=2992afb2cd65c8594faad2ff286459fc

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/sustentabilidade_em_um_mundo_lotado.html

http://www.decroissance.org

http://www.degrowth.eu



LEIA TAMBÉM
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do crescimento sereno. São Paulo: Martins Fontes, 2009