15 abril 2014

CORAGEM & AMOR


Gestos que contam*





Garanto que vocês nunca ouviram falar em Samara Oliveira, Jéssica Silva, Camila Beatriz e Jéssica Camarço. Nem eu. Mas, cada uma delas recebe meus aplausos e mil beijos de gratidão.

Seguinte: o Lar Torres de Melo foi assaltado no dia 20 de março e os ladrões levaram toda a grana dos velhinhos. Quem já anda mal, imagine quando lhes roubam tudo.

Estas garotas, estudantes universitárias, resolveram por conta própria, lançar uma campanha de ajuda/socorro à instituição. Tudo que seja alimento não perecível e leite em pó, aveia, café, açúcar, biscoitos, roupas, toalhas, material de higiene pessoal (pasta, escova etc.). 

Elas combinaram com alguns centros acadêmicos que se tornaram pontos de arrecadação. As doações foram entregues no sábado seguinte.

Não tenho a informação de quanto foi arrecadado, pois nenhuma notícia saiu na imprensa sobre a coleta. Parece não ser assunto palpitante. Não anima pauta. Não tem sangue.

Entretanto, quando se fala tanto em “mundo perdido”, que a juventude “não está nem aí”, que “formam um bando de alienados” e outras coisas que tais, aparecem estas meninas, dizendo e fazendo o contrário. Passagem ao ato.

Elas não criticam o governo, que não faz. Que se mostra totalmente alheio. Nem condenam os ladrões… De uma maneira silenciosa, elas reprovam os bandidos dizendo que a sociedade sempre terá mais força e mais solidariedade para mostrar.

Fatos como este precisam ser divulgados, mostrados. Deveriam torna-se exemplo para outros jovens. E até virar um movimento social de transformação da sociedade. 

Um dia, uma costureira negra recusou-se a ceder o seu lugar no ônibus a um homem branco (1.o de dezembro de 1955). Os Estados Unidos viviam o racismo brabo. Ela não aceitou a humilhação. Foi detida e condenada à prisão.

O pequeno gesto deu origem à mais profunda transformação da sociedade americana: o fim do racismo. Hoje, essa mulher – Rosa Parks – é símbolo dos movimentos dos direitos civis dos negros.

Sinceramente meninas, fico muito orgulhoso do gesto de vocês. Mostra que a coragem e o amor ainda são as maiores armas que possuímos.

*Antonio Mourão Cavalcante é médico, antropólogo e professor universitário
(imagem em www.wvwc.edu)



09 abril 2014

RESOLUÇÃO DO CONANDA n.º 163/2014


Infância livre
de publicidade*





Há oito anos, quando fui convidado a colaborar com o projeto Criança e Consumo, que estava sendo criado pelo Instituto Alana, a primeira ideia que me veio à cabeça foi a de que a sociedade brasileira não deveria medir esforços na produção de convergências que fossem capazes de enfrentar os interesses dos responsáveis pela exploração comercial da inocência por meio da indução compulsiva ao consumo.

Um dos maiores problemas identificados naquele momento era a forma desregrada e, por vezes, inconsequente, com que muitas das empresas de produtos e serviços destinados ao consumo infantil usavam as mais variadas técnicas de publicidade para seduzir crianças no Brasil, causando toda sorte de problemas de estresse familiar e escolar. 

Por outro lado, era alentador saber que, se em vários outros países essa prática de sedução comercial não era permitida, nem tudo estava perdido.

De 2006 a 2014, foram muitos debates, embates, articulações e vontade de “fazer valer nossos valores essenciais para influir em nossas escolhas de vida”, de modo que a infância não se resuma a uma “possibilidade de negócio, mas a possibilidade de um mundo melhor”, como procurei sintetizar da fala de Ana Lúcia Villela, fundadora e presidente do Alana, em um artigo intitulado Sociabilidade Infantil (DN, 01/04/2006). Nesse período o Instituto, com apoio do Ministério Público, obteve muitas conquistas para deter excessos do mercado na relação com a infância, em ações envolvendo retiradas de comerciais do ar e multas inibidoras.

Os avanços por uma infância livre de publicidade tiveram, entretanto, na sexta-feira passada (4), um dia histórico, quando foi publicada no Diário Oficial da União a norma que proíbe a publicidade dirigida à criança em todo território nacional. 

A Resolução n.º 163 (13/03/2014) do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) – órgão do qual o Alana faz parte, como uma das entidades da sociedade civil, ao lado de ministérios do governo federal – já está, portanto, em vigor, tipificando como abusiva esta prática de comunicação mercadológica em eventos, espaços públicos, páginas de internet, canais de televisão, creches, escolas (inclusive uniformes e materiais didáticos), pontos de venda e nas embalagens de produtos.

É provável que haja questionamento da resolução do CONANDA junto ao Poder Judiciário, por parte de agentes do mercado que exploram a credulidade infantil, mas os direitos de cidadania da criança estão cada vez mais evidentes, e uma forma de demonstrarmos respeito a eles é colocarmo-nos na posição da criança, como defendeu e fez o escritor, médico e educador polonês Janusz Korczak (1878-1942), autor do ensaio O direito da criança ao respeito, no qual traça uma perspectiva das considerações que viriam a ser dadas à pessoa criança, como um tipo particular de sujeito de direito.

Não deixar que a publicidade aborde diretamente a criança é um passo para uma nova infância, com liberdade para filhos e alívio para pais e educadores. Na nova arquitetura sociopolítica que se pretende para o mundo pós-hipermoderno, não cabe mais a violência do vínculo forçado ao consumo pelo assédio perturbador das empresas, em comunicações de mercado que tornam a criança refém da publicidade e os pais reféns das crianças. 

A norma do CONANDA dá um basta nessa anomalia social, libertando meninas e meninos dessas técnicas de domesticação do desejo, a fim de que possam usufruir de suas reservas de espontaneidade.

O nivelamento entre crianças e adultos na publicidade tem sido um dos responsáveis pela supressão do tempo da infância. Não é mais aceitável esta perda generalizada de espaços imaginativos, por conta do estímulo ao consumismo. 

As corporações que se valem do argumento de que, como cidadãs, as crianças também precisam ter acesso direto às informações de produtos e serviços postos à venda e que seriam do seu interesse, não se dão conta, ou agem de má-fé, por desdenharem da representação da infância em sua igualdade diferenciada.

No plano do Direito, a justiça se dá na distinção existente entre os iguais, na igualdade da diferença. A importância de a sociedade cuidar para que a publicidade de produtos e serviços infantis seja dirigida aos pais e adultos cuidadores, e não ao público infantil, está no reconhecimento de que a criança é um Outro – com necessidades e capacidade de participação próprias –, apesar de semelhante. Uma infância livre de publicidade está mais próxima da emancipação do si-mesmo.

Na história da infância, entre episódios de incompreensão, repressão, exclusão e avanços conceituais e práticos, pode-se dizer que a norma do Conanda para que as empresas deixem as crianças em paz é um marco a ser comemorado pela sensatez da dinâmica democrática. 

Esta conquista leva em consideração uma infância do presente, e não aquela do vir a ser, pregada pela ideologia geracional. Com ela, a criança conta com uma força legal capaz de protegê-la dessa sanha gananciosa, que a tudo transforma em mercadoria e a todos em estatísticas de consumo.
(publicado por Flávio Paiva em www.opovo.com.br)
(imagem em www.wallsave.com)

08 abril 2014

CHEGOU A HORA?


Alinhamento entre Terra,
 Sol e Marte antecipa
 o "fim do mundo"



Um evento cósmico raro é esperado para esta noite, 
 antecedendo as "quatro luas de sangue" — que alguns 
 acreditam ser um presságio do fim do mundo 



Para alguns fiéis, as luas de sangue são mais que um evento cósmico raro,
representando um presságio para o fim do mundo (Foto: Nasa / Divulgação) 

 Marte, Terra e Sol vão se alinhar no espaço na noite desta terça-feira, um evento conhecido também como “oposição de Marte” que só acontece uma vez a cada 778 dias. 

 Porém, o que faz o acontecimento cósmico marcante é ele antecede as "luas de sangue", um fenômeno que poderá ser visto da Terra na próxima semana e que é interpretado por muitos como um sinal bíblico do fim dos tempos. 

 De acordo com a Nasa, a rara sequência de quatro eclipses lunares (as ”luas de sangue”) é conhecida como tétrade, e será seguida por seis luas cheias. 

O ciclo começa na semana que vem, no dia 15 de abril, e terminará apenas em 28 de setembro deste ano. Ainda segundo a Nasa, as quatro "luas de sangue" só foram vistas por três vezes em mais de 500 anos: a primeira vez na Idade Média, em 1493, quando os judeus foram expulsos pela Inquisição Católica na Espanha; a segunda, em 1949, quando o Estado de Israel foi estabelecido na Palestina, e a terceira em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias entre Árabes e Israelenses. 

 Para alguns fiéis, as luas de sangue significam mais que um evento cósmico raro: são um presságio para o “fim do mundo” e o retorno de Cristo à Terra para o Juízo Final. 

 A passagem bíblica do Livro de Joel, no Antigo Testamento, diz: “O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (Joel, 2:31).


 (conteúdo publicado em http://noticias.terra.com.br)