20 agosto 2006

INTERAÇÃO SIGNIFICANTE

Eles não são apenas formas


"Gêneros são formas de vida, modos de ser. São frames para cada ação social. São ambientes para aprendizagem. São os lugares onde o sentido é construído. Os Gêneros moldam os pensamentos que formamos e as comunicações através das quais interagimos. Gêneros são os lugares familiares para onde nos dirigimos para criar ações comunicativas inteligíveis uns com os outros e são os modelos que utilizamos para explorar o não-familiar."

(Charles Bazerman)

Uma semana cheia esta em Fortaleza, com a 7.º Bienal Internacional do Livro inundando de literatura a cidade. Entre os lançamentos e boas opções de compra, destacou-se o evento paralelo Festival Internacional de Ilustração de Fortaleza — uma série de palestras, debates, exposição, oficinas e lançamentos, até 27 de agosto no Centro de Convenções, com curadoria dos artistas Daniel Diaz, Rafael Limaverde e Weaver Lima.

Na enxuta e expressiva exposição, tematizada como Mostra 1001 Utilidades, figuram trabalhos de 30 artistas da ilustração, quadrinhos, charge, cartum e caricatura, na ordem: Audifax, Carlus, Clayton, Damião, Daniel Brandão, Daniel Diaz, Denilson Albano, Franklin de Oliveira, Geraldo Jesuíno, Guabiras, Hemetério, Ivna Mourão, Jefferson, JJ Marreiro, Klévisson, Viana, Lilá, Lobo, Lupin, Marcílio S., Mário Sanders, Mariza Viana, Maurício Silva, Mino, Newton Silva, Nice Estrigas, Rafael Limaverde, Sinfrônio, Thyago, Valber Benevides, Weaver Lima. Se estiver na área vá ver, no Bloco B, sala B5.

...e na 7.ª Bienal...
Entre as boas edições trazidas ao evento, Charles Bazerman, lingüista e professor na Universidade da Califórnia, marca presença intelectual com sua obra Gênero, agência e escrita (lançada no Brasil pela Cortez Editora). A abordagem de "gênero" por ele delineada vai além do gênero como constructo formal, para vê-lo como ação tipificada pela qual podemos tornar nossas intenções e sentidos inteligíveis para os outros. Como resultado, o gênero é o que "dá forma a nossas ações e intenções". É um meio de "agência" e não pode ser ensinado divorciado da ação e das situações dentro das quais aquelas ações são significativas e motivadoras.

Bazerman está bem alerta para o "detalhe" de que, assim como as ações, intenções e situações humanas, uma "teoria de gênero" precisa ser dinâmica e estar sempre mudando. Segundo o autor, na medida em que os alunos aprendem que sua escrita não somente pode afetar as pessoas na sala de aula e na comunidade, mas também pode levar significados e intenções para outras pessoas que não conhecem pessoalmente, eles focam mais atenção no mundo de interação criado dentro do texto. "O texto se torna um lugar onde a interação significante acontece, em vez de ser acessório à interação face-a-face enriquecida com uma história pessoal."

O mistério de como ações podem ser criadas à distância através de significados criados em um texto é o tema do capítulo final Performance textual: Localizando a ação à distância. "Quando os alunos podem fazer seus textos terem vida para leitores à distância, criando interação dos significados evocados pelo texto, eles terão alcançado a agência mais profunda da escrita”, descreve Bazerman. Esta é uma obra certamente indicada para estudantes e pesquisadores nas áreas de Educação, Letras, Comunicação e Ciências Sociais.


SERVIÇO
Gênero, agência e escrita, por Charles Bazerman
Organizadoras: Judith Chambliss e Angela Paiva Dionisio
144 páginas, R$ 26