13 dezembro 2008

SÓ ESCLARECENDO

"Apenas uma coisa"



Não tenho religião. Considero-me um ateu místico, porque me relaciono com a vida de uma forma meio mística mas sem a crença em deuses. Se há uma crença que sigo é o amor pela Terra e pela Humanidade.

A Terra é minha Mãe Sagrada, meu país sem fronteiras, e toda a Humanidade, em sua bela diversidade, é a minha família. Não pertenço a nenhum rebanho de Deus, não sou de nenhum povo escolhido — faço parte do Povo da Terra.

Cresci no catolicismo e se, após a adolescência, consegui escapar de sua prisão cultural, por outro lado meu fascínio pelo Sagrado e pelo Mistério aumentou. Inspiram-me e me emocionam as mitologias das religiões mas entendo seus deuses como meras projeções humanas, criações culturais a respeito do imenso e insondável mistério da vida, e assim sendo, vejo a religião como uma questão de foro íntimo, algo inteiramente pessoal.

O religioso, porém, tende a entender sua visão particular do Mistério como verdade única e inquestionável — e quem pensa diferente está "errado". O fanático vai um passo além: sente-se no dever de pregar, converter e salvar os "diferentes" do Mal. Já o fanático radical é até capaz de agredir, destruir e matar em nome de seu deus.

O ideal seria que todo religioso percebesse que sua verdade é "apenas" uma versão do inalcançável Mistério — mais ou menos como um acontecimento que tem inúmeras testemunhas mas que, ainda assim, nunca é esclarecido inteiramente. Nesse contexto, sinto que o fanatismo religioso, com seu ódio ao "diferente", nos trará cada vez mais problemas.

Em tempos de crise financeira, problemas sociais, violência, guerras e desequilíbrio ecológico, o apelo religioso se intensifica e é aí que o fanatismo prolifera, com o seu discurso salvacionista. O que pode ser mais perigoso do que alguém que tem a mais "absoluta certeza" de que age em nome do ser supremo do Universo, que lhe deu ordens de nos salvar? Putz, ninguém merece.

São poucos os que se arriscam a questionar os posicionamentos religiosos, mesmo quando estes se mostram claramente perigosos. A crítica à religião chega ao religioso como terrível blasfêmia e não como um legítimo e sadio ato de discordância entre dois pontos de vista. Apesar disso, as pessoas livres não devem se omitir e, quando for o caso, precisam apontar e criticar os abusos religiosos, assim como todo tipo de abuso, sem medo de irem queimar no Inferno. Até porque lá deve ter uns inferninhos ótimos.

Pra terminar: como não conheço pessoalmente os que postaram seus comentários para mim, que em essência suscitaram estas linhas acima, pra resumir convido todos a comparecerem a uma palestra que farei em Fortaleza no dia 20 de dezembro, no Centro Cultural Banco do Nordeste.

Trata-se de uma participacão no evento Conversas Filosóficas: falarei sobre a jornada mítica do herói em nossas vidas, do ponto de vista da Psicologia, enquanto o pesquisador em Filosofia Marcus Markans falará sobre o mesmo tema do ponto de vista filosófico. Usaremos o filme Matrix como ilustração. Pra mim será uma honra conhecer os leitores fortalezenses da coluna.

Ah, adianto que o tema "religião" não faz parte da conversa.


VÁ LÁ CONFERIR
>> Conversas Filosóficas com Ricardo Kelmer e Marcus Markans
Dia 20 de dezembro de 2008 (sábado)
16h00: Exibição do filme Matrix
18h00: Debate
Centro Cultural Banco do Nordeste
Rua Floriano Peixoto, 941 - Centro - Fortaleza/CE
Tel.: (85) 3464-3108


*o colunista Ricardo Kelmer é escritor e roteirista e mora em São Paulo. RK está na capital do Ceará para lançar seu livro Vocês Terráqueas e realizar palestras. Outros livros seus estarão à venda no local.


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blogdokelmer.wordpress.com