18 dezembro 2013

AMEAÇA FÓSSIL


Pesquisadores afirmam
que "fracking" 
pode causar
defeitos de nascença e câncer*





Um novo estudo aponta que o uso de elementos químicos perigosos na técnica mais utilizada para a exploração de gás de xisto, o chamado fracking (fraturamento da rocha), pode causar diversos efeitos negativos à saúde humana, desde infertilidade até defeitos de nascença e câncer.

Pesquisadores da Universidade de Missouri (Estados Unidos) alegam em uma publicação no periódico Endocrinology que “a rápida expansão na extração de gás natural usando-se o fraturamento hidráulico aumenta o potencial de contaminação da água de superfície e subterrânea”. 

Eles explicam que centenas de produtos, contendo mais de 750 elementos químicos e outros componentes, são potencialmente usados no processo de extração, incluindo mais de 100 com efeitos conhecidos ou suspeitos sobre o sistema endócrino.

Das 39 amostras de água coletadas em uma região com intensa atividade de extração, 89%, 41%, 12% e 46% apresentaram atividades estrogênicas, anti-estrogênicas, androgênicas e anti-androgênicas, respectivamente, mais do que nas regiões com pouca atividade de fracking.

Essas substâncias, chamadas de disruptores endócrinos, interferem no sistema hormonal, que controla diversas funções corporais. A exposição aos elementos tem sido relacionada, por outros estudos, com casos de câncer, defeitos de nascença e infertilidade.

“Nos Estados Unidos, o fracking é isento da regulamentação federal que protege a qualidade da água, mas os vazamentos associados com a exploração de gás natural podem contaminar a superfície, o solo e a água potável”, alerta Susan Nagel, PhD, professora associada da Escola de Medicina da Universidade de Missouri.



*Fernanda B. Müller publicou este conteúdo 

12 dezembro 2013

HAJA ÁGUA


O Mar Vermelho
vai tentar salvar
o Mar Morto
da extinção*





O mar Morto está, literalmente, morrendo. Caso mantenha o ritmo de evaporação que o fez perder 27 metros desde 1962, o lago já tem até data prevista para ser gravada na lápide: 2050. Para tentar frear o processo de extinção — conhecido pela sua elevada concentração de magnésio, cálcio, potássio e bromo, onde somente bactérias conseguem sobreviver —, os três povos banhados pelo mar (Israel, Jordânia e a Autoridade Palestina) assinaram na segunda-feira, 9 de dezembro, um acordo de construção de um duto para transpor água do mar Vermelho para o mar Morto.

Com apenas 50 milímetros de chuvas acumuladas, a margem do Mar Morto retrocede atualmente 1,5 metro por ano. São 500 milhões de metros cúbicos de água evaporados anualmente.

A ideia é extrair anualmente até 200 milhões de metros cúbicos de água do mar Vermelho, que passará por uma rede de tubulações instalada na Jordânia. Desses, 80 milhões serão dessalinizados, a fim de fornecer água potável para a Jordânia e o sul de Israel. O restante, junto aos resíduos da dessalinização, será despejado no mar Morto, visando evitar sua extinção.

Desde 2005, o Banco Mundial analisa o projeto, cuja viabilidade foi testada em 2012, estimando um custo final de 22,9 bilhões de reais.

Ambientalistas, contudo, acusam o acordo de cooperação de ser meramente político, sem impacto efetivo na preservação do lago. “Os estudos preliminares demonstram que, ao misturar a água do mar Vermelho com a do mar Morto, seriam produzidos depósitos de gesso. A qualidade e composição química da água de ambos os corpos é diferente. Existe o risco de que se crie uma crosta de gesso flutuante. Isso significaria matar duas vezes o mar Morto”, afirmou ao jornal El País Marcelo Sternberg, professor do Departamento de Biologia Molecular e Ecologia Vegetal da Universidade de Tel Aviv.


*conteúdo publicado em www.ecodesenvolvimento.org
Imagem: Armando Lodi

09 dezembro 2013

GÁS DE XISTO NO BRASIL


Problemas que se avizinham*


Foto de região com exploração de gás de xisto nos EUA

Na última quinta (5/12), houve uma excelente audiência pública, convocada pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, para discutir a exploração de “gás de xisto” no país, cujo pontapé inicial foi dado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na semana retrasada, após malandramente dar um “drible da vaca” no Ministério Público Federal (saiba mais).

Diferentemente da audiência ocorrida alguns meses atrás no Senado, esta contou com representantes da área ambiental do governo federal (Ministério do Meio Ambiente e Agência Nacional de Águas), além dos representantes da ANP e da Petrobrás (grande vencedora do leilão da semana retrasada). Contou ainda com representantes da academia e da sociedade civil organizada, o que ajudou a qualificar o debate.

O representante da ANP fez duas correções semânticas ao debate que vem ocorrendo na sociedade. A primeira, de que na verdade se trata de “gás de folhelho”, e não de “xisto”, como vem sendo impropriamente falado por nós, leigos. São duas formações geológicas distintas e todos deveríamos saber disso. O geólogo Luiz Fernando Scheibe, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no entanto, nos tranquilizou: embora seja verdade que a formação na qual será usado o faturamento hidráulico (fracking) no Brasil é o folhelho, o termo “gás de xisto” já se popularizou e não há porque abandoná-lo. O importante é que todos saibamos sobre o que estamos falando.

E foi nesse ponto que a segunda correção semântica trazida pela ANP desperta alguma preocupação. Foi afirmado na audiência que a licitação ocorrida prevê que o ganhador da concessão de cada bloco tem direito (e o dever) à “exploração” do gás de xisto, mas que esse termo, no jargão dos petroleiros, não tem o mesmo significado da linguagem comum. Exploração significaria, na verdade, “pesquisa”. Retirar o gás seria, na verdade, “produção”. Segundo Luciano Teixeira, da ANP, essa exploração é necessária para que tenhamos dados das bacias sedimentares nas quais se localiza o gás de forma a, daqui a uma década, poder decidir-se sobre sua efetiva produção.

Por alguns minutos vários respiraram aliviados: estaríamos, felizmente, fazendo uma tempestade num copo d'agua? Estaríamos apenas na fase de pesquisas, coleta de dados, para tomar uma decisão madura mais adiante? Todos esses bons sonhos desapareceram quando uma questão singela foi feita ao advogado da ANP presente à audiência: se estamos tratando apenas de pesquisa, uma vez encontrado o gás e tomada a decisão de que é possível explorá-lo (ou produzi-lo), terá de haver novo leilão? Não. Então terá de haver uma nova autorização pela ANP para a produção? Sim. Essa autorização pode ser negada pela ANP em função dos riscos ambientais mesmo que exista gás no bloco concedido? Não se sabe.

O fato é que os concessionários ganharam o direito à exploração, desde que exista o gás, obviamente. Não tem nada no edital que diga que eles vão simplesmente fazer pesquisas e levantar dados para, em algum momento do futuro, saber se poderão produzir. O leilão ocorreu como todos os anteriores, na regra vigente: se há gás, é teu e pode usá-lo. Se o edital tivesse tido o cuidado de dizer que, nesse caso, não há direito adquirido, que a produção do gás não convencional está sujeito a outra autorização, futura e incerta, boa parte dos problemas poderiam ter se resolvido. Só que não foi assim. Tanto que o advogado da ANP admitiu que, caso a agência não dê autorização para a produção, os concessionários poderiam ter “algum sucesso” em ações de indenização por lucro cessante. Ou seja: a sociedade pagaria a essas empresas para que elas não colocassem os aquíferos de água em risco!

Esse é apenas um dos riscos que se avizinham, o financeiro. Mas o que assusta mesmo são os riscos ambientais e, consequentemente, sociais. Embora os representantes da ANP e da Petrobrás tenham tentado minimizar os impactos desse tipo não convencional de exploração de gás, eles são óbvios, e muito bem documentados. Foi dito que hoje já se faz fraturamento hidráulico em explorações “convencionais”, para “estimular” a produção, o que tornaria a técnica corriqueira. Só que não foi dito que, nas explorações convencionais, feitas em bolsões de gás, os poços são espalhados em alguns quilômetros de distância um do outro, e duram vários anos no mesmo lugar. Já na exploração do xisto, não só o processo de “estímulo” é muito mais severo, como os poços são muitíssimo mais próximos uns dos outros. E, além disso, como a produção declina em poucos anos (o pico ocorre até o segundo ano), essa é uma exploração itinerante, que precisa se deslocar com frequência, criando uma paisagem como a mostrada na foto abaixo, de uma região em exploração nos Estados Unidos.

Isso faz com que os problemas convencionais da produção de gás se multipliquem em muitas vezes, e o principal é a contaminação de água. O professor da UFSC, estudioso do aquífero Guarani, deixou claro que a exploração intensiva com fraturamento hidráulico (injeção de água misturada com areia e químicos, a altíssima pressão, nos poços perfurados) pode não só criar novas, como reabrir fraturas naturais existentes na rocha que permitiriam o gás entrar em contato com a água, contaminando as reservas subterrâneas. 

E isso pode ocorrer não só no aquífero Guarani, mas em diversos outros aquíferos situados na área de influência dos blocos leiloados, tão ou mais importantes para o uso humano que aquele.Não há porque o Brasil se aventurar nesse tipo de exploração apenas porque os EUA já o fazem. Nossa situação é muito distinta. Temos muitas outras fontes, muitas delas subaproveitadas. Em vez de importar uma tecnologia altamente impactante, poderíamos investir todo esse esforço em desenvolvimento nacional de tecnologia solar por exemplo. 

Mas, independente disso, precisamos de estudos sistematizados para orientar onde e como seria possível a exploração. Uma moratória e a criação de um espaço público para análise e discussão dos dados, que levem a uma Avaliação Ambiental Estratégica, são fundamentais.

Para ver as apresentações feitas na audiência da semana passada, clique aqui.



*conteúdo publicado por Raul do Valle no Programa




ATENÇÃO AO GREENWASHING!


Como identificar falsos
produtos sustentáveis*



Rica herança histórica e cultural do rio Bagmati em Kathmandu, capital do Nepal,
ameaçada pelo empreendedorismo humano, que o tornou um depósito de lixo 


Diante da crescente preocupação com a interferência do homem no meio ambiente, o mercado ecossustentável, em todas as suas formas, vem atraindo a atenção dos consumidores. 

O problema é que este crescimento não vem sendo aproveitado da maneira necessariamente devida por todas as empresas. Essa prática é conhecida como greenwashing.

O termo em inglês refere-se a falsos benefícios ambientais oferecidos por empresas de produtos ou serviços, uma espécie de máscara colocada nos rótulos para induzir a compra, de forma enganosa. Como não cair neste erro?

Foi pensando nisso que a TerraChoice criou um relatório dos "pecados" cometidos quando o assunto é greenwashing (veja lista abaixo), que funciona desde 2007 como um manual para a prevenção destas práticas.

“Como o consumidor ficou muito sensibilizado com as questões ambientais e éticas, a forma como uma empresa gerencia seus impactos tornou-se um dos pontos que trazem reputação para a marca no mercado”, ressalta Natalia Pasishnyk, consultora sênior da Keyassociados.

Característricas genéricas como "verde", "natural", "sem produtos agrotóxicos” também podem ser utilizadas de maneira imprecisa.

“O falso sustentável pode ser reconhecido pela ausência de informações críveis no rótulo do produto, tais como ausência de selos de certificação de origem orgânica, comércio justo ou outra forma de rastrear a cadeia produtiva daquele bem", esclarece Clarissa Lins, sócia-fundadora da Catavento Consultoria em Gestão e Negócios em Sustentabilidade.

Outra forma de tentar enganar o consumidor é financiar ONGs com atividades ambientais para esconder que a marca promove impactos pesados, como desmatamento e poluição. Desta forma, as atenções se voltam para a boa prática, deixando as políticas incorretas em segundo plano. Em todos os casos, o marketing é a maneira mais fácil de induzir o consumidor ao erro.  


Rio Bagmati, em local próximo a Thapathali:
problemas para definir e penalizar o(s) culpado(s) 

Veja a seguir algums regras básicas para não cair nas mentiras do mercado:


1. O custo ambiental camuflado

Ocorre quando a empresa até resolve um problema ambiental, mas a sua ação acaba acarretando outro problema, sendo necessária uma escolha do consumidor. Ou, mais grave, a marca prefere abordar uma questão ambiental em detrimento de outras, muito mais sérias. “Por exemplo, uma indústria intensiva em poluição do ar afirma que usa papel reciclado nos seus escritórios, mas evita falar dos principais impactos causados por sua atividade”, explica Natalia, da Keyassociados.

2. A falta de provas

De que adianta a empresa trazer afirmações ambientais que não têm respaldo de provas ou certificações? Em alguns casos, a empresa até reconhece seus principais impactos, porém de maneira que não permite que o consumidor entenda o contexto e a escala do problema. “Aqui a marca informa que reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 10 mil toneladas, sem dizer o que isso representa de fato”, destaca Natalia.

Muitas empresas usam essa estratégia. É bastante fácil colocar uma palavra que remeta a algo ecossustentável. Mas se o termo não fizer sentido, de nada adianta usá-lo. Por exemplo, empregar a palavra “natural” pode se referir até ao urânio e ao mercúrio, que também são naturais, apesar de danosos. “Normalmente, esse pecado aparece para distrair a atenção do consumidor, usando-se algumas palavras genéricas que fazem sentido apenas em certos setores, como um 'verde' vago”, diz Natalia. É preciso ter uma explicação junto com o termo usado.

4. Culto a falsos rótulos

Este é um dos pecados mais usados pelos marketeiros. A marca cria uma falsa imagem, dando a entender que aquele produto tem certificação como "produto verde". Cuidado para não confundir um selo de certificação de um programa ambiental da própria empresa com os que são promovidos por entidades reconhecidas no mercado.

5. Irrelevância

Quando ler algo nos rótulos sobre um problema ambiental, sempre questione se a afirmação é realmente substancial. Não adianta alegar que um produto é "isento de CFC", quando isso já é proibido por lei, por exemplo.

6. O menor de dois males

Este pecado está divido em dois pontos: o pecado do “menos pior” aparece quando um produto de uma categoria que não tem benefícios ambientais classifica-se como "verde", como no caso dos cigarros orgânicos; já o pecado da "mentira" ocorre nos casos em que a empresa faz alegações ambientais falsas. “Geralmente os resultados informados não são verificáveis, ou seja, nenhuma terceira parte os classificou como válidos”, ressalta a consultora sênior da Keyassociados.

*publicado por Lygia Haydée (Exame) em www.sustentabilidades.com.br
(imagens por Pramod Bhagat em www.theepochtimes.com)


06 dezembro 2013

PONTUAL LOCAL

Cinco coisas que eu
gostaria de saber*






1. Confesso a minha surpresa quanto à preocupação da Justiça brasileira com o caráter do atual empregador do ex-ministro José Dirceu, no hotel Saint Peter. Li, por exemplo, que um dos motivos do trabalho para os detentos é a “ressocialização do preso” e que é muito importante a “correção” da empresa empregadora. Eu fico me perguntando sobre as atuais estatísticas de ressocialização de adolescentes e jovens adultos neste País. Não há um certo exagero neste zelo com o José Dirceu?

2. O ex-deputado Roberto Jefferson fez uma perícia médica para saber se vai cumprir prisão domiciliar ou em presídio. Ele está em tratamento de um câncer de pâncreas. Daí, a minha dúvida é: o Estado é obrigado a fornecer ao deputado, no presídio, uma alimentação adequada ao seu estado de saúde? Não seria mais barato mantê-lo em casa sob a proteção, o carinho e as despesas da família?

3. Conversando, domingo passado, com uma amiga, professora da UECE lotada no Interior, ela me dizia que a situação de alguns polos é tão grave que não tem segurança nem um corpo mínimo de servidores que dê conta da estrutura. Sem contar que falta uma quantidade imensa de professores para vários cursos e que o salário pago aos substitutos não cobre os custos do deslocamento de uma cidade para outra ou mesmo uma mudança de residência para o local.

E mais, que existe um edital pronto para a contratação efetiva de professores dormindo o sono dos justos na mesa do governador e ele não assina. Agora, me digam: o governador Cid Gomes não deveria sentar-se como um cidadão cearense e ouvir os professores?

4. Leio com uma atenção redobrada todas as informações sobre o aumento do IPTU. E considero hipócrita essa grita em torno da proposta de elevação do imposto, se quase todos os dias sabemos que o valor dos imóveis só cresce numa escalada insana. Não seria mais prudente que o valor dos imóveis voltasse à realidade e deixasse de ser ficção? Até porque não existe coisa mais concreta do que imposto.

5. A secretaria da Educação do Município informou que está reduzindo o horário integral do Ensino Infantil para aumentar a base de matrículas na rede, nesta faixa. É claro que ninguém é doido para ser contra que cada vez mais crianças tenham acesso à escola, mas o que pergunto é: por que o secretário não amplia as matrículas em sistema integral? Não seria essa a verdadeira expansão do ensino nesse período de pré-alfabetização?

*a jornalista Regina Ribeiro publica o que escreve no jornal O Povo de Fortaleza/CE


27 novembro 2013

XISTO NÃO !!!


Deputados e MPF
pedem retirada de xisto*



Gasodutos na Pensilvânia, nos EUA,
construídos para exploração de gás de xisto

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou hoje, por unanimidade, requerimento que pede que a ANP (Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural) exclua o gás de xisto da consulta pública que será realizada nos próximos dois dias.

Serão leiloados 240 blocos com potencial exploratório de petróleo e gás natural. O edital da 12a Rodada de Concessão prevê o exercício das atividades de exploração convencionais que também podem evoluir para produção de recursos não convencionais, também conhecidos no Brasil como gás de xisto.

Trata-se de um gás natural encontrado em formações de folhelho — xisto — e que para ser extraído precisa que as rochas sejam fraturadas. O processo utiliza mais de 600 produtos químicos (!), areia e outros elementos pouco testados — como bário e arsênio. Além de precisar de uso intensivo de água cujo destino final, após ter entrado em contato com os químicos, ainda é desconhecido.

A Comissão pediu uma moratória de cinco anos devido aos riscos que essa técnica apresenta ao meio ambiente e para que, dessa forma, os impactos socioambientais possas ser estudados. Segundo o deputado Sarney Filho, o gás de xisto reconhecidamente produz poluição nos aquíferos e fazer um leilão sem que se tenha noção dos estudos realizados é perigoso. 

O Ministério Público Federal também manifestou suas preocupações à ANP. Em parecer técnico afirmou que existem áreas a serem licitadas que atravessam reservas indígenas, áreas próximas à mananciais de água e reservas florestais. O MPF ressaltou a necessidade de que seja feita uma Avaliação Ambiental Estratégica para que sejam esclarecidos os riscos e impactos ambientais relacionados à exploração de gás de xisto.

Diante de tantas dúvidas a maior e que permanece é: diante de tantos pedidos para que a exploração de gás de xisto seja, ao menos, adiada no País, o que será que a ANP fará?


*conteúdo postado por Marina Yamaoka em www.greenpeace.org
imagem: 
Les Stone / Greenpeace

26 novembro 2013

VERDE ANIDROBIÓTICO


Técnica propõe cultivo
de plantações a seco*


Anidrobiose viabilizará a otimização
do uso de água em períodos de seca

Pesquisa realizada pela bióloga Cláudia Carolina Silva Evangelista, aluna de pós-graduação do Programa de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP-Universidade de São Paulo, propõe uma inovação na forma como os recursos hídricos são aplicados ao solo. 

O estudo “visa à otimização do uso das águas em períodos de secas”. Claudia e seu orientador, Tiago Campos Pereira, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, acreditam ter vislumbrado “uma estratégia sem precedentes: a preservação de plantações por intermédio da anidrobiose [vida sem água]”.

A previsão, segundo eles, é que os recursos hídricos possam ser redirecionados e preferencialmente investidos no consumo humano, animal e produção de energia. Não haveria necessidade, portanto, de se utilizar volumes incalculáveis de água para irrigar as grandes extensões de terra em uso agrícola, uma vez que estas plantas poderiam ser reversivelmente preservadas a seco pelo processo de anidrobiose.

Com esse cenário em mente, Cláudia e seu orientador trabalharam na identificação de genes associados ao processo de anidrobiose em uma espécie modelo. Foi realizada uma triagem funcional (via RNAi) de aproximadamente 100 genes possivelmente associados à anidrobiose.

O professor  Pereira explica que se trata de uma abordagem inédita no mundo, em que foram identificadas algumas das principais etapas no processo de anidrobiose. Adianta ainda que os estudos continuam e, em breve, os resultados estarão publicados, para compreender as bases moleculares da anidrobiose e, segundo o orientador, possibilitar o uso da engenharia anidrobiótica na agricultura.

Prêmio Jovem Cientista
Reduzindo drasticamente nossa dependência de água na agricultura através da anidrobiose, título do trabalho de Cláudia, ficou com o segundo lugar no Prêmio Jovem Cientista 2013 – Tema Água – Desafios da Sociedade, categoria Mestre e Doutor.

“O trabalho aborda a gestão inovadora dos recursos hídricos aplicados ao uso do solo e a gestão ambiental”, afirma o orientador de Claudia. A pesquisa contou com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Fapesp) e da CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O Prêmio Jovem Cientista é considerado um dos principais no campo das ciências no Brasil e será entregue pessoalmente pela Presidente da República, Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, no dia 16 de dezembro. Cláudia receberá o prêmio no valor de R$ 20 mil e uma bolsa de estudos do CNPq (nível doutorado).

A premiação é inédita no Departamento de Biologia e também na própria FFCLRP. Em 32 anos de existência, o Jovem Cientista havia premiado somente outras duas vezes o campus da USP de Ribeirão Preto.

“Participar de um Prêmio Jovem Cientista é uma jornada muito laboriosa. Exige-se muito tempo para redigir todo o ensaio, literalmente parando todas as atividades de um laboratório tão pequeno quanto o nosso. Acreditávamos que nosso trabalho seria de alguma forma reconhecido, mas foi acima do esperado”, comemora o professor.


*conteúdo publicado  por Tauana Boemer, 
do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura USP 
do Campus de Ribeirão Preto, em www.usp.br 

 foto: Marcos Santos / USP Imagens
SAIBA MAIS 
tiagocampospereira@ffclrp.usp.br
ccsevangelista@gmail.com
imprensa.rp@usp.br

14 novembro 2013

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS


O alto preço da 
extração de xisto*

Entidades questionam extração de xisto

Os impactos socioambientais da exploração do gás de xisto no Brasil foram postos em xeque em debate em São Paulo, promovido por Ibase,  Greenpeace,  Instituto SocioAmbiental, Centro de Trabalho Indigenista e Fase. Ao fim do evento, que transcorreu ontem em São Paulo/SP, as entidades presentes tomaram uma posição por consenso.

"Nossa posição é de que não se realize a  12.a rodada de leilões da Agência Nacional de Petróleo, no próximo dia 29 (quando a ANP vai colocar à disposição 240 blocos exploratórios terrestres distribuídos em 12 estados do País). Defendemos também que não haja qualquer exploração de xisto no Brasil, enquanto não sejam feitos estudos e debates juntos à sociedade civil para avaliar se esse processo de extração deve ser banido do País", afirmou Carlos Bittencourt, pesquisador do Ibase, acrescentando que, além das entidades organizadores do debate, outras seguiram a decisão, como a Comissão da Pastoral da Terra, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Movimento dos Sem-Terra.

Entidades questionam extração de xisto
No debate, ficaram claros os riscos desse tipo de exploração. O professor Jailson de Andrade (SBPC), por exemplo, afirmou que o xisto, um gás não convencional, é muito mais difícil de se extrair, pois na extração há a necessidade de se ultrapassar o lençol freático de uma dada região, já que o gás, na maioria das vezes, fica sempre sob o lençol, que pode ser contaminado por produtos químicos utilizados na operação.

"Há que se levar em conta também que as maiores reservas de xisto estão onde há uma grande quantidade de água, e esse tipo de extração usa muito os recursos hídricos. E o cenário nacional é de que há pouca disponibilidade de água para a população", disse Andrade.

Para Ricardo Baitelo, do Greenpeace, a extração de xisto não vale a pena, levando-se em conta os riscos ao meio ambiente e à saúde da população: "Apesar do gás convencional ser menos impactante ambientalmente do que, por exemplo, a geração de energia termoelétrica, a extração de gás de xisto, através do fraturamento hidráulico, pode lançar metano na atmosfera, que contribui muito mais do que o CO2 para o aquecimento global, e ainda pode contaminar os corpos d’água. Para nós, isso deveria inviabilizar a utilização desse tipo de energia”.

As organizações presentes ao evento vão lançar uma nota na próxima semana, apresentando suas posições quanto à 12.a rodada e pretendem organizar uma mobilização a fim de impedir a realização do leilão.


*conteúdo publicado por www.canalibase.org.br


25 outubro 2013

SILÊNCIO POLÍTICO


Biografias inacabadas*




Na cadeia se diz: aqui o filho chora e a mãe não ouve. Na política, a expressão é outra: a situação está de vaca não reconhecer o bezerro. Ambas denotam uma crise, pela suspensão do amor materno, e revelam um certo desamparo, um mundo de ponta-cabeça.

Às vezes a atmosfera político-cultural do Brasil, neste longo período de dominação do PT, transmite essa sensação, mais evidente nas ruas, onde quase toda manifestação termina em violência, mesmo quando sua bandeira é a defesa dos animais.

Marina Silva lançou a ideia de salvar Dilma Rousseff dos políticos fisiológicos, evitando que deles se torne refém. Não ficou muito claro para mim. Passa a ideia de uma donzela imaculada assediada por experientes chantagistas, como se o governo não fosse também um fator decisivo nesse processo. Onde a proposta de Marina sugere dependência, vejo uma interdependência. Se consideramos o governo refém da fisiologia, é preciso reescrever a história do mensalão, isentando o partido do governo de sua maior responsabilidade.

Também não entendi, no front político-cultural, a defesa da autorização prévia de biografias. Tantas pessoas queridas, entre elas Caetano Veloso – a quem tenho gratidão – embarcam num equívoco por falta de um debate mais amplo.

Para começar, a importância das biografias em nossa formação. Pela trilogia de Isaac Deutscher sobre Trotsky muito se aprendeu sobre a Revolução Russa e os bolcheviques. Sem Rüdiger Safranski não teríamos uma história equilibrada da vida de Martin Heidegger, sem Robert Skidelsky não conheceríamos a vida de lorde Keynes. É um território delicado, pois sem as biografias não conheceríamos a vida de Mao Tsé-tung, nem os pecados dos nossos políticos – que certamente iriam aproveitar-se desses dois artigos inconstitucionais que determinam autorização prévia para publicação de biografias.

Os argumentos também foram defendidos de forma ambivalente. Na maioria das vezes, falava-se em defesa da privacidade. Mas, em outras, surgia a questão do dinheiro, da falsa suposição de que biografias no Brasil rendem fortunas. O artigo de Mário Magalhães contando suas dificuldades para biografar Carlos Marighella é muito mais próximo da realidade, pois revela como ele gastou dinheiro do próprio bolso para completar o seu livro.

Quando surgem de um mesmo núcleo a defesa da privacidade e demandas financeiras, cria-se a falsa impressão de que são intercambiáveis. Quanto custariam, por exemplo, os detalhes da relação com a cunhada numa biografia de Sigmund Freud?

De um ponto de vista existencial, os admiradores dos grandes artistas que participam do movimento ficam preocupados com um debate biográfico. Ainda esperamos deles tantas canções, tantos espetáculos, tantas aventuras políticas, tantos amores… Quem sabe o melhor não virá nos últimos capítulos, nos anos ainda não vividos?

Nas ruas, os black blocs de uma certa forma conseguiram propagar a violência. Isso só é possível por falta de uma certa cartilagem tecida pela política. Tudo vai direto ao osso, termina em incêndio e pancadaria.

Historicamente, essas ondas de violência levam a leis mais rígidas e mais repressão. Quem vem de longe tem o dever de lembrar isso. Mas leis mais rígidas não resolvem sozinhas. O sistema político no Brasil precisa recuperar o mínimo de credibilidade e o sistema repressivo, desenvolver o mínimo de inteligência e capacidade de análise.

No passado os políticos metiam-se no meio dos conflitos com a disposição de atenuá-los. Hoje fogem dos conflito com medo justificado de apanhar da multidão. O Congresso foi incapaz de produzir um debate sobre a violência nas ruas. A sensação é de que as raposas políticas aceitam a explosão de violência porque sabem que ela os ameaça menos que os grandes protestos de massa. Na verdade, ao inibir potenciais manifestações pacíficas os black blocs criam uma camada de proteção útil ao político que se aproveita da confusão para seguir sendo o que é.

O mundo está mesmo virado. Os black blocs consideram-se revolucionários. E no momento em que poderosos instrumentos internacionais devassam a privacidade de bilhões de pessoas, nosso tema central é a biografia de pessoas famosas.

A defesa do aumento do consumo como o único valor político moral nos levou a esse abismo. A gente não quer só comida. Os artistas têm um grande papel na superação dessas ruínas, sobretudo as de Brasília. Grandes momentos nos esperam e Chico Buarque foi bastante simples ao dizer: “Se a lei é esta, perdi”.

A lei é a Constituição. Se não for essa, teremos perdido nós. Não deixarei de lamentar uma contradição tão explícita entre a sentença e um dos seus artigos essenciais: o que prevê a ampla liberdade de expressão.

No momento, o filho chora e a mãe não ouve, a vaca não reconhece o bezerro. É a crise. Suspensa a presença materna, temos de enfrentar uma certa solidão na busca pela saída. O caminho será encontrado via diálogo, mas sem a ilusão de considerar o governo refém da picaretagem. Foi o governo, em sua estreiteza e seu materialismo vulgar, que acabou provocando essa crise: a galinha aterrissou do voo econômico e só cacareja no chão suas previsões otimistas.

Estamo-nos acostumando com as chamas urbanas. Uma pedrada aqui, um coquetel molotov ali, produzimos uma rotina burocrática, sintonizada com o pântano político. Nos fronts político, social e cultural o alarme está soando há algum tempo. Conseguimos sobreviver a uma longa ditadura militar. Será que vamos capitular diante de um governo que distribui cestas básicas e Bolsas Família?

O País foi moralmente arrasado pela experiência petista e de todos os cafajestes que o governo conseguiu alinhar. Predadores oficiais e predadores de rua se encontram nessa encruzilhada em que um profundo silêncio político se abate sobre nós, com exceção de vozes isoladas.

Precisamos reaprender a conversar, reafirmar valores políticos que não se resumem a casa e comida. Precisamos viver a vida, cuidar mais da bio que da grafia. Precisamos sair dessa maré.

*Fernando Gabeira é escritor, jornalista e político, co-fundador do Partido Verde
(conteúdo publicado em www.estadao.com.br)



03 setembro 2013

ESPIONAGEM


Um soldado
embaixo da
sua cama*




Diferentemente da maioria das pessoas, não me surpreendi quando estourou a denúncia do técnico da CIA (agência de espionagem americana) Edward Snowden, informando que os Estados Unidos grampeavam deus e o mundo, com ajuda das grandes empresas da internet, como Google e Facebook.

A reportagem do jornalista Gleen Greenwald, para o jornal britânico The Guardian, apenas confirmava o que eu já lera no livro Cypherpunks, escrito por Julian Assange (WikiLeaks), em parceria com outros militantes da internet livre, Jacob Appelbaun, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmerman.

No livro, a reprodução de uma conversa entre os autores, Assange equipara a vigilância via internet a uma “ocupação militar”. Chegou a tal ponto, diz ele, que é como se cada um de nós tivesse “um soldado embaixo da cama”. Para Assange, “todos nós vivemos sob uma lei marcial no que diz respeito às nossas comunicações: "só não conseguimos enxergar os tanques, mas eles estão lá”.

Müller-Maguhn afirma que atualmente é mais eficiente para os governos “pegar tudo” o que trafega na rede e nos telefones para “esmiuçar depois”. Justamente o que faz o governo americano, como mostrou o programa Fantástico, na edição de domingo. Assange chega a fazer piada, dizendo que o celular “é um dispositivo de monitoramento que também faz ligações”.

GOOGLE E FACEBOOK: EXTENSÃO DAS AGÊNCIAS DE ESPIONAGEM
Jérémie Zimmermann destaca a vigilância sobre as pessoas comuns: “Se você for um usuário padrão, o Google sabe com quem você se comunica, quem você conhece, o que está pesquisando e, possivelmente, sua preferência sexual, sua religião e suas crenças filosóficas”. Para Zimmermann, Facebook e Google podem ser considerados “extensões” das agências de espionagem americanas”. (Exatamente o que Snowden denunciou.)

Jacob Appelbaun afirma que os governos ocidentais agem de forma parecida com países de governos ditatoriais. Appelbaun dá o próprio exemplo: pesquisador do Tor Project, sistema online que possibilita contornar a censura e a vigilância na internet, ele diz que é detido para “averiguação” a cada vez que tem de sair (ou entrar) nas fronteiras de seu próprio país: os Estados Unidos.

BRASIL
Dito isso, seria muita ingenuidade acreditar na explicação da Casa Branca, dizendo que coletava apenas os “metadados” (no caso, a lista de quem escrevia ou falava com quem, tempo de ligação, etc.), sem ter acesso ao conteúdo das conversas ou dos emails. É muito óbvio que se apoderando dos metadados, era só dar mais um passo para chegar aos dados em si. E, tendo a posse dos dados, quem resistiria a dar uma espiadinha? Nada inocente, diga-se.

A espionagem americana não tinha o objetivo de "tornar o mundo mais seguro", conforme disse Obama (risos). Conforme revelou a reportagem do Fantástico, tinha a ver com o temor americano pela ascensão dos países “pobres”, que poderiam abalar o poder do Império, além de assuntos mais prosaicos como obter vantagens para os seus negociantes.

Com as provas apresentadas, parece muito difícil que a Casa Branca tenha uma explicação “satisfatória” -- como quer o Brasil -- para o que aconteceu. A presidente Dilma Rousseff disse estar “muito irritada” e “indignada” com o atrevimento dos Estados Unidos, mas reação oficial tem de ir muito além disso. Devido à gravidade da situação, é preciso resposta vigorosa do Palácio do Planalto. A espionagem não atacou um governo específico: é uma ofensa à soberania brasileira.

Sugestão: o governo brasileiro poderia conceder asilo político a Edward Snowden. Creio que nada deixaria Barack Obama mais “irritado” e “indignado” do que isso. Dilma estaria pagando com a mesma moeda.

A PROPÓSITO
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo (1.º/9/2013), o professor da London School of Economics e da Universidade de Nova York, Richard Sennett, 70 anos, afirmou que “ser progressista hoje é lutar pelo desmembramento do Google”. Sennet é considerado um dos mais famosos sociólogos do mundo. 

Ele entende que o governo americano deve acabar com o monopólio das gigantes empresas da internet. Mas, vamos ligar os pontos: por que o governo americano agiria assim, se ele controla a internet, e tem o beneplácito do Google e do Facebook para violar a correspondência alheia?

P.S.: No meu blog (http://blog.opovo.com.br/pliniobortolotti/venho fazendo postagens sobre o perigo que representa o monopólio das gigantes da internet. Este texto foi baseado em alguns desses posts. Quem se interessar, pode pôr na pesquisa do blog palavras como “assange” ou “internet”, e terá acesso a alguns posts sobre o assunto.



*o jornalista Plínio Bortolotti é diretor
Institucional 
do Grupo de Comunicação O Povo. 
Charge (por Clayton) publicada em www.opovo.com.br

02 setembro 2013

VIVER CONECTADO É ISSO


Mudança de hábitos faz 
com que despesas
de um casal sejam 
inferiores a R$ 15 / mês*



O casal usou a adversidade e as dificuldades para
repensar o modelo de vida que estavam levando antes

É sempre o mesmo dilema: entre o final de um mês e o início de outro as contas chegam, o salário "pinga" na conta, mas a equação não fecha. Geralmente, gastamos mais do que ganhamos, não é mesmo? Mas será que isso ocorre apenas por culpa da inflação (este monstro enorme) somada as baixas remunerações?

Pois saiba que um casal inglês consegue viver com menos de R$ 15 por mês. Detalhe: sem miséria. Apaixonados por jardinagem, Steven Lucas e Yvonne são adeptos de estilos de vida sustentáveis. Tudo começou quando Steven foi despedido do seu emprego (era engenheiro eletrônico) em 2010. A partir de então, a vida dele e da esposa sofreu uma reviravolta, segundo relatou o site Hypeness.

Depois de terem instalado painéis solares em 1992, Yvonne e Steven aumentaram a produção própria de alimentos e passaram a coletar água da chuva para a cozinha e banheiro.

Aproveitando as cortesias da natureza, eles passaram a plantar alimentos em seu terreno de seis hectares em Basingstoke, Hampshire (ING), onde ainda incluem um galinheiro com galinhas poedeiras e várias colmeias.

Eles contam ainda duas estufas para produção de legumes, ervas e flores, além de 15 árvores. O cultivo atinge níveis bem altos e o excesso é aproveitado para fazer geleias e compotas. Assim o casal vive de forma ecológica e atinge um valor de despesa mensal quase impensável na Inglaterra.


Yvonne e Steven aumentaram a produção própria
de alimentos e passaram a coletar água da chuva

O casal usou a adversidade e as dificuldades para repensar o modelo de vida que estavam levando antes. Uma ótima forma de transformar algo que parecia negativo em algo extremamente positivo.

É sempre o mesmo dilema: entre o final de um mês e o início de outro as contas chegam, o salário "pinga" na conta, mas a equação não fecha. Geralmente, gastamos mais do que ganhamos, não é mesmo? Mas será que isso ocorre apenas por culpa da inflação (este monstro enorme) somada as baixas remunerações?

Pois saiba que um casal inglês consegue viver com menos de R$ 15 por mês. Detalhe: sem miséria. Apaixonados por jardinagem, Steven Lucas e Yvonne são adeptos de estilos de vida sustentáveis. Tudo começou quando Steven foi despedido do seu emprego (era engenheiro eletrônico) em 2010. A partir de então, a vida dele e da esposa sofreu uma reviravolta, segundo relatou o site Hypeness.

Depois de terem instalado painéis solares em 1992, Yvonne e Steven aumentaram a produção própria de alimentos e passaram a coletar água da chuva para a cozinha e banheiro.

Aproveitando as cortesias da natureza, eles passaram a plantar alimentos em seu terreno de seis hectares em Basingstoke, Hampshire (ING), onde ainda incluem um galinheiro com galinhas poedeiras e várias colmeias.

Eles contam ainda duas estufas para produção de legumes, ervas e flores, além de 15 árvores. O cultivo atinge níveis bem altos e o excesso é aproveitado para fazer geleias e compotas. Assim o casal vive de forma ecológica e atingiu um valor de despesas mensais quase impensável na Inglaterra.


Foi uma ótima forma de transformar algo que parecia negativo
em algo extremamente positivo e coerente com a necessidade




(*conteúdo publicado em www.ecodesenvolvimento.org)
(fotos: Divulgação e Lucas2-ecod)

01 setembro 2013

LIMITES DA ESFERA DE INFLUÊNCIA



Vida de princesa
nos relatórios de
sustentabilidade*




Empresas ainda não entendem o motivo de seus relatórios de sustentabilidade não serem objeto de leitura dos seus stakeholders. Produzido no tradicional modelo top-down de comunicação, ainda não se deram conta que esse produto deve ter seus temas escolhidos não por eles, mas pelos seus públicos, num processo de diálogo que deve se dar ao longo do ano. Mas isso pode estar prestes a mudar e você deveria ser parte disso.

No mês passado participamos de um dia onde foram apresentadas e dialogadas as novidades do G4 Sustainability Reporting Guidelines. Na formação (apesar de achar que o tema está muito cru para chamarmos de curso) estavam empresas, consultores e representantes de entidades/federações.

Os dois aspectos mais marcantes da nova versão -- que passam a valer a partir de Janeiro de 2016 (1) -- são a obrigatoriedade de ter uma matriz de materialidade e de demonstrar que a empresa tem conhecimento dos impactos dentro e fora dela, colocando na pauta o tema cadeia de fornecimento. Na pesquisa Materialidade Brasil, elaborada pela consultoria Report Sustentabilidade, foi constatado que 85% das empresas publicaram quais são os temas materiais, mas apenas 61% publicou sua matriz de materialidade. Um número menor ainda (45%) publicou metas atreladas aos temas materiais (ou seja, apesar de material, 55% das empresas entendeu que ainda não era o momento de atribuir metas).

Algumas lacunas ainda são imperdoáveis no G4. Nenhum avanço na proposição de metodologia para se fazer um processo de materialidade e em como equilibrar os aspectos trazidos pelos stakeholders internos x externos. A Takao Consultoria elaborou um Manual para Implementação de Engajamento com Stakeholders. O documento propõe matrizes de priorização e perfil de partes interessadas e também exemplifica uma matriz de priorização de temas em relação aos critérios internos e externos. 

Pode ser um ótimo modelo a ser seguido, mas quando lemos um relatório de sustentabilidade muitas vezes não está explícito como foi feita a seleção e priorização dos públicos a serem consultados, se todos participaram juntos ou não, se os temas foram dados ou abriu-se a opções para temas que emergiram no processo e como se chegou a priorização dos temas.

Outro ponto é que a materialidade deve envolver stakeholders, mas não obriga a participação de determinadas partes interessadas. Dá para ficar apenas com os funcionários ou até mesmo não incluí-los.
Fonte: Pesquisa Materialidade Brasil - Report Sustentabilidade


A nova versão, apesar de falar muito em cadeia de fornecimento, ainda está longe de propor um olhar mais sistêmico, amplo, envolvendo toda a cadeia de valor da organização (que contemple também a distribuição, clientes e consumidores). Ou seja, a empresa tem que ficar atenta de quem ela compra, onde estão estes fornecedores e onde estão localizados os impactos na cadeia de fornecimento. Contudo, ainda está livre para vender para quem quiser! Levaram o conceito de esfera de influência da Norma ISO 26000 apenas para parte da cadeia.

"Esfera de influência: amplitude/extensão de relações políticas, contratuais, econômicas ou outras relações por meio das quais uma organização tem a capacidade de afetar as decisões ou atividades de indivíduos ou organizações. - Norma ISO 26000"
Com isso, ficam de fora as preocupações da empresa com a comercialização de seus produtos ou serviços para, por exemplo, países que têm graves violações dos direitos humanos ou que estejam em guerra civil; organizações envolvidas em corrupção ou lavagem de dinheiro; empresas que desmatam, têm trabalho infantil ou análogo ao escravo em sua operação ou na sua cadeia, etc.

As organizações presentes na formação da qual participamos também questionaram se a GRI tem alguma sinalização sobre como tornar os relatórios mais atrativos, mais lidos. Bem, não entendemos que isso seja uma missão da GRI, mas sim, em primeira instância, das próprias empresas.


O relatório será interessante pela qualidade e relevância das informações ali colocadas. Isso nos remete aos motivos de alguém "curtir" no Facebook a página oficial de uma empresa quando há interesse genuíno, e não quando é feito para participar de uma oferta comercial. Nós seguimos várias organizações e o que elas nos oferecem é informação de qualidade, independentemente do seu produto ou serviço.

O blog Testando os Limites da Sustentabilidade (um tipo de watchdog) lê e analisa relatórios de sustentabilidade das empresas e depois disso encaminha perguntas sobre informações incompletas ou imprecisas, apontando lacunas de temas que deveriam ser abordados conforme o negócio da empresa. Muitas respondem ao blog e deveriam ver os questionamentos feitos com bons olhos: afinal alguém está lendo seu relatório!

Contudo, há uma grande lacuna deixada por stakeholders imprescindíveis 
para a melhoria da qualidade das informações e da transparência do setor privado no Brasil, como organizações da sociedade civil, imprensa, academia, consultorias, organizações think tank, coletivos e formadores de opinião em geral. Céticos quanto ao conteúdo publicado nos relatos -- em alguma medida, com razão --, esses públicos deixam de prestar um enorme serviço à sociedade ao não fazer leituras e análises críticas às informações dos relatórios de sustentabilidade, um dos poucos, se não os únicos, instrumentos de consulta de como as corporações contam estar conduzindo os negócios das empresas por aqui. 

Acreditamos que existe um grande espaço para exercitar diferentes formas de se fazer a leitura desse tipo de documento. Esses stakeholders têm condições técnicas e informações complementares para "mastigar" o conteúdo dos relatórios e fazer cruzamentos com a real atuação da empresa, com o que a GRI determina, com práticas de outras empresas do mesmo setor, com políticas públicas, com Pactos e Compromissos voluntários, comparar com informações e práticas da matriz na busca por um duplo padrão (2), dentre outras dezenas de olhares possíveis. 

Analisar as informações públicas do setor privado -- ou evidenciar a falta delas -- ajuda na geração de conhecimento crítico que pode ser um impulsionador de novas práticas por parte das empresas. É o caso do estudo Sustentabilidade do Setor Automotivo, produzido pela Tistu para o UniEthos, que vem sendo utilizado por uma montadora na sua estratégia de sustentabilidade.

Por isso, o que realmente importa nos relatórios são os dados relevantes para quem lê, não para quem escreve. Entretanto, as informações ainda vêm embaladas num pacote desnecessário de frases de efeito que dizem pouco, ou quase nada, e não agregam no momento da análise, repetindo histórias ano após ano sem demonstrar ou deixar clara qual foi a real evolução frente ao ano anterior. 


Daí a importância da análise crítica de formadores de opinião. Enquanto as empresas não avançam neste aspecto, iniciativas que capturem os dados e "limpem" as informações dos excessos, serão úteis para aumentar o conhecimento sobre os aspectos de sustentabilidade que as empresas estão colocando na sua cesta de prioridades.

Em tempo de manifestações onde cartazes levantam bandeiras como saúde (a ser melhorada), corrupção (a ser combatida), transporte (como forma de inclusão) e acesso à cidade (como forma de promoção da igualdade), quem não gostaria de saber quais empresas estão antenadas com essas necessidades e trabalham em convergência com as políticas públicas? Não passa pela nossa cabeça abrir o relatório da Siemens no ano que vem e não ver a questão da corrupção e cartel. 

Ou ler o relatório da Samsung e não encontrar nada sobre as condições degradantes dos trabalhadores. Mas não estamos falando daqueles textos sobre o quanto valorizam os processos, como os sistemas funcionam etc. Queremos saber justamente o contrário. 

Quais foram as lições aprendidas, onde estava o furo, quais desafios que entendem que estão longe de superar? As empresas são feitas de pessoas e portanto são cheias de falhas, inconsistências, dilemas. E é isso que falta aparecer nos seus relatos de vida de princesa.

Talvez esta deva ser a tendência dos relatos das empresas. Criar visões por assuntos de interesse pela ótica de quem busca a informação, com construções e atualizações dinâmicas (entenda aqui que elas não serão feitas de forma unilateral, apenas pelas empresas), com muito menos filtros e fotos de banco de imagens.

Mais Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação (NINJA) para os relatórios de sustentabilidade têm o potencial de torná-los muito mais interessantes e vivos. Se as empresas não fizerem, alguém vai fazer.



(1) Ou seja, o último ano de relato na versão G3 ou G3.1 
será 2014, sendo que 2015 já será relatado na nova versão.


(2) Esta é uma metodologia que a Tistu vem adotando em alguns 
estudos. Isolar alguns assuntos e procurar por práticas e
 posicionamento na matriz e na operação do Brasil.
Quando há divergência (i.e. a matriz tem políticas, 
programas ou é estratégico e aqui nem é citado)
 ocorre o que denominamos de "Duplo Padrão".



*Carla Stoicov é mestranda em Gestão e Políticas Públicas pela FGV-SP.
Sócia da Tistu, 
atua como consultora em projetos para o Desenvolvimento
Sustentável e de Responsabilidade Social Empresarial. Ex-coordenadora do
Programa Tear do Instituto Ethos, é especialista do UniEthos.


*Wilson Bispo é jornalista e desde 2005 trabalha na cobertura de temas socioambientais 
e de RSE. Sócio da Tistu, foi produtor do Repórter Eco da TV Cultura de SP, editor
do portal e agência 
Envolverde e consultor na Report Sustentabilidade.



(conteúdo publicado em http://www.tistu.net)