28 fevereiro 2008

PLATÉIA & PALCO

SISTEMA NERVOSO



Após receber um duro golpe na ponta do queixo, um lutador cai nocauteado na lona. Após tanta violência, seu sistema nervoso não entende o que está acontecendo — e então, tudo se interrompe por cerca de alguns segundos. É como se houvesse um corte súbito de energia.

Durante a contagem de 10 segundos feita pelo juiz, ele tenta recuperar sua consciência. Sem conseguir diferenciar sonho de realidade e correndo risco de morte, o lutador é bombardeado por emoções e questionamentos sobre sua vida, sua saúde, sua força e seus medos. No teatro, um encontro urgente do ator e da platéia com a vida.

Trata-se de um espetáculo muito alegre e afirmativo, que trata o cidadão como um ser potencializador e único. É uma peça de muita energia, que prende a atenção pelo tema que aborda e pela movimentação baseada na estética das histórias em quadrinhos.

É uma tragicomédia que traz a linguagem da Mímica Total e uma proposta poética de romper a distância entre ficção e a realidade. Combinando um intenso estudo filosófico e científico sobre o tema com diversas improvisações e trabalhos corporais, o material de pesquisa converge em linguagem poética.

Nesta primeira fase é gerado um grande leque de cenas e partituras corporais. Na segunda fase, o material é selecionado e investigado. Este rico material é organizado por meio de composições de partituras de ação física e vocal.

A dramaturgia é finalizada com o mapeamento do pensamento na ação física, isto é, a dramaturgia do corpo. Somente nesta fase o texto escrito é finalizado. A movimentação é baseada nas técnicas extra-cotidianas da mímica, onde o corpo não é simplesmente um corpo, mas uma mídia primária, podendo incorporar objetos, emoções e abstrações.

O espaço é pintado e desenhado, visando a construção de ilusões mímicas. A voz aparece integrada ao corpo, tendo grande utilização da mímica vocal, com a corporificação de sons onomatopaicos, línguas inventadas (gromelô) e defacetação das palavras.



FICHA TÉCNICA

Direção, criação e atuação: Luis Louis e André Capuano

Figurino: Fause Haten

Sonoplastia: Fernando Mastrocolla

Criação de luz: Luis Louis e Vanderlei Conte

Vídeos: Beto de Faria

Realização: Estúdio Luis Louis & Cooperativa Paulista de Teatro



ONDE & QUANDO
Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso - São Paulo/SP
Sala Jardel Filho, de 16/02 a 22/03 (aos sábados, 21h)

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AMOR E DOR

Clube dos corações machucados


Aprisionado. Encurralado pelos próprios sentimentos, cobria a cabeça com o travesseiro. Mas eles sempre o encontravam. Ligava o som, a música bem alto, "vamo lá, cara, esquece essa mulher..." Os sentimentos, porém, gritavam mais alto ainda. Como fugir de algo dentro dele mesmo?

Na hora de comer tentava se concentrar nos detalhes, toda a atenção do mundo... Mas então lembrava-se dela tomando café, linda em sua beleza matinal, o café que ele mesmo levava para ela na cama. E as lágrimas caíam, misturando-se à comida. Inútil fugir, inútil.

Quando a solidão tornou-se insuportável, quando os pensamentos já eram sombras gigantescas, quando os sentimentos iam explodir o peito, ligou para o amigo. A primeira pessoa de quem lembrou, o amigo, 20 anos de amizade, 30 de porres homéricos. Alguém para falar, por favor. Por favor...

E ligou. E começou falando bobagens, inventou assuntos. O amigo trabalhando, o tom da voz meio distante. Então ele confessou: precisava conversar, podiam se encontrar à noite? O amigo respondeu "sim, claro, algum problema?" Ele disse "nada demais", apenas se sentia um pouco só, "eu... eu..." E não pôde prosseguir. Do peito de repente subiu um engasgo tão forte que a voz se calou. E começou a chorar, sem controle.

Foi pegá-lo em casa, o amigo. No percurso falaram de amenidades, ele meio envergonhado do choro ao telefone. Mas pelo menos não passaria a noite sozinho com seus demônios. Conversaria, dividiria a angústia, isso far-lhe-ia bem. É por isso que as mulheres gostavam de conversar, falar de sentimentos? Então era por isso. Chegaram e o amigo serviu uísque, salgadinhos e sentaram na varanda. "Um brinde à nossa velha amizade, quantos anos, 20, tudo isso? Tamo ficando velho. Velho, não, vivido." Tim-tim.

Amizade é bom, mas não pode esquecer do futebol: o time precisa de reforço no meio-campo. Nem das mulheres: "aquela cliente dá em cima de mim direto, qualquer dia eu perco a cabeça." Trabalho: "se eu conseguir o terreno, mando o banco pra putaquipariu". Ele escutava o amigo falar e se divertia. Sentia-se melhor, menos sufocado, os demônios indo embora com o vento que soprava na varanda.

O amigo serviu outra dose, relaxou na cadeira, estava cansado, andava trabalhando muito. Futebol de novo: o jogo de domingo, aquele pênalti não marcado, a partida tomaria outro rumo. "Sim, é verdade", ele concordava. Trabalho de novo: o chefe do setor andava de marcação com ele... Mulheres de novo: aquela atriz, "dizem que o cachê é dois mil por uma noite, é mole?" Ele ria do amigo, ria gostosamente, mas...

A razão de estar ali, falar de seus sentimentos, até o momento nada, os assuntos passando sempre ao largo. Tentou uma vez: "pô, eu ainda gosto dela, tô arrependido do que fiz..." mas logo o papo voltou para o trabalho. Tentou outra vez: "tu acha que eu devia ir atrás dela?" Olhou para o amigo e viu que ele bocejava. "Hein?, ah, acho sim, quer dizer, você devia esquecer essa mulher, tanta gata por aí, vai mais uma dose?"

Acabou desistindo. O amigo, arriado na cadeira, dormia e acordava. Três horas de papo e não falou do que realmente queria, tanta coisa para dizer, botar para fora. Bem, pelo menos se sentia melhor, a alma já não pesava tanto no peito. O amigo olhou o relógio, precisava dormir, amanhã tinha muito trabalho, "tu pode dormir no outro quarto, preparei tua cama, tem lençol, se precisar de algo..."

Ficou mais um pouco na varanda, sozinho, olhando as luzes da cidade. Respirou fundo, afastando a pena de si mesmo. Ele era apenas um cara sofrendo, só isso. Mas por que os homens não gostavam de falar das coisas do coração? Por que fugiam dos próprios sentimentos? Doía pensar, pois os pensamentos o levavam de volta a ela, que tanto queria esquecer, não, não queria esquecer, apenas a queria de volta, só isso, ou não?...

No quarto, já deitado, sorriu lembrando do amigo. Não podia culpá-lo. Ele fora generoso, a seu modo atrapalhado, travado, evitando falar de sentimentos. Sentimentos. Essa coisa tão feminina... Tão feminina? Como assim? Sofrer por amor era exclusivo das mulheres? Se era, então que elas lhe dessem licença, ele agora fazia parte do clubinho. Sem nenhuma vergonha.

Então desligou o abajur. Mas o abajur ligou novamente: era um último demônio, insistente, olhando para ele. Ele sorriu e puxou a tomada da parede. E se ajeitou sob o lençol. Amanhã seria um novo tempo.


*Ricardo Kelmer é escritor, letrista e roteirista e mora em São Paulo, Terra, 3.ª Pedra do Sol


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27 fevereiro 2008

O MILHO E O FUBÁ

Mentalidade adolescente



Minha filha adolescente dá um trabalho...

Tira notas baixas na escola e quando vou reclamar ela diz, com todas as letras: "Todo mundo foi mal, até mais do que eu."

Reclamo que ela não estuda, que fica tempo demais na internet. E ela é infalível: “Os outros alunos também ficam.”

No final de semana, sai com as amigas. E eu fico "na orelha" para que ela não ande no carro dos amigos mais jovens, que ainda não têm noção do perigo e que bebem nas festinhas. “Ah, pai, todo mundo anda!”

Quer festa de aniversário, vai convidar os amigos. Menores. Digo que não vou deixar servir bebidas alcoólicas. Lá vem bomba: “Mas em todas as festas que eu vou eles servem!”

Aí chegam as provas de final de ano. Resultado: dependência. As malditas “depês”. Pulo na garganta dela, só para ouvir: “Os outros também ficaram.”

E quando ela vem com suas desculpas de adolescente, mando o velho "Quando você vai com o milho, já voltei com o fubá".

E assim levo a vida, em constante atrito com a "aborrescente". Até ela amadurecer e entender que existe uma coisa chamada “responsabilidade”, e que não deve usar o comportamento da maioria de seus amigos como justificativa para seus erros e omissões.

Este talvez seja o maior desafio dos pais: desenvolver o senso de responsabilidade nos filhos. E também o de ensinar como utilizar a prática da paridade.

Paridade é uma comparação que prova que uma coisa é igual a outra, ou semelhante. É por meio dela que entendemos o mundo. A gente vê ou ouve as coisas e exercita a paridade, comparando o que vemos ou ouvimos com o que conhecemos. Tal exercício comparativo — com base em nossos valores e convicções — é que fundamenta nossos julgamentos. Consideramos algo bom ou ruim a partir dessas comparações.

O que minha filha faz é um exercício de paridade de adolescente. Quando reclamo das notas baixas, ela compara com os outros amigos. E conclui que o problema não é só dela, é "da maioria". Portanto, deve ser normal. E se é normal, não deve ser tão ruim... “Ah pai, não exagera!”

Seu conceito de “responsabilidade” ainda não amadureceu para entender que a normalidade não se determina pelo comportamento dos outros. Nem da maioria. Fosse assim, 300 torcedores de um time trucidando um torcedor do time adversário seria normal.

E esse mau uso da paridade não é problema exclusivo dos adolescentes, não. Olhem o caso dos gastos com cartões corporativos do governo. Um escândalo que traz à luz mais uma vez um exercício da paridade dos adolescentes feito por adultos. Alguém apontou comportamento errado dos integrantes do governo? Compare com o governo anterior.

Não importa se o PT governa desde 2003. Importa é ver se os outros também tiraram notas baixas: “Ah, mas no tempo do FHC gastava-se mais!”. “O mensalão foi criado na época do FHC!" “Só aceito CPI se ela cobrir também a época do FHC!”... O Brasil é um país adolescente.

Nossa democracia é adolescente. Mas nossos políticos são bem crescidos. Não podem usar justificativas adolescentes para seus atos. Ah, os problemas estão sendo encontrados? A CPI vai ser criada? A ministra já caiu? O ministro já devolveu o dinheiro? O governo está fazendo tudo pela moralidade? Temos transparência?

Quando vocês vêm com o milho, já voltei com o fubá.

Mas digamos que tudo isso fosse verdade e que providências estão sendo tomadas. Ainda assim teríamos uma grande encrenca, pois o pior problema não dá pra contabilizar: o exemplo que está sendo passado aos nossos filhos, de que os erros passados justificam ou atenuam os atuais.
Não justificam. Não atenuam.
Responsabilidade. É isso que explico todo dia para minha filha. E haja milho...


*O jornalista Luciano Pires, ao ter a sensação de que o Brasil "estava ficando burro", escreveu o livro "Brasileiros pocotó", tornando-se um paladino da luta contra a mediocridade no País


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04 fevereiro 2008

SEM DORMIR

Ao som de duas insônias






Je sentis ma gorge serrée par la main terrible de l'hystérie.
(Charles Baudelaire)

Eis que coloquei minhas palavras em tua boca.
(Jeremias, 1.9)

Só sobrevivo se rio do que é sério.
(Anônimo)






Naquele dia do mês de março de 1909, Giovanni Pascoli havia recebido, pela manhã, uma carta que o deixara inquieto. Datada do dia 19, trazia um conteúdo inesperado, e a resposta a dar suscitava reflexão, embora não pudesse tardar. Olhando a paisagem quieta do entardecer, em pé no pórtico de sua bela casa em Castelvecchio, o poeta sentia um rebuliço interior que o impedia de pensar com clareza. Não sabia se deveria responder à carta, ou, caso respondesse, se deveria fazê-lo de modo indefinido ou com decididas afirmações. Optou por respondê-la com evasivas, mas cuidando, contudo, de não alimentar esperanças.


A despeito da decisão, não se tranqüilizou por inteiro, restando-lhe uma espécie de tremor sutil na mão direita, suficiente para dificultar sua escrita; restou-lhe, também, um fio muito fino e frio no abdome, apesar da bebida quente que ingerira antes de se deitar. A estranha sensação acabou permanecendo em sua noite insone, povoada por imagens de letras, que se embaralhavam formando nomes, a soar em sua mente, imersos em versos que não conseguia delimitar, e dos quais logo se esquecia, numa sucessão de aparições e perdas.

Longe dali, Ferdinand de Saussure, depois de mais um dia dedicado à preparação da segunda série de conferências sobre Lingüística Geral que ministrava na Universidade de Genebra, também não pudera dormir, e dedicav-se a continuar seus cadernos de estudo sobre anagramas, sistematicamente preenchidos durante as noites, até a hora em que o sono o impedia de prosseguir. Nessa ocasião, com a insônia, o trabalho avançava até um ponto em que sua vista se turvava e seu pensamento se aturdia, num misto de sonho e realidade que o tornava ainda mais aflito quanto à veracidade de suas descobertas.


Vinham-lhe à mente, então, a partir de direções difusas, inauditos sons guturais, enquanto sentia, pouco a pouco, a garganta apertar-se. Uma breve pausa e alguns goles de água, sorvidos em silêncio num canto escuro, eram suficientes para que se percebesse parcialmente refeito, retornando à sua longa tarefa.


Após alguns anos de pesquisa incansável, permanecia a dúvida primária quanto à própria existência do objeto de sua busca: apesar do deslumbramento a que se entregara, por reconhecer tantos anagramas evidentes nas obras que examinava e conseguir formular as regras que deveriam ter orientado os autores na realização daqueles feitos poéticos, persistia nele um duro foco de incerteza, imanente ao seu estudo, que se contrapunha ao encanto como um gume aguçado, impiedoso, a introduzir-se cada vez mais fundo em seu espírito.


Durante a madrugada, além do trabalho, ocupava-lhe a imaginação uma possível segunda carta dirigida a Pascoli, na qual formularia, de maneira sucinta mas suficiente, a questão crucial que o aliviaria pela resposta que obtivesse, mesmo que negativa. Lia e relia a primeira carta enviada àquele poeta, um dos poucos a cultivar ainda a poesia latina, e tantas vezes premiado no Certamen Hoeufftianum da Academia de Amsterdã:

"Tendo me ocupado da poesia latina moderna a propósito da versificação latina em geral, encontrei-me mais uma vez diante do seguinte problema: certos pormenores técnicos que parecem observados na versificação de alguns modernos são puramente fortuitos ou são desejados e aplicados de maneira consciente?

"Entre todos aqueles que se distinguiram em nossos dias, por obras de poesia latina e que poderiam, por conseguinte, esclarecer-me, são poucos os que se poderia considerar ter dado modelos tão perfeitos como os seus e onde se sentisse tão nitidamente a continuação de uma tradição muito pura. É a razão que me leva a não hesitar em dirigir-me particularmente ao senhor e que deve servir-me de justificativa pela grande liberdade que tomo.

"Caso o senhor estivesse disposto a receber em pormenor minhas perguntas, eu teria a honra de enviá-las numa próxima carta."

Saussure iniciara sua pesquisa sobre os anagramas em 1906, e, a esta altura, já havia preenchido seu 1.170.º caderno, além de papéis avulsos. No momento, fazia anotações nas grandes folhas em que tratava dos poemas latinos de Pascoli e de outro autor, também italiano e também Giovanni — Rosati. Seus cadernos continham essencialmente exercícios de decifração, por meio dos quais buscava encontrar os anagramas fonéticos que teriam sido incluídos pelos versificadores: um ou mais versos comporiam uma certa palavra, geralmente o nome de um deus ou de um herói.


Ao escutar versos latinos, Saussure ouvia levantarem-se, pouco a pouco, os fonemas principais de um nome próprio, distribuídos — acreditava — intencionalmente e conforme normas definíveis. A cada lance de dados do olhar, surgia um premeditado arranjo anagramático, a evidenciar a intervenção do demiurgo, uma inteligência organizadora do caos, que a sua própria desvendava; divisados em toda parte, os nomes insuflavam o seu ânimo, nunca serenado, todavia, pela convicção.

Pascoli, professor da Universidade de Bolonha e, portanto, seu colega de ensino acadêmico, seria seu salvador, o deus-vivo a revelar-lhe a própria intenção criadora, a dar-lhe sustentação às asas do seu vôo, a confirmar-lhe a determinação dos gestos por ele desvelados, a dar-lhe a paz necessária à sua excitação, chão à sua descoberta sem limites.


Ao raiar a aurora, entrevendo por uma fresta um tênue raio de sol, Saussure adormeceu. E teve um sonho curioso, com estantes e estantes de livros; numa delas (onde seus olhos captaram de relance a palavra “Ficção” encerrada numa etiqueta) apareceu-lhe, num close à meia-luz —detalhe sobressaído em meio às contíguas edições na linha da prateleira —, o título Sobre a psicopatologia da vida cotidiana.


A inscrição fê-lo despertar-se. Lembrou-se, logo, de já ter visto tal volume numa livraria de Genebra, sem chegar a folheá-lo — era, sabia-o ele, outra obra de Sigmund Freud, autor de A interpretação dos sonhos, que também não lera. Tratava-se, aquele vislumbre, de algo estranho e mero acaso, como lhe pareciam ser, quase sempre, os sonhos... Após deixar de lado os signos esvanecidos na memória, voltou ao seu mundo presente, focalizando a resposta que receberia do poeta italiano.

Maria, irmã de Pascoli, notou na manhã seguinte a sua inquietude: estava lívido, com as feições contraídas, visivelmente maldormido. Trazia uma expressão rude, grave, interrogativa, além do habitual ar sombrio que se instalara nele desde o assassinato nunca aclarado de seu pai Ruggero, quando tinha apenas 12 anos. Ela ofereceu-lhe, então, um revigorante desjejum, que ele mal tocou.


Ainda à mesa, o escritor relia versos seus, de Ultima linea — “Ergo Vergilius cecinit nova saecula frustra, / frustra ego praedixi, frustraque effata Sybilla est...” —, de Senex Coricius — “Spectabat mare caeruleum de vertice collis / mente Cilix tota. Prope falx et marra iacebant” —, e de Nestor, na página casualmente aberta de Catullocalvos — “sub arbore umbra Nestoris sedet senis”. Depois, debruçou-se sobre versos de seus familiares poetas latinos, buscando neles, também, possíveis “pormenores técnicos” a que o lingüista aludia. Seriam procedimentos por ele ignorados? E, se apareciam em seus próprios poemas, seriam fruto de uma consciência misteriosa que guiara sua pena, uma consciência alheia que o tornara um simples instrumento de sua vontade?


Ou estaria tão imbuído da poesia no idioma do Lácio que a criaria, em seus moldes, como um meio transmissor de uma tradição, sem que isto se limitasse à sua iniciativa? Afinal, ele, Iohannis, recebera medalhas de ouro do concurso holandês, o que revelava que, aos olhos dos críticos, assim como aos do próprio Saussure, seus versos eram legítimos e destacados representantes da poética latina. Não lhe agradava a idéia de não saber coisas importantes acerca de sua própria obra, composta com o máximo de atenção, labor, dedicação e controle que podia oferecer a si mesmo, naquilo que mais lhe importava.


Outrossim, conhecia e estimava, é claro, os momentos em que lhe vinham soluções sem que as perseguisse, as fases mais férteis, a inspiração especial de alguns momentos, sem os quais, acreditava ele, não seria um poeta. Mas a simples sugestão de algo que fizesse sem ter plena ciência de que o fazia fincava-lhe novamente no abdome um frio e fino fio, como se a ponta delgadíssima de uma seta, ou mesmo uma agulha gélida, estivesse cravando-se em suas entranhas. Desencorajando o interlocutor sobre a existência de algo que não identificava, foi cortês o suficiente, em sua resposta, para propiciar a nova e esperada carta, com a questão mais definida acerca dos tais “pormenores”. A mensagem não categórica dava-lhe a alternativa de estar escondendo o que não queria revelar, em vez de atestar o possível desconhecimento de algo que pudesse ser real.

Ao receber a resposta de Pascoli, Saussure inicialmente prostrou-se, por não lhe indicar, ela, qualquer identificação com suas sugestões. Anteviu, portanto, a negativa quanto à realidade de seus achados, talvez apenas uma miragem, uma projeção de sua mente excitada sobre uma massa, ou mancha, que se prestava a qualquer molde que a ela se impusesse. Mas a chama de uma possível revelação, vista a cada passo de seu empenho, não se apagava com mais uma incerteza, e sua iniciativa de escrever a segunda carta deu-se logo, sem rodeios. Era o dia 6 de abril:

"Dois ou três exemplos bastarão para colocar o senhor no centro da questão que se colocou ao meu espírito e, ao mesmo tempo, permitir-lhe uma resposta geral, pois, se é somente o acaso que está em jogo nesses poucos exemplos, disso decorre certamente que o mesmo acontece em todos os outros. De antemão, creio bastante provável, a julgar por algumas palavras de sua carta, que tudo não deve passar de simples coincidências fortuitas:

1. É por acaso ou intencional que, numa passagem como Catullocalvos p. 16, o nome Falerni se encontre rodeado de palavras que reproduzem as sílabas desse nome


... / facundi cálices hausere – alterni /
... / FA AL ER AL ERNI/

2. Ibidem à p. 18, é ainda por acaso que as sílabas de 'Ulixes' parecem procuradas numa seqüência de palavras como

... / Urbium simul / Undique pepulit lux umbras ... resides
... / U - - - UL U - - - - - ULI- -X - - - - S - - - S-ES,

assim como as de 'Circe' em / Cicuresque /
CI -R- CE
ou em / Comes est itineris illi cerva pede / ... ?!?"

A carta continuaria, mas o essencial estava dito. Se isto não fosse, como deixara explícito, um procedimento consciente, nada o seria, e seu esforço teria sido em vão. A angústia instalou-se nele com um suspiro indefinível, pelo tempo que durasse a espera de uma resposta que previa desértica, árida, vazia, a consumir-lhe o ânimo.

Sem prestar muita atenção à correspondência, Maria passou-a ao irmão, que apanhou imediatamente, dentre as diversas cartas, a do mestre suíço. Ela notou, mais uma vez, que o desassossego tomava conta do poeta, alçando-se, pela premência de algo oculto, a um nível bem mais elevado do que aquele que percebia nele desde os dias finais do último mês.

Pascoli leu-a rapidamente, e dirigiu-se, como em busca de ar, aos arredores de sua residência. Uma névoa discreta tomava conta do lugar, fundindo-se a seu pensamento, curiosamente vago. Não pensara, considerava-se certo disso, em espargir elementos de nomes nos poemas, mas eles estavam ali, e o remetente da carta tinha razão. Desconhecia de fato algo que ele próprio fizera? Ou seu conhecimento era maior do que supunha? Por um instante, pareceu-lhe natural que tivesse engendrado tais palavras nos versos.

Seu devaneio ingressou numa dimensão mais interna, a olhar para dentro, buscando enxergar em meio à névoa que espelhava o exterior, agora não visto — e viu um possível outro de si, a rir de sua ignorância, a ironizar sua cegueira. Voltando novamente o olhar para o lado de fora, dominado por uma superfície vaporosa amena, continuou a ver uma face de si mesmo no éter, como um reflexo que, não obedecendo a seu gesto, ria enquanto ele franzia o cenho.

Seria este outro o autor daqueles gestos precisos de sílabas, de sons, entremeando-se em seu ofício como uma linha que costura no tecido alheio, mas cede à fusão de seu feitio? Ou seu riso denunciava a não-autoria de quem quer que não fosse a própria escritura, a gerar em seus meandros suas próprias leis, dotada de um cérebro, motor da linguagem, criador de urdiduras independentes do veículo de sua concretização, esta mão trêmula?

Não havia resposta a dar, sem partir-se, sem negar a sua consciência, ou exaurir a do outro, ou afirmar o inexistente, ou cegar-se diante da evidência, ou admitir que sua poesia lhe era transcendente, ou que, se não o era, talvez fosse algo que não conhecia bem, e, se não conhecia bem, talvez não existisse, assim como sua consciência — que agora lhe parecia demente, com um teor indistinto de mentira a roer-lhe desde dentro (e desde fora).

Nada a responder. A decisão amainou-lhe a alma, que clareava em seu centro, enquanto a névoa se dissipava, permitindo contornos mais nítidos. O ar frio entrou mais livremente em seus pulmões, acalentando-lhe o peito revolto. Parecia agora delimitar-se, em raros traços de vapor, a face translúcida de seu pai, sugerindo-lhe, com voz pálida e longínqua, que deixasse os mistérios se diluírem nos vãos do intelecto.

No início, a ausência de resposta intensificou a agrura de Saussure, que, febril, já não conseguia prosseguir a escrita em seus papéis grandes. As noites tornaram-se vazias, porque povoadas apenas de fantasmas. Fantasmas são nada, vêm e vão, à mercê dos ventos de nossa fantasia; emergem e retornam ao infinito das possibilidades amorfas, ao vazio das formas. Só a intenção, só o ato atento determina a existência do que se identifica. O que apenas surge, e some, nada é, desprovido da determinação da vigília. Assim os sonhos incertos das noites em Genebra, quando a elas retornou o sono, só reaparecido no momento em que os cadernos foram definitivamente ocultados dos olhos exangues de seu autor, num móvel de sólida madeira.


*Marcelo Tápia, radicado em São Paulo/SP, é professor, poeta, musicista e escritor. Produziu este conto motivado por informações contidas na obra As palavras sob as palavras – Os anagramas de Ferdinand de Saussure, de Jean Starobinski (tradução de Carlos Vogt, Editora Perspectiva, São Paulo/SP, 1974). Os trechos das cartas de Saussure (foto acima) foram retirados desta edição, com mínimas alterações, assim como dela provém alguma frase incorporada ao texto






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INVENTÁRIO GLOBAL

Mapeando a natureza



Viagens de Descobrimento – três séculos de explorações e História Natural congrega 300 anos da história da busca pelo conhecimento da natureza. O volume finalmente chega ao público brasileiro, revelando o riquíssimo período da humanidade em que cientistas, ilustradores e viajantes desenvolveram o primeiro grande inventário global.

O livro reúne 340 deslumbrantes ilustrações inéditas (pertencentes ao acervo do Museu de História Natural de Londres), realizadas por artistas que acompanharam, em suas expedições pioneiras, desbravadores como Charles Darwin e James Cook, destacando personagens menos conhecidos, porém igualmente importantes na elaboração do evolucionismo, como Alfred Russel Wallace e Henry Walter Bates.

O trabalho explora material de viagens exploratórias que ajudaram a construir os critérios de cientificidade contemporâneos no grande mapeamento ocorrido entre os séculos XVII e XIX. Traz, ainda, informações produzidas pelos três grandes naturalistas que fizeram pesquisa de campo no Brasil, às vésperas da comemoração dos 150 anos da Teoria da Evolução.

Viagens de descobrimento, enfim, mostra o processo de reconhecimento do mundo natural pela ciência européia, do qual somos todos herdeiros, enquanto revela as proezas de homens e mulheres que, por meio da observação e da habilidade artística, ampliaram os limites do conhecimento de sua época. A coragem desses desbravadores estabeleceu as bases da ciência moderna em geral (e da genética em particular).

A existência desta obra e a fonte inesgotável de documentos na qual ela se baseia devem-se à visão do governo britânico no final do século XVIII e ao acervo do viajante Hans Sloane. Uma de suas coleções mais significativas foi reunida durante sua primeira viagem à Jamaica (que trouxe à humanidade não só o chocolate ao leite como um relato detalhado da história natural da ilha, ilustrado por um artista nativo, o Reverendo Garret Moore). Antes de falecer, Hans Sloane doou suas coleções ao Governo Britânico, dando origem ao Natural History Museum de Londres e iniciando sua fabulosa coleção de mais de 68 milhões de espécimes.

Uma das histórias mais fascinantes é a da ilustradora Maria Sybilla Merian, que em 1699 foi ao Suriname a fim de realizar uma série de desenhos sobre a metamorfose das borboletas, incluindo as plantas hospedeiras de larvas. Tal era a qualidade de suas ilustrações que, quando o consagrado naturalista sueco Carl von Linné preparou seu compêndio descrevendo todos os animais então conhecidos, não pôde deixar de incluir as espécies por ela registradas.

Este grande inventário global de viajantes permitiu aos naturalistas unificar o mundo vivo em torno de teorias baseadas num equilíbrio biológico tenso e dinâmico, em substituição às concepções tradicionais que descreviam a imutabilidade e a harmonia da criação. Doutor em Biologia Marinha pela Universidade de Liverpool, Tony Rice, o autor deste volume, trabalhou no museu até se aposentar. Atualmente consultor ambiental na Inglaterra, publicou mais de 200 artigos e livros e aqui apresenta manuscritos e originais em boa parte desconhecidos, nomeando as circunstâncias nas quais o acervo foi coletado, pintado, classificado e descrito, antes de compor as ricas coleções do Museu.

Assina a introdução da edição brasileira a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Lorelai Kury, doutora em Histoire Et Civilisations pela École des Hautes Etudes en Sciences Sociales na França e professora da UERG-Universidade do Estado do Rio de Janeiro.


SERVIÇO

Viagens de descobrimento – três séculos de explorações e História Natural
Tony Rice (340 páginas, 340 ilustrações) - 27,5 x 31 cm - R$ 120
Tradução: Flavia Carneiro Anderson e Fernanda Schnoor (legendas)

PEDIDOS
Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda.
Rua Xavier da Silveira, 45 – sala 906 – Copacabana/RJ
(21) 2267-6763
http://www.andreajakobssonestudioeditorial.com.br/


NEIL YOUNG LYRICS

Bandeiras da liberdade



Ora, direis, ouvir estrelas... Inda mais quando a "estrela" em questão é o velho Neil Young, que traça à risca seu percurso (como o internauta poderá constatar a partir desta letra, peça especial de sarcasmo destacada para conduzir a sua aventura de apreensão de conteúdo atual sobre o mundo véi em que vivemos). Cada vez que você clicar no site, tocará uma das músicas de seu Living with war. Esta é só o aperitivo. Agora, pegue o dicionário...


"Flags of freedom"

Today's the day our younger son
Is going off to war
Fightin' in the age old battle
We've sometimes won before
Flags that line old Main Street
Are blowin' in the wind
These must be the flags of freedom flyin'

Church bells are ringin'
As the families stand and wave
Some of them are cryin'
But the soldiers look so brave
Lookin' straight ahead
Like they know just where they're goin'
Past the flags of freedom flyin'

Sister has her headphones on
She hears the music blasting
She sees her brother marchin' by
Their bond is everlasting
Listening to Bob Dylan singin' in 1963
Watching the flags of freedom flyin'

She sees the president speakin'
On a flat-screen TV
In the window of the old appliance store
She turns to see her brother again
But he's already walkin' past
The flags of freedom flyin'

Have you seen the flags of freedom?
What color are they now?
Do you think that you believe in yours
More than they do theirs somehow?
When you see the flags of freedom flyin'

Today's the day our younger son
Is goin' off to war
Fightin' in the age old battle
We've sometimes won before
Flags that line old main street
Are blowin' in the wind
These must be the flags of freedom flyin'


VEJA E OUÇA MAIS

FÁBULAS DE SOLIDARIEDADE HUMANA

Neruda, Kurosawa e Hitchcock



Um aspecto, talvez o mais importante, permanece vívido na obra literária do genial poeta “latino-americano” Pablo Neruda: a desconstrução de um padrão imaginário em conformidade com os navegantes, viajantes e evangelizadores, para os quais a América seria a concretização —messiânica e milenarista —, de profecias e a restauração do Paraíso terrestre. Se é verdade que as memórias são representativas para o escritor, como consta em Confieso que he vivido - Memorias, Neruda retém aquele aspecto quando compara o memorialista ao poeta de todos os tempos, reivindicando a expressividade e talento do último. Para ele, este “talvez tenha vivido menos”, mas “nos entrega uma galeria de fantasmas sacudidos pelo fogo e a sombra de sua época”. O que quer dizer estar o mais próximo possível da originalidade única do homem.

De outra parte, o filme O carteiro e o poeta (Il postino, ING/ITA/FRA 1995, fotograma acima), que tem como referencial da história o chileno Pablo Neruda, retrata uma passagem da vida do poeta quando, exilado numa pequena ilha da Itália, manteve uma relação de amizade com um carteiro, encarregado de lhe entregar a correspondência pessoal. São cenas que se constróem com brilho e exuberância, tal qual se define o amor entre os gregos como philia (a base da Filosofia), uma espécie de amizade, de cuidado e trato freqüente. Trata-se, no caso, de uma fábula sobre a solidariedade humana.

Portanto, quando afirmamos que a proeminência do carteiro é só aparente, ele (sociologicamente falando) representa a simbiose do conhecimento materializado na vida. Neste aspecto, lembremos a realização do self kurosawano em Madadayo (1993), contrariando a tese segundo a qual detemos a infância quando caminhamos para a morte (isto é, a atitude mental que subordina a aceitação direta da vida a um processo de reflexão, e ipso facto, consiste em elaborar criticamente a atividade intelectual que existe em cada um de nós).

Não é vão, portanto, admitir que se trate de uma constructione, com base no texto literário de Antonio Skarmeta (II postino di Neruda), e que os autores, na esfera da Sétima Arte, percebem ser esta a diferença entre o artístico e o político, ou, como diríamos, do intelectual que pode ter uma integral concepção do mundo.

Há ainda outro aspecto de profunda grandeza: a condição de “estrangeiro” do poeta, que significa o personagem de outra região, de outra parte, ainda que pertencente ao mesmo país ou não. É aquele que chega "de fora”, que é estranho ou intruso. Na medida em que seja verdade, ele é mais livre, prática, teórica e afetivamente; examina as condições com menos preconceito; seus critérios para isso são mais gerais e mais objetivamente ideais; não está amarrado à sua ação pelo hábito, pela piedade ou por precedente.

O filósofo de transição deste século, Georg Simmel — como o fôra Soren Aabye Kierkegaard no século que o precedera —, é um “ciscador” sobre este tema (?), na expressão de Evaristo Morais Filho (1978), que acredita que algo deste sentimento não está ausente de qualquer “relação social” (vergellschaftung), mas está contido numa idéia geral que inclui muitas possibilidades do que se tem em comum, pois “elas se esgueiram entre nós como sombras, como uma rubrica que escapa de qualquer palavra conhecida, mas que deve concretizar-se numa forma solidamente encarnada, antes de poder ser chamada de 'ciúme'”. Isto é evidente com o decorrer do filme Il postino di Neruda.

Aliás, nos últimos 500 anos toda a revolução (contida desde Copérnico, para quem a Terra não ocupa o centro do universo, em Darwin, para quem o homem não ocupa o centro da espécie, em Marx, para quem o homem não faz a História, mas age “sob condições determinadas”, e em Freud, que afirma que o homem não detém o centro de sua individualidade), mostra-nos que a Terra, a espécie, a História e a individualidade deslocam-se do centro, no desejo e na ação dos homens, indicando-nos um “novo” tipo de apropriação do saber, hoje, mais do que nunca, simbolizado na e pela informação adquirida pela acumulação “capitalística” de conhecimentos tecnológicos “a serviço do capital” (de Antonio Gramsci a Jürgen Habermas).

Este domínio, o da informação, pasmem senhoras e senhores, aprova e desaprova qualquer existência ou natureza de uma causa final. Os exemplos são inúmeros: querem agora nos dizer, testar e provar, com o fim da economia de guerra e a explosão globalizante das etnias, que a “consciência morreu”. Os argumentos se dão não só por vias de fato, mas sobretudo no plano ideológico, fomentados pela “guerrilha psicológica” pós-imperialista a nível mundial, com a guerra das imagens manipuladas pela mass communication science.

Os problemas encontram-se assim na ordem do profundo, do nacional e do local, “desnacionalizado e desterritorializado”, para lembrarmos Felix Guattari. Sobretudo pelo fato de que, no crepúsculo do Milênio, partimos para o instante da descoberta (ou, noutras palavras, quando passamos a fruir da (des)ordem mundial, a máxima intensidade do encantamento e da beleza na apreensão do conhecimento, passados 500 anos de colonização imperialista, com a possibilidade abrindo-se para o livre pensamento, ”sobretudo com o amor”, diz-nos o escritor anarquista Roberto Freire, quando afirma: “Há momentos em que se sente que a vida pode ter fim antes da morte da gente”, em seu conhecido livro Ame e dê vexame.

O que quer dizer "estar o mais próximo possível da originalidade única do homem, viver livre e nos prepararmos sempre e todo para a educação (política)", como afirma o escritor peruano Manuel Scorza em La Danza Imóvil (1983:45)? Diz ele: “É imprescindível fazer política e poesia. Quando um revolucionário não é um poeta acaba por ser um ditador ou um burocrata, um delator de seus próprios sonhos”.

Akira Kurosawa, gentil-homem, com seu filme Madadayo (Japão 1993, fotograma ao lado) indica-nos pistas de que a consciência não morreu. Ele sabe que só se conhece reconhecendo e desconhecendo pari passu. Empresta seu conhecimento reconhecendo que seu "mestre” (o conhecimento da vida materializado no professor) está vivo, não morreu, guardando o conhecimento no coração. Sabe que, para concordarmos com Antonio Gramsci em Quaderni del carcere, que o “erro do intelectual consiste em acreditar que se possa saber sem compreender e, principalmente, sem sentir e estar apaixonado”.

Ou, como Clarice Lispector observou no conhecido Lições de amor ou o Livro dos Prazeres (1967) que o vivente sabe que está pronto para a vida, que “viver ultrapassa todo entendimento”, daí repetir, como na ludicidade das crianças: "Madadayo!", e que a vida só nos é livre se tivermos a clareza de que este aprendizado inclui a independência de raciocínio e a liberdade de pensamento, primícias, portanto, para o novo, sempre eterno no homem.

Ou seja, parafraseando Sigmund Freud no ensaio Massenpsychologie und Ich-Analyse (1921), dir-se-ia que Kurosawa sempre soube "esperar para não fazer concessões”. Pois o que é catártico no conhecimento é o fato de que é a única coisa que não se pode tirar do ser humano, nem mesmo com a morte (contrariando Thomas Hobbes, do Leviatã ou Matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil (1651), mas lembrando que ele afirma: “Ignoro como o mundo irá recebê-lo, ou como poderá refletir-se naqueles que parecem ser-lhe favoráveis”, ou mesmo o escritor argentino Ernesto Sabato, autor do trágico romance El túnel (1986) sobre a morte, quando afirma no prefácio: “É fácil ser modesto quando se é célebre, quero dizer, parecer modesto”...

De outra parte, tudo dá-se segundo o filósofo João Aloísio Lopes, autor da Tese de Livre-Docência Lições de Transitologia (introdução a uma Teoria Geral da Comunicação que procura compreender, num enfoque sócio-tecnológico, como as coisas falam, São Paulo: ECA/USP, 1991), quando afirma: “Todo processo de trabalho é um processo de comunicação, mas nem todo processo de comunicação é um processo de trabalho", e justifica este fato quando admite que o pensamento possa ser adjudicado como um transital.

Na sua concepção filosófica, que parte dos predicados de Aristóteles (que tem como pressuposto o fato de “poder mudar de forma” [cf. David Ross (ed.), Aristotle Selections. New York: Charles Scribner's Sons, 1955], a concepção materialista da história de Karl Marx contida em Das Kapital (1867), exprime uma “unidade de significação” que se materializa no real, ou melhor, “representa o fluxo de inteligibilidade no qual todas as coisas falam”.

Percebida esta relação decalcada no que é teórico, admite Aloísio Lopes que se criam, ao mesmo tempo, valores-de-informação, conceito filosófico com nítida inspiração em Walter Benjamin (in Auswahl in Drei Bändem) em sua concepção de “transitoriedade” no curso entre “valor de culto” e “valor de exposição” no âmbito da “obra de arte e sua reprodutibilidade técnica” e que podem situar-se em fluxo num “campo” e que este “campo” constituir-se-ia em um “clima de comunicação”, mas disso não trataremos agora. Para ficarmos num exemplo, a Catedral de Fortaleza expressa-se como obra de arte, “valor de culto”, conquanto o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura expresse “valor de exposição”.

De certo modo não há como se escapar deste certo “clima de comunicação” se tomarmos como referência, dentro destes limites e guardadas as proporções, além de Madadayo, The Piano (NZE/FRA, 1993), Como Água para Chocolate (MEX, 1992) e Sophie (SUE/DIN/NOR, 1992) entre outros, que consistem do elaborar criticamente a atividade intelectual que existe em cada um de nós. Ipso facto foi muito feliz o articulista capixaba Amylton de Almeida em seu artigo: Kurosawa abraça com força a sabedoria (cf. jornal A Gazeta, Vitória/ES, 12.11.93), porque percebe ser esta a diferença entre o “artista e o político”, ou, como diria, do intelectual que pode ter uma “integral concepção do mundo” (weltanschauung), como no entendimento de Bertolt Brecht em Über Politik und Kunst (Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Maim, 1971).

Mas, como não podemos esquecer, a escola é o instrumento ideal para elaborar os intelectuais de diversos níveis. Principalmente se encontrarmos no professor o estímulo para a criatividade da imaginação, da espontaneidade, do talento e da capacidade do privilégio da obtenção do conhecimento humano e da ética. Por isso mesmo temos que admitir com o articulista que Kurosawa “faz a mais bela homenagem que um professor já recebeu no cinema” em todos os tempos.

Por fim, aprendi a ver Hitchcock pelos olhos de uma mulher, sentado na escadaria do antigo (e badalado) Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense, no Morro do Valonguinho, em Niterói/RJ. Àquela altura, éramos assíduos freqüentadores do bar do Natal e da livraria Gutenberg, tudo ao redor e ocupávamo-nos, principalmente, com o debate em torno de duas ou três crianças que, no transcorrer do século XIX, viriam a influenciar decisivamente o pensamento sociológico.

A razão ocidental faz pagar caro a um filho sem pai. “Marx, Nietzsche e Freud tiveram de pagar a conta”, lembrava o filósofo Louis Althusser, “algumas vezes atroz, da sobrevivência, preço contabilizado em exclusões, condenações, injúrias, misérias, fome e mortes, ou loucura, porque representaram o nascimento de ciências ou de crítica”.

Em 13 de agosto de 1999 completaram-se 110 anos do nascimento de Alfred Joseph Hitchcock, em Leytonstone, a menos de 10 quilômetros de Londres. Hitchcock era cinco anos mais novo que Isaac Babel, seis que Wladimir Maiakovski e Walter Benjamin, dois que Humberto Mauro e um que Bertolt Brecht, da mesma idade que seu compatriota Charles Spencer Chaplin e um pouco mais velho que Luís Buñuel, Ingmar Bergman e Akira Kurosawa. Filho de verdureiros muito católicos, foi educado em escola de jesuítas, começando a trabalhar como publicitário, com pouco mais de 20 anos.

À noite, neste período, freqüentou cursos de História da Arte e pintura na University of London. Seu passatempo era ver filmes americanos e alemães ou ler contos de Poe. Em 1920, a Paramount abriu um estúdio em Londres e contratou Hitchcock como desenhista. Ali começava sua carreira no cinema: desenhando títulos e criando legendas para filmes mudos. Em 1924, passou a trabalhar como roteirista, cenógrafo e assistente de direção. Hitchcock fez 24 filmes na Inglaterra até 1939, quando se mudou para os EUA. Tornou-se cidadão americano em 1955 e veio a morrer em Los Angeles, em 29 de abril de 1980, quatro anos depois de fazer seu 53.º filme, Family plot.

Ao tempo de seu nascimento, estava em curso a secularização da cultura e do comportamento. A crescente intelectualização dos indivíduos e a contínua racionalização da vida material e espiritual levaram ao desencantamento do mundo, visto por intelectuais europeus nas primeiras décadas do século XX, sendo os próprios fetiches criados e recriados à sombra da própria razão e invenção, mas que, todavia, defrontava-se com um destino trágico. A ilusão do indivíduo autônomo, livre e independente veio a reforçar uma das mais avançadas expressões da Modernidade, que é o cinema recriando as criações daquela ilusão.

Hitchcock, homem meticuloso, é magnânimo em sua criação porque filmava abstraindo o que se apresentava na realidade, mas com a transformação do magnetismo visual proporcionado pela 7.ª Arte. Isto quer dizer que não basta a atitude mental que subordina a aceitação direta da vida a um processo prévio de reflexão. A genialidade do cineasta não dizia respeito exclusivamente à técnica de manipular o medo dos espectadores por meio do suspense, o que elevou o medo à condição de uma das mais belas artes.

Mais do que isso, conduzia a démarche exata entre o aparente e o secreto e a possibilidade de experimentá-lo, ou, como se diz sociologicamente, a reflexividade no confronto com a imagem, revelando no secreto a obra de arte e o centro de ser artista e ator, por sua mania de aparecer, mesmo que fugazmente, nos filmes que dirigiu.

Talvez um dos melhores exemplos fora da súmula de neuroses, obsessões e humor mórbido em filmes-chave entre muitos já conhecidos, deva-se ao aparentemente pouco expressivo Rope (EUA, 1948, fotograma ao lado), seu primeiro filme colorido, baseado na peça de Patrick Hamilton. Conforme entendemos, só aparentemente em Rope insiste-se na técnica de manipular o medo dos espectadores, quando num diálogo denso, Brandon (John Dall) afirma ao amigo: “Sempre desejei ter talento artístico (...) assassinato também pode ser uma arte (...). Matar pode satisfazer tanto como criar”. E, ao cometer o crime: “Não me lembro de ter sentido nada (...) até seu corpo ficar mole (...) e aí senti que tinha terminado. Aí me senti tremendamente alegre”.

Em verdade, o filme tem como secreto o perigo sempre presente na atividade intelectual (e sexual, conforme Gore Vidal prefacia em The invention of heterosexuality, de autoria de J. N. Katz, 1995), exclusivamente entre homens. Na minha interpretação, o masculino é que sustenta o filme, já que as mulheres aparecem secundariamente: “Como jovens belas prontas para casar” etc. Trata-se do instrutor da escola (Summerville), Rupert Cadel (James Stuart), “que publica livros que gosta. Filosofia (...), e muito radical. Seleciona seus livros considerando que as pessoas podem ler e pensar” e dois discípulos seus: Brandon e Phillip (Farley Granger), que admitem (após o crime) que “ele [o professor] não tem garra. Intelectualmente é brilhante. Mas enfadonho. Poderia inventar (...) e admirar, mas nunca atuar. Somos superiores. Temos coragem. Ele, não”.

No que entendemos, a referência a Friedrich Nietzsche, literalmente mais adiante na película, serve para reiterar alguns conceitos do mestre (Caldel), que se utiliza de lógica e intelecto superior para compreender o mundo. Naquele exato momento o próprio Nietszche estava sendo mal compreendido (1940/1950), conforme nos é sugerido: “Poucos são os de superioridade intelectual que estão acima dos conceitos morais. Bem e mal, certo e errado foram inventados por homens médios que necessitam disso”, diz Brandon.

No que responde o Sr. Kentley (também intelectual, admirador de livros raros): “É a teoria do super-homem de Nietzsche, também a de Hitler”. No que responde novamente o discípulo, Brandon: “Hitler era um paranóico. Seus super-homens eram assassinos sem cérebro. Eu os enforcaria por serem estúpidos. E os incompetentes o têm demais” (sic). O próprio professor admite: “Me torna envergonhado dos meus conceitos de seres superiores e inferiores. Mas agradeço por esta vergonha. Porque agora sei que somos seres individuais com o direito de viver e pensar como tal, mas com uma obrigação com a sociedade. Com que direito ousa decidir que o rapaz era inferior e então poderia ser morto? Se julgava Deus, Brandon? Pensava assim quando o estrangulou? E quando serviu comida sobre o seu túmulo? Não sei o que pensa ou o que é, mas sei que assassinou. Matou um ser humano jovem que poderia viver e amar mais do que você. E não o fará...”.

Além disso, Hitchcock quer de fato demonstrar (ou fazer-nos refletir) que esta atividade intelectual (e sexual) exclusivamente entre homens pode representar o homem diante da guerra e da morte (evidentemente com o fim da guerra) em um crime contra a humanidade, individual ou coletivamente, que consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, ou como se diz: “Quantas esperanças fundaram os alemães nos gases asfixiantes e na guerra bacteriológica!... e os que mais protestavam contra esses nefandos genocídios herdaram a idéia e continuaram estudos de aperfeiçoamento dela” (sic).

É muito difícil, mas não impossível, deixarmos de refletir (em acordo com o forte argumento de Hitchcock) no homem diante da guerra e da morte, num século dos extremos, num século curto, num século que talvez tenha feito mais guerras, no sentido colonial, imperialista, de “economia de guerra”, étnico, racial, de “guerra psicológica”, de “guerra tecnológica” etc. Enfim, é um filme que de alguma forma lembra a logística da guerra, dos machos que guerreavam e guerreiam fora do vídeo/dentro do vídeo, na guerra de imagens, na guerra dos sonhos, mas “soñemos, alma, soñemos outra vez; pero há de ser con atención y consejo de que hemos de despertar de este gusto al mejor tiempo”, como afirmou Pedro Calderón de la Barca, em La vida es sueño. (Troisième journée, scène 5).



*Ubiracy Braga é sociólogo, cientista político, professor adjunto da UECE-Universidade Estadual do Ceará e cinéfilo confesso


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PULSAÇÃO REJUVENESCEDORA

Aliada em tratamentos



Ao longo da vida, nossa pele vai adquirindo uma aparência mais envelhecida, influenciada por vários fatores. Os sinais da idade e os danos causados pelos raios solares vão se tornando mais visíveis e mais aparentes, principalmente na face. Entre os diversos tratamentos atualmente oferecidos pela Medicina para obter-se o rejuvenescimento, um dos atuais destaques é a Luz Intensa Pulsada — a tecnologia IPL-Intense Pulsed Light —, derivada dos estudos da aplicação dos lasers em Medicina e Cirurgia.

A Luz Intensa Pulsada é um avanço tecnológico que permite um tratamento não-ablativo (que não fere), porque não retira camadas de pele mas trata as lesões tanto na superfície como em profundidade. Uma grande aliada contra o envelhecimento, permite ao médico escolher que melhor tratamento combinado pode ser adaptado a cada situação.

A sua aplicação superficial consegue promover uma redução significativa de manchas — a maioria devido à exposição ao sol. Além do rosto, podem ser tratados mãos, braços, colo e pescoço. A aplicação profunda estimula a produção de colágeno, porque transmite energia aos tecidos mais profundos, produzindo significativa melhora nas irregularidades dos tecidos e diminuição das rugas finas, melhorando a textura da pele e corrigindo cicatrizes.

A ação da Luz Intensa Pulsada aplicada na parte superficial e profunda da pele promove o chamado "foto-rejuvenescimento". Uma vantagem é que a técnica pode ser utilizada em uma variedade de condições benignas inestéticas como envelhecimento facial, envelhecimento das mãos, dorso e pescoço, vasos faciais, rosácea, acne, cicatrizes de acne, poiquilodermia, manchas senis, melasma, sardas e olheiras.

Para fazer o tratamento, o(a) paciente precisa abster-se de tomar sol por 30 dias antes do procedimento e, neste período, utilizar protetores solares. A duração de uma sessão é de 20 minutos. Após a aplicação, o(a) paciente deve abster-se de sol por mais um intervalo de 2 a 3 semanas. Para obter o resultado desejado são necessárias em média 6 sessões, com intervalos de 3 semanas para cada sessão. Os resultados aparecem progressivamente a cada aplicação.


*Érica Botelho, médica dermatologista (Universidade Metropolitana de Santos/SP), é professora-adjunta da Pós-Graduação em Dermatologia do Colégio Brasileiro de Dermatologia, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Associação Internacional de Medicina Estética

SAIBA MAIS
http://www.clinicaericabotelho.com.br/

DAPRAIA FUNNY PAGES

Rir e coçar... sacumé...



Engatada













por Guabiras



Eu por mim mesmo e mais ninguém






por Denilson Albano



Dingobéu








por Jefferson Portela

LIMPANDO A BARRA

Saber é saber pôr em prática



Salvar o mundo vai dar um bocado de trabalho, se considerarmos a resistência (danosa) que as pessoas opõem a prementes(necessárias) mudanças. Sendo o confronto de hábitos, tradições e costumes inevitável neste processo, é também inevitável que estejamos atentos, sabendo que a solução depende bastante de nós. Por isso, vimos divulgar estas "dicas práticas" para você poder ajudar a ECONOMIZAR ENERGIA E PROTEGER O PLANETA.

Tudo muuuuito simples mesmo, sem qualquer "segredo", só o véi bom senso, junto à comprovação da experiência científica e com o intuito de que a temática gere assunto. É isso: fale mais a respeito disto tudo, pois apenas isso já é sinal de respeito. Complicou? Bom, siga lendo que vai descomplicando:

1. TAMPE SUAS PANELAS ENQUANTO COZINHA. Parece óbvio, não é? E é mesmo! Ao tampar as panelas enquanto cozinha, você aproveita o calor que simplesmente se perderia no ar;

2. USE UMA GARRAFA TÉRMICA COM ÁGUA GELADA. Compre daquelas garrafas térmicas de acampamento, de 2 ou 5 litros. Abasteça-a de água bem gelada com uma bandeja de cubos de gelo pela manhã. Você terá água gelada até à noite e evitará o abre-e-fecha da geladeira toda vez que alguém quiser beber um copo de água;

3. APRENDA A COZINHAR EM PANELA DE PRESSÃO. Acredite, dá pra cozinhar tudo em panela de pressão: feijão, arroz, macarrão, carne, peixe etc. Muito mais rápido e economizando 70% de gás;

4. COZINHE COM FOGO MÍNIMO. Se você não faltou às aulas de Física no Segundo Grau, você sabe: não adianta, por mais que você aumente o fogo, sua comida não vai cozinhar mais depressa, pois a água não ultrapassa 100ºC em uma panela comum. Com o fogo alto, você vai é queimar sua comida;

5. ANTES DE COZINHAR, RETIRE DA GELADEIRA TODOS OS INGREDIENTES DE UMA SÓ VEZ. Evite o abre-e-fecha da geladeira toda vez que o seu cozido precisar de uma cebola, uma cenoura etc.;

6. COMA MENOS CARNE VERMELHA. A criação de bovinos é um dos maiores responsáveis pelo efeito-estufa. Não é piada. Você já sentiu aquele cheiro pavoroso quando você se aproximou de alguma fazenda /criação de gado? Pois é: é metano, um gás inflamável, poluente e fedorento. Além disso, a produção de carne vermelha demanda uma quantidade enorme de água. Tenha uma idéia: para produzir 1kg de carne vermelha são necessários 200 litros de água potável. O mesmo quilo de frango só consome 10 litros;

7. NÃO TROQUE O SEU CELULAR. Já foi-se o tempo em que celular era sinal de status. Hoje em dia, qualquer Zé Mané tem. Trocar por um mais moderno para tirar onda? Ninguém se importa. Fique com o antigo, pelo menos enquanto estiver funcionando perfeitamente ou em bom estado. Se o problema é a bateria, considere o custo-benefício de trocá-la e descartá-la adequadamente, encaminhando-a a postos de coleta. Celulares trouxeram muita comodidade à nossa vida, mas utilizam derivados de petróleo em suas peças e metais pesados em suas baterias. Além disso, na maioria das vezes sua produção é feita utilizando mão-de-obra barata em países em desenvolvimento. Ora, utilize seus gadgets até o final da vida útil deles: lembre-se de que eles certamente não foram nada baratos;

8. COMPRE UM VENTILADOR DE TETO. Nem sempre faz calor suficiente pra ser preciso ligar o ar-condicionado. Na maioria das vezes, um ventilador de teto é o ideal para refrescar o ambiente, gastando 90% menos energia. Combinar o uso dos dois também é uma boa idéia. Regule seu ar-condicionado para o mínimo e ligue o ventilador de teto;

9. USE SOMENTE PILHAS E BATERIAS RECARREGÁVEIS. É certo que são caras, mas no uso em médio e longo prazos elas se pagam com muito lucro. Duram anos e podem ser recarregadas em média 1.000 vezes;

10. LIMPE OU TROQUE OS FILTROS DO SEU AR-CONDICIONADO. Um ar condicionado sujo representa 158 quilos de gás carbônico a mais na atmosfera por ano;

11. TROQUE SUAS LÂMPADAS INCANDESCENTES POR FLUORESCENTES. Lâmpadas fluorescentes gastam 60% menos energia do que uma incandescente. Assim, você economizará 136 quilos de gás carbônico anualmente;

12. ESCOLHA ELETRODOMÉSTICOS DE BAIXO CONSUMO ENERGÉTICO. Procure por aparelhos com o selo do PROCEL (no caso de nacionais) ou Energy Star (no caso de importados);

13. NÃO DEIXE SEUS APARELHOS EM STAND-BY. Simplesmente desligue ou tire da tomada quando não estiver usando um eletrodoméstico. A função de stand-by de um aparelho usa cerca de 15% a 40% da energia consumida quando ele está em uso;

14. MUDE SUA GELADEIRA OU FREEZER DE LUGAR. Ao colocá-los próximos ao fogão, eles utilizam muito mais energia para compensar o ganho de temperatura. Mantenha-os afastados pelos menos 15cm das paredes, para evitar o superaquecimento. Colocar roupas e tênis para secar atrás deles então, nem pensar!;

15. DESCONGELE GELADEIRAS E FREEZERS ANTIGOS A CADA 15 OU 20 DIAS. O excesso de gelo reduz a circulação de ar frio no aparelho, fazendo com que gaste mais energia para compensar. Se for o caso, considere trocar de aparelho. Os novos modelos consomem até metade da energia dos modelos mais antigos, o que subsidia o valor do eletrodoméstico a médio/longo prazo;

16. USE A MÁQUINA DE LAVAR ROUPAS/LOUÇA SÓ QUANDO ESTIVEREM CHEIAS. Caso você realmente precise usá-las com metade da capacidade, selecione os modos de menor consumo de água. Se você usa lava-louças, não é necessário usar água quente para pratos e talheres pouco sujos. Só o detergente já resolve;
17. RETIRE IMEDIATAMENTE AS ROUPAS DA MÁQUINA DE LAVAR QUANDO ESTIVEREM LIMPAS. As roupas esquecidas na máquina de lavar ficam muito amassadas, exigindo muito mais trabalho e tempo para passar e consumindo assim muito mais energia elétrica;

18. TOME BANHO DE CHUVEIRO. E, de preferência, rápido. Um banho de banheira consome até quatro vezes mais energia e água que um chuveiro;

19. USE MENOS ÁGUA QUENTE. Aquecer água consome muita energia. Para lavar a louça ou as roupas, prefira usar água morna ou fria;

20. PENDURE AS ROUPAS AO INVÉS DE USAR A SECADORA. Você pode economizar mais de 317 quilos de gás carbônico se pendurar as roupas durante metade do ano ao invés de usar a secadora;

21. NUNCA É DEMAIS LEMBRAR: RECICLE NO TRABALHO E EM CASA. Se a sua cidade ou bairro não tem coleta seletiva, leve o lixo até um posto de coleta. Existem vários, por exemplo, na rede Pão de Açúcar. Lembre-se de que o material reciclável deve ser lavado (no caso de plásticos, vidros e metais) e dobrado (papel);

22. FAÇA COMPOSTAGEM. Cerca de 3% do metano que ajuda a causar o efeito estufa é gerado pelo lixo orgânico doméstico. Aprenda a fazer compostagem: além de reduzir o problema, você terá um jardim saudável e bonito;

23. REDUZA O USO DE EMBALAGENS. Embalagem menor é sinônimo de desperdício de água, combustível e recursos naturais. Prefira embalagens maiores, de preferência com refil. E evite ao máximo comprar água em garrafinhas, leve sempre com você a sua própria;

24. COMPRE PAPEL RECICLADO. Produzir papel reciclado consome de 70 a 90% menos energia do que o papel comum, e poupa nossas florestas;

25. UTILIZE UMA SACOLA PARA AS COMPRAS. Sacolinhas plásticas descartáveis são um dos grandes inimigos do meio ambiente. Elas não apenas liberam gás carbônico e metano na atmosfera, como também poluem o solo e o mar. Quando for ao supermercado, leve uma sacola de feira ou suas próprias sacolinhas plásticas;

26. PLANTE UMA ÁRVORE. Uma árvore absorve uma tonelada de gás carbônico durante sua vida. Plante árvores no seu jardim ou inscreva-se em programas como o SOS Mata Atlântica ou Iniciativa Verde;

27. COMPRE ALIMENTOS PRODUZIDOS NA SUA REGIÃO. Fazendo isso, além de economizar combustível, você incentiva o crescimento da sua comunidade, bairro ou cidade;

28. COMPRE ALIMENTOS FRESCOS AO INVÉS DE CONGELADOS. Comida congelada, além de mais cara, consome até 10 vezes mais energia para ser produzida. É uma praticidade que nem sempre vale a pena;

29. COMPRE ORGÂNICOS. Por enquanto, alimentos orgânicos são um pouco mais caros, pois a demanda deles ainda é pequena no Brasil. Mas você sabia que, além de não usarem agrotóxicos, os orgânicos respeitam os ciclos de vida de animais, insetos e ainda por cima absorvem mais gás carbônico da atmosfera do que a agricultura "tradicional"? Se toda a produção de soja e milho dos EUA fosse orgânica, cerca de 240 bilhões de quilos de gás carbônico seriam removidos da atmosfera. Portanto, incentive o comércio de orgânicos para que os preços possam cair com o tempo;

30. ANDE MENOS DE CARRO. Use menos o carro e mais o transporte coletivo (ônibus, metrô) ou o limpo (bicicleta ou a pé). Se você deixar o carro em casa 2 vezes por semana, deixará de emitir 700 quilos de poluentes por ano;

31. NÃO DEIXE O BAGAGEIRO VAZIO EM CIMA DO CARRO. Qualquer peso extra no carro causa aumento no consumo de combustível. Um bagageiro vazio gasta 10% a mais de combustível, devido ao seu peso e aumento da resistência ao ar;

32. MANTENHA SEU CARRO REGULADO. Calibre os pneus a cada 15 dias e faça uma revisão completa a cada 6 meses, ou de acordo com a recomendação do fabricante. Carros regulados poluem menos. A manutenção correta de apenas 1% da frota de veículos mundial representa meia tonelada de gás carbônico a menos na atmosfera;

33. LAVE O CARRO A SECO. Existem diversas opções de lavagem sem água, algumas até mais baratas do que a lavagem tradicional, que desperdiça centenas de litros a cada lavagem. Procure no seu posto de gasolina ou no estacionamento do shopping;

34. QUANDO FOR TROCAR DE CARRO, ESCOLHA UM MODELO MENOS POLUENTE. Apesar da dúvida sobre o álcool ser menos poluente que a gasolina ou não, existem indícios de que parte do gás carbônico emitido pela sua queima é reabsorvida pela própria cana-de-açúcar plantada. Carros menores e de motor 1.0 poluem menos. Em cidades como São Paulo, onde no horário de pico anda-se a 10km/h, não faz muito sentido ter carros grandes e potentes para ficar parados nos congestionamentos;

35. USE O TELEFONE OU A INTERNET. A quantas reuniões de 15 minutos você já compareceu este ano, para as quais teve que dirigir por quase uma hora para ir e outra para voltar? Usar o telefone ou skype pode evitar a você o estresse, além de economizar um bom dinheiro e poupar a atmosfera;

36. VOE MENOS, REÚNA-SE POR VIDEOCONFERÊNCIA. Reuniões por videoconferência são tão efetivas quanto as presenciais. E deixar de pegar um avião faz uma diferença significativa para a atmosfera;

37. ECONOMIZE CDs E DVDs. CDs e DVDs sem dúvida são mídias eficientes e baratas, mas você sabia que um CD leva cerca de 450 anos para se decompor e que, ao ser incinerado, ele volta como chuva ácida (como a maioria dos plásticos)? Utilize mídias regraváveis, como CD-RWs, drives USB ou mesmo e-mail ou FTP para carregar ou partilhar seus arquivos. Hoje em dia, são poucos os arquivos que não podem ser disponibilizados virtualmente ao invés de em mídias físicas;

38. PROTEJA AS FLORESTAS. Por anos os ambientalistas foram vistos como "eco-chatos". Mas em tempos de aquecimento global, as árvores precisam de mais defensores do que nunca. O papel delas no aquecimento global é crítico, pois mantêm a quantidade de gás carbônico controlada na atmosfera;

39. CONSIDERE O IMPACTO DE SEUS INVESTIMENTOS. O dinheiro que você investe não rende juros sozinho. Isso só acontece quando ele é investido em empresas ou países que dão lucro. Na onda da sustentabilidade, vários bancos estão considerando o impacto ambiental das empresas em que investem o dinheiro dos seus clientes. Informe-se com o seu gerente antes de escolher o melhor investimento para você e o meio ambiente;

40. INFORME-SE SOBRE A POLÍTICA AMBIENTAL DAS EMPRESAS QUE VOCÊ CONTRATA. Seja o banco onde você investe ou o fabricante do xampú que você utiliza, todas as empresas deveriam ter políticas ambientais claras para os seus consumidores. Ainda que a prática esteja se popularizando, muitas empresas ainda pensam mais nos lucros e na imagem institucional do que em ações concretas. Por isso, não olhe apenas para as ações que a empresa promove, mas também para a sua margem de lucro, alardeada todos os anos. Será mesmo que eles estão colaborando tanto assim?;

41. DESLIGUE O COMPUTADOR. Muita gente tem o péssimo hábito de deixar o computador de casa ou da empresa ligado ininterruptamente, às vezes fazendo downloads, às vezes simplesmente por comodidade. Desligue o computador sempre que for ficar mais de 2 horas sem utilizá-lo e o monitor por até 15 minutos;

42. CONSIDERE TROCAR SEU MONITOR. O maior responsável pelo consumo de energia de um computador é o monitor. Monitores de LCD são mais econômicos, ocupam menos espaço na mesa e estão ficando cada vez mais baratos. O que fazer com o antigo? Doe para as instituições como o Comitê para a Democratização da Informática;

43. NO ESCRITÓRIO, DESLIGUE O AR-CONDICIONADO UMA HORA ANTES DO FINAL DO EXPEDIENTE. Num período de 8 horas, isso equivale a 12,5% de economia diária, o que se transforma no equivalente a quase um mês de economia ao final do ano. Além disso, no final do expediente a temperatura começa a ser mais amena;

44. NÃO PERMITA QUE AS CRIANÇAS BRINQUEM COM ÁGUA. Banho de mangueira, guerrinha de balões de água e toda sorte de brincadeiras com água são sem dúvida divertidas, mas passam a equivocada idéia de que a água é um recurso infinito, justamente para aqueles que mais precisam de orientação — as crianças. Não deixe que seus filhos brinquem com água, ensine a eles o valor atual desse bem tão precioso;

45. NO HOTEL, ECONOMIZE TOALHAS E LENÇÓIS. Use o bom senso... Você realmente precisa de uma toalha nova todo dia? Você é tão imundo(a) assim? Em hotéis, o hóspede tem a opção de não ter as toalhastrocadas diariamente, para economizar água e energia. Trocar uma vez a cada 3 dias já está de bom tamanho. O mesmo vale para os lençóis, a não ser que você mije na cama...;

46. PARTICIPE DE AÇÕES VIRTUAIS. A Internet é uma arma poderosa na conscientização e mobilização das pessoas. Um exemplo é o site ClickÁrvore, que planta árvores com a ajuda dos internautas. Informe-se e aja!;

47. INSTALE UMA VÁLVULA NA SUA DESCARGA. Instale uma válvula para regular a quantidade de água liberada no seu vaso sanitário: mais quantidade para o número 2, menos para o número 1!;

48. NÃO PEÇA COMIDA PARA VIAGEM. Se você já foi até o restaurante ou à lanchonete, que tal sentar-se um pouco e curtir sua comida, ao invés de pedir "para viagem"? Assim você economiza as embalagens de plástico e isopor utilizadas;

49. REGUE AS PLANTAS À NOITE. Ao regar as plantas à noite ou de manhãzinha, você impede que a água se perca na evaporação e também evita choques térmicos que podem agredir suas plantas;

50. FREQÜENTE RESTAURANTES NATURAIS/ORGÂ NICOS. Com o aumento da consciência para a preservação ambiental, uma gama enorme de restaurantes naturais, orgânicos e vegetarianos está se espalhando pelas cidades. Ainda que você não seja vegetariano, experimente os novos sabores que essa onda verde está trazendo e assim estará incentivando o mercado de produtos orgânicos, livres de agrotóxicos e menos agressivos ao meio-ambiente;

51. VÁ DE ESCADA. Para subir até 2 andares ou descer 3, que tal ir de escada? Além de fazer exercício, você economiza a energia elétrica dos elevadores.

FONTE:
ORA-Organização de Renovação Ambiental / 2.º Simpósio USP Recicla: Gestão de Resíduos na Universidade de São Paulo: da ação cotidiana à política institucional por um campus sustentável - 25/10/2007 - Anfiteatro Prédio Engenharia Mecânica - Escola Politécnica


PROMOVA E PARTICIPE DO FESTIVAL DE BOAS IDÉIAS E PRÁTICAS AMBIENTAIS. Fique ligado(a) nas categorias: frases, projetos, programa de rádio (um minuto) e vídeos, cujo tema são as boas idéias e práticas ambientais que minimizem problemas sócio-ambientais locais e a produção de lixo para implantarmos em nossa comunidade

UTILIZE A ESTANTE PERMANENTE DE TROCAS E OBJETOS USADOS. Traga seus objetos em bom estado e em funcionamento: roupas, sapatos, bijouterias, enfeites, eletrônicos, revistas, etc. e retire objetos de seu interesse, sempre colocando outro no lugar. Plantas, animais de estimação e objetos que não se adeqüem a estante podem ser anunciados no quadro de avisos

ASSUMA QUE "COMO EDUCADORES, QUEREMOS SER UMA ESCOLA / EMPRESA QUE POSSUI COLETA DE LIXO SELETIVA". Os coletores para papel podem ser dispostos no corredor central do prédio principal da unidade. Participe! Não misture seu lixo reciclável com o lixo comum. Reciclar faz bem para o meio ambiente em que vivemos. Siga e dê o exemplo!

Comissão Interna USP Recicla (Universidade de São Paulo)

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(16) 3602-3584