27 março 2012

AMEAÇA À SAÚDE

 Atenção aos perigos dos transgênicos* 


Frequentemente, ambientalistas e produtores rurais alertam sobre os riscos que os alimentos transgênicos representam para saúde e o meio ambiente. 

Cada vez mais presentes na mesa dos consumidores, esses produtos fazem parte de uma complicada cadeia produtiva, além de tornar os antibióticos ineficazes para os seres humanos e causar alergias.

Os transgênicos são alimentos geneticamente modificados, e protegidos por patentes. Os agricultores precisam pagar uma taxa extra para cultivá-los. 

Isto cria dependência, porque as empresas químicas desenvolvem as sementes pensando em protegê-las dos agrotóxicos que elas também desenvolveram.



Um exemplo é a soja "Roundup Ready", que tem como característica resistir à aplicação do herbicida glifosato**. 


Com isso, há a necessidade de aplicação de maiores quantidades de veneno nas plantações, o que representa maior quantidade de resíduos tóxicos nos alimentos que consumimos, nos rios e no subsolo.
Para ter-se uma ideia do impacto na saúde dos brasileiros, em 2004 a ANVISA-Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizou o aumento em 50 vezes do limite de glifosato permitido em alimentos à base de soja.

Porém, esta variedade de agrotóxico está relacionada a problemas reprodutivos e ao surgimento de câncer.

*por Jorge Américo da Radioagência NP, com informações do
IDEC-Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e do Greenpeace

**O glifosato (N-(fosfonometil) glicina, C3H8NO5P, ou glyphosate) é
um herbicida sistêmico não seletivo (mata qualquer tipo de planta)
desenvolvido para eliminar ervas, especialmente as perenes. É o
ingrediente principal do 
herbicida Roundup, desenvolvido pela
norteamericana Monsanto. Muitas plantas geneticamente modificadas
têm basicamente modificações genéticas destinadas a fazê-las resistir
ao glifosato. Sementes dessas plantas são comercializadas sob a
marca "RR" (Roundup Ready), registrada pela empresa. O herbicida
é absorvido pelas folhas e não pelas raízes 
das plantas. Abaixo, logomarca oficial da Monsanto:






LEIA MAIS 
www.radioagencianp.com.br
www.idec.org.br

26 março 2012

DE POLÍTICAS E CANÁRIOS

Fina flor da moralidade pública quer redefinir terras indígenas, quilombolas e ambientais*

O canário está ferido. Suas plumas estão tintas de sangue. Ele foi atingido nesta quarta-feira, 21 de março, pelos disparos feitos por trinta e oito deputados que aprovaram, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, um relatório destinado a mudar a atual Constituição Federal do Brasil.

A mudança proposta redefine as terras indígenas, quilombolas e ambientais, num retrocesso histórico que, se for confirmado por três quintos dos parlamentares, condena o canarinho à morte.

A imagem do canário é do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. Ele conta que nas minas de carvão do Reino Unido, os mineiros tinham o costume, até 1986, de levar com eles, para dentro dos socavões, um canário em uma gaiola.

O bichinho, muito mais sensível que os humanos aos gases tóxicos acumulados dentro dos túneis, começa a agonizar quando o ar fica envenenado. Sua morte é um sinal para os mineiros, um “aviso” de que devem evacuar as galerias. “Canary in the coal mine” — canário na mina de carvão — virou expressão que indica perigo iminente.
Dessa forma, os mineiros usavam o canário como um “indicador ecológico” toda vez que iam cavar os “ossos da terra” — é assim que os Yanomami chamam os metais extraídos das jazidas.
Viveiros de Castro considera que os índios, bem à sua revelia, são os nossos canários sociológicos ou socioambientais. A agonia dos índios é um “aviso”, anunciando que a sociedade envolvente está podre, na iminência de falir, do ponto de vista ecológico e sociopolítico.

E acontece que, no Brasil, se essa emenda passar, o ar vai ficar irrespirável. Só que, ao contrário dos mineiros, nós não temos para onde nos picar. O nosso destino está amarrado ao das sociedades indígenas.
Nova Era
Aqui, durante cinco séculos, os índios tiveram suas terras pilhadas, saqueadas, usurpadas, sempre através da violência armada. Em 1988, a Assembleia Nacional Constituinte deu um basta nisso, quando aprovou a Constituição, selando um pacto novo com mais de 200 povos.

O Brasil falou, então, aos índios, que não era mais possível recuperar os 87% das terras que eles haviam perdido, mas daqui em diante o Estado garantia a demarcação dos 13% restantes que ainda ocupam. A partir de agora, ninguém mais pode roubar terra de índio.

Esse foi o pacto assumido pela “carta cidadã” de 1988, que acatou o pressuposto da antecedência histórica, reconhecendo aos índios os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, posto que eles estavam aqui antes do que qualquer fazendeiro.

O quadro jurídico novo reconhece ainda organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, bem como a relação integrativa com a terra, que é tão essencial para os índios como o ar para qualquer ser vivo.
Com esse espírito, a Constituição criou mecanismos de ações afirmativas para compensar os crimes históricos cometidos contra os índios, permitindo que o país inaugurasse uma “nova era constitucional”, para usar a expressão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Britto, em seu relatório sobre a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
O Brasil chamou, como testemunhas desse novo pacto, o mundo inteiro, quando assinou, em 2002, a Convenção 169 da OIT-Organização Internacional do Trabalho, que estabelece, no plano internacional, a proteção das instituições, das pessoas, dos bens e do trabalho dos índios.

Depois, no dia 13 de setembro de 2007, numa Assembleia Geral da ONU-Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, o Brasil aprovou a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, e se comprometeu, na frente de todos os países do mundo, que iria respeitar esses direitos.
Agora, 38 deputados pretendem rasgar a Constituição e descumprir os acordos nacionais e internacionais do Brasil. Eles ressuscitaram a Proposta de Emenda Constitucional — a PEC 215/2000 — de autoria do deputado Almir Sá, do PPB (atual PP — vixe, vixe) de Roraima.

Esta PEC estabelece que quem decide se uma terra é indígena não é a forma tradicional de ocupação, mas o Congresso Nacional, que pode até mesmo rever as demarcações já feitas. As raposas votam que são elas que devem tomar conta do galinheiro.
O relatório aprovado do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR - vixe, vixe) retirou essa última parte sobre as terras já demarcadas, mas conservou o restante, que representa um golpe contra índios e quilombolas. Manteve várias outras propostas incorporadas à PEC 215, como a do deputado Carlos Souza (PSD-AM, vixe, vixe), que determina que as Assembleias Legislativas devem ser consultadas sobre demarcações — o que é competência da União — “a fim de se evitarem os significativos prejuízos que a demarcação de terras indígenas impõe às unidades federadas”. Ele não explica que prejuízos são esses e, afinal, quem são os prejudicados.
Agonia do canário
A sessão da CCJ, tumultuada, durou mais de quatro horas. Os índios, é claro, se fizeram presentes e protestaram, entre eles, Jaci Makuxi, comandante da luta pela demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Tiveram o apoio do deputado Alessandro Molon (PT-RJ), para quem a PEC é um “gravísimo retrocesso, gritantemente inconstitucional, que atende à sanha do ruralistas por novas terras”.

O relatório foi aprovado com o voto de 38 deputados da CCJ. Entre eles, a fina flor da moralidade pública, da retidão e da honestidade, com uma larga folha de serviços prestados a si próprios: Paulo Maluf, Esperidião Amin, Alberto Lupion, Eduardo Cunha, Eliseu Padilha e — que vergonha! — Roberto Freire, além dos cultivadores de cacau do Sul da Bahia, Félix Mendonça e Paulo Magalhães, inimigos declarados dos Pataxó e Tupinambá.


Agora, com o relatório aprovado, uma Comissão especial criada exclusivamente para isto vai elaborar a emenda que deve ser apresentada ao plenário. Resta saber se a parte sadia do Brasil vai assistir acocorada, de braços cruzados, à morte do canário, e vai morrer junto com ele, ou se vai se levantar contra essa vergonhosa legislação em causa própria.



O ministro Ayres Britto, que assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal, representa um fiapo de esperança. Quando ele foi relator no caso Raposa Serra do Sol, desmontou o alegado antagonismo entre a questão indígena e o desenvolvimento e defendeu “a efetivação de um novo tipo de igualdade, qual seja, a igualdade civil-moral de minorias que têm experimentado historicamente e por preconceito desvantagem corporativa com outros segmentos sociais”.


Contra essa igualdade civil-moral é que votaram os 38 deputados, que parecem retomar o espírito das comemorações do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil, cuja sessão magna, no dia 4 de maio de 1900, foi aberta com um discurso do engenheiro Paulo de Frontin, empossado depois como prefeito do Rio de Janeiro.

Ele disse, com todas as letras, que o Brasil nada tinha de indígena: “Os selvícolas (…), não são nem podem ser considerados parte integrante da nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não o conseguindo, eliminá-los”.



O cara, que presidia as solenidades, estava propondo eliminar os índios, como se estivesse dando um presente de aniversário ao País. Afinal, qual é o lugar dos índios na construção do Brasil?

Se for aquele planejado por Paulo de Frontin e pelos ruralistas, então quem está ameaçada é toda a sociedade brasileira, nós, nossos filhos e nossos netos, e já podemos ouvir os gritos soando nas galerias:
— Canary in the coal mine!...
*o professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa
de
Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no
Programa de
Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO).
Imagem em  
http://
altmentalities.wordpress.com


Informações complementares:

02 março 2012

VERGONHA DE MIM MESMO

Esse negócio de felicidade*


A vida já é tão precária e nós nem nos damos conta de que desperdiçamos boa parte dela com besteiras, que bem poderiam ser facilmente evitadas, se assim o desejássemos.
 
Entretanto, comumente deixamos de lado as coisas às quais deveríamos emprestar mais importância e perdemos tempo ocupados com vanidades perfeitamente dispensáveis, enquanto nem sequer percebemos que o tempo que nos foi dado para perambular por este mundo se esvai numa rapidez implacável, estonteante. 


Esquecemo-nos de que a vida é pra valer, a vida é pra levar e que só se vive uma vez, pois não passamos de viajantes perdidos em um transitório transitar por esse mundo. Mais dia, menos dia a vida finda, de repente, quando menos esperamos, pondo por terra o tolo sentimento de que a festa "dura para sempre", inconscientes de sua terrível brevidade. 


Ah, por vezes chego a me espantar ao perceber como somos bobos, como nossa onipotência e arrogância nos levam a olvidar nossa humana finitude. Que pobres animais ingênuos somos nós, que tentamos inutilmente ignorar nossas fraquezas, nossas fragilidades! Carregamos dentro de nós uma bomba-relógio, prestes a explodir a qualquer momento, hoje ou amanhã.


E ao invés de aproveitarmos ao máximo as pequenas e grandes maravilhas que a vida nos oferece, de graça, de bandeja, vivemos ocupados em nos tornarmos vencedores, a acumular o maior número possível de bens materiais, de conquistar poder, de nos alçarmos, não importa os meios e os fins utilizados, acima de nossos semelhantes, escudados numa suposta superioridade que, no fim das contas, se revela imensamente enganosa.
Traçamos um roteiro capaz de nos conduzir ao topo da pirâmide social e passamos a segui-lo cegamente, seja lá como for, contanto que consigamos nosso intento. 
Olhamos de cima de nosso orgulho vão aqueles que consideramos perdedores, como se fossem nossos inferiores, uns seres incapazes, por preguiça ou por incúria, de subir na escala social, que só servem para atravancar nosso caminho de belos, impávidos, colossos conquistadores. 
A eles, quando o remorso atiça nossa falsa generosidade, atiramos com um certo desprezo indisfarçável as sobras dos nossos banquetes.
Quem sabe eu não esteja falando isso, externando tais opiniões, que podem parecer ressaibos de um oculto ressentimento, por não ter me tornado sócio do seleto, glorioso clube dos que venceram na vida e essas palavras que ora escrevo reflitam uma desmedida inveja daqueles que chegaram lá. 
Talvez, no fundo, eu desejasse fazer parte do grupo de privilegiados, ser um deles, me ombrear com eles de igual para igual, ter uma vida tão interessante, plena de brilho como a deles. Contudo, nego peremptoriamente ser um sujeito recalcado, amargurado, repleto de rancores por não haver conseguido sair do rés do chão, sem subir os degraus do que se convencionou chamar sucesso. 
Porém, quem me conhece sabe que não sou assim, feito um poço sem fundo de amarguras. Nem me acho um derrotado pelo fato de, na minha idade, nada possuir de valioso, em matéria de haveres, a deixar aos meus herdeiros, que lhes proporcione um futuro tranquilo e confortável.
Claro que, ocasionalmente, vejo-me sujeito a encarar-me como um retumbante fracasso, em todos os sentidos. A única coisa de valor que deixarei à minha mulher é um seguro de vida, cujas prestações faço questão de pagar religiosamente, para deixá-la amparada, remediada, depois que eu esticar as minhas magras canelas. 
Quer dizer, a esta altura do campeonato da existência, cheguei à óbvia conclusão de que valho mais morto do que vivo. Muitas vezes, sozinho na escuridão da noite, atacado pela habitual insônia, começo a pensar no que fiz durante o tempo em que existo. 
Certo, escrevi livros sem nenhuma importância, plantei árvores, semeei meus desdobramentos celulares, participei de movimentos políticos durante a ditadura, estudei feito um cavalo, fui aprovado em concursos, amei com as forças do coração, fiz amigos fiéis que me são verdadeiros irmãos. 
Só não consegui amealhar dinheiro que me garantisse uma velhice sem sobressaltos. Se sou feliz, juro que não sei nem quero saber. Aliás, porque esse negócio de felicidade é coisa muito relativa. Talvez seja poder olhar-me no espelho e não sentir vergonha de mim mesmo.



*O médico-psiquiatra Antônio Airton Machado Monte 
publica textos no Jornal da Praia desde os anos 1980.
Imagem em http://scienceofenergyhealing.com