05 abril 2012

CULTURA DE 5 MIL ANOS

A força da agricultura chinesa*


Um dos muitos provérbios chineses diz que uma visita vale por mil relatórios. É uma das grandes verdades, pois é preciso ir até àquele país do Oriente para ver de perto a grande revolução que está acontecendo em todos os setores daquela nação.

A nossa visita teve como foco principal ver de perto a realidade da agricultura familiar. E tentar entender como um país com 700 milhões de agricultores familiares, explorando 140 milhões de hectares de terras agricultáveis (com média de 0,2 hectare por agriculor), é capaz de produzir grãos em quantidade que chega a três vezes mais do que a safra brasileira.


Se não bastasse tudo isto, eles ainda são os maiores produtores de milho, trigo, leite, alho, suínos e com produtividades de grãos nunca inferior a cinco mil Kg/ha. Apesar de serem recordistas em muitas culturas, por conta do aumento da demanda têm que importar alguns produtos, principalmente soja. A sua produção não vai além de 15 milhões de toneladas.


Com o aumento do poder de compra, disparou o consumo de carne, o que levou aquele país a importar, pela primeira vez, milho de outros países. Apesar deste sucesso, eles se depararam com um fator limitante: não há mais fronteira agrícola na China. Com um frio superior a -10ºC, no inverno é impossível imitar o Brasil fazendo a "safrinha" ou praticando a irrigação durante praticamente os 12 meses do ano.


Diante desta realidade chinesa, o Brasil é visto por eles como o país cuja economia pode complementar a chinesa, principalmente no fornecimento de grãos e de minério de ferro, para que eles tenham um desenvolvimento sem nenhum sobressalto, principalmente no que se refere à segurança alimentar.


Depois de passarmos 10 dias com os chineses, quais lições poderíamos aprender com eles para melhorarmos a eficiência da nossa agricultura familiar?Com certeza, elencaria as cinco descritas abaixo:


1 - A religião deles é o trabalho;


2 - O planejamento é uma verdadeira virtude do chinês;


3 - Os chineses ão extremamente disciplinados;


4 - O cooperativismo e o associativismo são muito fortes na agricultura chinesa;


5 - A internet é usada intensivamente para prestar assistência técnica aos agricultores chineses.


Quem tem um acumulado de conhecimentos e uma cultura de cinco mil anos, com certeza tem uma lição a ensinar — e o agricultor familiar brasileiro tem que se espelhar no exemplo do agricultor chinês.




*José Maria Pimenta Lima é presidente da EMATERCE-Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará.
(texto publicado em www.opovo.com.br)