30 janeiro 2009

VIRGENS NA ACADEMIA

Estudando pra valer


Que muitas mulheres se prostituem para poder pagar seus estudos, isso todo mundo tá careca de saber. Se você for a um bordel de cidade grande, provavelmente topará com algumas universitárias por lá, dando duro pra melhorar de vida.

Durante um trabalho que fiz pra uma ONG no Rio de Janeiro em 2005, entrevistei estudantes que trabalhavam como prostitutas na Vila Mimosa, tradicional reduto de prostituição no Centro da cidade. Elas atuavam de forma independente, pagando apenas pelo aluguel de 20 minutos do quarto.

Trabalhando dois ou três dias por semana, algumas juntavam todo o dinheiro necessário para pagar a faculdade e até mais. Embora não amassem o que faziam, preferiam esse tipo de trabalho a ter que se submeter a um emprego chato, horários fixos, patrão insensível e baixa remuneração.

A relação entre prostituição e financiamento de estudos não é exclusividade do Brasil. O jornal inglês The Times divulgou em 2008 que no Reino Unido e na França cresce a cada ano o número de estudantes, homens e mulheres, que se prostituem e que o governo francês tenciona tomar algum tipo de medida para evitar que os estudantes acumulem tantas dívidas durante seus estudos.

Agora, porém, surgiu uma novidade bem interessante nessa história toda. De repente, garotas de todo o mundo parecem ter descoberto que não precisam se prostituir da forma tradicional para poder pagar os estudos. Em vez disso elas podem vender, e vender muito caro, a própria virgindade.

Em outras palavras: no lugar de dar muitas vezes, elas dão apenas uma vezinha -- e ainda lucram bem mais. Senhoras e senhores, com vocês o Leilão da Virgindade!

Um dos casos mais conhecidos é o de Rosie Reid, a estudante inglesa de 18 anos que, em 2004, para poder pagar suas dívidas com a Universidade de Bristol, leiloou sua virgindade através de seu site pessoal. Rosie conseguiu vendê-la por 8.400 libras, algo como US$ 15 mil na época, para um engenheiro divorciado de 44 anos. Rosie, que é lésbica (ainda tem isso), afirmou depois que não gostou da experiência, mas que preferiu transar com um estranho do que passar anos vivendo na pobreza.

Atualmente, há (pelo menos) dois casos bem documentados pela mídia. Um deles é o da modelo napolitana Raffaella Fico, de 21 anos, que em 2007 participou do Big Brother local. Raffaella revelou recentemente que é virgem e que venderá sua virgindade ao candidato que aceitar paga-lhe um milhão de euros. Com a grana ela, que pretende ser atriz, planeja comprar uma casa em Roma e fazer um curso de interpretação.

Para terminar os exemplos, que são muitos, fiquemos com o de Natalie Dylan, pseudônimo de uma estudante de Ciências Sociais de 22 anos de San Diego, nos EUA, que também está leiloando sua virgindade a fim de custear a continuação dos estudos. Como sua tese de pós-graduação é sobre a valorização da virgindade em diferentes culturas, seu próprio exemplo seria um excelente caso a relatar, pois a danadinha já recebeu milhares de propostas, inclusive uma de US$ 5,6 milhões! A noite de gala será no Bunny Ranch, famoso bordel de Nevada, que organiza o leilão através de seu site.

A italiana é famosa em seu país, já estampou capas de revistas masculinas. Seu caso, portanto, tem a ver com o fetiche masculino de ser o primeiro homem de uma mulher desejada por muita gente. Natalie era uma estudantezinha qualquer desconhecida que se tornou famosa e desejável, a partir do momento em que divulgou seu "negócio". Agora o mundo inteiro sabe dela e a sua virgindade teve uma maxivalorização instantânea.

O hímen de Natalie não é mais um himenzinho qualquer, desses que se vão todos os dias no banco traseiro dos carros. Ele está valendo R$ 12 milhões! Dava para comprar uma dúzia dos melhores bordéis, com tudo dentro.

Evidente que, como todo bom negócio, o Leilão da Virgindade exige boa dose de saco e sacrifício. Saco para aguentar o lenga-lenga dos moralistas, essa gente que aceita que se venda o rim mas não o hímen. E sacrifício para ter que ficar vários anos "segurando a piriquita", a fim de poder oferecer o "produto" com, digamos assim, "autenticação de qualidade".

Evidente também que os namorados das moças têm que entender muitíssimo bem a situação. Caso não sejam muito ciumentos, serão depois recompensados com uma namorada rica, que poderá até lhes pagar a faculdade também. Excelente negócio: a namorada entra com o cabaço e eles saem com o canudo (hummm, essa foi péssima).

Esse fetiche de querer ser o primeiro é para exibicionistas. Eu, particularmente, prefiro ser o atual. Mas não posso negar que a inocência e a inexperiência femininas também são excitantes. Por isso me inscrevi nos (ahn, como chamar?) dois "concursos". Isso mesmo, mandei proposta pra Raffaella e pra Natalie. Como ultimamente tô liso e economizando até espirro para poder comprar um notebook, o que pude oferecer a cada uma delas não foi muito: um livro meu com dedicatória e um caldo-de-cana na feirinha da Benedito Calixto em São Paulo/SP.

Ué, por que você está rindo? A Natalie mesma avisou que não transará necessariamente com quem oferecer mais dinheiro, pois ela terá que gostar do cidadão. É pouco? E se eu disser que meu beijo tem gosto de brigadeiro, hein, hein?

Como daqui pra frente as meninas vão todas querer ser virgens quando crescerem, fica desde já registrada minha proposta a todas as brasileiras estudiosas que decidirem seguir esse novo modelo de negócios. Sei perfeitamente que haverá propostas bem mais avantajadas que um livro e um caldo-de-cana, claro. Mas quem disse que faço questão de ser o primeiro?

*o escritor cearense radicado em São Paulo Ricardo Kelmer esmera-se em abordar temáticas insuspeitas e ângulos pragmáticos do cotidiano da espécie humana