06 março 2007

SOM ENSURDECEDOR

Que provém do silêncio interior



Senhor George, não me leve a mal, mas sua escuridão vai ter que se render a um novo amanhecer.

Atenção ladrões, assassinos e traficantes! Chamem todas as milícias e mercenários, para assistirem ao alerta global!

Senhor Hugo, use suas “chaves” para abrir as portas da percepção e liberte-se da farda, boina e coturnos — a temporada de ditadores ensolarados já terminou.

Caro presidente Lula, cuidado! O senhor pode estar a menos de 4 anos da contracapa da História.

Brasileiros, meus irmãos! Meu coração se enche de orgulho e de tristeza. Orgulho porque no Brasil não tem terremoto e tristeza porque estão tentando me convencer de que Deus não é brasileiro.

Adeus à Lei de Gerson, cerrrto?

Militares do Brasil, conclamo meus irmãos das forças a se livrarem do peso sobre seus ombros. E não falo do peso das estrelas e patentes, mas sim da História, do AI-5, da “vergonhosa” — que ousaram chamar de “redentora”. O País precisa de ajuda, vamos acordar?

E quando falo em ajuda, muita calma: falo de ajuda humanitária, engenharia, fronteira, medicina, segurança...

A violência do buraco do Metrô dói pelo drama humano, mas o buraco é mais embaixo (ou mais em cima, lá na camada de ozônio). A violência da banalização dói mais ainda.

Políticos em geral, será que só a renúncia será capaz de lavar suas almas?

Quem ainda agüenta mais esses meninos de gravata brincando de resolver as coisas?

Perdoem-me os bons engravatados, mas se vocês forem bons mesmo, revoltem-se! Livrem-se delas enquanto é tempo...

Há um novo Brasil nascendo, silencioso. Ele é feito da mistura de gentes. Gente do Sul e Sudeste, gente do Norte e Nordeste, gente do Centro-Oeste e gente estrangeira.

Há uma desconstrução cultural em curso e nada será mais como antes.

Há um caboclo índio dentro de cada um de nós, um deus africano, um santo católico, uma estrela do Islã, um rabino, um pagão.

Minha avó era mineira da Zona da Mata e se chamava Iracema, madrinha de negros, devota e santa. Sá Rosa, sua vizinha, era benzedeira, tirava quebranto, rezava com a brasa em um copo d’água. Vó Iracema fazia doce-de-leite em um tacho de cobre que ela anualmente comprava de uma caravana de ciganos que passava pela cidade.

A outra avó era paulista e uma sábia analfabeta, a chamávamos de Vó Tunica. Ela costumava dizer coisas do tipo: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece...” Um avô era libanês, de Beirute, o outro foi Integralista e enterrou solene as camisas verdes dele e do seu primogênito, meu pai, no quintal de casa. Deus, Pátria, Família e Anauê pelo Brasil !

O Brasil é assim, como a casa da avó, divide seu espaço aceitando as diferenças e transformando todos em irmãos. Somos um povo diferente, porque nosso caldo cultural é enriquecido, vitaminado.

Eu sei, ser brasileiro não é fácil, mas é gostoso.

Quando Pelé, ao ser carregado nos ombros naquela noite de 19 de novembro de 1969, dedicou seu milésimo gol às crianças do Brasil, me lembro que ele pediu, com a majestade de um Rei:
“Cuidem das criancinhas do Brasil!” Ora, Fernandinho Beira-Mar estava com 3 anos de idade...
O crioulo foi achincalhado pelos intelectuais de plantão, ninguém deu ouvidos ao Rei e Fernandinho cresceu.

Pois é, este é o Brasil — esse jovem Brasil, o País que eu amo, a terra aonde trabalho e onde um dia irei descansar.


*Laccy Silva é arquiteto, paisagista e comanda a Zou Cultural

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zoucultural@hotmail.com