14 outubro 2011

CENTRO NO SER HUMANO

Marketing 3.0 vê a complexidade*


Clientes vistos como meros consumidores é passado. Hoje, eles são tratados como seres complexos e multifacetados, que escolhem produtos e serviços que satisfaçam suas necessidades de participação, criatividade, comunidade e idealismo. Este novo modelo de marketing é chamado Marketing 3.0: lucro e responsabilidade social andam juntos



O comportamento do consumidor acompanha as mudanças que ocorrem no ambiente macroeconômico, o que provoca mudança no marketing. Hoje, vemos o marketing se transformando e expandindo o foco dos seus produtos para os consumidores e as questões humanas. 

Marketing 3.0 é a fase na qual as empresas mudam da abordagem centrada no consumidor para a abordagem centrada no ser humano e na qual a lucratividade anda junto com a responsabilidade corporativa.

No livro Marketing 3.0 – as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano, Philip Kotler, considerado por muitos como o mais influente pensador da área de marketing de todos os tempos, explica que o futuro do marketing está em criar produtos, serviços e empresas que inspirem, incluam e reflitam os valores de seus consumidores-alvo.

Com consumidores cada vez mais informados e engajados, as preocupações sociais e ambientais das empresas estarão cada vez mais relacionadas ao desejo de adquirir seus bens e serviços. Com uma massificação do acesso à internet e as mídias sociais, empresas com fachadas politicamente corretas vão ser facilmente desmascaradas.

O crescimento das redes sociais torna mais viável e mais fácil para as pessoas conversarem sobre empresas, produtos e marcas em seu desempenho funcional e também social. Criar uma estratégia de responsabilidade ambiental e social verdadeira e seguida por toda a cadeia de funcionários e fornecedores é apontado como a melhor saída.


ENTENDA A NOTÍCIA:
A nova fase do marketing passa a considerar os clientes como seres complexos e participativos e a incluir valores agregados aos produtos.
*(texto: Ingrid Baquit, publicado no O Povo em 12/10/11)
(ilustração: Guabiras)






SAIBA MAIS

Marketing 1.0
Centrado no desenvolvimento de produtos funcionais e na sua massificação.

Marketing 2.0
Ênfase em conhecer e satisfazer o consumidor por meio da segmentação de mercados.

Marketing 3.0
Reconhecimento de que “o consumidor é mais do que um simples comprador”, escreve Kotler. 
“Ele tem preocupações coletivas e ambientais e aspira por uma sociedade melhor”.

SERVIÇO
Marketing 3.0por Philip Kotler
Editora Campus, 2010, 240 págs. 
Preço médio: R$ 55 





06 outubro 2011

LER OU NÃO LER

Eis a questão



Você gosta de Dostoiévski? Se a resposta for "não", o problema está em você, nunca nele. Uma coisa que qualquer pessoa culta deve saber é que Dostoiévski (e outros grandes como ele) nunca está errado, você sim.


Se você o leu e não gostou, minta. Procure ajuda profissional. Nunca diga algo como "Dostoiévski não está com nada" porque queima seu filme.


Costumo dizer isso para meus alunos de graduação. Eles riem. Aliás, um dos grandes momentos do meu dia é quando entro numa sala com uns 30 deles. Inquietos, barulhentos, desatentos, mas sempre prontos a ouvir alguém que tem prazer em estar com eles. Parte do pouco de otimismo que experimento na vida (coisa rara para um niilista... risos) vem deles.


Devido a essa experiência, costumo rir de muito blá-blá-blá que existe por aí sobre "as novas gerações".


Um exemplo desse blá-blá-blá são os pais e professores dizerem coisas como: "Essa moçada não lê nada".


Na maioria dos casos, pais e professores também não leem nada e posam de cultos indignados. A indignação, depois da Revolução Francesa, é uma arma a mais na mão da hipocrisia de salão.


Mas há também aqueles que dizem que a moçada de hoje é "superavançada". Não vejo nenhuma grande mudança nessa moçada nos últimos 15 anos. Mesmas mazelas, mesmas inquietações do dia a dia.


Nada mais errado do que supor que eles exijam "tecnologia de ponta" na sala de aula (a menos que a aula seja de tecnologia, é claro). Atenção: com isso não quero dizer que não seja legal a tal "tecnologia de ponta". Quero dizer que "tecnologia de ponta" eles têm "na balada". O que eles não têm é Dostoiévski. 


O "amor pela tecnologia" é sempre brega, assim como constatamos o ridículo de filmes com "altíssima tecnologia de ponta", comuns nos anos 1980 e 1990 (tipo Matrix). Hoje, tudo aquilo parece batedeira de bolo dos anos 1950. O que hoje você acha "sublime" na histeria dos tablets, amanhã será brega como os computadores dos anos 1980.


Dostoiévski é eterno como a morte. Mas eis que lendo uma excelente entrevista com um psicólogo, professor de Yale, na página de Ciência da Folha de S.Paulo, no dia 19/07/11) encontro um dos equívocos mais comuns com relação a Dostoiévski.


O professor afirma que "agir moralmente bem não depende de crenças religiosas". Corretíssimo. Qualquer um que estudar Filosofia Moral e História saberá que acreditar em Deus ou não nada implica em termos de "melhor" comportamento moral. Crentes e ateus matam, mentem e roubam da mesma forma.


E mais: se Nietzsche estivesse vivo, veria que hoje em dia — época em que ateus são comuns como bananas nas feiras — existe também aquele que vira ateu por ressentimento.


Nietzsche acusa os cristãos de crerem em Deus por ressentimento (o cristianismo é platonismo para pobres). Temos medo da indiferença cósmica, daí "inventamos" um dono do Universo que nos ama e, ao final, tudo vai dar certo.


Quase todos os ateus que conheço o são por trauma de abandono cósmico. Se o religioso é um covarde assumido, esse tipo de ateu (muito comum) é um teenager revoltado contra o "pai".


Mas voltando ao erro na leitura de Dostoiévski. Do fato que religião não deixa ninguém melhor, o professor conclui que Dostoiévski estava errado quando afirmou que "se Deus não existe, tudo é permitido". Erro clássico.


Essa afirmação de Dostoiévski não discute sua crença, nem o consequente comportamento moral decorrente dela (como parece à primeira vista). Ela discute o fato de que, pouco importando sua crença, se Deus não existe, não há cobrança final sobre seus atos. O "tudo é permitido" significa que não haveria "um dono do Universo" para castigá-lo (ou não), dependendo do que você fizesse.


Claro que isso pode incidir sobre seu comportamento moral, mas apenas secundariamente. A questão dostoievskiana é moral e universal, não pessoal. Pouco importa sua crença, a existência ou não de Deus independe dela, e as consequências de sua existência (ou não) cairão sobre você de qualquer jeito. 

O problema é filosófico, e não psicológico.

O cineasta Woody Allen entendeu Dostoiévski bem melhor do que o professor.




*O filósofo e ensaísta pernambucano Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé, professor de Ciências da Religião da PUCSP e de Filosofia na FAAP, é autor de livros
como 
O homem insuficiente (2001), Crítica e profecia: filosofia da religião em
Dostoiévski
 (2003), Do pensamento no deserto (2009) e Contra um mundo melhor (2010)


LEIA MAIS
http://pensador.uol.com.br/autor/luiz_felipe_ponde


05 outubro 2011

ADEUS

A quarta maçã




Nasci em 1956 em Bauru, no interior de São Paulo, numa família católica apostólica romana. Cresci sob a moral cristã num contexto em que uma maçã teve peso absoluto. Foi experimentando uma que Adão e Eva desobedeceram a uma ordem divina e foram expulsos do Paraíso. 


Mesmo que você argumente que Adão e Eva são apenas uma alegoria e que nada daquilo existiu de fato, aquela maçã determinou um momento de virada que influenciou a história da humanidade e a formação moral de milhões de pessoas. 


Sou o que sou como reflexo daquela primeira maçã.


Em 1965, com 9 anos de idade, ganhei um compacto duplo com quatro músicas: Help!, I'm down, Not a second time e Till there was you, de uma banda chamada The Beatles. Mas eu era muito jovem para entender aquilo. Foi só a partir de 1969, aos 13 anos, depois de ganhar um elepê chamado The Beatles, que percebi que algo diferente acontecia no mundo. 


E comecei a trilhar um caminho no qual meu modo de vestir, de dançar, de pentear o cabelo comprido, de falar e de interagir com os amigos e com a família entrava em choque com a geração de meus pais. O mundo estava em revolução. 


Vietnam, rock'n'roll, as drogas, os hippies, a contracultura, os quadrinhos, o cinema, tudo mudou. Mas foi aquele disquinho de 1969 que abriu meus olhos para o que estava acontecendo. Ah, sim, aquele elepê foi editado por um selo novíssimo, chamado... Apple.


Sou o que sou como reflexo daquela segunda maçã.


Cresci, fiz minhas escolhas e nos anos 1980 fui trabalhar como executivo numa multinacional de autopeças. Em 1986, produzindo um anúncio em homenagem à Volkswagem, fui a uma agência de criação onde conheci uma novidade: um computador Macintosh. 


Assisti maravilhado o artista fazendo diabruras com o logotipo da empresa, botando abaixo tudo aquilo que eu conhecia de fotomontagem, paste-up, letraset e fotolitos. Uma máquina com um design diferente, tela em preto e branco, um mouse e a capacidade de fazer coisas que a gente via na tela antes de ter o produto pronto! 


Eu sabia que naquele momento minha vida começava a mudar. O computador passou a ser minha ferramenta indispensável para pesquisar, brincar, criar e me comunicar. Mudei a forma de trabalhar, a forma de pensar, a forma de me relacionar com o mundo. 


Depois veio o IPod com o ITunes, a base da tecnologia que me possibilitou criar o podcast Café Brasil. E por fim, o IPhone e o IPad. Nunca me cansei de admirar aquela turma capaz de criar coisas com as quais a gente nem mesmo sonhava... Ah, o nome da empresa é: Apple.


Sou o que sou como reflexo dessa terceira maçã.


Pois agora morreu Steve Jobs, o gênio criador da Apple, um espetacular editor de idéias que sabia antes da gente o que é que a gente queria. 


Não tenho dúvidas que junto com ele morreu muito do espírito inquieto que fez da Apple a empresa revolucionária que mudou a vida até de quem não sabe o que é um computador. 


Mas hoje acordei com uma dúvida...


Qual será a quarta maçã?




*O jornalista multimídia Luciano Pires almeja despocotizar o Brasil com as armas da Comunicação


SAIBA MAIS