23 dezembro 2011

PICO DO PETRÓLEO

Perdas ainda maiores*




O geólogo norte-americano Marion King Hubbert previu, já em 1956, que a produção de petróleo alcançaria seu nível máximo quando a humanidade tivesse usado a metade das reservas mundiais até então comprovadas. Esta postura se baseia no fato de os geólogos tenderem a encontrar primeiro os poços maiores e a estes ficarem “exaustos” antes de realmente se ter extraído todo o óleo.
É possível que a oferta de petróleo tenha chegado ao seu máximo histórico em julho de 2008, e, assim, já tenhamos passado o temido teto sem que ninguém se desse conta. Isso teria sua explicação no fato de a produção de gás natural continuar aumentando e cada vez mais substituindo derivados do petróleo. As coisas seguramente vão piorar quando a extração combinada de petróleo e gás natural alcançar o máximo possível no planeta.
Depois disto, o fornecimento de hidrocarbonos começará a baixar e já não poderá atender à demanda, e os preços dispararão. Quando isso ocorrer, começará um período de depressões severas da economia, com recuperações curtas e intermitentes. A produção de alimentos também sofrerá, pois 80% de nosso consumo é produzido com a ajuda de fertilizantes nitrogenados, cujos preços dependem do valor de mercado do gás natural.
Os governos e as empresas se tornaram muito conscientes do problema e enormes quantias de dinheiro são investidas em várias soluções alternativas. Uma opção possível é expandir as reservas de gás natural acessível, com uma tecnologia conhecida como fratura hidráulica, ou fracking. A técnica consiste em bombear, sob alta pressão, dezenas de milhões de litros de água tratada quimicamente dentro de profundas formações de relativamente impermeáveis rochas sedimentares, conhecidas como "xisto". O líquido quebra estas pedras ou expande fraturas existentes, liberando os hidrocarbonos de modo que possam fluir para um poço.
Outra opção é um método conhecido como "gaseificação subterrânea do carvão", ou UCG. Neste procedimento, os veios de carvão são convertidos em syngas (gás sintético) — uma mistura de metano, hidrogênio e monóxido de carbono —, mediante a injeção de oxidantes na profundidade do solo. O conceito foi proposto originalmente por Dmitri Mendelejev, cientista russo conhecido como o "pai" da Tabela Periódica dos elementos. Os primeiros grandes projetos aconteceram no Uzbequistão na década de 1930, quando esse país integrava a União Soviética.
Nos últimos tempos, muitos governos se mostraram interessados em ressuscitar esta ideia. É fácil compreender o motivo de tanto entusiasmo. Relativamente perto da superfície há limitadas quantidades de carvão, mas as reservas situadas nas profundezas da crosta terrestre são enormes. Por exemplo, estima-se que no fundo do Mar da Noruega haja três bilhões de toneladas de carvão. Estes depósitos não podem ser explorados economicamente com os meios convencionais atuais, mas a UCG pode convertê-los em syngas. O lado negativo é que tanto o fracking como o UCG podem ser uma receita para o pior pesadelo ecológico definitivo.
Apesar de poderem multiplicar os recursos recuperáveis de combustíveis fósseis e produzir muitas vezes mais dióxido de carbono (CO²) do que outro modo, a ação combinada desta técnica teria consequências desastrosas para o clima, por que o dióxido de carbono é um gás de forte efeito estufa. Além disso, um terço do dióxido de carbono que produzimos atualmente se dissolve no oceano, como ácido carbônico. Cada vez mais cientistas afirmam que a acidificação dos oceanos poderia, no longo prazo, ser um problema mais sério do que o aquecimento global.
Outro perigo é que parte do metano produzido por fracking ou UCG vaze dos sistemas de coleta para a atmosfera. Se forem considerados tanto os impactos diretos quanto os indiretos, durante os próximos cem anos uma molécula de metano esquentará nosso planeta 33 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono.
Segundo um estudo da norte-americana Cornell University, inclusive agora, até 8% do gás natural vaza para a atmosfera durante a fase de produção ou transporte ou no uso final. É razoável presumir que a UCG e o fracking produzirão perdas ainda maiores do que os métodos atuais. Então, o que podemos fazer para substituir o gás natural e o petróleo se a UCG e o fracking são muito perigosos para nosso clima e nossos oceanos?
Uma terceira opção comumente mencionada é usar o óleo do xisto e a areia betuminosa como matérias-primas para produtos substitutos do petróleo, mas isto também produziria muita emissão de dióxido de carbono. Em teoria, os carros elétricos poderiam substituir os movidos a gasolina e diesel, contudo, até agora se difundem muito lentamente e também seria praticamente impossível fabricar navios de carga ou aviões elétricos.
Isto nos deixa apenas com duas soluções realistas: com a economia e melhor eficiência energética, por um lado, e o aumento da produção de biocombustívies, por outro. Também não se deve descuidar da produção de insumos para elaborar biocombustíveis, que frequentemente exigem fortes doses de fertilizantes nitrogenados, que, por sua vez, produzem óxido nitroso, outro gás-estufa. Por isso a conversão em grande escala de áreas florestadas e turbas tropicais em plantações destinadas a esse fim constitui um risco para a biodiversidade e para o clima.
Para evitar essa ameaça se deveria apelar para a produção de biocombustíveis por meios ecológica e socialmente sustentáveis. Temos imensas superfícies de campos seriamente prejudicados pela erosão e terras de pastoreio que perderam a maior parte de seu carbono orgânico e sua fertilidade. Podem ser distribuídas a famílias de camponeses sem terras para que produzam alimentos e madeira, bem como de matérias-primas para biocombustíveis.
Este pode ser um excelente meio para resolver os problemas relacionados com a futura queda na produção de petróleo e gás de uma maneira que também propicie um sustento decente para centenas de milhões de famílias rurais.
Risto Isomaki é ativista ambiental e escritor finlandês. 
(versão publicada em envolverde.com.br)
(imagem: protesto anti-fracking. Foto by Marcellus Protest / Creative Commons)

22 dezembro 2011

HORA DO PIQUE

Tudo está na mente


Um amigo liga pra marcar um almoço. Ele é alto executivo e confessa estar tão desgastado com a empresa que não tem mais motivação para continuar. Quer partir para o seu próprio negócio e gostaria de saber se eu teria algum conselho. E lá fui eu, tentando não ser óbvio:


“É claro que você já sabe que, no momento em que deixar a empresa, perderá tudo aquilo que no contexto da sociedade faz de você uma pessoa importante: o sobrenome corporativo, o carro novo, as reuniões importantes, os baba-ovos, o poder. No lado material, essas coisas podem ser trabalhadas, dependem de sua eficiência profissional. O problema é o lado intangível, o que se passa dentro da sua cabeça.


Comece com o que eu chamo de “timeframe”: defina um prazo. Quer sair quando? Daqui a seis meses? Cinco anos? Essa primeira definição é fundamental, é ela que orientará as suas escolhas, daqui para a frente.


Outra coisa imprescindível: crie uma proteção emocional.”


Diante da expressão de curiosidade, continuei: “O que mais me incomodou desde que deixei o universo corporativo foi manter a estabilidade emocional quando eu me visse ‘desimportante’, esperando na recepção, encontrando resistência para marcar reuniões, sendo esnobado por clientes e não tendo equipes para me dar suporte. No lado financeiro, também houve um baque. Sem o salário garantido, eu teria que repensar cada investimento, não poderia dar mais à minha família certos confortos sem preocupação. Sem uma proteção emocional, essas constatações derrubam nossa autoestima, fazem com que questionemos nossa capacidade de resolver problemas, nos deixam amargos, colocam o trabalho que fazemos em xeque. Se você não se preparar emocionalmente, entrará numa espiral destrutiva, perderá o tesão de lutar por seus objetivos até chegar no inferno de qualquer empreendedor: a insegurança. É exatamente aí que a proteção emocional cumpre um papel fundamental."


E fui em frente: "Proteção emocional não se aprende na escola. É claro que você pode contar com a ajuda externa de mentores, coaches e gurus que lhe darão dicas preciosas, mas que sempre serão algo 'de fora para dentro'. A proteção emocional a que me refiro vem 'de dentro para fora', e começa com uma profunda reflexão sobre o impacto e a influência que a decisão de sair, a mudança, causará sobre você e sobre os que o rodeiam. Passa por um exercício de cenários, quando você deve mentalmente imaginar as situações que podem acontecer, praticar aquele 'e se?'. Depende de uma ideia clara de propósito: você está a serviço de quê? É também necessário conhecer muito bem as expectativas das pessoas que dependem de você e calibrá-las para a nova fase."


E o principal: "você tem que ser capaz de gerenciar suas próprias expectativas, não sonhar alto demais, não achar que todas as pessoas querem o seu sucesso e vão te ajudar. Não querem e não vão.


Resumindo: fixe o prazo para sair e construa uma proteção emocional. O resto depende só de sua eficiência profissional — e isso você tem de sobra.”


Meu amigo pagou o almoço.

                                                   *O jornalista multimídia Luciano Pires é um pioneiro pela despocotização do nosso Brasil 


SAIBA MAIS
www2.lucianopires.com.br

19 dezembro 2011

FELIZ NATAL E UM 2012 POSSÍVEL

Muita ação pela frente





É preciso falar menos. Agir mais.
Suprimir os comentários. Usar o 
pouco ar que há no ar e respirar.

07 dezembro 2011

O TEMPUS, O MORES!

A mídia ameaça?

10 Estratégias de Manipulação

Avram Noam Chomsky é um linguista, filósofo e ativista político estadunidense, professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Seus trabalhos, combinando uma abordagem matemática dos fenómenos da linguagem com uma crítica do behaviorismo, nos quais a linguagem é conceitualizada como uma propriedade inata do cérebro/mente humanos, contribuem decisivamente para a formação da psicologia cognitiva, no domínio das ciências humanas.

Noam Chomsky desenvolveu a lista das "10 estratégias de manipulação” dos princípios sociais e econômicos, de forma a atrair o apoio inconsciente dos meios de comunicação para a manipulação.

1. A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas.
A técnica é a do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações sem importância.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética.


"Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, atraída por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar."
(Citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).

2. CRIAR PROBLEMAS E DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES:
Este método também é chamado:
PROBLEMA--> REAÇÃO--> SOLUÇÃO”.
Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o suplicante das medidas que se deseja fazer aceitar.
Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizaratentados sangrentos, a fim de que o público seja o requerente de leis de segurança e políticas, em prejuízo da liberdade.

Problema + Reação + Solução = Publico Indefeso = ESCRAVOS
Ou também:
Criar uma crise econômica para que o povo aceite como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.


3. A ESTRATÉGIA DA GRADUALIDADE:

Para fazer que se aceite uma medida inadmissível, basta a aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, num prazo ampliado.
Dessa forma, as novas condições impostas, as mudanças radicais são aceitas sem provocar revoltas.


4. A ESTRATÉGIA DO ADIAR:
Outra maneira de provocar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura.
É mais fácil aceitar um sacrifício futuro que um sacrifício imediato.

Isto dá mais tempo ao cidadão para se acostumar à idéia da mudança e de aceitar com resignação quando chegar o momento.
 Primeiro, porque o esforço não é imediato. Segundo, porque a massa, ingenuamente crê que “amanhã tudo irá melhor” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado.


5. DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIATURAS DE POUCA IDADE:  
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonações particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criatura de pouca idade ou um deficiente mental. 


Quanto mais se tende procurar enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantil. Por quê?

“Porque dirigir-se a uma pessoa como se tivesse 12 anos ou menos, tenderá, por sugestão, aadotar respostas ou reações mais infantis e desprovidas de sentido crítico”.


6. UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS QUE A REFLEXÃO:
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para gerar um "curto-circuito" na análise racional, e neutralizar o sentido critico dos indivíduos.  

Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir a determinados comportamentos.


7. MANTER O POVO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE:
Fazer com que o público seja incapaz de compreender a tecnologia e métodos utilizados para seu controle e escravidão.

“A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distancia entre estas e as classes altas permaneçam inalterada no tempo e seja impossível alcançar uma autêntica igualdade de oportunidades para todos.”



8.ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE COM A MEDIOCRIDADE
Fazer crer ao povo que está na moda à vulgaridade, a incultura, o ser mal falado ou admirar personagens sem talento ou mérito algum, o desprezo ao intelectual, o exagero do culto ao corpo e a desvalorização do espírito de sacrifício e do esforço pessoal.
As Paniquetes.. e é bunda pra todo o lado....

9. REFORÇAR O SENTIMENTO DE CULPA PESSOAL:
Fazer crer ao individuo que ele é o único culpado de sua própria desgraça, por insuficiência de inteligência, de capacidade, de preparação ou de esforço.
Assim, em lugar de rebelar-se contra o sistema econômico e social, o individuo se desvaloriza , se culpa, gerando em si um estado depressivo, que inibe sua capacidade de reagirE sem reação, não haverá revolução.

 10. CONHECER OS INDIVÍDUOS MELHOR DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM:
Nos últimos 50 anos, os avanços da ciência geraram uma crescente BRECHA entre os conhecimentos do público e aqueles utilizados pelas elites dominantes. 

Graças à biologia, a neurobiologia e a psicologia aplicada, o Sistema tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicológica.
"Obedeça!"
Sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele se conhece.  
Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um maior controle e poder sobre os indivíduos, superior ao que pensam que realmente tem.

Noam Chomsky Visões Alternativas 
Versão: José Mauro Rodrigues

(originalmente publicado em www.guerradassementes.com.br)






ASSIM SENDO, O QUE SERIA O QUE SE SEGUE ABAIXO?!? BOA VIAGEM!




(publicado em www.brasilindomavel.com.br)

02 dezembro 2011

VIDA SUSTENTÁVEL

Apostando no futuro possível


22 novembro 2011

ADEUS BIOSSEGURANÇA

Resolução normativa autoriza isenção
do monitoramento de transgênicos




"Está em curso um processo de desmanche das regras de biossegurança no País”, declara o agrônomo Gabriel Fernandes, ao comentar a resolução normativa que autoriza empresas produtoras de transgênicos a pedirem isenção do monitoramento dos produtos após a liberação comercial.

A resolução foi aprovada aprovada esta semana pela CTNBio-Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Com a mudança, as empresas estão liberadas de monitorar os efeitos dos transgênicos sobre a saúde humana e o meio ambiente. “O não monitoramento pós-comercialização dos transgênicos impede que seus potenciais riscos sejam identificados. Com isso, as empresas seguirão dizendo que ainda não foram comprovados danos causados pelo uso de transgênicos”, adverte o pesquisador.

De acordo com o agrônomo, antes de as regras sobre o monitoramento dos transgênicosserem alteradas, as empresas apresentaram suas posições em reunião da CTNBio. “Na prática, a reunião serviu para as empresas apresentarem suas propostas sobre o monitoramento. Quando questionado por um dos integrantes, o presidente da CTNBio disse que os demais interessados poderiam enviar suas sugestões por escrito, mas o texto base para comentário não foi disponibilizado, nem foi aberto prazo para consulta pública”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Fernandes informa que “84% da área total cultivada com sementes transgênicas” está somente em quatro países: Brasil, Estados Unidos, Argentina e Índia. Afirma haver uma falsa ideia de que a transgenia cresce no mundo todo e que essa “é uma imagem que a indústria tenta empurrar. A forte concentração no mercado de sementes explica boa parte dessa expansão, inclusive no Brasil”. 

A produção de transgênicos apenas será reduzida “quando os consumidores de forma geral passarem a ter mais interesse em saber de onde vem sua comida e virem no consumo uma opção política também”, ressalta.

Como você recebeu a notícia de que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio aprovou a resolução normativa que autoriza empresas produtoras de organismos geneticamente modificados a pedirem isenção do monitoramento pós-liberação comercial? O que muda em relação ao controle dos transgênicos a partir da liberação desse procedimento? Quais os riscos?
Gabriel Fernandes – Está em curso um processo de desmanche das regras de biossegurança no país. Aqueles poucos itens da lei que as empresas não conseguiram levar em 2005, quando da disputa no Congresso, estão sendo conquistados agora por meio da CTNBio, que é órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. A mudança está no fato de que as empresas daqui em diante poderão se isentar de monitorar os efeitos de médio e longo prazo dos transgênicos sobre a saúde e o meio ambiente. As que porventura o estivessem fazendo poderão pedir sua extinção. O perigo está exatamente no fato de que os riscos desses produtos não serão investigados.

Como aconteceu o processo de votação na CTNBio?
G.F. – Antes de mudar as regras de monitoramento, o presidente da CTNBio convidou as empresas para uma reunião em Brasília/DF, na qual se discutiriam regras para o tratamento de informações confidenciais. Na prática, a reunião serviu para as empresas apresentarem suas propostas sobre o monitoramento. Quando questionado por um dos integrantes, o presidente disse que os demais interessados poderiam enviar suas sugestões por escrito, mas o texto base para comentário não foi disponibilizado, nem foi aberto prazo para consulta pública. No início da reunião em que o fim do monitoramento foi votado, entidades protocolaram pedido para adiamento da votação até que todos os interessados tivessem garantido o mesmo direito de participar. O pedido não foi lido.

Posteriormente à comercialização de agrotóxicos, os produtos são submetidos a novos testes e alguns são retirados do mercado em função dos novos resultados. Ocorre o mesmo com os transgênicos? Podes citar exemplos de transgênicos que já foram banidos do mercado?
G.F. – Antes de chegar ao mercado um agrotóxico passa por três órgãos, e mesmo assim, quando a reavaliação é feita anos depois, alguns produtos são banidos e outros têm seu uso restringido em função dos danos que causam. Algo semelhante acontece com os remédios. No caso dos transgênicos, até antes da aprovação da nova lei de biossegurança em 2005 o procedimento para licenciamento seguia os moldes dos agrotóxicos. A CTNBio já existia, mas era instância apenas consultiva. Essa nova lei foi criada exatamente para dar amplos e terminativos poderes para esta comissão, criando um caso de exceção na administração pública, onde suas decisões criam obrigações para seus órgãos hierarquicamente superiores. Desconheço algum transgênico que tenha sido banido do mercado após ter sido cultivado por algum tempo. Há casos na Europa de banimentos nacionais em face de liberações no âmbito da Comissão Europeia. Mas, assim como o banimento de agrotóxicos seria inviabilizado caso dessem cabo da reavaliação toxicológica, o não monitoramento pós-comercialização dos transgênicos impede que seus potenciais riscos sejam identificados. Com isso as empresas seguirão dizendo que ainda não foram comprovados danos causados pelo uso de transgênicos.

Como vê a postura da CTNBio diante desse assunto, considerando que a Comissão autorizou a comercialização do milho e, recentemente, do feijão transgênico no Brasil?
G.F. – A meu ver, essa comissão foi criada exatamente para funcionar como um cartório, só carimbando os pedidos de liberação. Colocaram nela um nome pomposo para tentar transmitir uma ideia de cientificidade que permitiria legitimar o processo. A questão é que esse ritmo acelerado de liberações só ocorre porque o restante do governo está de costas para o assunto, não quer entrar no debate. O mesmo pode-se dizer da maior parte das entidades científicas. Falta institucionalidade na CTNBio. A maioria de seus integrantes está lá falando por si mesmo; parecem se esquecer que cada um lá dentro deveria representar a posição de um ministério, de um setor da academia ou da sociedade. Se o governo estivesse atento, querendo saber o que fazem seus representantes, ou então se as entidades científicas estivessem acompanhando o debate ou mesmo pedindo algum tipo de “prestação de contas” a seus representantes, a questão poderia ser tratada com um pouco mais de rigor. O descaso é tamanho que a derrubada do monitoramento vai contra orientação de 2008, expedida por 11 ministros e assinada à época pela ministra Dilma Roussef, que chefiava a Casa Civil, para que o Ministério de Ciências e Tecnologia criasse grupo de trabalho (que nunca foi criado) envolvendo outros ministérios e que teria como objetivo realizar estudos de monitoramento de médio e longo prazo para avaliar os potenciais danos dos transgênicos.

A transgenia tem crescido no mundo? É possível travar a produção dos organismos geneticamente modificados?
G.F. – É preciso destacar que Estados Unidos, Brasil, Argentina e Índia respondem por 84% da área total cultivada com sementes transgênicas. Assim, a ideia de que a transgenia cresce no mundo todo é uma imagem que a indústria tenta empurrar. A forte concentração no mercado de sementes explica boa parte dessa expansão, inclusive no Brasil. Grandes multinacionais como Monsanto, Syngenta e Pioneer vêm há anos comprando empresas menores de sementes e formando um poderoso oligopólio. Como seu interesse é vender sementes transgênicas, elas tiram do mercado as variedades convencionais e o agricultor fica sem opção. Os grandes produtores de soja do Mato Grosso já ameaçaram recorrer ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE para tentar barrar essa imposição. Também contribuem para a expansão a grande presença de representantes comerciais das empresas no campo e de convênios de governos estaduais para disseminação das sementes modificadas, como no Rio Grande do Sul e no Acre. Até hoje os transgênicos não trouxeram nenhum benefício para o consumidor. Não há nenhuma vantagem que o produtor possa ter eventualmente obtido com os transgênicos que não poderia ter sido alcançada com a adoção de outras técnicas de manejo. Assim, os transgênicos serão travados quando os consumidores de forma geral passarem a ter mais interesse em saber de onde vem sua comida e virem no consumo uma opção política também. Na agricultura, especificamente a familiar, a reversão do quadro dependerá dos movimentos do campo (Via Campesina, Fetraf e Contag) colocarem o controle sobre as sementes como prioridade em suas agendas estratégicas e como um caminho para um modelo agrícola que liberte o agricultor de fazer o que faz o agronegócio, só que em menor escala.

Como vê a participação da sociedade civil em relação aos transgênicos? Por que não há uma mobilização massiva contra esses produtos?
G.F. – Muitas entidades e movimentos sociais estão atravessando um momento difícil, de indefinições políticas e financeiras. Isso torna necessária a priorização de agendas ou, em muitos casos, o enxugamento de quadros. A questão dos transgênicos já foi um tema mais mobilizador e que ajudou a puxar o debate sobre o modelo dominante de agricultura. Agora os agrotóxicos estão novamente cumprindo esse papel. Mas trata-se, na verdade, de dois lados da mesma moeda, e a tendência é que a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida comece a pautar mais a questão dos transgênicos.

Como ficou a diversidade das sementes depois da introdução dos transgênicos?
G.F. – Os produtores que conservam suas sementes próprias estão tendo que assumir o ônus de evitar a contaminação. Isso quer dizer que estão tendo que plantar barreiras em suas propriedades, mudar épocas de plantio ou a localização de suas lavouras. Há casos em que as organizações locais estão comprando kits diagnósticos para averiguar se não houve contaminação das sementes que serão repassadas a outros agricultores ou levadas a feiras de sementes e biodiversidade. A preservação desses recursos genéticos nas mãos dos agricultores será decisiva para a produção de alimentos em tempos de mudança climática e esgotamento dos recursos naturais. O papel estratégico dessas sementes já é reconhecido há décadas, por exemplo, pelos agricultores do semiárido, que desenvolveram os bancos comunitários de sementes, e agora é também defendido pelo relator especial da ONU para o direito humano à alimentação. No âmbito do programa Fome Zero, o governo tem iniciado ações que permitem a compra e distribuição de sementes crioulas entre os agricultores familiares. É um reconhecimento importante, que permitirá que o agricultor enfrente os transgênicos cultivando suas próprias sementes.

Quais são os limites da fiscalização de produtos geneticamente modificados?
G.F. – Para fins de rotulagem dos alimentos, o Ministério da Agricultura deve fiscalizar as plantações; a ANVISA, a indústria de alimentos; e a Justiça, por meio dos Procons, o mercado varejista. Se houvesse cooperação e troca de informação entre esses órgãos, o controle seria mais eficaz e o consumidor poderia estar mais bem informado. Mas infelizmente não é isso o que acontece. Além de ser bem mais caro, o teste em produtos amostrados nos mercados não é totalmente satisfatório, pois em muitos alimentos o processamento torna impossível a detecção do ingrediente transgênico.

*Gabriel Fernandes é agrônomo formado pela USP-Universidade
de São Paulo e membro da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
Fonte: 
www.ihu.unisinos.br / Imagem em www.flashinthepan.net

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21 novembro 2011

MEU BRASIL BRASILEIRO!

Sem desculpas


Estou migrando meus livros para o sistema eletrônico (ebooks). Busquei informações e disseram que eu mesmo poderia fazer, mas diante do primeiro “tutorial” desisti. É preciso ter uma lesão mental para conviver com tutoriais. 


Procurei então várias alternativas de fornecedores para realizar o trabalho e fui soterrado por toneladas de “veja bem”, “pode ser”, “talvez”... De cada lado uma informação diferente, sem contar os irritantes “ah, mas é tão fácil!”. Pedi orçamentos, recebi loucuras. Sem contar as ameaças do tipo “olha, se não fizer assim e assado você será pirateado, sucateado, incompatibilizado”.

Seis meses depois eu estava no mesmo ponto zero.

Parti para o plano B: fornecedores de fora do Brasil. Num blog dos Estados Unidos encontrei dicas, mandei um email para o primeiro indicado e recebi em algumas horas uma resposta: “não posso fazer por ser em português, mas conheço quem faz”.

Em minutos eu estava em contato com o fornecedor, que respondeu com uma praticidade chocante: dá pra fazer, é assim que funciona, leva dez dias e custa entre 150 e 400 dólares. E fazemos para o Kindle e para o ePub, dois dos sistemas de leitores eletrônicos mais populares.

Mandei os arquivos e por email recebi um orçamento inteligente. A cada aba uma instrução, um download, uma explicação. Preço: 340 dólares. Bem, encurtando o assunto: duas semanas depois o livro está praticamente pronto, sem estresse, sem chororô, sem desculpas.

Refleti sobre a diferença entre fazer negócio com os fornecedores brasileiros e com o norte americano e descobri que o que mais me chamou a atenção foi algo prosaico:

- Ele acredita em mim!

Sim. Credibilidade. O fornecedor dos EUA acreditou em tudo que eu disse e cumpriu tudo o que prometeu, fazendo com que eu acreditasse nele. Não teve “caiu o sistema”, “o Correio entrou em greve”, “fiquei sem Speedy”, “faltou um funcionário”, “subiu o dólar” ou “o trânsito estava lento”. Não teve “não aceito PDF”, “não pode usar cores”, “foi feriado”, “me manda por motoboy” ou “não aceito cartão de crédito”... Sem desculpas. Dá pra fazer, é assim que se faz, custa tanto e pronto.

Meu interlocutor sabia o que estava falando, me orientou com precisão, ofereceu todos os meios de acesso, respondeu a todas as perguntas imediatamente e quando achou que não dava disse: “Não dá”. Sem “talvez”, “vou ver”, “liga mais tarde”.

No Brasil, acostumados a não acreditar nos outros, sempre deixamos um colchão enorme nas negociações. Já esperamos pelo atraso, pelos problemas de qualidade, pelo entregue diferente do prometido, pelas exceções que são regras, pelo chute do especialista e pelas desculpas, as desculpas, as desculpas...

Livre da teia de desculpas que caracteriza os negócios no Brasil, fiquei, como a gente dizia lá em Bauru, encafifado. Senti uma sensação estranha, agradável, que me deixou curioso:

- O que será?

Era profissionalismo.


                                                      *O jornalista multimídia Luciano Pires trabalha dia e noite pela despocotização do Brasil 
(imagem em dirtybottle.com)

04 novembro 2011

FEITICEIRA DO BEM

Minha vida de casal


Bela manhã de domingo, como sói serem as manhãs de domingo em Fortaleza. Sentados na varanda, lado a lado, como se unidos por um fio invisível, minha mulher Sônia e eu lemos juntos o jornal recém-chegado, ainda fresquinho como um pão saído do forno da padaria. 

 Ela acordou tão cedo quanto eu, nossos relógios biológicos parecendo cronometrados para nos despertar na mesma hora matinal. Sua presença me faz um bem incomensurável à alma. 


 Enquanto dividimos irmanamente os cadernos do matutino, vamos conversando sobre os mais variados assuntos, inclusive a respeito de nós mesmos, de nossos problemas mútuos, de nossas preocupações em comum, da vida um tanto quanto aperreada que levamos, dos nossos esforços, da nossa luta cotidiana para manter o barco da família à tona das eventuais procelas. 


Faz muito que caminhamos de mãos dadas seguindo a mesma estrada, percorrendo, entre quedas e levantes, o mesmo caminho desde que nos conhecemos ainda adolescentes.


 Em tom de blague, costumo dizer que Dona Sônia é minha cruz que o destino me ofereceu. Todavia, uma cruz diferente, pois ao invés de ser carregada por mim, na verdade é ela quem me carrega nos ombros que parecem frágeis, mas que são muito mais fortes que os meus. 


Reconheço que sou um fraco, que me deixo abater facilmente por qualquer percalço mais grave, enquanto ela resiste bravamente às intempéries que nos acometem como legítimos representantes do que eu chamo de "classe média aperreada". 

Ela é a verdadeira comandante do navio. Eu não passo de um simples marujo, apesar de tentar manter minha pose de falso capitão de longo curso. 

Minha mulher parece-se demasiado com minha mãe, pois demonstra nos momentos de aperreio a mesma fortaleza inquebrantável de minha genitora, que não desabava em lágrimas por qualquer besteira e enfrentava as dificuldades do existir com uma coragem de leoa.

Quando me encontro sozinho comigo mesmo na solidão das noites insones, uma indefectível pergunta logo me cutuca com vara curta o bestunto, cortando o fluxo dos pensamentos vadios que me povoam a mente inquieta: o que de mim seria se eu ficasse sem minha mulher? 

Uma certeza me bate, avassaladora: certamente me transformaria num quase-nada, num inútil, insignificante zero à esquerda, um cachorro caído do caminhão de mudança. Da morte não tenho medo, porém me apavora o simples pensar que minha mulher possa morrer antes de mim. 

Vergonha não tenho de confessar isso. E por que haveria de ter se estou falando a mais pura, a mais lídima das verdades? Pois além de amá-la com um amor intenso e permanente, eu dependo dela para tudo. 

Sem ela, minha existência perderia a maior e a melhor porção do seu sentido, do seu significado. Ser-me-ia quase impossível continuar a viver sem ela.

Enquanto escrevo, quando em vez, sem que ela perceba, pouso nela meu olhar repleto de carinho e recebo de volta uma corrente intensa de força, de segurança. 

Perto dela sinto-me envolto em uma aura de bendita proteção, a sensação feliz de que tenho alguém que estará sempre do meu lado, pronta para me ajudar, me socorrer nos momentos de urgente precisão. 

Minhas fraquezas todas ela as conhece uma por uma -- e sabe de mim muito mais do que eu jamais saberei. Acredito até que é capaz de ler meus pensamentos, feito uma legítima "feiticeira do Bem". 

Bendigo o dia em que nossos destinos se cruzaram e fomos naturalmente atraídos uma para o outro por obra e graça de algum deus do qual desconheço o nome. 

Se é mesmo verdadeira a lenda de que há pessoas que já nascem destinadas a viverem juntas, nós dois somos a prova viva de que essa lenda, conosco, deixou de ser somente uma lenda para tornar-se um fenômeno real e incontestável. Ainda bem.



*Antônio Airton Machado Monte é médico-psiquiatra, escritor,
cronista e colunista do Jornal da Praia desde os anos 1980.
Caricatura do autor by Carlus Campos

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