27 março 2007

O DIREITO DE SER VOCÊ MESMO(A)

Terapia da Respiração


A seguir, postamos uma entrevista com a terapeuta curitibana Ramyata, que vem a Fortaleza ministrar o workshop apropriadamente chamado O direito de ser você mesmo(a), neste abril de 2007 no Hotel Iate Plaza. O tema? Trata-se de uma técnica dirigida para o auto-conhecimento, denominada Renascimento – Terapia da Respiração.

1. O que é Renascimento e qual sua origem?
Ramyata: Renascimento é uma técnica que utiliza conscientemente e de modo especial o processo respiratório para promover a diluição de bloqueios e tensões que contraímos no corpo, a partir do nascimento. Desde que nascemos, e às vezes dentro do útero, não somos incentivado(a)s a sermos totais, a nos expressarmos espontaneamente — muito pelo contrário, desde pequeno(a)s “aprendemos” que, se nos comportarmos “de certa maneira”, e se ocultarmos o que somos e sentimos, seremos melhor aceitos por nossos pais, professores e/ou grupo social. O que acontece é que tudo isto que não expressamos vai sendo contraído e "fixado" em nosso corpo.

Na década de 70, o norte-americano Leonard Orr desenvolveu a técnica chamada Rebirthing (Renascimento), também conhecida no Brasil como Terapia da Respiração, que ajuda a liberar estes bloqueios, tensões e contrações. Orr percebeu que cada ser humano respira de forma diferente, segundo padrões de condicionamento desenvolvidos a partir do nascimento e da infância, que indicam com acuidade os bloqueios emocionais e as limitações no nível de comportamento e expressão criativa que nos afetam.

2. Há várias técnicas terapêuticas que utilizam a respiração. Em que o Renascimento difere das demais?
Ramyata: Muitas correntes terapêuticas de abordagem corporal têm centrado suas pesquisas no ciclo respiratório, definindo sua importância como chave primordial na busca de maior equilíbrio e bem-estar na vida. O Renascimento é uma destas técnicas. É a técnica que experimentei e transformou minha vida, por isso resolvi me especializar nela: para mim, o Renascimento é uma técnica simples, poderosa e que atua no sentido de propiciar uma transformação concreta na vida das pessoas que a experimentam.

3. Como se dá essa expansão de consciência através do Renascimento?
Ramyata: Todas as resistências, memórias e tudo o que nós contraímos até então, fazem-nos "fechar" para a vida. A magia do Renascimento está em podermos entrar em contato com estes sentimentos limitantes e descontrairmos, liberarmos nossa individualidade. Ao fazer isto, entramos cada vez mais em contato com o nosso ser, com nossa essência. Conseqüentemente, passamos a viver uma vida mais consciente, mais real, mais focada no aqui-e-agora.

4. O processo terapêutico do Renascimento permite promover que tipo de mudanças?
Ramyata: Ao vivenciar a experiência de abrir-se para a vida, tudo o que é contrário a isto — quer no nível físico (tensões no corpo, dores), emocional (sentimentos e emoções não-expressas) e mental (memórias e lembranças traumáticas) — vem à tona para ser então dissolvido, expandido, curado.

5. É possível através desta técnica ter consciência de traumas ou situações bloqueadoras ocoridas na vida intra-uterina?
Ramyata: Sim, como dito acima, tudo o que foi contraído vem à tona para ser liberado. Sabemos hoje que, já dentro do útero, o bebê recebe tudo o que a mãe sente. Por exemplo, se a mãe rejeitou a gravidez, se teve uma gravidez conturbada, o(a) bebê também experimentou isto.

6. Na experiência do Renascimento algumas pessoas chegam a ter contato com sentimentos ou lembranças de outras vidas?
Ramyata: Algumas vezes as pessoas entram em contato com sentimentos, imagens e memórias de experiências que parecem não ter lógica ou fundamento ou não serem reais... A minha abordagem, nesses casos, é ajudar a pessoa a fazer uma “ponte” entre estas informações e a sua vida hoje, no que esta experiência pode ajudar a entender melhor e com mais clareza a vida dela hoje. Não entro muito no mérito se se trata de uma "vida passada" ou não.

7. A consciência de crenças e condicionamentos é suficiente para a cura e a transformação interior?
Ramyata:
A consciência, no sentido de "experiência", sim. Consciência, no sentido de “saber”, não. Saber que fui rejeitada na gravidez não transforma a minha vida, muito pelo contrário, talvez faça com que eu me fixe nisto e explique toda a minha dificuldade de me relacionar: se explico minha dificuldade, de repente me acomodo nela. Agora, experimentar, no nível energético, esta lembrança de estar sendo rejeitada no útero e recuperar, liberar esta energia que estava sendo usada para contrair-me... ah, isto transforma!

Faço questão de deixar clara a diferença entre "saber" e "experimentar", porque as pessoas usam com muita facilidade a palavra "consciência" para apontar estas duas coisas, que são completamente diferentes. Saber, intelectualmente, é ler um cardápio... Já saber, experiencialmente, é comer a comida. Faz diferença, não?!?

8. A experiência do Renascimento em um fim-de-semana pode levar a que estágio de expansão? Esta terapia necessitaria de que número de sessões?
Ramyata:
Cada sessão de Renascimento é completa em si, ou seja, cada sessão tem começo, meio e fim. Ao final da sessão, você completa um ciclo. Esta é uma das coisas que mais gosto nesta técnica, ela dá liberdade à pessoa de decidir quantas sessões quer fazer. Se você, no fim-de-semana, sentir que o que você experimentou está ok, tudo bem, o ciclo está completo. O que pode acontecer é você gostar tanto da experiência de respirar e "contatar-se" que vai querer mais... Aí, você só precisa ir em frente!

Quando organizo um workshop, faço isso também com o objetivo de completar um ciclo. É importante que a experiência tenha um começo, um meio e um fim. Por isso, cada grupo que coordeno tem um tema.

O workshop que denomino O direito de ser você mesmo(a) tem como objetivo levar as pessoas a tomarem maior consciência sobre "quem elas são" e perceber "o quê" elas estão experimentando nos relacionamentos e em suas vidas, hoje. É claro que em um fim-de-semana você não vai resolver todas as suas histórias no que se refere a isto, mas aquilo que você focar, colocar a sua atenção e se permitir experimentar lhe trará uma integração e consciência que vão certamente refletir-se na sua vida!

9. Qual a sua proposta terapêutica para que possamos realmente conectar-nos conosco mesmo(a)s, com nossa essência e atrairmos relacionamentos mais saudáveis e criativos?
Ramyata:
Assumirmos a responsabilidade por quem somos e pelo que estamos escolhendo para trazer mais consciência à nossa vida! A partir daí, podemos transformar tudo o que quisermos.


SERVIÇO
O direito de ser você mesmo(a)
Palestra gratuita: 12 de abril
Workshop: 13 a 15 de abril
Investimento: R$ 350,00 (desc. 10% para pgto. à vista)
Informações e inscrições: (85) 3082-2732 e 9988-1938, com Antônio Cláudio Belém

antoniobelem@terra.com.br
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24 março 2007

DESEMPEDERNINDO

Não sei...


Não sei... se a vida é curta ou longa demais pra nós
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
Se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes, basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela não seja nem curta,
Nem longa demais,

Mas que seja intensa,verdadeira, pura...
Enquanto durar.

(Cora Coralina)


(post enviado por Cacilda / escultura Tenderness by Paul Lancz)



VEJA O PERFIL DE CACILDA DALÍ


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20 março 2007

A MAGIA DE OZ

Cantando a aventura de Dorothy


Nestes (chuvosos) dias finais de março, Fortaleza recebe no estacionamento do Shopping Iguatemi, sob um toldo climatizado, a montagem nacional do musical O mágico de Oz, dirigida por Billy Bond. Após excursionar por Argentina, Chile, Peru e diversas cidades brasileiras, O mágico de Oz também foi visto no centro de convenções do Casa Grande Hotel, no Guarujá.

Os números são grandes: assistida por mais de 900 mil pessoas, a superprodução já foi apresentada mais de 1.200 vezes no Brasil e em toda a América do Sul. A montagem — que conta a grande viagem da garota Dorothy e de seu cachorro Totó —, envolve cerca de 200 profissionais, entre atores, bailarinos e músicos, em cena e nos bastidores e mais de 28 toneladas de material, distribuídas entre cenários e equipamentos.

"O espetáculo apresenta recursos de produção de alta tecnologia, com deslumbrantes efeitos visuais", adianta Bond, diretor de outras montagens nacionais de produções da Broadway como Les miserables, Rent e O beijo da mulher-aranha e a pré-produção de A bela e a fera.

No mais, a história de O mágico de Oz atravessa forte onda de renascimento em todo o mundo: nos EUA, cerca de US$ 860 milhões foram investidos na criação de um parque temático no Kansas e a música-tema Somewhere over the rainbow foi regravada por artistas como o guitarrista Eric Clapton.

Aqui, o espetáculo O mágico de Oz, além de ter sido premiado como “Melhor Musical” de 2003 e aparecer 4 vezes na capa da revista Veja, inspirou a Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo a criar o "Projeto Mágico de Oz", que prevê a criação de comissões de prevenção à violência nas escolas usando a dramatização da peça. E o livro infantil O mágico de Oz vendeu mais de 3 milhões de exemplares de 2003 para cá no Brasil. Nada mau para um texto que comemora 107 anos de idade!

Resumindo: a menina Dorothy quer voltar para casa, o Espantalho quer possuir inteligência, o Leão busca coragem e o Homem de Lata quer ganhar um coração. Será que o Mágico de Oz vai atender a seus desejos? Tudo começou no final do século XIX, quando escritores e produtores de livros infantis da Europa lideraram um movimento propondo histórias menos violentas e sanguinárias. Ao mesmo tempo, defendiam que duendes, gênios e fadas já não tinham o poder de despertar tanto interesse nas crianças.

O escritor norte-americano Lyman Baum também achava isso. Para ele, o conto-de-fadas "moderno" devia conservar apenas a novidade e o bom-humor, descartando tristezas e pesadelos. Se as crianças precisavam de morais severas, que as aprendessem em casa ou na escola. Histórias eram para divertir.

Assim, em maio de 1900, Lyman lançou com sucesso sua obra-prima, O maravilhoso mágico de Oz, ricamente ilustrado por W.W. Denslow. Considerado o primeiro grande romance da literatura de fantasia norte-americana, vendeu mais de 100 mil exemplares em apenas 10 meses.

O livro empolgou crianças de todas as idades com as fabulosas aventuras de Dorothy, a menina do Kansas levada por um ciclone para uma terra mágica — aonde encontraria personagens incríveis como o Espantalho, o Homem de Lata, o Leão Covarde e o Mágico de Oz.

Em 1902 Lyman produziu, em Chicago, um musical inspirado no livro. O êxito foi tanto que logo foi para a Broadway, o centro teatral de Nova York. Em 1925 virou um filme mudo, hoje lembrado por ter Oliver Hardy, da dupla O gordo e o magro, como o Homem de Lata.

Depois, em 1939, a Metro produziu o grande musical estrelado por Judy Garland. Foi o filme mais visto de todos os tempos no cinema e na televisão, com mais de um bilhão de espectadores.

Em Fortaleza, as apresentações da montagem começaram dia 22 de março (quinta-feira), com apoio do Sistema Verdes Mares. Quem realiza a superprodução na "terrinha" é a Free Lancer — que também está trazendo à capital cearense o show de Chico Buarque em abril.


SERVIÇO
O mágico de Oz, a partir de 22 de março no estacionamento do Shopping Iguatemi
Horários: quintas e sextas, às 9h, 15h e 20h e aos sábados e domingos, às 15h, 18h e 20h
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)


SAIBA MAIS
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Maravilhoso_M%C3%A1gico_de_Oz

LEIA UM TRECHO DO LIVRO
http://recantodasletras.uol.com.br/juvenil/19318

FAÇA DOWNLOAD DO TEXTO INTEGRAL
www.omagicodeoz.blogspot.com

15 março 2007

PELOTÃO CULTURAL

Lançamento na Praça da Sé


Centenas de pessoas compareceram em um sábado desses à Praça da Sé — o marco zero da capital paulista —, para prestigiar e engrossar o Pelotão de Choque Cultural Contra a Mesmice e a Burrice Nacionais, idealizado pelo jornalista paraibano Assis Ângelo.
Assis é um incansável divulgador da mais legítima cultura popular, agitando em vários suportes — jornal, livro, rádio, TV, internet — e, agora, levando diretamente às pessoas o seu vasto conhecimento nesse campo.
Ele aproveitou a ocasião para lançar (literalmente) ao público o seu mais novo livro, o Dicionário Gonzagueano — de A a Z. O volume é riquíssimo documento sobre a vida e obra do "rei do baião" Luiz Gonzaga, contendo entrevistas, fotos e completa discografia do grande
sanfoneiro, cantor e compositor.
O "Dicionário do Lua" saiu dia 13 de dezembro também para marcar o Dia Nacional do Forró — uma idéia genial do Assis que se tornou realidade a partir de projeto da deputada federal Luiza Erundina —, criado em 2005 para homenagear este imortal fenômeno da música brasileira.

Na praça, cantaram e dançaram com Assis ao som de forró, baião, toada e outros ritmos musicais todos que compareceram à festa, ou ato político-cultural — que começou por volta do meio-dia e se estendeu por quase 3 horas.
Subiram ao palco artistas como Joel Marques e Carlos Randall, interpretando Paraíba, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira; a rainha do forró, Anastácia; Lino de França e Grupo, acompanhando Janaina Pereira; e mais Valdeck de Garanhuns, Cacá Lopes, Nininho de Uauá, Costa Senna, Roberto Melo, os grupos musicais Banda de Pífanos de Caruaru, Trio Sabiá e ainda os poetas repentistas Sebastião Marinho e Luzivan Matias. O cordelista Marco Haurélio declamou trechos do folheto Foi voando nas asas da Asa Branca /Que Gonzaga escreveu a sua história, também lançado ao público na ocasião.
O Pelotão de Choque Cultural — que, conforme o seu idealizador, foi criado para discutir os rumos da cultura popular brasileira nos meios de comunicação —, integrou a programação comemorativa dos 60 anos da primeira gravação de Asa Branca, o “hino dos nordestinos”, registrada na saudosa voz de Luiz Gonzaga (no dia 3 de março de 1947 no Rio de Janeiro).

A programação começou na Praça da Sé e seguiu pela Praça Benedito Calixto (Pinheiros), terminando na madrugada de domingo 4, na casa de espetáculos Remelexo Brasil, naquele bairro (Zona Oeste de São Paulo).
Ao fim da festiva jornada, Assis Ângelo admitiu estar bem satisfeito pelo sucesso do evento, que foi coordenado pela produtora Andrea Lago. Tem mais: tudo foi gravado pela equipe do programa Tão Brasil, da TV Aberta e da AllTV, para posterior edição de um CD e de um DVD.
E o seu Dicionário Gonzagueano... é ótimo de se ler: só mesmo esse "cabra bão" para juntar, em mais de 220 páginas, tantas deliciosas revelações sobre a carreira do "mestre Lua", acompanhando tudo com depoimentos reveladores de Dominguinhos, Sivuca, Hermeto Pascoal, Oswaldinho do Acordeon, Anastácia e Carmélia Alves, a Rainha do Baião.

Uêba: agora você também pode cantar Asa Branca
Quando oiei a terra ardendo
Qua fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, uai:
Por que tamanha judiação?
Que braseiro, que fornaia!
Nem um pé de prantação
Por farta d'água, perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mêmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse: adeus, Rosinha!
Guarda contigo meu coração!
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão,
Espero a chuva cair de novo
Pra eu voltar pro meu sertão
Quando o verde dos teus óio
Se espaiá na prantação
Eu ti asseguro: não chore não, viu?
Que eu voltarei, viu? Meu coração.

A produtora Andréa Lago coordenou a iniciativa na esplanada da Sé paulista dia 3 de março

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09 março 2007

O POETA CARTOLA

Uma espécie rara de filme



Cartola, carioca do Catete, nasceu em 11 de outubro de 1908 — mesmo ano em que morreu outro gênio da arte nacional, Machado de Assis. Depois de viver por 3 anos em Laranjeiras, saiu da Zona Sul e foi morar na Mangueira aos 11 anos. O bairro classe-média e o morro deram régua e compasso para os versos e as canções do compositor.

Desde menino, o sambista participava de festas de rua. Aprendeu a tocar cavaquinho com o pai e se apresentava no rancho Arrepiados, em Laranjeiras, e nos desfiles do Dia de Reis. Até 15 anos, Cartola viveu com a família e freqüentou escolas de ensino clássicas. Com a morte da mãe, deixou as duas instituições e passou a ter lições de boemia.

O apelido Cartola de Angenor de Oliveira nasceu no canteiro de obra. Como pedreiro, o compositor usava sempre um chapéu para impedir que o cimento lhe sujasse a cabeça. Longe da rotina de pó e poeira, o pedreiro criava a base para uma das principais escolas de samba do País. Fundou em 1925, com seu amigo Carlos Cachaça, o Bloco dos Arengueiros. Era a semente da G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, que surgiu em 28 de abril de 1928 da fusão desse e de outros blocos da região. O próprio Cartola escolheu o nome e as cores da agremiação.

A estréia da verde-e-rosa na avenida foi embalada pelo primeiro samba com a assinatura de Angenor de Oliveira. Era Chega de demanda, composto em 1928 (mas só gravado por Cartola em 1974, no LP História das escolas de samba: Mangueira). Em 1931, o nome do compositor chega a outros territórios: à época, era comum o artista do asfalto subir o morro para comprar música. Assim fez Mário Reis, que, com um punhado de dinheiro, adquiriu os direitos de gravação de Que infeliz sorte. Porém, a voz de Reis não se adaptou ao samba de Cartola. Quem acabou gravando foi Francisco Alves, que virou freguês das composições do mangueirense.

A relação, porém, mudou e Cartola passou a ceder apenas os direitos sobre a vendagem de discos, mantendo a autoria. Neste rol estão Não faz, amor (em parceria com Noel Rosa, em 1932), Qual foi o mal que eu te fiz? (1932) e Divina dama (1933). Neste período, as criações de Cartola ganharam outras vozes — como Tenho um novo amor (1932), gravado por Carmen Miranda e Na floresta, interpretado pelo parceiro da composição, Sílvio Caldas.

Os sambas da Estação primeira completavam a projeção além-Mangueira. Com o primeiro, em parceria com Carlos Cachaça, Pudesse meu ideal, a escola foi campeã do desfile promovido pelo jornal O mundo esportivo. Já Não quero mais (com Carlos Cachaça e Zé da Zilda, de 1936) deu outro prêmio à agremiação: a música, depois gravada por Araci de Almeida (1937), ganhou em 1973 nova interpretação e título de Paulinho da Viola, tornando-se Não quero mais amar a ninguém.

O início da década de 40 cristalizou o talento de Cartola entre a elite musical e também no seio da população mais simples. Ao lado de Donga, Pixinguinha e João da Baiana, o poeta participou, em 1940, de gravações com o maestro Leopoldo Stokowski. O repertório de MPB deu origem a dois álbuns de 4 discos, lançados nos EUA. No rádio, o compositor atuou como cantor, com músicas próprias e de outros autores populares. Naquele ano criou, com Paulo da Portela, o programa A voz do morro na Rádio Cruzeiro do Sul, no qual a dupla apresentava sambas inéditos de vários autores. Em 1941, formou o Conjunto Carioca, com Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres, com o qual participou de programas da Rádio Cosmos, em São Paulo.

Os anos seguintes foram de ostracismo para o sambista. Cartola desapareceu do ambiente musical e muitos viveram a ilusão da morte do poeta. Alguns compuseram sambas em sua homenagem. Mas em 1948, a Mangueira o manteve vivo com o samba-enredo Vale do São Francisco (de Cartola e Carlos Cachaça) e conquistou o campeonato daquele ano.

Cartola só foi redescoberto pela mídia em 1956, quando o cronista Sérgio Porto o reencontrou. Eram tempos difíceis e o compositor vivia de bicos. De dia, lavando carros em uma garagem de Ipanema e, à noite, trabalhando como vigia de edifícios. Sérgio abriu caminho para o compositor cantar na Rádio Mayrinck Veiga. Logo depois, conseguiu-lhe, com ajuda de Jota Efegê, um emprego no jornal Diário carioca.

A década de 60 foi mais suave para o compositor. Já vivendo com Eusébia Silva do Nascimento — a Dona Zica —, eles fizeram uma pequena “revolução” gastronômica e musical na cidade: primeiro, o lar do casal tornou-se ponto de encontro de compositores. Depois, em 1964, a matriz do samba mudou de endereço — agora o point era o restaurante Zicartola, na Rua da Carioca. A casa fez história com a cozinha comandada por Zica, que com seus quitutes ajudava na inspiração de grandes sambistas do morro e de jovens compositores da geração pós bossa-nova.

Só na Terceira Idade, aos 66 anos, o mestre gravou seu primeiro LP — Cartola. O disco conquistou vários prêmios. Dois anos depois, lançou o segundo com o mesmo título do anterior. Naquele ano (1966), o cantor fez o seu primeiro show individual, acompanhado pelo conjunto Galo Preto. Um sucesso de público que ficou em cartaz no Teatro da Galeria, no Catete, por 4 meses.

O sambista ganhou destaque na TV em 1977: a Rede Globo exibiu um programa Brasil especial dedicado a Cartola. A audiência era crescente na tela e no palco. Em setembro do mesmo ano, participou do Projeto Pixinguinha, acompanhado por João Nogueira. O espetáculo começou no Rio e a ótima bilheteria carioca levou o show para São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. No mês seguinte, lançou o terceiro disco-solo: Cartola – Verde que te quero rosa.

Aos 70 anos, Cartola deixou a Mangueira e foi viver na tranqüila Jacarepaguá de 1978, quando estreou o segundo show individual. O quarto LP (Cartola – 70 anos) chegou ao mercado em 1979. Nesse período foi diagnosticado um câncer no compositor. Cartola morreu vítima da doença, em 30 de novembro de 1980.

Os lançamentos seguem após a morte do sambista: a Funarte editou e lançou, em 1983, o livro Cartola, os tempos idos, de Marília T. Barboza da Silva e Arthur Oliveira Filho, e, em 1984, o LP Cartola, entre amigos. A Editora Globo pôs nas bancas, em 1997, o CD e o fascículo Cartola, na coleção MPB Compositores (n.° 12). Entre composições próprias e de parceiras, Cartola deixou mais de 500 obras.

CARTOLA
É um filme simples e sofisticado como o próprio Angenor de Oliveira. Tem a ousadia de ser simples, cronológico, sofisticado e poético. Aproxima o espectador do seu principal objeto, o compositor e sambista que, sem ser letrado, fez canções e versos dignos de um imortal.

O filme revive o poeta Cartola, artista do subúrbio carioca cuja obra é uma verdadeira ponte cultural que liga um País dividido socialmente, emprestando sua biografia para os diretores Hilton Lacerda e Lírio Ferreira contarem, sob um ângulo original, parte da história da Mangueira, do Rio de Janeiro e da nossa música do século passado.

SINOPSE
A história de um dos compositores mais importantes da música brasileira. A história do samba a partir de um dos seus expoentes mais nobres. Utilizando linguagem fragmentada, Cartola traça um painel da formação cultural do Brasil, convidando a uma reflexão na construção da memória deste País. O retrato de um homem que se reconstruía com seu tempo.

Na construção deste discurso, os diretores refazem ambientes, captam depoimentos e costuram imagens com ficção, documentários e material jornalístico de arquivo. O testemunhal traz as pessoas que conviveram com Cartola e outras que vivem o cotidiano da comunidade da Mangueira — além de críticos, historiadores, cantores, músicos e compositores de seu tempo.

As imagens de arquivos resgatam longas-metragens, reportagens e entrevistas nas quais o sambista e o samba são os focos. Os filmes escolhidos são, na maioria, musicais das chanchadas das décadas de 40 e 50 e do cinema novo. Hilton Lacerda e Lírio Ferreira completam a assinatura com cenas que criam e recriam o espírito poético da narrativa.

A montagem e a seleção desse vasto material desenham o perfil do compositor e sua descoberta por uma MPB que evoluiu a partir do contato com os morros e seus sambistas. Produzido por Clélia Bessa e Paola Vieira (Raccord Produções), o filme começa com o enterro de Cartola e já o define como o narrador de sua própria vida.

O tom de ficção inicial atravessa todo o longa-metragem. Para ilustrar a compra e a venda de composições, por exemplo, Lacerda e Ferreira misturam cenas de ficção (Rio 40 graus, de Nelson Pereira dos Santos) que narram o drama de compositores de aluguel a imagens reais de Carlos Cachaça, principal parceiro de Cartola. Em off, os dois artistas relembram fatos do comércio de sambas na primeira metade do século XX.

A marca de Cartola imprime-se também nas cenas desenvolvidas para alinhavar com o material de pesquisa. Hilton e Lírio trazem para o filme a geografia musical do sambista e de suas composições. Estão lá a Mangueira, a Lapa, a Carioca e a Central, fotografadas por Aloysio Raolino. A dupla de criadores ainda coloca cerejas sobre o longa e refilma parte da história do personagem perdida no tempo.

A soma de todos esses elementos, editados e montados por Mair Tavares e pelos dois diretores, resulta numa unidade de linguagem que dá a Cartola características que o levam para bem além de um simples documentário. O filme surpreende, emociona e informa sobre o espírito de um dos principais criadores da Música Popular Brasileira.



SERVIÇO
Cartola — filme de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda
Festival do Rio 2006 - Mostra Competitiva – Documentários


EQUIPE TÉCNICA
Direção e Roteiro: LÍRIO FERREIRA e HILTON LACERDA
Produção Executiva: CLÉLIA BESSA
Direção de Fotografia: ALOYSIO RAOLINO
Montagem: MAIR TAVARES
Direção de Arte: CLAUDIO DO AMARAL PEIXOTO
Figurino: RÔ NASCIMENTO
Som Direto: VALÉRIA FERRO (Ruído rosa)
Edição de Som: AURÉLIO DIAS e MARIA BYINGTON (Artesanato Digital)
Mixagem: ROBERTO LEITE e AURÉLIO DIAS
Programação Visual: TECNOPOP
Consultoria: ELTON MEDEIROS
Produção: CLÉLIA BESSA e HILTON KAUFFMANN
*Ator (Cartola criança): MARCOS PAULO SIMIÃO

Brasil - 2007 - 85 min - Cor


ENTREVISTA COM A PRODUTORA
A produtora Clélia Bessa vem trabalhando no projeto Cartola como quem cuida de uma espécie rara. Nos últimos 6 anos, o filme passou por mudanças que exigiram dedicação ímpar da sócia da Raccord Produções. Com a experiência de quem ajudou a tirar do papel os longas-metragens de Rosane Svartman Mais uma vez amor e Como ser solteiro e o programa musical Claro q é rock, exibido no canal Multishow, Clélia captou recursos e reuniu profissionais capazes de dar vida a um filme ousado e em constante evolução.

A quanto orçou o filme Cartola?
Clélia Bessa: O filme custou em torno de R$ 1,2 milhão. A captação de recursos não foi fácil. Conforme o projeto avançava, o filme ganhava nova dimensão e os custos aumentavam. Cartola é um filme vivo. Fechamos a poucos meses do lançamento.

Qual a maior dificuldade na produção?
Clélia: O filme tem cerca de 85 minutos e 65% são arquivos. A negociação e a pesquisa foram difíceis e complexas. As fontes de arquivo eram as mais diversas, de emissora de TV que faliu a pessoas físicas. Ainda recuperamos uma série de arquivos de imagem do compositor. O som também teve uma complexidade técnica, precisou passar por um processo de reestruturação para ter uniformidade.

Como foi o processo de pesquisa de imagens?
Clélia: Investimos muito na pesquisa de imagem. O acervo iconográfico de Cartola não é vasto. Não foi encontrada, por exemplo, uma imagem em movimento do Zicartola.

E os herdeiros do compositor? Como foi essa negociação?
Clélia: Negociamos com os herdeiros oficiais e reconhecidos. Ele não teve filhos naturais.

Na sua opinião, qual a justificativa para se desenvolver um projeto como o de Cartola?
Clélia: O brasileiro gosta de ouvir e ver a história do País retratada nas telas. Veja o exemplo do documentário Vinícius, que foi um sucesso de público. Cartola, como Vinícius, é fundamental na história da música desse País.

Há planos de lançar CD ou outro produto vinculado?
Clélia: Não, ainda não pensamos nesse ponto, não há nada programado.

Quem patrocina o projeto?
Clélia: Os patrocinadores são BR Petrobras, Telemar, Eletrobrás, Infraero. O filme também tem recursos do BNDES e da Itaú Cultural, esse no desenvolvimento do roteiro. A produção é da Raccord e co-produção da Globo Filmes, com distribuição da Riofilmes.


VEJA
Segue uma versão em avant-trailer do filme Cartola , música para os olhos, que estréia dia 06 de abril, somente nos cinemas. Siga o link e aprecie boa música e belas imagens
http://www.youtube.com/watch?v=xlMRgr6vxLg


SAIBA MAIS
http://www.raccord.com.br

cleliabessa@raccord.com.br

Skype ID: cleliaelisa

06 março 2007

SOM ENSURDECEDOR

Que provém do silêncio interior



Senhor George, não me leve a mal, mas sua escuridão vai ter que se render a um novo amanhecer.

Atenção ladrões, assassinos e traficantes! Chamem todas as milícias e mercenários, para assistirem ao alerta global!

Senhor Hugo, use suas “chaves” para abrir as portas da percepção e liberte-se da farda, boina e coturnos — a temporada de ditadores ensolarados já terminou.

Caro presidente Lula, cuidado! O senhor pode estar a menos de 4 anos da contracapa da História.

Brasileiros, meus irmãos! Meu coração se enche de orgulho e de tristeza. Orgulho porque no Brasil não tem terremoto e tristeza porque estão tentando me convencer de que Deus não é brasileiro.

Adeus à Lei de Gerson, cerrrto?

Militares do Brasil, conclamo meus irmãos das forças a se livrarem do peso sobre seus ombros. E não falo do peso das estrelas e patentes, mas sim da História, do AI-5, da “vergonhosa” — que ousaram chamar de “redentora”. O País precisa de ajuda, vamos acordar?

E quando falo em ajuda, muita calma: falo de ajuda humanitária, engenharia, fronteira, medicina, segurança...

A violência do buraco do Metrô dói pelo drama humano, mas o buraco é mais embaixo (ou mais em cima, lá na camada de ozônio). A violência da banalização dói mais ainda.

Políticos em geral, será que só a renúncia será capaz de lavar suas almas?

Quem ainda agüenta mais esses meninos de gravata brincando de resolver as coisas?

Perdoem-me os bons engravatados, mas se vocês forem bons mesmo, revoltem-se! Livrem-se delas enquanto é tempo...

Há um novo Brasil nascendo, silencioso. Ele é feito da mistura de gentes. Gente do Sul e Sudeste, gente do Norte e Nordeste, gente do Centro-Oeste e gente estrangeira.

Há uma desconstrução cultural em curso e nada será mais como antes.

Há um caboclo índio dentro de cada um de nós, um deus africano, um santo católico, uma estrela do Islã, um rabino, um pagão.

Minha avó era mineira da Zona da Mata e se chamava Iracema, madrinha de negros, devota e santa. Sá Rosa, sua vizinha, era benzedeira, tirava quebranto, rezava com a brasa em um copo d’água. Vó Iracema fazia doce-de-leite em um tacho de cobre que ela anualmente comprava de uma caravana de ciganos que passava pela cidade.

A outra avó era paulista e uma sábia analfabeta, a chamávamos de Vó Tunica. Ela costumava dizer coisas do tipo: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece...” Um avô era libanês, de Beirute, o outro foi Integralista e enterrou solene as camisas verdes dele e do seu primogênito, meu pai, no quintal de casa. Deus, Pátria, Família e Anauê pelo Brasil !

O Brasil é assim, como a casa da avó, divide seu espaço aceitando as diferenças e transformando todos em irmãos. Somos um povo diferente, porque nosso caldo cultural é enriquecido, vitaminado.

Eu sei, ser brasileiro não é fácil, mas é gostoso.

Quando Pelé, ao ser carregado nos ombros naquela noite de 19 de novembro de 1969, dedicou seu milésimo gol às crianças do Brasil, me lembro que ele pediu, com a majestade de um Rei:
“Cuidem das criancinhas do Brasil!” Ora, Fernandinho Beira-Mar estava com 3 anos de idade...
O crioulo foi achincalhado pelos intelectuais de plantão, ninguém deu ouvidos ao Rei e Fernandinho cresceu.

Pois é, este é o Brasil — esse jovem Brasil, o País que eu amo, a terra aonde trabalho e onde um dia irei descansar.


*Laccy Silva é arquiteto, paisagista e comanda a Zou Cultural

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