06 janeiro 2014

NÃO NO GIBI, MAS AO REDOR DE NÓS


Os X-Men*




E num DVD em homenagem a Stevie Ray Vaughan, um dos maiores guitarristas da história, um depoimento de outro gênio, chama a atenção. Eric Clapton diz mais ou menos assim:

- Quando toco guitarra, penso no próximo acorde de acordo com o resultado que quero obter. Levo uma fração de segundo, que é aquele momento em que, racionalmente, penso para construir o acorde. Stevie Ray não fazia isso. Quando tocava, um acorde seguia o outro naturalmente. Ele não precisava pensar para tocar. Era como se a guitarra fosse extensão de seu corpo.

Conversei a respeito com meu amigo Nuno Mindelis, outro guitarrista de primeira linha, e ele disse algo que também chamou a atenção.

- Quando subo no palco e começo a tocar, saio da realidade e entro em outro mundo. Passo a pensar diferente. É uma espécie de autismo.

Steve Ray com a guitarra nas mãos era um autista. Nuno também é.

Recentemente meu amigo Luis Tejon publicou um artigo em que afirmava que Lionel Messi, o maior jogador de futebol da atualidade, é autista. Tejon escreveu assim: “Messi tem Síndrome de Asperger, um autismo leve que o dota de um impressionante talento de foco e de concentração na repetição do que deve ser feito para obter êxito nas jogadas do futebol. 

Ele tem o olhar que não olha, mas que foca no objetivo de maneira completa. Em função do autismo também busca escapar das pressões das entrevistas, das badalações sociais e mesmo na propaganda consegue pronunciar a palavra "listo" (pronto) meio sem-jeito… mas com todo o jeito no foco de sua arte esportiva.”

Lionel Messi, com a bola nos pés, é um autista.

Se você reparar bem nos indivíduos que têm alguma habilidade especial muito acima da média, no limiar da genialidade, notará que a maioria deles é “gente esquisita”. Olham diferente, falam diferente, movimentam-se diferente, tomam decisões diferentes. São gente diferente da gente.

Pois começa a ganhar força uma tese dando conta de que esses indivíduos, vivendo vários tipos diferentes de síndromes ligadas ao complexo “autismo”, ou até mesmo dislexia, já seriam os primeiros exemplares do que será o ser humano no futuro. Esses atributos “diferentes”, que muitos julgam defeitos, seriam mutações, evoluções, na direção de um novo ser humano capaz de feitos inimagináveis para nós, os “normais”. 

São como os X-Men dos gibis e do cinema, com habilidades sobre-humanas que hoje achamos esquisitas, pois implicam num comportamento social que não compreendemos. 

Eles realizam feitos inacreditáveis, têm memória incrível, saem tocando piano aos quatro anos de idade, leem quando outros bebês nem mesmo balbuciam palavras, anteveem jogadas brilhantes, são capazes de visualizar padrões onde só vemos confusão. Seres humanos do futuro, hiper sensíveis, com habilidades que ainda não compreendemos.

E a novidade é que a quantidade de crianças com vários graus de autismo está crescendo ano a ano. Os X-Men estão chegando e a sociedade vai ter de se adaptar a eles. 

Não sei se isso é assustador ou maravilhoso, mas algo me diz que é o futuro. 


*Luciano Pires é jornalista. 
Conteúdo publicado em www.portalcafebrasil.com.br