31 dezembro 2007

SABORES DA HISTÓRIA

Misterioso chocolate



Não é interessante? A vontade de comer chocolate não passa se comemos outro tipo de doce. Acho que isto acontece porque um dos componentes do chocolate — descobriu-se recentemente — age como uma espécie de serotonina, substância que nosso organismo produz em situações de extrema felicidade, como no caso do namoro e do orgasmo. Talvez por isso algumas pessoas tornam-se facilmente chocólatras, com muita razão.

A origem do chocolate, que provém do cacau, é muito polêmica e faz parte dos segredos da História. Segundo os Maias, habitantes da América Central à época dos descobrimentos, os deuses foram os primeiros a consumir chocolate — o que constituiu um incentivo para os homens seguirem o seu exemplo. Quanto à época dos primeiros usos de bebidas achocolatadas, escavações e ruínas antigas dão conta da existência deste fato desde o século VI a.C. Desde aí o mundo foi invadido por este desejo incontrolável de tomar chocolate.

Ao aportarem os espanhóis no México, o chocolate já era conhecido dos Astecas, habitantes locais, tomado frio ou quente dissolvido em leite ou água. Estes espanhóis adoraram as diversas formas da bebida (então amarga) e seus efeitos inusitados de paz, tranqüilidade e até afrodisíacos. Apressaram-se a divulgá-la na Europa, introduzindo-a primeiramente na Espanha. Teve início a conquista dos paladares pelas delícias do chocolate — agora também adoçado.

Devido aos seus muitos e agradáveis aromas, o chocolate tanto é bom puro como também combina deliciosamente com frutas e legumes. Para os mais corajosos e inovadores pode até fazer alianças sutis e prazerosas com ervas e especiarias, desde que os seus próprios agradáveis e múltiplos sabores não sejam encobertos pelos aromas e sabores fortes muito invasivos e dominantes de alguns destes aliados.

Certos fanáticos por vida saudável condenam o chocolate devido à gordura presente no cacau — justamente o que dá ao produto a sua textura característica. Porém, pesquisadores mostraram que comer chocolate não contribui para aumentar os níveis de colesterol ruim (LDL) no sangue.

Ao contrário, o chocolate apresenta níveis elevados de flavonóides e compostos fenólicos que têm efeitos anti-oxidantes benéficos e podem ajudar a diminuir os riscos de doenças coronarianas, elevando os níveis de colesterol bom (HDL). Estes flavonóides também estão contidos nos vinhos e produzem os mesmos efeitos vitalizantes.

Também parece que os chocolates contêm substâncias que estimulam a produção, no organismo humano, de um complexo químico chamado “feniletilamina”, associado ao estado de “sentir-se apaixonado(a)” — o que seria uma razoável explicação ou até justificativa do porquê sermos estimulados a consumir, a sós, uma caixa inteira de chocolates...

E assim, vamos a ele já desde o Réveillon em 2008. Viva o chocolate!


*O enogastrônomo Jorge Cals Coelho não é chocólatra, mas adora chocolate — principalmente sob algumas formas de que aprendeu a gostar no restaurante Piantela, quando viveu em Brasília (como nos “Profiteroles au Chocolat” e no “Petit Gâteau”, sobremesa do restaurante do antigo hotel Caesar Park de Fortaleza/CE) que são iguarias inigualáveis — complementando de forma divina uma boa refeição.


SAIBA MAIS
http://www.copacabanarunners.net/hdl.html

http://www.morganachocolates.com.br/curiosidades.htm

17 dezembro 2007

NO ÚLTIMO SÁBADO

Foi quando tudo aconteceu...


Quem lê No último sábado de Paulo Eboli não percebe ser este o livro de estréia do autor, que vai construindo sua envolvente narrativa e seduzindo leitores e leitoras ao longo de suas mais de 150 páginas.

Prefaciado pelo jornalista Renato Maurício Prado, o livro conforma uma adequada fábula sobre o tempo, os amigos e a felicidade — temas apaixonantes que se enquadram à perfeição nos dias de hoje.

Trata-se das descobertas e memórias de um grupo de amigos que atravessam três décadas de convivência cheias de sonhos, fantasias, paixões, momentos de glória e profunda frustração. Como mais um personagem, Eboli apresenta-nos o tempo — um companheiro indesejado, a cobrar de cada um e de todos o preço de sua presença.

Cercada por uma atmosfera de tensão crescente, a leitura pode cativar leitores de todas as idades, mostrando-se particularmente familiar àqueles que já ultrapassaram a fímbria dos 40 e tantos...

Estes, com melhor certeza, irão se identificar muito e emocionar-se com as passagens da estória, assim como também curtir a saudosa existência dos vários flashbacks trazidos à tona pelos personagens e que compõem a trilha sonora da narrativa.



*Paulo Eboli é arquiteto, profissional de marketing em diversas empresas e consultor da área. No último sábado é seu primeiro romance (escreveu artigos e crônicas para jornais e sites na web). Carioca de 1950, Eboli é rubro-negro, ariano e casado há 31 anos com Claudia, com quem tem dois filhos. O autor atuou na criação do jornal Extra, respondendo por sua estratégia de marketing.


FICHA TÉCNICA
No último sábado, de Paulo Eboli
Ed. Publit - 160 págs. - R$ 35
Capa: Cristina Amorim - Ilustrações : Denise Pinho

Foto da capa: Ricardo Cunha - Formato: 14 X 21

SAIBA MAIS
Anna Accioly (21) 8616-6688 & Paula Torres (21) 8676-2712
annaccioly@terra.com.br
adoiscom@terra.com.br

15 dezembro 2007

CHEGARAM AS FÉRIAS

Onde levar as crianças?


Não parece ótimo poder deixar as crianças em um lugar seguro, aonde elas estarão à vontade, bem nutridas e aprendendo coisas novas e úteis? Uma sugestão é a colônia de férias que se inicia a partir de hoje, dia 15 de dezembro, estruturada para oferecer à criançada oficinas diversas e outras atividades divertidas em um espaço cuidadosamente planejado para favorecer o desenvolvimento infantil.

Como sempre, as férias chegaram e os pais estão à procura das melhores opções para preencher adequadamente o tempo de suas crianças. Vale dar uma olhada nesta colônia de férias, cuja programação, além do contato com a natureza, inclui oficinas de inglês, reciclagem, ioga, capoeira, culinária, música, teatro, artes plásticas, tatuagem e maquiagem, além do Projeto Pequenos Cientistas e saborosas sessões de degustação de frutas, entre outras animadas atividades interativas.

Em ritmo de brincadeira, as crianças se envolvem com bichos "do bem", barro, tinta, água, riacho e exploração ecológica, entre outras programações que tornarão estas férias da criançada momentos inesquecíveis, como devem ser.

Este ano a colônia de férias transcorrrerá no período da tarde, de segunda a sexta, de 14 às 17 horas, para crianças de 3 a 8 anos de idade. Durante a manhã, o espaço — cerca de 400 m² nos jardins da Hípica carioca — funcionará normalmente mantendo sua programação e preços vigentes. Confira algumas atividades:
>> Oficina de Inglês: parceria com o curso de inglês Let's Go Kids, especializado em ensinar crianças a partir do primeiro ano de idade;

>> Ioga, capoeira e jogos cooperativos: atividades corporais;

>> Projeto Pequenos Cientistas, ministrado por biólogos: a meninada tem experiência com ecologia, reciclagem e conscientização sobre a conservação ambiental do planeta;

>> Oficina de reciclagem: para aprender a importância da reciclagem, pela transformação de descartes (lixo) em brinquedos;

>> Alimento vivo: promoção de reeducação alimentar, visando uma dieta mais saudável para as crianças. Uma pedagoga estimula a curiosidade através do elemento lúdico, com frutas cortadas em diversas formas (como estrelas e borboletas), para que a meninada possa provar sabores e identificar aromas;

>> Atividades musicais interativas: conduzidas por músicos profissionais, pedagogos e musicoterapeutas, as crianças têm acesso aos instrumentos;

>> E mais: brincadeiras cantadas; teatro; oficina de barro; artes plásticas; tatuagem; maquiagem; fábrica de massinha; passeio aos cavalos; culinária; alimentação dos animais (cavalos, jabuti, galinhas, coelhos, gerbils, entre outros); fantoches; jogos cooperativos; brincadeiras e trabalhos com bolas, texturas, panos etc.; experiências com a natureza (troncos para explorar com kit (lupa, lanterna, pinça e potinho); horta, experiências no minhocário etc.; pintura no painel de vidro; pintura e desenho; barro vermelho; rio e mangueira; ouvir e contar histórias; construir cabanas; brincadeiras com massinhas comestíveis e gelatinas, entre outras.

As crianças devem levar: lanche, roupa para sujar, molhar e manchar, toalha, agasalho e repelente. Se chover, as atividades serão suspensas e a criança recebe um convite para outro dia.

O espaço da colônia de férias localiza-se na Hípica do Rio de Janeiro, numa área de 400 m². É um projeto inédito na cidade, em que as crianças não só aprendem a respeitar o meio ambiente e desenvolver atividades junto a animais, como também são livres para brincar.

Monitoradas por pedagogos, psicólogos e biólogos, todas as atividades do espaço são pensadas para ajudar no amadurecimento emocional e na socialização das crianças. A proposta é proporcionar um ambiente que facilite a formulação da criatividade dos pequenos.


SAIBA MAIS
Playgym Natureza Av. Borges de Medeiros, 2428 - Zona Sul - Hípica
Tels.: (21) 2537-9541 / 9647-6938 Estacionamento: R$ 5 o dia todo
FUNCIONAMENTO
Em dezembro: de terça a sexta-feira: de 14h às 17h (a partir de 3 anos)
Em janeiro: de segunda a sexta-feira de 14h às 17h (a partir de 3 anos)

Preços (pacote semanal): R$ 200
Descontos especiais para duas semanas ou mais e para mais de uma criança (consulte sobre os descontos)
http://www.guiadoriodejaneirocomcriancas.kit.net/acontecendo/playgym03.htm

TENDA DA SAÚDE

Ao seu dispor no calçadão


A maioria das pessoas adora a estação mais quente do ano. Porém, o que poucos sabem é que, nesta época, ocorre uma propagação maior das chamadas "micoses de Verão". Isso acontece porque a transpiração aumenta muito e também é mais intenso o contato com a água (da piscina e do mar), o que pode fazer com que a pele fique úmida por mais tempo. Tal umidade, aliada ao calor, que debilita o organismo, favorece o aparecimento de micoses.

Para informar e esclarecer a população sobre estes e outros assuntos, o laboratório Divcom Pharma vai armar a Tenda da Saúde no calçadão da Av. Beira Mar, entre os dias 17 e 21 de dezembro. A iniciativa da colocação de uma tenda informativa no calçadão das praias mais movimentadas para caminhadas matinais e noturnas, dispondo acadêmicos de Medicina preparados e treinados para dar orientações sobre o processo da circulação sanguínea e sobre como prevenir a dilatação das veias visa evitar, desta forma, o surgimento das varizes e também ajudar no combate e prevenção de problemas de pele como as micoses.

Há alguns cuidados que podem ser adotados para prevenir o aparecimento das micoses superficiais. A higiene é o primeiro passo, principalmente nas áreas preferidas pelos fungos. Eis algumas atitudes simples que ajudam a evitar a ocorrência das micoses de Verão:

>> evite andar descalço(a) em pisos úmidos ou públicos;
>> não compartilhe toalhas;
>> procure não utilizar lava-pés de piscinas e saunas;
>> evite o contato direto da pele com as cadeiras de praia (utilize uma toalha ou canga para forrar a cadeira);
>> evite equipamentos profissionais de uso comum (botas, luvas etc.);
>> não use roupas e calçados de outras pessoas;
>> só utilize alicates de cutícula, tesouras e lixas esterilizados;
>> evite usar meias que não sejam de algodão;
>> seque bem as regiões úmidas após o banho ou após o esporte;
>> não use calçados fechados por muito tempo.


Obs.: a imagem acima, que retrata uma colônia de Cortinarius trivialis, não tem relação direta com os assuntos aqui tratados e foi empregada apenas para chamar a sua atenção. O que é importa é que agora você está devidamente convidado(a) a saber mais sobre este tema e seus desdobramentos

COMPAREÇA
Local: Calçadão da Av. Beira Mar, n.º 3080 (em frente ao Seara Praia Hotel)
Data: 17 a 21 de dezembro 2007
Horário: das 6h às 9h e das 17h às 20h
Contato: Thany Rufino – (81) 9127-3262
SAIBA MAIS

LER É O LIMITE

Boas festas, gaste bem


Aproveitando o fim do ano, a editora Conrad chega junto criando mais uma boa oportunidade de agradar aos seus leitores.

Moleza: a Conrad está oferecendo na faixa dois cupons promocionais em sua loja virtual — um desconto de R$ 10 (para compras acima de R$ 60) e outro desconto de R$ 20 (para compras acima de R$ 120).

É isso mesmo, pode parecer pouco, mas quando você der uma espiada no catálogo 2007 da editora, certamente vai querer aproveitar a promoção. Portanto, eis os códigos necessários para você usar o seu Cupom de desconto especial de Natal de R$ 20 (nas suas compras acima de R$ 120)17-CUP12-000000-268402937 — e para o seu Cupom de desconto especial de Natal de R$ 10 (nas suas compras acima de R$ 60)17-CUP13-000000-268402946 .

Para você utilizar os cupons em suas compras de produtos da editora Conrad, siga os passos:


2. Informe o código do seu cupom e clique em "OK";

3. Você será redirecionado(a) para a página inicial da loja. Faça suas compras normalmente

4. Quando o seu carrinho de compras ultrapassar R$ 120 (ou R$ 60, conforme o caso), você verá o desconto;

Mas fique atento(a): os cupons são válidos somente até 31/12/2007.

Então, agora é só escolher a(s) publicação(ões) que mais lhe agradarem e viajar no mágico mundo da leitura, uma atividade que gera prazer e conhecimento!


*E aqui seguem nossas sugestões em destaque:
1) A arte de viver para as novas gerações, por Raoul Vaneigem, livro que é mais do que um mero manifesto, constituindo brilhante e devastadora análise daquilo que se convencionou chamar "nossa civilização". Em cada página, a mais radical crítica à sociedade. Nada nem ninguém é poupado na primorosa narrativa do autor. Seu trabalho é considerado o segundo principal dos situacionistas (mais informações sobre este movimento no livro Situacionista - Teoria e prática da revolução, também publicado na Coleção Baderna, reunindo os textos mais amplamente divulgados, traduzidos, distribuídos e influentes da Internacional Situacionista enquanto ativa, garantindo ao leitor uma concisa introdução às idéias situacionistas e à visão do ambiente que gerou o Maio de 68 francês). Os escritos de Vaneigem serviram de inspiração às palavras de ordem que infestaram os muros de Paris em 1968. Sua base é o cotidiano e todas as expressões sociais e políticas nele inscritas. Um chamado à prática revolucionária diária, é um texto militante da causa da emancipação total. Para Raoul Vaneigem, se o antigo grito "Morte aos exploradores" não ecoa mais nas ruas, é porque deu lugar a outro grito, vindo da infância, proveniente de uma paixão mais serena e não menos tenaz: "A vida antes de todas as coisas!"

2) Adolf, por Osamu Tezuka. A história, publicada em 5 edições, gira em torno de três personagens com o mesmo nome: Adolf Kaufmann, filho de um diplomata alemão e uma japonesa; Adolf Kamil, filho de humildes padeiros judeus; e Adolf Hitler. Adolf, que recebeu o prêmio Kodansha, é considerado uma das últimas obras importantes de Tezuka, falecido em 1989. A história se inicia em agosto de 1936, quando o repórter japonês Sohei Toge faz a cobertura das Olimpíadas de Berlim. Neste período seu irmão, Isao, desaparece e Sohei acaba se envolvendo numa trama ligada a documentos que atestam que o próprio Hitler era descendente de judeus.



3) Vagabond - A história de Musashi - vol.13 - Em edição de luxo, com sobrecapa e páginas coloridas em papel especial, a série é assinada por Takehiko Inoue. A história se passa durante a Era Tokugawa. Após uma grande batalha, Musashi torna-se um dos muitos ronins (samurais sem mestre). Ele quer ser o melhor de todos os samurais e segue em busca de aperfeiçoamento físico e espiritual. O duelo com Inshun chega ao seu momento decisivo. Decidido por uma tática agressiva, Musashi ataca com todas as forças, mas acaba sendo acuado pelo mestre lanceiro e, apesar da luta equilibrada, está muito ferido. A luta, porém, está muito longe de acabar. Vale acompanhar a série desde o começo.







PARA ESCOLHER MAIS

REVOLUÇÃO MODELO 2008

Baú de grandes idéias


A verdade não é importante, já que existem "muitas verdades". Você acredita em uma verdade, eu acredito em outra — e ambos podemos estar certos. Veja uma árvore: um botânico vê a árvore como uma espécie particular, o carpinteiro a vê como madeira para um móvel, o religioso vê a árvore como sagrada, o poeta é por ela inspirado para escrever um poema e o pintor é tocado pela árvore para criar uma pintura. Uma árvore, muitas visões. Muitas verdades, todas verdadeiras.

Um 2007 cheio de metas e objetivos está chegando ao fim. 2008 se aproxima, cheio de promessas e ansiedades pela frente. Um novo ano para crescer 20%, 30%, 40%, dobrar de tamanho, manter o tamanho atual, comprar alguma empresa, vender ou fechar alguma parte da empresa que não está dando muito certo, firmar parcerias, enfim, tudo, ou qualquer coisa, menos recuar.

2007 foi o ano em que mais se falou sobre aquecimento global na história da humanidade. Nunca se falou tanto sobre a destruição do planeta. Nossa geração tem a oportunidade de entrar para os livros como a grande vilã ou heroína dessa história. Nós sabemos o que tem que ser feito, e temos todos os recursos para resolver. O problema é que não podemos dizer às pessoas que elas não podem mais dirigir seus carros, mas o fato é que nós não conseguiremos sobreviver se continuarmos assim.

2008 se aproxima com a GM, Ford, Volkswagen, Petrobrás, Shell etc. cheias de metas de crescimento. Eles vão vender mais carros, caminhões, gasolina etc., etc., etc. E ninguém vai fazer nada a respeito.

2007 foi o ano em que o número de mensagens de marketing que chegaram a você atingiu o pico. 5.000 por dia, dizem os especialistas. São cremes dentais, roupas, carros, cervejas, desodorantes e todo tipo de alimento, prometendo um pedaço do paraíso na Terra caso você vire um assíduo consumidor dessas coisas.

2007 foi o ano em que o número de suicídios de jovens cresceu 20% em comparação ao ano passado. Nunca a juventude se matou tanto. O coquetel de falta de direção dos pais somado a cobranças de todos os tipos, desde a necessidade de ser "o(a) mais bonito(a) da turma" até "o(a) mais inteligente na matemática quântica" está levando a molecada a sair da realidade, criar mundos virtuais, viver outras personalidades, dar cabo da própria vida.

2007 foi o ano em que vimos os países do Terceiro Mundo — Russa, Índia, China, Brasil, Irã, Venezuela — peitarem o Primeiro Mundo, em vários sentidos. Nunca na História do planeta tantas nações periféricas tiveram tanto poder. O número de artigos sobre o Afeganistão e Hugo Chavez na net é 10 vezes maior do que sobre Holanda, Itália e Inglaterra somadas.

2007 foi o ano em que o capitalismo mostrou sua verdadeira cara: quem manda no mundo são os fundos de investimentos. A venda de computadores, carros, xampús etc. é apenas fachada, o negócio mesmo é comprar e vender empresas no atacado e varejo. Carlyle, o maior comprador de empresas do mundo, controla 201 empresas que faturam juntas US$ 87 bilhões. O grupo Carlyle entra em 2008 com mais de US$ 200 bilhões em caixa para comprar quem eles quiserem e depois exigir crescimento ou produtividade antes de botar a empresa novamente à venda.

2007 foi o ano em que o número de milionários e ultra-milionários atingiu a marca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo — e 120 mil deles estão no Brasil. Desses todos, 100 mil pessoas (chamados de ultra-milionários) têm mais de US$ 30 milhões cada. Nunca houve tantas possibilidades de investimentos, riscos e apostas como agora. Quem tem muito dinheiro, tem inúmeras chances de ter cada vez mais.

O consumo do luxo atingiu picos. Se você não é um abastado, provavelmente nunca encontrará um. Eles têm seus próprios clubes fechados, lojas e restaurantes exclusivos, ilhas paradisíacas, jatinhos e aeroportos pessoais. Vivem em uma sociedade completamente nova, isolada e diferente da sociedade em que você vive. Vivem no reino muito, muito distante — e você nem sabe direito onde fica. No seu aniversário de 11 anos, uma filha dessa nova aristocracia pediu aos pais, como presente de aniversário, uma viagem aérea em um vôo comercial, ao invés da costumeira viagem no jatinho privado da família. Ela fez esse pedido porque nunca esteve dentro de um aeroporto e gostaria de saber como funciona. Incrível, não?

Você pode rezar, acreditar, meditar e sonhar para que o mundo volte a ser do jeito que você viu nos filmes e novelas, mas isto simplesmente não irá acontecer. A grande maioria dos pais, os reais educadores dos filhos, não largarão o trabalho mais cedo hoje à noite para ter um tempo de qualidade com os seus filhos; a grande maioria das pessoas não deixará o carro em casa para ir de bicicleta para o trabalho; a grande maioria dos recém-formados nas melhores faculdades vão procurar emprego nas grandes empresas para receber grandes salários e grandes planos de carreira, ao invés de se aventurarem pelo mundo do empreendedorismo; a grande maioria das pessoas continuará a consumir tudo o que puderem consumir, inclusive para se sentirem parte do maior número possível de tribos urbanas, ao invés de viver uma vida simples baseada no consumo realmente importante.

Eu sei que você gostaria de mudar o mundo, mas não tem tempo para isso, não tem dinheiro para tanto, não tem contatos, nem outros materiais espirituais que se fazem necessários. Sem problemas. Esforce-se então para fazer da empresa em que você trabalha um verdadeiro exemplo prático dos melhores valores da humanidade nesse novo mundo que se forma.

2008 está aí. Eu tenho para você algumas "pequenas" idéias de marketing que não vão mudar o mundo, mas podem alterar o curso do novo mundo que se forma ao seu redor. Portanto, faça as suas apostas! É com você transportar essas idéias para a "Nova Ordem" com uma nova linguagem, roupagem e sabedoria. Acompanhe o raciocínio:

1. Leve o luxo para as massas. Nunca se viajou tanto nesse País. Nova York e Paris não são mais exclusividade de rico. Qualquer um, se economizar, consegue fazer uma viagem bacana para qualquer ponto famoso do Brasil e do mundo. Em São Paulo, a Etna, loja de móveis, oferece uma proposta de massificação do design de móveis com ofertas cheias de estilo. A Armani, Exchange, oferece camisetas Armani a US$ 19. E você? O que você acha de massificar algum tipo de serviço high end que você oferece apenas para alguns clientes?

2. Adicione luxo a um produto de massa. Qualquer produto de massa pode ser levado para os grã-finos. The Fifties, lanchonete paulistana, leva você de volta aos anos 50 enquanto você saboreia um "simples" hamburger, uma "simples" batatinha frita e um "simples" milk-shake. A Haagen Dazs, que cobra os olhos da cara por um "simples" sorvetinho de morango, não é de origem européia como muitas pessoas pensam. Haagen Dazs nasceu no Bronx de Nova York. Haagen Dazs é uma marca yankee e não suíça!!!

3. Premiumrize os seus produtos e serviços. Você vive em um mundo repleto de consumidores cheios de dinheiro para torrar, que, quando não o têm, compram mesmo assim. Então, crie um produto ou serviço premium para o seu mercado. Crie algo que ofereça os benefícios paradisíacos que todo(a) cliente sempre sonhou. Cobre caro, sem receio. Uma faixa considerável do seu mercado vai pagar por esse produto ou serviço.

4. Dê um nome apaixonante aos seus produtos. As pessoas estão muito ocupadas para perceber o que está dentro da sua oferta, a não ser que a "cara" do seu produto seja fantástica. Se lançar algum novo produto ou serviço em 2008, pense com paixão na criação do seu nome. O "toró de idéias" (como se diz em Minas Gerais) deve começar a partir dos benefícios que o produto trará aos clientes. Alguns exemplos de nomes fantásticos: Salesforce (software de CRM), iPhone (smart phone), Ecosport (carro), Bazuca (e-mail marketing).

5. Ataque um mercado emergente. 2 milhões de novos usuários de notebooks por ano, mulheres executivas, solteiros, animais domésticos, usuários de iPod, usuários de banda larga, idosos, pequenas empresas, fãs do Harry Potter, roupas para casual day, programadores de Java, classe E, blogueiros, ringtones e outros penduricalhos para celular "ainda" são mercados emergentes. Aproveite!

6. Seja o incubador dos seus próprios filhotes. Uma maneira inteligente de experimentar novos negócios sem gastar muito é incubá-los dentro da sua própria empresa. Defina um líder para o projeto, dê a ele carta-branca para utilizar os recursos da empresa como marketing, vendas, tecnologia, financeiro etc., e pau na máquina. Mantenha-os embaixo das suas asas até que os bichos tenham clientes e talento o suficiente para voarem sozinhos.

7. Encontre a próxima grande coisa. Participe de conferências globais que discutem o futuro do seu mercado, converse com formadores de opinião, cientistas, políticos e sociais, negocie com inventores, participe de eventos sociais, feiras de inovação, patentes e desenvolvimento.

8. Encontre um mentor para você. Todo mundo precisa de interlocução. Encontre alguém disposto a encontrá-lo(a) uma vez por mês para ouvir os seus problemas e ajudar você a clarear as idéias sobre o melhor caminho a seguir na sua empresa ou carreira. De preferência, encontre um mentor em quem você confia e que pensa diferente de você.

9. Crie um produto acessório. A TV digital vem aí: que tal oferecer algum acessório para esse futuro produto arrasa-quarteirões? Que tal fabricar algum acessório para o emergente iPhone?

10. Conquiste as grandes empresas. Seja especialista na oferta de produtos e serviços para uso interno em grandes empresas. Exemplos: cursos de idiomas, cursos técnicos, personal training, serviços de conciergerie, materiais de escritório, instalação de computadores, comunicação interna.

11. Seja uma mãe para as mães. Somente as mães compreendem o que é ser mãe. As mães do mundo precisam de ajuda! Elas precisam de suporte para encontrar os melhores produtos para os seus filhos e para tornar suas vidas mais fáceis. Quem vai ajudar?

12. Distribua para pequenas lojas. O Brasil será um grande País quando for possível encontrar uma grande variedade de produtos nas prateleiras das pequenas lojas espalhadas pelas suas pequenas cidades. Existe uma tremenda oportunidade aqui. O Brasil tem mais de 6 mil cidades e um trabalho de distribuição que ainda deixa muito a desejar.

13. Encontre o seu tempo sabático. O mundo não vai acabar se você largar tudo para esquiar no Chile ou deitar nas areias de Morro de São Paulo. Uma vez por ano, tire uma semaninha relax em algum lugar zen desse planeta.

14. Tenha a sua própria CIA, Agência Central de Inteligência. Faça pesquisas de mercado de todos os tamanhos e formatos possíveis. Entreviste, visite e fotografe clientes. Acompanhe o trabalho da concorrência. Confira o que rola do outro lado do mundo com empresas semelhantes à sua. Leia livros, relatórios e estudos sobre tendências. Mapeie os cabeças-chave entre os seus clientes. Procure saber mais sobre os seus clientes do que sobre a sua própria empresa.

15. Contrate direito ou não contrate. Eu acredito que existam pelo menos 10 milhões de brasileiros dispostos a estudar, trabalhar, se arriscar e se dedicar mais do que a grande maioria. Não contrate pangarés para a sua empresa. Segure a onda até encontrar alguém realmente bom. A empresa está proibida de crescer se não tiver pessoas de talento. Enquanto você não encontrar alguém, não permita o crescimento.

16. Volte a estudar. Nunca pare de estudar. Faça cursos rápidos, assista a palestras, participe de web seminários, troque experiências em fóruns de discussão on-line, leia ao menos 12 livros por ano. 12!!!

17. Não saia de casa sem o seu discurso de elevador. A qualquer momento você pode dar de cara com algum(a) cliente em potencial. Você está preparado(a) para responder a possíveis perguntas que ele(a) tenha? Exemplo: "Por que eu deveria fazer negócios com você?", "O que o(a) diferencia da concorrência X, W e Z?"

18. Permaneça em contato. Invista tudo o que você puder em bancos de dados, softwares de CRM e ferramentas de e-mail marketing. Dispare mensagens com conteúdo relevante 2x por mês. Eduque a força de vendas para criar ofertas personalizadas para os clientes. Seja proativo(a) na comunicação com todos o(a)s clientes da empresa.

19. Compartilhe tudo o que você puder. O europeu médio consome metade da energia elétrica que o americano médio consome — não porque exista menos tecnologia na Europa, mas porque os caras têm outra maneira de encarar a vida: eles compartilham espaço, compartilham comida, compartilham o poder de compra, compartilham experiências, compartilham tempo e compartilham transporte. O segmento de mercado de "compartilhamento de coisas" é uma possibilidade quase virgem no Brasil.

Em 2008, esteja aberto(a) para novas verdades! Vou torcer muito e trabalhar dobrado para que pelo menos seis das suas maiores convicções, verdades e certezas caiam por terra no ano que se aproxima.

Faça parte do segmento de mercado que mais cresce no mundo: as pessoas de bem. NADA MENOS QUE ISSO INTERESSA! QUEBRA TUDO! Foi para isso que eu vim! E você?


*Ricardo Jordão Magalhães é o mentor do movimento Ultra Verdadeiro e propõe a BizRevolution, consultoria empresarial e serviços para o mundo atual


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01 dezembro 2007

MAZELAS DO PAÍS

Educação é a base


Basicamente, podemos afirmar que o sistema educacional brasileiro enfrenta três dificuldades clássicas: gasta-se pouco, mal e de forma errada.

Em primeiro lugar, gasta-se pouco. Por exemplo, enquanto o Brasil (o 72.º classificado de uma extensa lista de 177 países do "Relatório do Desenvolvimento Humano de 2004 da ONU") investiu 4,0% do PIB em educação no período de 1999 a 2001, a vizinha Argentina (o 34.º país) investiu 4,6%. Outro fato é que só 6 países, entre os 20 primeiros colocados, investiram abaixo de 5% — e a Suécia (o 3.º país) chegou a aplicar fantásticos 7,6%.

Assim flui a triste realidade dos países subdesenvolvidos e a origem das distorções impostas pela civilização contemporânea. Enquanto o Brasil aplica US$ 131,61 per capita em educação, a campeã mundial Noruega investe US$ 2.204,71 — ou seja, quase dezessete vezes mais. Se consideramos o exemplo e se o Brasil tiver a pretensão de um dia alcançar a Argentina, precisará triplicar os seus atuais investimentos. Os números são gritantes, as anomalias exageradamente desfavoráveis e nada se fez/se faz para alterar o quadro.

Em 2005, o Brasil gastou R$ 157,1 bilhões em juros com os credores internos e externos, valor equivalente a 8,13% do PIB, apenas para manter as injustas desigualdades, sem conseguir diminuir o valor da dívida. A desesperança aumenta, a tristeza aprofunda-se e a indignação consome a alma, quando descobrimos que, naquele mesmo ano de 2005, foram investidos apenas 16,187 bilhões em educação. Ou seja, por volta de 10% do que se gastou com juros. Como se observa, recursos existem, o que falta é vontade de fazer! Não existe mágica.

Desenvolvimento, qualidade de vida, investimentos e educação são sinônimos que não podem existir separadamente. Mantido o atual quadro, só resta concluir que a diferença entre os diversos países nunca será diminuída, aliás, é certo afirmar que tende a aumentar, a níveis inimagináveis e insuportáveis. Resumo: uma parcela significativa das populações está condenada ao eetrno subdesenvolvimento.

Em segundo lugar, gasta-se mal. Do total investido em educação, cerca de metade se perde no filtro cruel das oligarquias, ou nos meandros escuros e mal-cheirosos da burocracia, antes de adentrarem as salas-de-aula. Falta direcionar melhor os investimentos.

O País optou por pagar salários ridículos aos professores da ativa, em todos os níveis, enquanto permite que um enorme contingente se aposente, muitos no auge da atividade intelectual e alguns com menos de 50 anos. Estas características perversas fazem com que os professores da ativa precisem dar até 240 horas de aula por mês, em salas desconfortáveis, superlotadas, para alunos despreparados e desmotivados, transformando-se em profissionais frustrados, desestimulados, desinteressados, estressados, sem tempo para preparar-se ou dedicar-se, seja à vida pessoal, à família ou à atividade profissional, potencializando as dificuldades.

Falta seqüência aos investimentos. Uma parcela significativa dos investimentos acaba remanejada para prédios suntuosos ou programas espalhafatosos, que serão imediatamente desativados tão-logo assumam os novos governantes, os quais, por sua vez, iniciarão outro ciclo de investimentos inconclusos.

Falta objetividade nos investimentos. Existe um exército considerável de profissionais, altamente qualificados, que, após o Estado investir rios de dinheiro em uma complicada e demorada formação acadêmica, cheia de riscos, depois de estarem preparados intelectualmente, como o País não oferece condições dignas, eles precisam ir trabalhar em outros países.

Isto quando não ocorre caso similar ao do "astronauta brasileiro" — que, imediatamente após sua viagem ao espaço, solicitou aposentadoria. Ridículo o país que isso permite.

Falta clareza nos resultados pretendidos. Apesar da Coréia do Sul (o 28.º país) aplicar menos per capita que a Argentina (o 34.º país) ou que o Brasil (o 72.º país), os seus resultados são melhores e mais significativos. Isso não quer dizer que os investimentos coreanos foram menores, uma vez que lá, parte foi realizada pela iniciativa privada, não contabilizada pela pesquisa.

Por fim, em terceiro lugar, gasta-se errado. Uma parcela significativa dos escassos recursos destina-se ao ensino superior e é absorvido por universidades elitistas, com alguns projetos mirabolantes e, o restante, de resultado despretensioso. Quase todas cercadas de funcionários insatisfeitos, mal-remunerados, trabalhando em péssimas condições profissionais, vivendo longos e inaceitáveis períodos de greves e produzindo o mínimo, sem um objetivo definido e contribuindo para a formação de profissionais que se frustrarão, pelo fato do mercado rejeitá-los.
Somente países que apostaram no ensino fundamental universalizado, de qualidade, invertendo maciças transferências, realizadas de forma correta e sistemática, conseguiram sucesso e superaram o anacrônico subdesenvolvimento.

Nestes Estados vencedores, as crianças são obrigadas a estudar, no mínimo, 12 horas por dia, em ambientes com infra-estrutura adequada, assistidas por professores motivados.

Na outra ponta, o ensino superior foi relegado a universidades subsidiadas e bancadas por empresas privadas, que sabem exatamente o que pretendem dos futuros profissionais. Com isso, elas só sobrevivem através de fartos incentivos fiscais e de pesquisas úteis, direcionadas especificamente para os mercados ascendentes locais. Para atender aos objetivos formulados, além da necessária e indispensável eficiência administrativa, esses países valorizaram os professores, de forma que a categoria passou a ser reverenciada como a mais eminente e respeitada.

O Estado se tornou vetor, promovendo olimpíadas de Matemática, competições de Informática e concursos literários, forçando o permanente acirramento da competição entre alunos, professores, escolas e cidades. Tudo passou a girar em torno da instituição Escola, de forma que não existe nada mais valorizado e referenciado do que o ensino.

Nesses países, vencedores, a educação passou a definir quem serão os cidadãos reconhecidos e privilegiados com as melhores oportunidades, salários e qualidade de vida. A sociedade encontrou, na escola, um instrumento fundamental para a ascensão humana. Estas dificuldades encontram-se retratadas no "Relatório do Desenvolvimento Humano de 2004".

Mais uma vez fica evidente que o Brasil permanece na contra-mão da História, ou seja, não consegue atender às necessidades mínimas exigidas pela economia globalizada. O jovem brasileiro entra para o mercado de trabalho despreparado, com uma escolaridade média de apenas 6 anos (enquanto a força de trabalho, considerando todas as idades, é de 4 anos e meio).

Já nos países desenvolvidos, esta média ultrapassa 11 anos e, nos demais, em desenvolvimento, supera 8 anos. O maior desafio continua: como melhorar o ensino, principalmente o básico, de forma a produzir mudanças substanciais na qualidade do aprendizado das crianças?

As escolas públicas precisam se transformar em prioridade nacional. O ensino básico precisa formar os adolescentes para que sejam capazes de competir pelas vagas das melhores universidades — e, futuramente, pelos melhores empregos.

O Estado tem que garantir um ensino superior de qualidade, apenas para quem se destaca no ensino fundamental, eliminando o vestibular elitista e premiando uma análise que contemple todo o histórico escolar do candidato, independente de credo, cor, raça e, principalmente, da sua condição econômica. Não deve cair na tentação de privilegiar as minorias sem competência. As distorções precisam ser enfrentadas e vencidas.

As comunidades precisam se envolver, de forma a encontrarem as próprias soluções. Hoje é comum a notícia de professores agredidos, com carros roubados, gangues organizadas dentro das classes, tráfico de drogas, alunos bêbados ou armados, sem que a sociedade compreenda que é ela mesma a única responsável. Estes problemas tornaram-se um reflexo perverso da desconsideração com relação ao ensino, exatamente, pelo fato de ninguém reconhecer a escola como uma porta segura, capaz de proporcionar a imediata ascenção social.

A Escola precisa voltar a ser o local onde a sociedade encontra a cidadania, excluído o patrulhamento policial em uma sociedade na qual todos estejam aptos, por meio da educação que receberam, para realizar uma vigília moral coletiva.

Em cada um dos dintintos estágios da vida as pessoas nascem, crescem, se desenvolvem, produzem, se reproduzem, envelhecem e morrem. Em todos eles ocorrem distintas atividades intelectuais, responsáveis por diferenciar um dos outros.

Sempre existiu quem, ao atravessar as mesmas etapas, deixou marcas profundas, alterou a sociedade e legou valores dignos que precisam ser expostos e reverenciados. Assim, no palco da vida, lembramo-nos do cearense de Ipu Delmiro Gouveia (1863-1917): ele claramente percebeu que os homens tornam-se livres quando escolhem, por si, os próprios destinos. Entre outros notáveis que também assim concluíram, ele entendeu que isso só seria possível pela educação.


*Alberto Cosme Gonçalves é engenheiro civil e escritor. Adaptação de excerto de seu livro inédito Delmiro Gouveia: era uma vez no sertão... previsto para ser lançado em maio de 2008 durante as comemorações dos 80 Anos do jornal O POVO

** Imagem: queda d'água (Bica) do Ipu/CE



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28 novembro 2007

A MIS HERMANOS

Mutatis mutandis



Un árbol derribado no es un árbol: es un río,
Que crece entre los hombres.


Un río que crece entre los hombres no es un río: es un sueño,
Que en los días de Verano se desborda sobre tu tierra seca.


Y un sueño que en los días de Verano se desborda sobre tu tierra seca no es un sueño:
Es la hoguera en la que, por un tiempo,
Ha de temblar tu delicioso cuerpo.


Pero la hoguera,
En la que por un tiempo ha de temblar tu delicioso cuerpo

No es, como supones, una fuente.


Es tan sólo árbol, un río, un sueño
Que te dicen inutilmente que sí,


Que es mentira,
Que no lo volverás a hacer.




*Hildebrando Pérez Grande é poeta, professor universitário, jornalista e editor, nascido em Lima (Peru) em 1941. Declamou seus versos na abertura da I Feira de Livros de Cabo Verde (Claridade na Terra da Luz) em Fortaleza/CE, em 27/11/07











25 novembro 2007

FELICIDADE EXISTE?!?

Bergman e o espelho da angústia contemporânea


Foi em sua terra natal que Bergman ajustou os focos de suas lentes para produzir uma visão transcendental. Morreu no dia 30 de julho último aos 89 anos na ilha de Faaro, território sueco no Mar Báltico, documentado pelo cineasta em 1969 como um média-metragem. Cidadão de Upsala, nascido num dia histórico para a humanidade — o 18 de Brumário da Revolução Francesa, explicado pelo filósofo Karl Marx como um coup d'État —, Ernst Ingmar Bergman (1918-2007) era filho de um pastor luterano.

Do luteranismo amargou uma criação autoritária, baseada em conceitos relacionados ao pecado, confissão, castigo, perdão e indulgência. Em sua autobiografia Lanterna mágica, Bergman faz relatos impressionantes. Sempre que contava uma mentira recebia castigos constrangedores, como “desfilar vestido de menina ou ser trancafiado num armário”. É nesse período que vivencia sentimentos como vergonha ou humilhação, tão explorada em seus filmes.

A iniciação profissional do diretor deu-se através de um dos patriarcas do cinema sueco, Victor Sjöstrom (homenageado por ele em Morangos silvestres / Smultronstället, Suécia 1957), em que Sjöstrom interpreta o protagonista que perde a noção da memória face à iminência da morte. Mas também o levou à Universidade de Estocolmo. Em 1941, iniciou sua carreira no teatro com Morte de Kasper. Seu sucesso o levou a tornar-se revisor de roteiros de cinema, até que um dia trocou uma de suas revisões por um texto próprio, A tortura do desejo, entregue ao diretor Alf Sjöberg — o qual abriu-lhe as portas para a Sétima Arte.

Esta pode ser fundamental com respeito ao resto da cultura, porque cultura é a reunião das asserções de conhecimento e a arte, em particular a cinematográfica, adjudica tais asserções. Enquanto práxis, aparece como a tentativa de ratificar ou desbancar asserções de conhecimento feitas pela ciência, moralidade, ou religião. A arte pode fazer isso porque, “em si”, no sentido hegeliano do termo, com os recursos tecnológicos, estéticos e artísticos que lhe são comuns apresenta condições e possibilidades “para si” destes fundamentos, num estudo do homem através de “processos mentais” ou da atividade de representação — os quais, desse ponto de vista, tomam a sociedade como espelho reflexivo da cultura, que por sua vez torna o conhecimento possível.

Conhecer, então, é representar acuradamente o que está fora da mente. Assim, compreender a possibilidade e a natureza do conhecimento é compreender o modo pelo qual a mente é capaz de construir tais representações.

Bergman leu Kierkegaard e Kierkegaard leu o último Hegel (o da Phänomenologie des Geistes, 1807), um Hegel que exalta o sacrifício da felicidade individual e geral que daí resulta, ou da angústia (como observou o filósofo Jean Wahl no conhecido texto Le malheur de la conscience dans la 'philosophie de l'Esprit' de Hegel / Paris: PUF-Presses Universitaires de France, 1951).

E, se todo o pensamento de Kierkegaard é desenvolvido a partir do seu íntimo (tal como também ocorre com Bergman), é porque decorre de uma escolha consciente do pensador “por si próprio”. Apesar disto, o filósofo experimenta os valores da tradição ou da “moda” filosófica de seu tempo, mas é, sobretudo em sua existência que Kierkegaard encontra elementos por ele considerados importantes para embasar a construção de seu pensamento. Com uma vida conturbada e grandes alternativas se descortinando, o resultado de sua filosofia é uma novidade muito mais de acordo com suas próprias experiências do que com outros sistemas anteriores a seu tempo.

Das influências que recebe, parte de um conceito amplamente utilizado por Sócrates — o de ironia. Kierkegaard considera Sócrates como “precursor e patrono da filosofia da existência” (conforme Pierre Mesnard, em Kierkegaard, Lisboa: Edições 70). Daí o “paradoxo de conseqüências não-intencionais” (para lembrarmos Max Weber), devido ao fato de que, se sua obra é obtusa, Bergman, de outra parte, está em dia com questões como a incomunicabilidade e a efemeridade, tão caras também a cineastas como Michelangelo Antonioni (de Blow-Up / Depois daquele beijo, Inglaterra/Itália, 1966) ou Federico Fellini (de Amarcord, Itália/França, 1973), que às vezes o aproximariam de um bom-humor imprevisível como em Sorrisos de uma noite de Verão (Sommarttens Leende, Suécia, 1955), que retrata uma comédia romântica, verdadeira ciranda de paixões inspirada na peça de Shakespeare (assim reconhecido pelo Festival de Cannes em 1955).

Responsável pela projeção internacional definitiva do cineasta, o filme inspirou um musical de grande sucesso na Broadway e ainda Sonhos eróticos de uma noite de Verão, do iconoclasta Woody Allen, mas também a eroticidade angustiante dos filmes de Walter Hugo Khouri, como As amorosas (Brasil, 1968) e Corpo ardente (Brasil, 1966) para ficarmos nestes exemplos.

Além disso, para o que nos interessa, Kierkegaard era profundo conhecedor de obras clássicas. Entre as fontes que o influenciavam estavam as belas-artes, a filosofia clássica e moderna, a teologia etc. Pode-se perceber em sua obra um pensamento reflexivo bastante abrangente, fruto desta sua diversidade de fontes, abrangência cujo objetivo é confrontar as idéias, os fatos, as experiências à luz do cristianismo — que é, para ele, uma "consciência moderna".

Seu pensamento baseia-se em sua cultura incomum e nos complexos sentimentais profundos. Através “de si” e de seus problemas, quer encontrar uma explicação para a (sua) existência. Mas não bastava para Kierkegaard analisar o conteúdo da consciência para se encontrar aí uma filosofia da existência. Tem-se, também, que ter idéias e, entre estas, tem-se que estabelecer uma dialética. É através desta dialética que Kierkegaard percebe os estágios da existência: estético, moral e religioso.

É então que se pode perguntar: "Quem é feliz realmente?" e "Dos que buscam o prazer, o mais feliz não será aquele que não experimentou felicidade alguma?" Terá o homem que empenhar, pois, toda a força para manter a vida conjugal. A partir desta consciência de vida ética, começa a aparecer no pensamento de Kierkegaard sua traumática experiência amorosa e a dificuldade em entender e relacionar-se com o sexo feminino.

Para ele, a manutenção da vida conjugal — característica essencial da ética — será dificultada ao homem pela presença feminina que, para o filósofo, tem enorme dificuldade de se situar em uma relação definida. Kierkegaard vai ainda mais longe: para ele, a mulher situa-se naturalmente no estágio estético (onde, aliás, ela é objeto de desejo em última instância), mas a plena revelação da mulher só será possível no estágio religioso.

Como apelo à subjetividade profunda, o estágio religioso pratica uma devoção ao "Deus que não aparece" e comunica-se através do silêncio que provém desta relação: isto nos faz perceber que os dois primeiros estágios são mais populares do que o terceiro. Kierkegaard entendia que os estágios estético e ético não podiam existir sem o estágio religioso. Em outras palavras, o religioso estava presente tanto no estético quanto no ético.

O religioso é um estágio conseqüente, pois é a partir da desordem dos estágios inferiores que se tem a possibilidade de encontrar a realidade superior da vida religiosa. Nesta sua escolha pela vida religiosa solitária, Kierkegaard foi conduzido a uma crise com os oficiais da Igreja Luterana (igreja oficial da Dinamarca). O filósofo compreendeu que acontecia, em seu tempo, a descristianização do mundo. Sua luta solitária, contra pastores e bispos oficiais preocupados com suas carreiras eclesiásticas, aumentará o seu sofrimento e o fará alvo das chacotas populares, aumentando, a cada dia, sua solidão.

Tal solidão no sofrimento torna-se o centro da meditação de Kierkegaard — e, por extensão, de Bergman, que, no plano cinematográfico, desenvolve a partir da solidão e do sofrimento o sentido da subjetividade e da existência que vêm do seu interior.
No filme Cenas de um Casamento (Scener ur ett äktenskap, Suécia, 1973, com Liv Ullman, Erland Josephson e Bibi Andersson), Bergman realiza uma das mais contundentes análises feitas pelo cinema sobre os encontros e os desencontros do matrimônio. É um apaixonante e digno estudo sobre um casamento em desintegração e o relacionamento daí decorrente, fora do que até hoje existe e já foi produzido na e pela indústria hollywoodiana a respeito.



*Ubiracy de Souza Braga é sociólogo, cientista político e professor da Coordenação do Curso de Ciências Sociais da UECE-Universidade Estadual do Ceará


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14 novembro 2007

ECOSSOCIALISMO

Ecologismo dos Pobres?


“Do ponto de vista de uma formação socioeconômica mais avançada, a propriedade privada dos indivíduos na Terra parecerá tão absurda como a propriedade de um homem sobre outros homens. Mesmo uma sociedade inteira, uma nação, ou mesmo todas as sociedades existentes num dado momento, em conjunto, não são donos da Terra. São simplesmente os seus possuidores, os seus beneficiários, e têm que a legar, num estado melhorado, para as gerações seguintes, como boni patri familias (bons pais de família).” Karl Marx, em O Capital


John Bellamy Foster, autor de um dos livros mais importantes para os ecossocialistas (A ecologia de Marx, materialismo e natureza, Civilização Brasileira), em artigo recente, intitulado A ecologia da destruição, chama-nos a atenção para o fato de que “é uma característica da nossa época que a devastação global pareça sobrepor-se a todos os outros problemas, ameaçando a sobrevivência da Terra como a conhecemos”.

A grande repercussão do quarto relatório do IPCC-sigla em inglês do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU-Organização das Nações Unidas, em que milhares de cientistas de quase todo o planeta não só constataram a relação direta entre fenômenos climáticos intensos decorrentes do aquecimento global — com a emissão dos chamados GEE-gases de efeito estufa pelas atividades industriais, energéticas e agrícolas —, mas também apontaram projeções catastróficas para este século caso não haja drástica mudança na matriz energética e no padrão de consumo, deu foros de cientificidade ao documentário Uma verdade inconveniente, do ex-vice-presidente estadunidense Al Gore, que recebeu o Oscar em 2007 e também, juntamente com o próprio IPCC, o prêmio Nobel da Paz.

Portanto, com exceção da minoria dos chamados “céticos”, entre os quais figuram cientistas sérios como o brasileiro Aziz Ab'Saber e organizações bancadas pelo governo Bush e pelas grandes indústrias de petróleo e carvão mineral no mundo, há uma ampla maioria de representantes da comunidade científica (e aqui perfilam-se brasileiros como José Goldenberg, Carlos Nobre e Luis Pinguelli Rosa), dos movimentos ambientalistas, de governos e até de setores empresariais que, a partir dos dados do IPCC, procuram encontrar saídas para a crise planetária, manifestada hoje pelo aquecimento global que ameaça a vida na Terra.

Abram-se aqui parênteses para aduzir que a aposta que os céticos — em sua versão séria e não comprometida com os interesses do capital petroleiro e mineiro — fazem é uma aposta perdida, em suas duas possibilidades: se eles estiverem errados (quando afirmam que o fenômeno do superaquecimento é natural e que as previsões do IPCC estão equivocadas), podem, de forma involuntária, estarem contribuindo com o lobby das grandes corporações petrolíferas e mineiras, impedindo a mudança do padrão energético para as fontes renováveis e serem co-responsáveis pela catástrofe que se prenuncia. Por outro lado, se estiverem certos (contrariando o amplo consenso científico alcançado depois de quase 20 anos de IPCC), estão atrasando a nossa evolução para a despoluição do planeta.

Ou seja, ainda que, numa hipótese quase absurda, não esteja ocorrendo o aquecimento provocado pelas atividades humanas, o alerta do IPCC, no mínimo, questiona o modo de produção e o modo de vida humana no planeta e nos induz a mudanças profundas e necessárias.

Vou apenas listar, em parte, o extenso e impactante elenco de fenômenos climáticos e suas resultantes sobre a vida no planeta, já amplamente divulgados na imprensa, como o acréscimo da temperatura média da Terra, o derretimento das geleiras e calotas polares, a desaparição de espécies, a subida do nível do mar, a desertificação e seus impactos sobre a humanidade, que poderá conviver — aliás, já está convivendo — com os chamados “refugiados ambientais”, vítimas de enchentes, tornados, secas, furacões, que, nos últimos tempos, têm atingido populações tão diversas como as asiáticas, as das pequenas ilhas do Pacífico ou, mesmo, nas terras do império americano, com o furacão Katrina, em New Orleans, e o incêndio que devastou a Califórnia nos últimos dias.

Em nosso País — quarto maior emissor de GEE, em face das queimadas e desmatamentos de nossas florestas —, o que se prenuncia é gravíssimo. Se, em todo o planeta, no próximo século, ultrapassarmos a linha perigosa de acréscimo de 2ºC na temperatura média da terra, metade de nossa Floresta Amazônica (a mais importante cobertura vegetal tropical do planeta) se transformará em savana, causando profundo impacto não só à temperatura da Terra, como no regime de chuvas em todo o Hemisfério Sul. Para o Nordeste brasileiro, as previsões não são menos sombrias. Nosso semi-árido, que, mais uma vez, convive com uma estiagem prolongada, se transformaria em região árida, num quase deserto, sem água e sem produção agrícola.

Estaríamos diante do Apocalipse? Paulo Artaxo, um dos cientistas brasileiros do IPCC, tenta nos tranqüilizar: “O aquecimento global não é o fim do mundo, de jeito nenhum”, mas adverte: “Um dos pontos cruciais do relatório do IPCC é a urgência da diminuição da emissão dos gases do efeito estufa. Se não fizermos isso, a temperatura pode subir de forma a trazer danos para os ecossistemas e zonas costeiras sem precedentes na História da Humanidade”. Para ele – e o IPCC – esse corte deveria ser em torno de 50% a 70%. (revista Caros Amigos, edição especial: Aquecimento global, a busca de soluções)

Ora, a necessidade imperiosa da redução na emissão de GEE na escala de 50% a 70% torna o Protocolo de Kyoto (que, todos sabemos, não foi assinado nem pelos EUA, primeiro ou segundo maior emissor de CO2, nem pela Austrália, uma das maiores exploradoras de carvão mineral) uma iniciativa absolutamente obsoleta e inócua. Recordemos: Kyoto propõe, apenas para os países em desenvolvimento (principais responsáveis pelo aquecimento), o corte de somente 5% (nos níveis de 1990) para até 2012. Brasil, Índia e China, entre outros — que, dado seu crescimento econômico vertiginoso já teria ultrapassado os EUA e que tem na base de sua matriz energética o combustível de maior poluição, que é o carvão mineral — não são obrigados a cumprir metas de redução.

Todo este debate não se refere, por óbvio, apenas a números. Aqui trata-se , em primeiro lugar, da tentativa de se compatibilizar a urgência urgentíssima na diminuição drástica de emissão de CO2 e outros GEE para a atmosfera, com o direito e a necessidade de países pobres se desenvolverem e atenderem aos direitos e necessidades de sua população.

Como atender tais necessidades sem tocar no padrão de vida e consumo das classes médias e altas tanto no Hemisfério Norte (onde são majoritárias) como no Hemisfério Sul (onde são minoritárias)? Já gastamos 25% a mais do "capital natural" da Terra e seria preciso que tivéssemos pelo menos quatro planetas Terra para que todos alcançassem o nível de vida do chamado American way of life. Uma nova “utopia” — sustentabilidade ambiental, igualdade social e desenvolvimento econômico em escala planetária — seria possível na atual configuração geopolítica mundial, onde o poder destrutivo da indústria armamentista, petrolífera e minerária materializa-se em governos como o de Bush, senhor das guerras no mundo?

É possível superar a atual crise nos marcos do sistema capitalista? Nas palavras, mais uma vez, de Foster: “Como é que isto se relaciona com as causas sociais e que soluções sociais podem ser oferecidas em resposta tornaram-se as questões mais urgentes com que a humanidade se defronta”. Este debate situa-se, portanto, no campo da chamada “Ecologia Política”, — que, na compreensão de Joan Martinez Alier, estuda “os conflitos ecológicos distributivos — isto é, os conflitos pelos recursos ou serviços ambientais, comercializados ou não”. Para ele, a Ecologia Política é “um novo campo nascido a partir dos estudos de caso locais pela Geografia e Antropologia rural, hoje estendidos aos níveis nacional e internacional”, afirma em O ecologismo dos pobres (Editora Contexto). Só a Ecologia Política, juntamente com a Economia Ecológica, para nos desvendar as causas da crise e apontar as soluções acima reclamadas por Foster.

Carlos Walter Porto-Gonçalves, um dos mais atilados ecologistas políticos da atualidade, nos situa, de forma ainda mais precisa, na atual crise planetária, quando afirma que “o desafio ambiental coloca-se no centro do debate geopolítico contemporâneo, enquanto questão territorial, na medida em que põe em questão a própria relação da sociedade com a natureza, ou melhor, a relação da humanidade, na sua diversidade, com o planeta, nas suas diferentes qualidades”. (em O desafio ambiental, Editora Record)

Para ele, há contradições profundas entre a economia capitalista e a dinâmica ambiental. A separação — “a mais radical possível”, em suas palavras — entre homens e mulheres, de um lado, e a natureza, de outro; a apropriação privada dos recursos ambientais, em que tudo é transformado em mercadoria; o “princípio da escassez”, pelo qual um “bem só tem valor econômico se é escasso”, são absolutamente contraditórios com a visão ecológico-ambientalista de riqueza natural. Vejamos, em suas próprias palavras:

"Os economistas modernos vão fundar a economia no conceito de escassez, que, paradoxalmente, é o contrário da riqueza. Tanto é assim que os bens abundantes — idéia central da riqueza — não são considerados como bens econômicos e, sim, como naturais (...) Somente à medida que água e ar se tornam escassos — com a poluição, por exemplo — é que a economia passa a se interessar em incorporá-los como bens no sentido econômico moderno, isto é, mercantil”.

Esta distinção entre riqueza natural — objetivo maior de todos os movimentos ecológicos — e riqueza material — que advém da escassez e, para deleite do sistema mercantil, transforma os bens ambientais em mercadoria — também é tratada por Foster, em outro belo texto, chamado Revolução ecológica, onde se vale do filósofo grego Epicuro, que declarava: "Quando medido pelo propósito natural da vida, a pobreza é uma grande riqueza, e a riqueza ilimitada é uma grande pobreza".

Portanto, para Foster, “o livre desenvolvimento humano, surgindo num clima de limitação e sustentabilidade naturais, é a verdadeira base da riqueza, de uma riqueza para a existência multilateral. A busca sem limites de riqueza é a fonte primária do empobrecimento e sofrimento humanos. É desnecessário dizer que tal preocupação com o bem-estar natural, em oposição a necessidades e estímulos artificiais, é a antítese da sociedade capitalista e a pré-condição de uma comunidade humana sustentável”.

Assim, é plenamente justificável afirmar que, sob o capitalismo, não há possibilidade de superação da atual crise planetária, o que nos permitiria atualizar, como quer Michel Löwy, outro grande expoente atual do Ecossocialismo, a consigna de Rosa Luxemburgo para Ecossocialismo ou barbárie.

Ora, afirmar esta contradição fundamental entre o sistema capitalista e uma nova forma de organização sócio-político-econômica fundada na sustentabilidade e justiça ambiental, na igualdade social e, também, claro, na democracia política em suas formas mais avançadas de participação popular não é suficiente, por si só, para os ecossocialistas. Diz Löwy: “É preciso começar a construir esse futuro desde já. É necessário participar de todas as lutas, inclusive das mais modestas, como, por exemplo, a de uma comunidade que se defende contra uma empresa poluidora ou a defesa de uma parte da natureza que esteja ameaçada por um projeto comercial destrutivo. É importante ir construindo a relação entre as lutas sociais e as ambientais, pois elas tendem a concordar, unidas ao redor de objetivos comuns.” (em Ecologia e socialismo)

É este campo, o das lutas sócio-ambientais, que reclama a presença dos ecossocialistas. Aqui no Brasil, e no Ceará, poderíamos listar as lutas das comunidades costeiras contra o turismo predatório e a criação de camarões em cativeiro, a resistência contra os grande projetos hidrelétricos dos atingidos por barragens, o movimento que reúne os sem-terra, agroecologistas, defensores de consumidores e ambientalistas contra a adoção de sementes transgênicas, a luta de populações locais contra a ampliação das usinas nucleares, a resistência de índios e pequenos agricultores no embate contra a transposição das águas do Rio São Francisco, a articulação dos povos da floresta — índios, quilombolas, seringueiros e ribeirinhos — contra o avanço do agronegócio do gado e da soja na Amazônia Brasileira, a luta das mulheres camponesas contra o exército verde da monocultura do eucalipto, o enfrentamento dos ecologistas e urbanistas com a especulação imobiliária nas grandes metrópoles etc.

Aqui, estamos diante do que Martinez Alier denomina de “ecologismo dos pobres” ou “ecologismo popular”, que, nas palavras do autor, tem como eixo fundamental o interesse pelo meio ambiente como “fonte de condição para a subsistência” e como fundamento ético “a demanda por justiça social (e ambiental, acrescentaria) contemporânea entre os humanos”. Esta corrente do movimento ambientalista, por lutar “contra os impactos ambientais que ameaçam os pobres, ampla maioria da população em muitos países” tem uma presença muito forte nos países do Hemisfério Sul (no antigamente denominado Terceiro Mundo).

As lutas com tais características — sócio-ambientais, do ecologismo popular — têm importância fundamental não só para os ecossocialistas, mas para o futuro do planeta. Há nelas uma resistência que, partindo da luta concreta por direitos humanos básicos de moradia, cultura, de modo de vida e de produção, e, também, pelo ambiente saudável, questiona os fundamentos não só do atual modelo econômico, mas, em última análise, investe contra as bases do próprio modo de apropriação privada do sistema capitalista, responsável pelo atual estágio de degradação do ambiente planetário. Nessas comunidades, contrapõem-se não só interesses materiais, mas formas de vida e produção antagônicas.

Portanto, neste momento (mesmo que ainda de forma não-articulada), podem se estar forjando, além das alianças sociais fundamentais para esse processo de transformação urgente e necessário — a Revolução Ecológica —, também as bases sócio-econômico-ecológico-cultural-ético-políticas de uma nova sociedade, que se qualifique para poder superar a atual crise ambiental global para se tornar, a um só tempo, ecologicamente sustentável, socialmente justa e igualitária, cultural e etnicamente diversa, e política e radicalmente democrática: a sociedade ecossocialista.

Estaremos à altura deste imenso desafio?


*João Alfredo Telles Melo é advogado, professor de Direito Ambiental e consultor de Políticas Públicas do Greenpeace


(a imagem acima retrata os Cavaleiros do Apocalipse: Fome, Guerra, Morte e Dor, como apresentada em www.gnosisonline.org/Fim_dos_Tempos/images/apocalipse1.gif )


SAIBA MAIS
www.greenpeace.org.br/transgenicos/?conteudo_id=3232&sub_campanha=0

27 outubro 2007

INSCRIÇÕES ABERTAS

O empresário



Quando garoto em Bauru/SP, eu ia com meus pais aos eventos sociais e sempre admirava os amigos deles. Um era médico. O outro advogado. Outro era juiz. Tinha o professor, o industrial e o engenheiro. Mas tinha uma categoria que me deixava curioso: o empresário.

O termo “empresário”, para mim, sempre teve uma conotação positiva. Nunca foi substantivo, sempre foi adjetivo. Dava a entender que a pessoa era séria, tinha responsabilidades, fazia acontecer. Eu nunca entendi o que seria exatamente um empresário, mas em minha cabeça de garoto a definição acabou sendo simples: "— Ele tem uma firma".

Uma firma! Então empresário era o "dono da firma". E assim cresci, sonhando em um dia ser um empresário, ter a minha firma. A vida acabou me levando para outros caminhos e construí minha carreira como executivo de uma multinacional. Não virei empresário, mas tenho vários amigos que o são. A definição de empresário é: "Indivíduo que estabelece seu próprio negócio, assumindo os riscos e tendo como objetivo a obtenção de lucros".

No Código Civil, encontramos a definição no Artigo 966: "Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços." Portanto, a princípio qualquer um pode ser empresário. O negócio pode ser uma lanchonete. Uma casa de tolerância. Um templo. Uma lavanderia. Um serviço de acompanhantes. Uma boca de fumo. Qualquer negócio dá ao dono o rótulo de "empresário".

Outro dia encontrei um dos meus amigos empresários, o Raul, em plena crise existencial. O Raul enchia a boca dizendo que fazia parte de uma das categorias responsáveis por levar o Brasil pra frente, criando empregos, pagando impostos, movimentando a economia. E isso o enchia de orgulho. Quando chegava aos hotéis, preenchia a ficha de entrada com capricho, escrevendo "empresário" com letras maiúsculas. Mas um dia o Raul começou a prestar atenção às notícias.

Viu o Fred Godoy, aquele secretário do Lula. É empresário. O Silvinho “Land Rover”. Empresário. O Marcos Valério, empresário. Renan Calheiros, em sua versão vaqueira, é empresário. O Lulinha é empresário. O Oscar Maroni Filho, dono do Bahamas, é empresário. Uns pastores aí são empresários.E, pra piorar, um curioso movimento começou a incomodá-lo.

Os empresários verdadeiros começaram a ser considerados exploradores, sonegadores, aproveitadores. E o xingamento supremo chegou: "elite". No Brasil de hoje, ou “nestepaíz”, ser empresário é quase-crime. Principalmente se o sujeito é um empresário bem-sucedido. Lucro é sinônimo de butim... Pronto. O Raul entrou em crise. Passou a ter vergonha de ser identificado como empresário.

Está inconformado. Não quer mais ser empresário. Seu sucesso agora é uma mancha. Sua categoria virou rótulo de bandido. Sente-se persona non grata. Não quer ser colocado no mesmo saco daqueles outros “empresários”. Está sofrendo uma crise de identidade. E me disse, tristonho: — Pô, devia ter vestibular pra empresário.

Pois para ajudá-lo, lançarei a “EmpreZONA”, uma certificação para classificar empresários. A EmpreZONA terá quatro categorias:
1) O empresário-de-ouro, para os que cumprem suas obrigações, causam impacto positivo na sociedade e têm consciência da influência que exercem sobre a comunidade onde atuam;
2) O empresário-de-prata, para os que cumprem as obrigações e têm bom desempenho, dentro do esperado;
3) O empresário-de-bronze para os que estão organizados e empenhados em contribuir, mas apenas começando. E por fim...
4) Os empresários-de-merda. Não precisa explicar, né?

Para concorrer às três primeiras categorias, mande-me um e-mail candidatando-se. Mas para concorrer à quarta categoria tem que pegar senha. A procura será grande...


*Luciano Pires é um profissional de Comunicação: jornalista, escritor, palestrante e cartunista
luciano@lucianopires.com.br

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LIDERANÇA DE EMPRESAS EXTRAORDINÁRIAS (3)

Lembrando Canudos


O objetivo desta série de artigos é responder a duas perguntas: o que é uma "empresa extraordinária" e se o Brasil tem lideranças habilitadas a conduzir esta vitoriosa organização. Desta vez, abordarei alguns fundamentos de sua construção. Indiscutivelmente, um dos primeiros tijolos (o mais importante) na arquitetura deste tipo de empresa é dispor de uma elite de liderança e gestão. Empresa ou grupo empresarial possuidor de um quadro diretivo de altíssima categoria não quebra, a não ser por surpresas totalmente imprevisíveis.

Com um comando competente, tem a possibiçlidade de continuar e até se perpetuar na sociedade e no mercado. O conceito de elite de gestão nada tem a ver, porém, com o nível social, econômico, acadêmico ou de titulação — e sim com o talento de personalidades do gestor.

Ampliando este conceito, feliz a nação possuidora de uma governança corporativa integrada por indivíduos possuidores de características pesoais notáveis, apresentando uma elevada performance. Infelizmente, a governança corporativa no Brasil, com exceção, está se transformando num ajuntamento de amigos, cupinchas, curriola, recrutados em função dos laços de amizade, de experiências passadas, quando um dos fatores prioritários é a independência destes homens e a sua profunda formação intelectual, cultural, ética e de sabedoria de vida, enfim, que sejam verdadeiros estadistas na liderança do empreendimento.

Para reforçar as distorções das governanças corporativas, inexistem no Brasil centros de excelência formando e desenvolvendo esse imprescindível segmento de condução do negócio, enquanto pontificam uns cursinhos superficiais caça-níqueis. O País revela ainda um baixíssimo nível de escolaridade. Idem de leitura, como demonstraram pesquisas relatadas na 19.ª Bienal Internacional do Livro realizada em São Paulo/SP: raros brasileiros lendo mais de dois livros/ano, enquanto em Paris a média de leitura anual é de 15 a 20 livros.

Ademais, é ínfima a atividade cultural, quase toda concentrada no eixo RJ-SP. E, quanto às experiências dos conselheiros, predominam as do cotidiano das organizações, mesmo porque o brasileiro tem resistências em circular pelo mundo, internalizando vivências de vida. Talvez até por condicionantes geográficos, tem uma vocação de se voltar para dentro de si mesmo, enterrado nas fronteiras nacionais.

Esses indicadores negativos se refletem prejudicialmente nas empresas, daí a precariedade das governanças corporativas, que vão beirando o fracasso total, mesmo sendo estas um dos pilares importantíssimos na edificação e, principalmente, na liderança das empresas extraordinárias.

Outros ingredientes deste tipo de organização são doutrina e estratégia. A doutrina compõe um conjunto de crenças, valores e ideologias sedimentadas ao longo dos anos que, proporcionando à organização uma orientação ideológica institucionalizada, dá ao empreendimento uma personalidade adulta e permite ao negócio andar com os próprios pés.

Uma empresa sem doutrina tem vida curta e se conduz de forma desorientada, ao sabor das circunstâncias. No Brasil, essa doutrina repousa pobremente na cabeça dos acionistas, dos donos do poder, tornando-se algo personalista. Diferentemente do que ocorre, por exemplo, no âmbito da Igreja Católica, dotada de uma doutrina responsável pela sua trajetória de milhares de anos na Terra, apesar de determinadas falhas de gestão.

A empresa, ao usufruir de uma doutrina, chega ao ponto de dispensar os gestores tradicionais concentrados nas coisinhas, controlando a força de trabalho para executar tarefas e atribuições. A doutrina, por sua vez, gera uma cultura, ambas contribuindo para a organização ter uma personalidade mais definida.

Quando isso ocorre, o empreendimento torna-se mais sólido. A Al-Qaeda, organização terrorista liderada por Bin Laden, espalha-se por vários países e funciona normalmente e com eficácia sem necessitar de ser cutucada pelos dirigentes.

A estratégia (não confundir com os obsoletos planejamentos estratégicos) são caminhos inteligentes formulados pela cúpula da organização, visando objetivos de longo prazo. No Brasil, predominam as reuniões de fim de ano, cuidando do orçamento, do dinheiro disponível no caixa para a empresa operar no ano seguinte. Não é inerente à cultura nacional a postura estratégica.

Nem o Ministério do Planejamento apresenta uma proposta estratégica para o Brasil sequer a médio prazo, isto dito a mim por um ex-ministro. A estratégia aqui ressaltada seria como na China, onde o falecido Deng Xiaoping, genial arquiteto do progresso chinês, costurou metas ambiciosas de 100 anos à frente. Em torno desta arquitetura futura, antes de morrer o líder Deng conseguiu mobilizar a sociedade chinesa na busca de construir sua invejável caminhada, definindo habilmente o destino daquele país.

Como o Brasil não cultiva o hábito de se direcionar sob uma roupagem estratégica, uma das resultantes desta distorção é o parque empresarial ser tocado ao sabor das instabilidades, tornando-se passivo de ser punido pela História e pelas circunstâncias, evidenciando a carência local de um projeto de futuro.

A estrutura organizacional é outro degrau na construção de empresas extraordinárias, como meio de implantar a arquitetura estratégica. No entanto, não se pode confundi-la com os ridículos e folclóricos organogramas.

A estrutura por mim sonhada lembra a de Canudos. Um grupo de pessoas motivadas, sob a liderança talentosa de Antonio Conselheiro, enfrentou quatro vezes gloriosamente o treinado Exército por meio de uma estrutura ancorada em valores compartilhados dos conselheiristas, gente humilde e analfabeta mas imbuídos da defesa de uma causa maior. A estrutura brotou da cultura, do contexto onde eles existiam e sintonizada com a época e com os desideratos estratégicos do mencionado movimento.

Outro exemplo é o Sendero Luminoso, movimento terrorista peruano. Seu fundador, Abimael Guzmán, brilhante professor de Filosofia da secular Universidad Nacional Mayor de San Marcos, ao ser preso pela polícia do então presidente Alberto Fujimori, disse: "Vocês estão me prendendo, mas não conseguem trancafiar a causa do nosso movimento".

Outra ilustração de estruturas organizacionais eficazes são as escolas de samba, responsáveis pelo maior evento diversional do mundo, o Carnaval. Não é do meu conhecimento que essas escolas tenham organogramas, muito menos os inúteis departamentos de Recursos Humanos ou gerências de Treinamento.

As escolas de samba, espontaneamante, treinam o ano todo, diariamente, e vão ao asfalto no período momino sem chefias martelando os sambistas e, mesmo assim, dão um show de desempenho superior a muitas empresas multinacionais.

Enquanto isso, é usual a existência de milhares de empresas escoradas em pomposos organogramas, em áreas custosas de departamentos de RH, palco de muitos treinamentos em variados atributos ultrapassados das escolas clássicas de Administração. São fracassadas e no mínimo exibem condutas sofríveis.


*O Dr. Cleber Pinheiro de Aquino é professor da USP-Universidade de São Paulo, consultor de alta gestão e coordenador dos 6 volumes de História empresarial vivida – Depoimentos de empresários brasileiros bem-sucedidos (Editora Gazeta Mercantil, 1986)
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