04 dezembro 2015

PARA ONDE?


Pena que sejamos tão poucos*





Quando eu era estudante de Jornalismo, frequentava uma hemeroteca que havia no curso, e foi lá que consolidei o hábito de ler cadernos de cultura de tudo o que era jornal. 

Pouco depois, passei a comprar e colecionar alguns deles. Ainda tenho alguns exemplares do Rascunho, um caderno sobre livros que era publicado com a Folha de S.Paulo. Tenho também um especial sobre Fernando Pessoa, veiculado no JB

Em seguida, vieram as revistas. Minha coleção de Bravo, doei para um ex-repórter. Assim como tive que me desfazer de outras coleções, como as das revistas Cult, História, Primeira Leitura, Entre Livros; cadernos de cultura da extinta Gazeta Mercantil e Você &, caderno de cultura do jornal Valor Econômico

Só me restam alguns cadernos Mais, Ilustríssima, Sabático.

Quase tudo citado até aqui não existe mais. Ficamos mais pobres a cada caderno ou revista de cultura que sai de cena. 







Ultimamente, eu esperava a revista da livraria Cultura e a Ipsilonportuguesa, que trazia excelentes entrevistas com escritores, pensadores e músicos europeus e brasileiros. Embora fossem gratuitas, eu pagaria por elas. 

Eu sei que tem tudo na internet e o YouTube é um mundo, mas às vezes dá vontade de ver a seleção feita por outras pessoas. 

Além disso, folhear um bom produto editorial é uma experiência rara para os sentidos. Há dois meses, a Ipsilon anunciou que deixava de existir no papel. A Revista da Cultura encolheu tanto que pode ser prenúncio do fim.

Cada produto desses que saem do mercado me enche de certa tristeza. Para onde nós estamos caminhando? 








Os poucos leitores dessas revistas e suplementos culturais – que ainda resistem – ficam cada vez mais abandonados nesse movimento contínuo de desistências. 

Por isso mesmo, quase choro ao ler a notícia do fechamento da Cosac Naify. Só quem gosta muito de livro sabe como é lamentável tamanha baixa entre as casas editoras.

Lamentável em todos os sentidos. Pelos autores editados pela Cosac, pelo mercado que perde uma concorrente capaz de elevar o padrão das publicações, mas principalmente perdemos nós, os leitores, que amamos tanto aqueles livros caprichados, feitos com apuro e beleza. 

Mas que importa isso, se somos tão poucos...?!?



*a jornalista Regina Ribeiro é editora-executiva das
Edições Demócrito Rocha e colunista do jornal O Povo.