27 maio 2008

DO JAPÃO AO BRASIL

Contrato avalizou viagem



No Japão, os eventos que marcaram o início das comemorações relativas ao Centenário da imigração japonesa ao Brasil não tiveram o grande apelo popular visto nas cerimônias promovidas em nosso País, restringindo-se à realização de discursos e à promoção de coquetéis para as autoridades. Nas cidades Tóquio e Kobe, fizeram-se presentes membros da família imperial e do governo japonês. Menos de 400 pessoas participaram do coquetel presidido pelo príncipe-herdeiro Naruhito em Kobe — de onde partiu há 100 anos o navio Kasato-Maru, que trouxe até Santos os primeiros 781 imigrantes japoneses.

Assim, o dia 18 de junho celebrou o Centenário da imigração japonesa no Brasil. A saga nipo-brasileira começou no início do século passado, quando a nossa república — recente e contando apenas 20 anos da abolição de seus escravos — adotava uma economia fortemente agropastoril, necessitando de mão-de-obra barata para as lavouras. Os imigrantes europeus, não adaptados à lida extensiva nos campos, buscavam outros meios de subsistência.

O Japão, por sua vez, experimentava forte explosão populacional com sua economia em recessão, devido à passagem da economia feudal para a capitalista. Mais ainda, os nipônicos não tinham espaço nos Estados Unidos, Europa e Austrália, que proibiam a imigração. O Brasil despontou como solução, e um acordo entre os dois países celebrado em 1895 — o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação — autorizou a viagem dos imigrantes japoneses. Saindo do porto de Kobe a bordo do vapor Kasato-Maru, no dia 18 de junho de 1908 aportou em Santos (SP - foto) a primeira leva organizada de trabalhadores do país do Sol Nascente, contando 781 pessoas, após uma viagem de 52 dias.

Em 6 de novembro de 1907, o governo de São Paulo firmou contrato com a Empire Emigration Company (Kokoku Shokumin Kaisha), estipulando que seriam introduzidos três mil agricultores, em levas não superiores a mil pessoas. Poderiam vir pedreiros, carpinteiros e ferreiros em número não superior a 5% do total. Para a maioria dos imigrantes japoneses, a vida no Brasil começou nas fazendas, colhendo e cuidando dos pés de café que nem imaginavam existir. Apanhar, peneirar, capinar — a rotina dessa faina ia sendo aprendida por eles. O problema era na hora de acertar as contas: na caderneta, as despesas sempre eram maiores que o saldo.

Nos primeiros 10 anos, a imigração foi tímida: 15 mil pioneiros japoneses chegaram ao País, cheios de esperança e sonhos de prosperidade, num País de costumes, língua, clima e tradições completamente diferentes. O número aumentou consideravelmente com a Primeira Guerra Mundial (1914-1818), chegando ao ápice em 1940, quando cerca de 160 mil japoneses chegaram a São Paulo, Paraná, Amazonas, Pará e Espírito Santo.

A língua, os costumes e o preconceito foram as principais barreiras à integração dos japoneses no Brasil. Muitas famílias tentaram voltar ao Japão, mas o contrato de trabalho com os fazendeiros previa normas que impediam sua rescisão. O período mais difícil desta adaptação ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945): o Brasil entrou no conflito junto aos aliados, declarando guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). A imigração japonesa foi proibida e seus descendentes prejudicados por vários atos governamentais — não podiam usar seu idioma nem manifestar costumes culturais ou religiosos.

Com o fim do conflito, os atos foram desfeitos e a imigração voltou a crescer. Os japoneses diversificaram suas áreas de atuação para a indústria, comércio e serviços. Atualmente, o Brasil é o país com a maior quantidade de japoneses fora do Japão: a comunidade nipo-brasileira conta mais de 1,5 milhão de indivíduos, segundo o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros em São Paulo (SP). Atualmente, 75% destes descendentes estão concentrados naquele Estado, 15% no Sul do Brasil e os 10% restantes em outros Estados da Federação.

Os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão denominam-se nikkei, sendo os filhos nissei, os netos sansei, os bisnetos yonsei e os nipo-brasileiros que foram trabalhar no Japão a partir do fim dos anos 80 são chamados dekasseguis. Estima-se que, hoje, 10 % dos brasileiros filhos e netos de japoneses saibam falar o idioma japonês. Também é cada vez mais comum o casamento fora da colônia japonesa e, atualmente, cerca de 30% dos nipo-brasileiros são filhos de um relacionamento entre um japonês e um não-japonês.


CEARÁ DE OLHOS PUXADOS
No dia 16 de maio de 1960 chegaram ao Ceará os primeiros imigrantes japoneses. Eram 43 pessoas que pertenciam a uma família oriunda da província de Kagoshima e a mais outras 9 de Nagano, que atraíram a atenção dos moradores da cidade de Guaiúba (Região Metropolitana de Fortaleza) ao desembarcarem na estação ferroviária local.

O grupo partira também de Kobe, no navio Santos-Maru, tendo viajado por 43 dias até chegar a Recife (PE). Após uma noite de descanso, o caminho foi retomado em um trem. O destino era definido: a fazenda São Jerônimo, depois renomeada como Colônia Pio XII, instalada na área adquirida pelo INIC-Instituto Nacional de Imigração e Colonização, órgão governamental que promoveu o traslado e o assentamento dos nipônicos para um projeto agrícola em terras do Brasil.

A vinda dos japoneses foi acertada quando a JICA-Japan International Cooperation Agency, baseada no Rio de Janeiro, solicitou de suas sedes localizadas em províncias do Japão a convocação de agricultores daquele país para o cultivo de frutas e verduras no Ceará, com o aval do governo federal. Inicialmente destinando sua produção ao mercado de Fortaleza, a seguir a comunidade deveria difundir aos cearenses as técnicas agrícolas empregadas.

Muito em breve tornaram-se disponíveis a melancia e o melão resultantes das primeiras tentativas de aclimatação, ambos de excelente qualidade e até o presente ainda cultivados em Guaiúba. A obtenção de sementes selecionadas destes e de outros frutos, bem como de pepino, pimentão e abóbora é creditada a Shinzo Ohama, representante da igreja japonesa Tenrikyô (Ensinamento da Razão Divina), já então radicado no Brasil. Seu apoio foi essencial para a adaptação daquela colônia de imigrantes e para a evolução do seu experimento agrícola, que desenvolveu variedades de verduras e frutas muito bem aceitas pelo mercado.

Ao completar 48 anos de existência, a colônia hoje compõe-se de apenas três famílias, cujos isseis (imigrantes de primeira geração) encontram-se na Terceira Idade. Estas pessoas foram homenageadas com o respeitoso título subarashi (“magnífico”, “esplêndido”, “grandioso”), em referência à sua capacidade de superação — demonstrada desde a mudança da terra natal até à conquista das barreiras representadas pelo clima, pela cultura, pelos costumes e pelo idioma encontrados.

Segundo Yuka Ito, do Curso de Mestrado em Lingüística Aplicada da UECE-Universidade Estadual do Ceará, os atuais representantes destas três famílias em Guaiúba são os senhores Koichi Fijiwara, Daisuke Tsuchiya e Motoyuki Okura, homenageados junto aos seus conterrâneos que vivem no Estado com a entrega de placas comemorativas pelo Centenário da Imigração Japonesa no Plenário 13 de Maio da Assembléia Legislativa, no último dia 7, pelos esforços e contribuições prestados à sociedade brasileira.


ENTRE OS PIONEIROS
Conforme estima o Instituto Cultural Nipo-Brasileiro do Ceará, há cerca de 2 mil nikkeis no Estado, espalhados principalmente em Fortaleza, Cascavel e Guaiúba, com 500 famílias cadastradas na entidade. Criado em 1971 e inoperante durante 10 anos, o instituto foi reativado em 2006 por iniciativa dos nikkeis cearenses e voltou a promover encontros comunitários e a incentivar ações ligadas à tradição japonesa (como o evento Lanternas pela Paz, realizado anualmente no Ceará, reunindo os nikkeis locais e fortalecendo os laços entre os dois países, e o apoio dado ao curso de Língua Japonesa do Núcleo de Línguas da UECE-Universidade Estadual do Ceará). O empresário da construção civil João Batista Fujita é o atual presidente do instituto.

Jusaku Fujita, o pai de João Batista, chegou ao Ceará em 1923. Rebatizado como Francisco Guilherme Fujita, antes de se estabelecer definitivamente em Fortaleza ele viveu no Peru, no Chile e na Bolívia. Depois de passar por Crateús, ao chegar à capital cearense o imigrante fixou residência na Moitinga (hoje Maraponga), onde ocupou-se da horticultura e seu comércio numa banca do Mercado Central. O clã Fujita emergiu do casamento de Jusaku com a cearense Cosma Moreira (alcunhada Neném). Da união nasceram 14 filhos (apenas seis chegaram à idade adulta): Luzia (dentista), Edmar (médico, já falecido), Francisco (dentista, já falecido), João Batista (empresário), Nisabro (engenheiro) e Maria José (professora). Hoje, os Fujita somam cerca de 50 integrantes, entre filhos, netos e bisnetos.


100 ANOS
No último dia 6, o presidente do Instituto Cultural Nipo-Brasileiro do Ceará João Batista Fujita deu início, ao lado do cônsul-geral do Japão no Brasil, Toshio Watanabe, às comemorações locais do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

João e sua esposa Rejane anfitrionaram 200 convidados no buffet La Maison Dunas, na Praia do Futuro em Fortaleza. Do menu — assinado pelo chef Élcio Nagano, do premiado Kingyo Restaurant — constaram (como entradas) minisushis especiais com ovas de masago (capelin), harumaki (rolinhos de alga kombu) recheados com carne bovina, acompanhados de cogumelos shiitake e nasu (beringela japonesa) e (como prato principal) Yakissakana Sirigado (sirigado grelhado) ao molho sumiso de maracujá, acompanhado de Yakimeshi (arroz) de cogumelos shimeji. Como sobremesa, Nagano criou a Sunrise (“sol nascente”, em homenagem aos seus ancestrais): salada de frutas (kiwi, lichia, morango, manga e mamão) com gelatinas kanten (de algas e saquê), acompanhada por sorvete (de creme e baunilha) e espetinho quente de harumaki (rolinho Primavera) de maçã, cortada bem fininho. Foi tal o sucesso da sobremesa que ela já integra o cardápio do Kingyo.

No restaurante também pode-se degustar o bife de Kobe, exótico e caro, que demorou décadas para chegar ao Brasil. "A iguaria está entre as 10 mais exóticas do mundo", afirma Nagano, que é também o vice-presidente do Instituto Cultural Nipo-Brasileiro no Ceará. "Equipara-se ao foie gras, ao caviar, à trufa branca, entre outras raridades da culinária universal", complementa.

Em Kobe, no Japão, o bezerro da raça wagyu é criado em um ambiente cercado de cuidados e mordomias para evitar qualquer estresse, sendo alimentado à base de cevada e cerveja, para manter sua carne macia e suculenta. É massageado diariamente, o que estimula a migração das gorduras para dentro das fibras e, modernamente, até ouve música clássica. Lenda ou verdade, sua carne é reconhecida como a mais nobre do mundo: no Japão, uma refeição à base do bife de Kobe pode custar ao redor de R$ 350.

Nagano, que gosta muito de pesquisar e combinar tradição com inovação, inspirou-se para criar o Ishi Kobe, que serve fatias cruas de filé de Kobe, trazendo no prato uma pedra (de rio) aquecida que assa as finíssimas fatias de carne, que podem ser embebidas nos molhos teppan e sumiso, ao custo de R$ 29. A culinária japonesa é apreciada hoje no mundo inteiro por vários fatores, como o apelo à saúde: tem baixo colesterol nocivo, é rica em colesterol “bom”, saborosa, leve, refrescante e combina com o clima tropical. “No entanto, preparar sushis, por exemplo, requer cuidados e critérios higiênicos e de qualidade dos materiais e ingredientes que devem ser necessariamente observados”, aponta o chef do Kingyo.


TRANSCULTURALIDADES
Tokyo, Kyoto, Hiroshima, Otome Toge, Tsuwano e Nagasaki são as seis cidades japonesas pelas quais passou um grupo de brasileiros em peregrinação ao Japão.Os peregrinos da Pastoral Nipo-Brasileira (PANIB) viajaram entre os dias 27 de março e 10 de abril, numa iniciativa que integra os eventos do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Na programação, missas e palestras, numa promoção da Pastoral Nipo-Brasileira, ligada às Pastorais da Mobilidade Humana da CNBB-Confederação Nacional dos Bispos do Brasil.

Enquanto isso, a atriz Daniele Suzuki — que interpreta a personagem Alice na novela Ciranda de Pedra da Rede Globo de televisão — foge aos estereótipos. Em entrevista, ela revela: “Não me olho no espelho e fico dizendo: ´Caraca, sou muito japonesa!´. Estou integrada ao meio, vou pra samba, pro forró, não me visto a caráter, não tenho uma cultura em casa, minha comida é arroz, feijão e farofa. Quando alguém me chama de ‘japa’, nem ligo, não é comigo”. Daniele confessa ainda ser uma garota de muita, muita fé: “No meu altar, ficam o jardim japonês, o gatinho, o Buda, uma imagem de Nossa Senhora, do Padre Cícero e do Dalai Lama. Quando o negócio aperta, corro pro meu Padim Ciço, Jesus Cristo e Nossa Senhora”, declara.

Na atualidade, palavras origem japonesa como saquê, sushi, sashimi, yakisoba (culinária), karate, ju-jitsu, ju-do (artes marciais), mangá, anime (histórias em quadrinhos e desenhos animados), Toshiba, Samsung, Sony (marcas de eletro-eletrônicos), Toyota, Honda e Suzuki (veículos), entre muitas outras, encontram-se fortemente incorporadas à cultura brasileira.

Nas últimas décadas, a penetração da influência nipônica no cotidiano das cidades brasileiras expandiu-se tanto que, em muitos casos, tornou-se modismo. É o que se passa, por exemplo, com a sua admirável culinária, que segue conquistando admiradores, seja pela harmonia dos arranjos de seus ingredientes, seja pela extrema sensibilidade e riqueza de detalhes com que são servidos e apresentados os pratos.As histórias em quadrinhos e os desenhos animados japoneses — mangás e animes —, granjeiam cada vez mais fãs no Brasil. O fato é notório em eventos que reúnem milhares de jovens apaixonados pelo Japão.

Em Fortaleza, o SANA FEST, promovido dias 19 e 20 de janeiro passado no Centro de Convenções Edson Queiroz, atraiu mais de 10 mil adolescentes. O evento abriu a seu modo, no Ceará, as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil (1908-2008), realizando uma eliminatória do WCS-World Cosplay Summit (em que os fãs fantasiam-se de personagens) e anunciou atrações para o novo evento do gênero, a ser realizado em julho em Fortaleza.

Neste tipo de “celebração coletiva” a idolatria é acentuada e o “espírito da coisa” entre os jovens é vestir-se com cópias das roupas usadas pelos personagens de games, animes e mangás. Seus participantes denominam-se otakus — termo usado no Japão para designar quem é fanático por alguma temática qualquer, significando também pessoas gordas, rosadas, cheias de espinhas na cara (às vezes no corpo todo) e que vivem num “mundo paralelo”...

Em cena, dubladores de personagens de animações do cinema (como Rei Leão, Sailor Moon, Cavalo de Fogo), palestras sobre estes temas e sessões de autógrafos que reúnem centenas de otakus atentos às curiosidades do mundo da dublagem e com grandes expectativas de ouvir as frases ditas por seus personagens favoritos.

Junto às exibições, ocorreu a apresentação de trailers com as atrações internacionais deste ano (mostrando intérpretes de animesongs adorados como Pegasus Fantasy e Chikiugy) e no concurso de fantasias, Iara e Natália, ambas de 20 anos, saíram vencedoras como cosplayers de personagens do anime Sakura Card Captors. Por fim, os alunos de Japonês da UECE fizeram uma divertida apresentação de danças tradicionais. Além de tudo isso, os jovens presentes divertiram-se com bandas de j-music (como X-Metal, Akatsuki, Yakisoba) e animekê, games, card games e nas salas de exibição, como membros de uma tribo para quem tudo é virtual e uma grande brincadeira.

Em São Paulo, capital, foi eleita a Miss Centenário Brasil-Japão, em evento promovido no Ginásio do Ibirapuera. A cirurgiã-dentista e bancária Karina Eiko Nakahara, de 26 anos, estreante em concursos de beleza, foi a escolhida, disputando o título com cerca de outras 500 moças de vários Estados, depois de ser eleita Miss Centenário Alto Tietê (foto). Mato Grosso, Paraná e São Paulo, respectivamente, forneceram o maior número de participantes ao evento, devido à grande quantidade de imigrantes de ascendência nipônica nessas regiões.

Paulista e neta de japoneses, a morena de 1,76m e 56Kg teve o incentivo dos pais. “Eles viram o anúncio na televisão e falaram para eu me inscrever”, conta a miss — que, além do reconhecimento e do carro de cerca de R$ 35 mil que ganhou, que fazer um pouco mais para que sua comunidade receba ainda mais carinho dos demais brasileiros.

Conciliando seus empregos com os novos compromissos, Karina reflete a trajetória de seus antecessores: depois daqueles primeiros 781 lavradores destinados às fazendas de café, os cerca de 230 mil japoneses de todas as idades que chegaram ao País até a década de 1950 pouco a pouco deixaram o campo em direção às cidades, sob o incentivo de interesses políticos, econômicos e culturais.

No ano passado, as exportações cearenses para o Japão alcançaram US$ 10,1 milhões. As importações, por sua vez, somaram US$ 9,7 milhões. No Brasil, as vendas para o mercado japonês chegaram a US$ 4,3 bilhões em 2007, enquanto as importações representaram US$ 4,6 bilhões, conforme o Centro de Negócios da FIEC-Federação das Indústrias do Estado do Ceará. Porém, estas relações comerciais têm um grande potencial de crescimento e podem envolver cifras ainda maiores. "Estamos falando de negócios em trilhões de dólares", afirmou o economista e professor Paulo Yokota em sua palestra sobre "O atual intercâmbio Brasil-Japão" proferida dia 14 passado, na sede da FIEC em Fortaleza.

Yokota, um ex-diretor do Banco Central, esteve recentemente no Japão e explica que há grande entusiasmo das autoridades e empresários daquele país com relação ao nosso. "A situação do Brasil melhorou muito. A economia melhorou, temos mais petróleo, somos a noiva do mundo", enfatiza. O Japão, segundo ele, é um bom pretendente, pois trabalha com contratos de longo prazo, financiamento barato e ainda compra a produção.

Entre os interesses do mercado japonês, o economista cita o etanol e os biocombustíveis. "O Japão precisa de energia, eles estão investindo nisso", revela. Segundo ele, o Japão está de olho também em tecnologias que dominamos, como a da exploração de petróleo em águas profundas e softwares (programas e sistemas) diversos, especialmente aqueles ligados à fabricação de aeronaves. "Nosso software já está entrando (no Japão). Eles são bons em hardware (máquinas), mas em software o Brasil é muito mais criativo", acredita.

Sucos de fruta, produtos orgânicos, artesanato, moda e design são também nichos apontados como de grande potencial de comércio com o Japão. Em todos os casos, no entanto, é preciso estar atento para que o mercado deseja e adequar os produtos a estas necessidades. "A mulher japonesa é diferente da brasileira na moda, por exemplo. Tem que produzir para o mercado", observa. Para conseguir espaço no comércio nipo-brasileiro, Yokota aconselha também que o empresariado busque atender aos padrões de exigência internacionais, por meio de certificações que atestem sua qualidade. "Aqui no Ceará, por exemplo, a participação ainda é muito modesta. Precisamos fazer um controle de qualidade para entrar neste mercado, certificar os produtos", ensina.

Trabalhar exportação e importação é outro conselho dado pelo economista: assim fica mais fácil compensar as flutuações da moeda americana. A palestra de Paulo Yokota fez parte das comemorações ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil e foi promovida pela FIEC, junto ao Instituto Cultural Nipo-Brasileiro do Ceará.


COMISSÃO NACIONAL
O Centenário da Imigração Japonesa está sendo comemorado com diversos eventos País afora. No âmbito nacional, foi instalada a Comissão Nacional Organizadora das Comemorações. Para executar a tarefa, sete grupos de trabalho foram formados: 1) agricultura; 2) energia e desenvolvimento sustentável; 3) oportunidades de comércio; 4) comunidade brasileira no Japão; 5) comunicação, logística e meios; 6) cultura, turismo e esporte; e 7) educação e ciência.

O Brasil e o Japão atualmente têm diversos interesses em comum, como a conquista de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a associação no processo da TV digital e o comércio bilateral. Em 2006, as exportações brasileiras para o mercado japonês somaram US$ 3,884 bilhões e as importações US$ 3,839 bilhões.Estão presentes no Brasil mais de 200 companhias japonesas. Recentemente houve novos investimentos importantes na área de siderurgia, como na Usiminas e também na Cenibra, na área de celulose. Toyota e Honda ampliam suas fábricas no Brasil. Os investimentos estão crescendo.


PROGRAMAÇÃO
O Instituto Cultural Nipo-Brasileiro do Ceará desenvolve programação comemorativa do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. Junto a ela, seguem alguns eventos:

>> 31 de maio a 1.º de junhoTokyo 2008, exibição de animes, tokusatsus (séries filmadas como Godzilla, National Kid, Ultraman, Ultraseven, Spectreman, Jaspion, Changeman, Jiraiya etc.), j-dramas, Radio Tokyo.tube, j-clips, workshop de origami, para-para (dança japonesa popular solo), artes marciais, concursos e campeonatos de cosplay e Tokyo Cosplay Book, menino e menina Kawaii, animeknow, animekê, AMV (nível nacional), animequiz, Batalha Medieval, fan-art, roteiro, arena RPG, fotografia e desenho, Tokyogames (Nintendo wii, Playstation 2, Gamecube, fliperamas, Nintendo-DS (in-game) e bandas (Cry of Soul, Kakattekoi etc.), das 9h às 19h30 na Faculdade Marista Católica do Ceará (Av. Duque de Caxias, 101)

>> 10 de junho — palestra da pesquisadora Celina Midori Murasse Mizuta sobre A educação japonesa na Era Meiji (1868-1912), no auditório da UNIFOR-Universidade de Fortaleza;

>> 17 de junho — sessão solene na Câmara Municipal de Fortaleza em homenagem à Colônia Japonesa do Ceará, destacando a trajetória de Jusaku Fujita;

>> 18 de junho — o príncipe-herdeiro da coroa japonesa, Naruhito, de 48 anos, chega a Brasília após fazer escala em Nova York. A princesa Masako não acompanhará o marido na viagem, pois está em tratamento médico devido a um "transtorno adaptativo". Naruhito quer conhecer descendentes de japoneses que moram no Brasil e "ouvir o que eles têm a dizer, ver seu compromisso com a comunidade brasileira e as dificuldades que tiveram que enfrentar". O príncipe discursará em Brasília em ato comemorativo alusivo ao Centenário da Imigração Japonesa comandado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e depois se dirigirá a São Paulo, onde visitará memorial dos pioneiros japoneses. Naruhito já esteve no Brasil em 1982. Desta vez, ele também visitará Maringá (PR) e Rio de Janeiro (RJ) antes de retornar ao Japão no dia 27, após escala em Los Angeles (EUA). Na foto, Naruhito com as princesas Aiko e Masako.

>> junho (até o presente a data ainda não se confirmou) — lançamento da Pedra Fundamental da Praça Jardim Japonês na Beira Mar (na Volta da Jurema, em frente ao edifício Granville) pela Prefeitura de Fortaleza;

>> de 7 a 11 de julho — 8.ª SANA-SuperMostra Nacional de Animes

>> de 11 a 13 de julho — 1.º SANA Fashion by Sugai Cosplay, concurso Garota Yume, desfile Cosplay, apresentação de Cute Project (o evento atraiu milhares de adolescentes, identificados com o ideário dos otakus)


LIBERDADE EM SP
São Paulo é hoje a maior cidade japonesa fora do Japão: são mais de um milhão de japoneses e seus descendentes, já aclimatados à “Terra da Garoa”. O bairro da Liberdade é um tradicional bairro japonês, com restaurantes e comércios em geral ligados à cultura nipônica. A formação da primeira colônia japonesa na capital paulista teve início em 1912, em um aglomerado na ladeira íngreme onde passava um riacho e existia uma área de mangue, na rua Conde de Sarzedas.

O comércio começou a aflorar — primeiro uma hospedaria, depois um empório, docerias, agenciadoras de empregos —, formando assim a “rua dos japoneses”. Em 1915, foi fundada a Taisho Shogakko (Escola Primária Taisho), que ajudou na educação dos filhos dos imigrantes. Em 1932, eram 2 mil nipônicos em São Paulo.
Porém, no dia 6 de setembro de 1941, como conseqüência da Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro decretou a expulsão dos japoneses residentes nas ruas Conde de Sarzedas e Estudantes. Somente em 1945, após a rendição do Japão, é que a situação voltou à normalidade na região.

Na década de 1960, a Liberdade passou a ser um local de visita obrigatória dos turistas e, na década de 1970, deixou de ser um reduto exclusivo dos japoneses: o bairro passou a ser procurado também por chineses e coreanos. Nas décadas de 1980 e 1990, as casas noturnas foram sendo substituídas por karaokês, a nova mania que tomava conta do Japão e do Brasil.


DE VOLTA À PÁTRIA
A palavra dekassegui nomeia o migrante que sai de sua terra natal para trabalhar, mas alimenta o desejo de retornar às suas origens. Este era o sentimento dos primeiros japoneses que aportaram no Brasil há 100 anos, mas a maioria jamais voltou. Na década de 1980, teve início o fenômeno inverso — a ida de nipo-brasileiros para a Terra do Sol Nascente, em busca de oportunidades de emprego. As razões foram bem parecidas com as que motivaram os japoneses a virem para o Brasil: o peso da questão econômica.

Naquela década, o Brasil experienciava uma hiperinflação e desemprego galopante. O Japão, por sua vez, oferecia milhares de empregos e altos salários e recrutava trabalhadores japoneses e de dupla nacionalidade. As vagas surgiam em empresas de pequeno e médio porte, na área automobilística e de eletro-eletrônicos. Os dekasseguis viajavam com o intuito de retornar depois para sua terra natal, no caso o Brasil, com recursos para dar início a investimentos.

Os primeiros dekasseguis eram homens, de idade média avançada, casados, chefes de família e que falavam japonês. Como não podiam permanecer muito tempo no Japão, acabavam trabalhando ilegalmente.Atualmente há no Japão aproximadamente 300 mil dekasseguis, que remetem para o Brasil cerca de US$ 2,5 bilhões anuais. Já quando retornam, cada dekassegui traz, em média, cerca de US$ 70 mil para investir em algum tipo de negócio. Eles se concentram nas cidades de Aichi, Shizuoka, Mie, Nagano, Gifu, Gunma, Saitama, Kanagawa, Shiga e Ibaraki, conforme o quadro a seguir, que relaciona o nome da província ao número de dekasseguis que lá estão:


Aichi — 63.335 dekasseguis
Shizuoka — 44.248 dekasseguis
Mie — 18.157 dekasseguis
Nagano — 17.758 dekasseguis
Gifu — 17.596 dekasseguis
Gunma — 16.455 dekasseguis
Saitama — 14.030 dekasseguis
Kanagawa — 13.860 dekasseguis



SAIBA MAIS
www.nikkeyweb.com.br

www.tenrikyo.com.br

www.japao100.com.br

www.culturajaponesa.com.br

www.portalsana.com.br/sanafest

www.opovo.com.br/opovo/economia/788911.html

26 maio 2008

DAPRAIA FUNNY PAGES

Humor Dapraia


Tudo de uma vez ao mesmo tempo agora









por Guabiras


Mungu, o palhacinho fela












por Jefferson Portela (directly from Portugal)


Eu, por mim mesmo e mais ninguém









por Denilson Albano

LEIA MAIS

16.ª VEZ EM CANNES

Palma d'Ouro à paulistana


A atriz Sandra Corveloni, que estréia em longas-metragens com o filme Linha de passe, conquistou a Palma de Ouro de Melhor Atriz no 61.º Festival de Cannes. O prêmio foi recebido pelos diretores Walter Salles e Daniela Thomas. Sandra Corveloni interpreta Cleuza, empregada doméstica que criou sozinha os quatro filhos e está grávida novamente de mais um pai desconhecido. (foto de Paula Prandini)

De Cannes, Walter Salles e Daniela Thomas comentaram a premiação: "Foi uma surpresa maravilhosa. Cleuza (a personagem de Sandra) foi o pilar da história, o ponto de intercessão de cada um dos destinos do filme e Sandra trouxe a ela densidade e ao mesmo tempo uma luminosidade que acabou se irradiando por todo o filme".

Sandra, que nasceu em São Paulo, em 1965, formou-se no curso de Teatro Avançado do TUCA-Teatro da PUCSP-Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A seguir, entrou para o grupo Tapa, onde, além de atuar, é professora e assistente de direção. Seus principais trabalhos no teatro são As viúvas, de Arthur Azevedo, Contos de sedução, de Guy de Maupassant, e Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes.

No cinema, ela atuou nos curtas Flores ímpares (1992), de Sung Sfai, e Amor (1993), de José Roberto Torero. No teatro, seu próximo projeto é o espetáculo Amargo Siciliano, inspirado em contos de Luigi Pirandello, em que é assistente de direção de Eduardo Tolentino.


SINOPSE
São Paulo, 22 milhões de habitantes, 200 quilômetros de engarrafamentos, 300 mil motoboys. No coração da cidade em transe, quatro irmãos tentam se reinventar. Em Linha de passe, Reginaldo — o mais novo e único negro na família — procura seu pai obsessivamente. Dario sonha com uma carreira de jogador de futebol, mas, aos 18 anos, vê-se cada vez mais distante dela.

Dinho refugia-se na religião e o mais velho, Dênis, pai involuntário de um menino, enfrenta dificuldades para se manter. Sua mãe, Cleuza, empregada doméstica que criou sozinha os quatro filhos, está grávida novamente, de mais um pai desconhecido.

O futebol e as transformações religiosas pelas quais o Brasil passa, o exército de reserva de trabalhadores que alimenta a cidade, a questão da identidade e da ausência paterna estão no coração da história de Linha de passe — novo filme dos mesmos diretores de Terra estrangeira, Central do Brasil e Diários de motocicleta.


SAIBA MAIS

19 maio 2008

A CHEGADA DA CORTE

Muito mais que um enredo



Para quem não viu os desfiles de escolas de samba que comemoraram o Bicentenário da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, talvez fiquem em branco os erros históricos que repetiriam, mais uma vez, o espírito do “Samba do Crioulo Doido”. A vinda da Família Real presta-se a equívocos. O que menos conta é o que talvez mais valha para a própria história do Carnaval.

Ainda hoje, a porta-bandeira e o mestre-sala são um par fundamental em todas as escolas de samba: suas indumentárias luxuosas do princípio do século XIX pretendem, certamente, imitar o fausto que foi a chegada da Família Real portuguesa, com suas vestes desconhecidas até ali no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, capital da Colônia.

Não havia nada de carnavalesco na comitiva de D. João VI, mas o povo incorporou a chegada da comitiva no seu faz-de-conta. Numa certa medida, confirma-se Karl Marx, que dizia que a História se repete sempre como farsa.

No entanto, a Independência brasileira nasceu justamente da fuga dos Braganças de Portugal para o Brasil. Talvez pudesse ser este o tema do desfile e dos sambas-enredo que celebraram a chegada da Família Real. O historiador Evaldo Cabral de Mello, de Pernambuco, assinala que, não obstante tudo o que se diz do “moleirão” que teria sido D. João VI, foi ele o único rei que manteve a coroa na Europa continental, apesar das investidas de Napoleão.

Digamos que ele tivesse para onde fugir, e que, afinal, sua inteligência foi ter sabido qual a sua rota de fuga, é uma das leituras que os brasileiros fazemos. Assim também em relação à Independência, que se deu não através de um movimento de massas, mas pelo gesto de um príncipe luso. Ao que parece, a “piada de português” nasceu aí: para não concedermos que até a nossa independência veio como dádiva dos “patrícios”, inventamos que eles seriam “burros”.

À dominação portuguesa, opusemos-lhe o riso. Não deixa de ser uma resposta a qualquer opressão. Quanto ao mais, porém, as guerras napoleônicas, a fuga de D. João e a posterior derrota de Napoleão ter-se-iam encarregado de facilitar.

O que quase não se diz, a propósito, é que quando D. Pedro I proclamou a Independência do Brasil ele tinha atrás de si a boa-vontade de toda a Europa — como aconteceu em anos recentes com o fim da URSS, em que, como se pregava, o mundo seria redimido sem os socialismos do tipo bolchevique. Após o fim da era napoleônica, as antigas monarquias esperavam que o republicanismo da Revolução Francesa se extinguisse para sempre.

Ou seja, para voltar ao Brasil: ninguém mais confiável à Europa restaurada do que um príncipe a reger um país de dimensões “continentais”. A história de que D. João VI teria adivinhado que o Brasil seria independente e que teria, assim, recomendado a seu filho que precipitasse o inevitável, antes que um “aventureiro” o fizesse, numa certa medida era já a intuição de que a Europa preferiria que o Brasil fosse um império e não uma república.

Sugere-se, em cima disso, que o primeiro imperador brasileiro, apesar de seu liberalismo, talvez cedesse à tentação de enredar o Brasil nas contas de Portugal. Dom Pedro teria abdicado por não convencer de que uma eventual reunião de Portugal e Brasil não poria a perder a independência brasileira.

Seja ou não essa a verdade, uma coisa é certa: ao contrário dos republicanos latino-americanos que tinham em Napoleão o seu herói e o seu exemplo, Dom Pedro seria, por suas origens, o representante da antiga ordem — aquela que acabaria sendo restaurada após a derrota de Napoleão em Waterloo. Para a Inglaterra, a Áustria e a Rússia, as grandes vencedoras das guerras napoleônicas na Europa, D. Pedro I seria, em princípio, mais confiável aos seus interesses do que os republicanos como Washington e, principalmente, Simon Bolívar e José San Martín (Argentina).

Para dizer tudo, os tais sambas-enredo teriam de dizer da vinda de D. João VI que começava, então, uma outra História do Brasil: não só a dos grandes faustos das escolas-de-samba, com tudo o que isto significou para a cultura popular brasileira, mas para o que acabou como irremediável sob o ponto de vista econômico e político — a submissão do Brasil, logo na seqüência, aos interesses da Inglaterra.

Foi ela que avalizou o Grito do Ipiranga: a conta viria em seguida e não há, enfim, do que reclamar, posto que a História é irreversível...

Mas a chegada da Família Real portuguesa parece ter sido bem mais que um choque político ou mesmo econômico: a porta-bandeira e o mestre-sala figuram encarnar um aparato que se amplificaria para a cultura brasileira em muitos sentidos. Mais além, os acadêmicos gostam muito de falar da “carnavalização” do Brasil como um dado relevante do nosso processo cultural.

No entanto, talvez se devesse falar da “operatização” do Carnaval. Parece ser bem mais como espécies de óperas o que os carnavais de rua e suas escolas de samba prodigalizam nas avenidas. A partir da chegada da corte lusa ao Brasil, teríamos passado a “operatizar” nossos festejos como conseqüência do que foi o “maravilhoso” desfile da chegada do rei com sua comitiva de milhares de pessoas: eles se vestiam e se tratavam de uma maneira nunca vista pela embasbacada e pouco cultivada população do Brasil-Colônia.

Quanto a D. Pedro I, porém, fica difícil discuti-lo no papel de porta-estandarte das monarquias restauradas. Ao contrário do que esperavam dele os reinos europeus, Dom Pedro não aceitou a fantasia, o modelito, de rei absolutista: era autoritário, sem dúvida — mas destituiu manu militari seu irmão Miguel, que pretendeu impor uma monarquia absolutista em Portugal.

Enquanto Fernando VI, da Espanha, esfalfou-se em perseguição aos liberais que desejavam uma monarquia constitucional, o que provocou a fuga de intelectuais da Espanha, após a queda de Napoleão (o pintor Goya foi um dos que se exilaram na França), D. Pedro I — IV, em Portugal — deu um pinote para as monarquias absolutistas.

É provável que o quisessem como “cantor” de um samba-enredo escrito algures, nos salões das mais altas cortes européias. Não o fez. Não se amoldou à farsa que foi o absolutismo na Espanha, onde até a Inquisição “pediu passagem”, tendo se instalado no reino espanhol com tudo o que era de sua antiga usança: perseguições religiosas, intolerância, racismos etc. No Brasil e em Portugal não foi assim.

Tudo, de fato, parece mesmo ter começado com o desembarque da Família Imperial ao nosso País. O lado prosaico da coisa — as comilanças de D. João, a vida galante e algo degradada de D. Pedro, seus desregramentos, enfim — parece bem se compor com o Carnaval. Mas não se sugere também que, por causa disso, o Brasil passou a ser conhecido como “o País do Carnaval”. Afigura-se, neste caso, que a coisa está mesmo mais para ópera do que para desfiles de escolas-de-samba. Nas óperas, os finais podem até ser trágicos ou felizes, porém muito dificilmente terminam como farsa.


*Ênio Squeff é jornalista, crítico de música, ilustrador e artista plástico

SAIBA MAIS
www.squeff.com

07 maio 2008

CONSUMISMO DESENFREADO

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

06 maio 2008

O VENTRE LUNAR

Mistérios, segredos e ocultações


A sua alma pulsa — em sensibilidade, emoção e receptividade.

Conforta, alimenta, nutre. De tal modo que, em todos os seres da natureza, encontra-se a sua representação.

O aconchego, a proteção, a segurança: eis a mãe que (o rebento já dentro de seu ventre) fornece ao protegido carinho, consolo, dedicação. E, mesmo após seu fruto sair de seu abrigo, continua a protegê-lo — em seu leite materno, no calor de seus braços, em constantes afagos de mãe.

A Lua, no seu envolvimento de dama astrológica, é o corpo celeste simétrico ao maternal: ilumina a noite, inspira os poetas, instiga os apaixonados.

Eis nosso ponto de apoio, o caminho a percorrer quando sentir-se indefeso, desprotegido, na iminente vontade de lacrimejar.

Na infância, no processo de aprendizagem e descobrimento, a mãe se faz presente, levantando-nos no cair dos primeiros passos, colocando-nos no colo, conduzindo-nos ao seu seio quando famintos.

A partir de então, percebe-se a dependência, a necessidade da aprovação — os aplausos dos primeiros passos e das primeiras sílabas soltas ao ar.

Crescemos, tornamo-nos adultos, mas a figura materna continua patente, fazendo-se presente nos recônditos de nosso ser.

Aquela vontade de correr para os braços de nossa mãe, chorar e agarrar no sono, sabendo que ali encontra-se a real guarida.

Ao nos casarmos, acabamos por procurar no cônjuge um espelho, um reflexo daquela que representa conforto. Uns irão procurar quem lhes indique o caminho, quem os guie. Outros resistirão ao sair do seio de sua mãe, na tentativa de encontrar-se abrigados.

Enganam-se.Tornam-se filhotes indefesos, em constante necessidade de proteção.

Aprender a cortar o cordão umbilical, expressando assim a sua individualidade, torna-se vital para criar e fortalecer a responsabilidade pelo próprio caminhar.

Necessita-se estar atento, pois um dia esse corte será feito. E, na maior delonga, mais difícil se torna.




*Fábio Silva faz o seu mapa astral e perscruta os astros para você ver melhor a vida



26 abril 2008

HOMENAGEM SOLENE

80 anos do O POVO: coragem





(Pronunciamento de Demócrito Rocha Dummar, presidente do Grupo de Comunicação O POVO no Senado federal em Brasília/DF, representando o O POVO na solenidade que homenageou o jornal por seus 80 anos de trajetória)

Excelentíssimo Senhor Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente desta Casa; Excelentíssima Senadora Patrícia Saboya, autora da referida sessão solene de homenagem aos 80 anos de O Povo, ladeada pelos Senadores Tasso Jereissati, Geraldo Mesquita e Inácio Arruda; Excelentíssimos Srs. Ministros aqui presentes, Francisco César Asfor Rocha e Ubiratan Aguiar, respectivamente do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Contas da União; membros da Associação Nacional de Jornais; prezados colegas jornalistas - e dirijo-me especialmente à jornalista Wânia Dummar e aos jornalistas Fábio Campos e Plínio Bortolotti, que aqui representam a direção e a liderança editorial de O Povo -; Srs. Senadores; Srs. Deputados Federais cearenses aqui presentes; queridos cearenses presentes a esta sessão solene, que vieram do Ceará para participar deste momento, bem como cearenses aqui radicados; prezados Senadores Mão Santa, Papaléo Paes, Flexa Ribeiro, Cristovam Buarque, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes, José Sarney, Marco Maciel, que se alternaram em pronunciamentos e apartes generosos pelos 80 anos de fundação do jornal O Povo. Sinto-me muito honrado e - por que não dizer? - muito à vontade por estar nesta Casa para expressar os agradecimentos do jornal O Povo por esta homenagem em reconhecimento aos seus 80 de diuturna batalha em favor das causas mais nobres do povo do Ceará e do Brasil.

E o sentir-me à vontade tem relação direta com a percepção de que esses mesmos objetivos são, igualmente, compartilhados por esta Casa, o que reitera a visão clássica do Parlamento e da imprensa como instituições indissociáveis na tarefa de viabilizar o Estado democrático de direito. A nota particular dessa percepção é o fato de aqui comparecermos com a identidade própria de um órgão de comunicação social que, ao largo de sua história, expressa a maneira de ser do povo cearense, a sua rica diversidade cultural, sua sabedoria de vida e, sobretudo, coragem e determinação. É isso que dá a esse povo, como ao jornal, a força para enfrentar e superar adversidades aparentemente intransponíveis. O símbolo dessa tenacidade é muito bem expresso na figura do nosso vaqueiro, que enfrenta com determinação as adversidades da seca. E recebe com intensa alegria a abundância do inverno.

Como jornal, senhores, somos assim: resistentes. Não desistimos nunca, em que pese as dificuldades que têm sacudido nossas conjunturas econômicas e políticas. Para não sermos levados pelos ventos, tomamos uma decisão bem clara desde o início da nossa trajetória: a de nunca sermos neutros diante das questões fundamentais que interpelam o direito, a razão e a verdade, sobretudo os direitos fundamentais, que dão substância às instituições políticas e cidadãs da democracia.
Compartilhamos da opinião de que é preciso ter uma clara hierarquia de valores, de modo a sempre dar proeminência ao interesse público. A esse propósito, o jornalista Gerald Levin acentua que "a imprensa influencia hoje mais do que outrora o fizeram as igrejas e as universidades na configuração em marcha das sociedades modernas".

Isso, evidentemente, abre o flanco para algumas tentações em um contexto em que o poder e o prestígio podem ser fatores altamente corrosivos. Para isso, nessa área, é sempre preciso ter um norte bem definido. O que distingue uma empresa jornalística de outra qualquer é que ela produz um valor imaterial. Portanto, tem de estar ancorada, firmemente, em valores éticos, que se traduzem no objetivo de fornecer informação veraz e de conectar o cidadão com os problemas da atualidade, dando-lhe meios auxiliares para uma tomada de posição.

Sobretudo cabe à imprensa animar o debate das idéias, ajudando o preparo da argamassa que dará textura e consistência ao edifício social. Numa correlação mundial de forças em que os Estados nacionais e os cidadãos, em particular, são colocados em uma situação de poder decisório praticamente virtual, a sociedade tem necessidade de encontrar meios de articulação, para fazer frente a esse tipo de capitis diminutio. Nesse contexto, o papel da imprensa é insubstituível como veículo de conexão e expressão das forças dispersas da sociedade.

Nesse afã, cabe ao jornalismo construir uma aliança mais consistente com as universidades e com os núcleos produtores do saber, para neles se apoiar e assim poder realizar, com o máximo rigor científico e moral, a sua missão. Nós próprios, como instituição jornalista, Presidente Garibaldi, organizamo-nos, de modo a construir uma relação institucionalizada com a sociedade, fundada em procedimentos transparentes e interativos.

Do ponto de vista normativo, dispomos de uma série de documentos essenciais, para orientar esses procedimentos: - Carta de Princípios do jornal, subscrita por figuras de notável saber, como o constitucionalista Paulo Bonavides e a inesquecível Rachel de Queiroz, ambos oriundos da nossa redação; - Código de ética da empresa jornalística mantenedora do jornal; - Regimento do Cargo de Ombudsman; - Código de Ética da Associação Nacional de Jornais (ANJ), documento orientador de uma centena dos renomados jornais brasileiros; - Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, de autoria da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), um documento de notável precisão ética; - Declaração de Chapultepec, que reafirma a liberdade de informação como direito dos povos; - e, coroando todos esses princípios, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento indispensável para nortear a vida social.

Criamos, igualmente, uma estrutura de participação da sociedade, em diversos níveis, na orientação e monitoramento do jornal. Ela é composta por diversas instâncias: o Conselho Editorial, o Conselho de Leitores, e o Ombudsman, que vem atuando com crescente êxito, há mais de uma década, fazendo a crítica diária do jornal em nome do leitor. Dessa forma nós estamos contribuindo de maneira criativa, para tornar o jornalismo uma instituição cada vez mais digna de crédito e a serviço da sociedade brasileira. Cada jornal opera junto a um tipo específico de demandas sociais, refletindo suas particularidades e identidade.

Não é diferente com O Povo, que tem sido, desde o seu nascedouro, um veículo comprometido com as expectativas da sociedade cearense. Priorizamos, desde o início, em 1928, a questão da segurança hídrica, por ser um condicionante basal a travar o desenvolvimento do Ceará. Embora vivamos a plenitude da Era do Conhecimento, com imensas possibilidades na linha do horizonte, enquanto persistir a falta de segurança hídrica, a economia nunca alcançará a dimensão mínima capaz de possibilitar um ciclo equânime do desenvolvimento que deveria chegar a todos.

A resolução dessa questão é objeto de permanente inquietação, há quase dois séculos. Alcançar essa solução faz parte da exigência de um desenvolvimento nacional harmônico, e isso é perfeitamente possível, não só tecnicamente, como também em termos de viabilidade econômica. Para abordar outra de nossas inúmeras causas, não nos falta também espírito atilado, para continuar a perceber que as políticas públicas ainda estão por demais voltadas para regiões já suficientemente estruturadas.
Não havendo um basta às disparidades socioeconômicas, nunca teremos um todo harmônico. Somos inconformados com esse estado de coisas e, como tal, temos coragem de lançar luzes e esperanças. Acreditamo-nos capazes de formular uma contribuição criativa à construção de uma Nação mais justa e igualitária. Por questão de justiça, registre-se que esta Casa, o Senado brasileiro, sempre esteve atento ao debate, propondo políticas públicas voltadas para o combate às desigualdades regionais.
Por fim, temos de dizer que confiamos plenamente no Brasil, na capacidade de nosso povo em descobrir respostas criativas para antigos e novos problemas, nos nossos representantes públicos, nas nossas instituições e, sobretudo, no cidadão brasileiro.
Todos estão imbuídos da convicção de que a cultura do interesse público está lançando raízes cada vez mais alongadas no solo brasileiro. Certamente ainda esta geração colherá os frutos desse novo patamar político civilizatório. Constata-se que algo mais transcendente começa a se firmar no horizonte crítico brasileiro, dando lugar à universalização crescente de uma consciência cidadã. E, para isso, O Povo se orgulha de ter contribuído nos seus 80 anos de existência.
Para finalizar, agradecemos a esta Casa, na pessoa da Senadora Patrícia Saboya, autora do requerimento desta sessão solene, e fazemos chegar às suas mãos a nossa edição comemorativa de 80 anos de O Povo, com a assinatura de centenas de nossos jornalistas e colaboradores. O mesmo agradecimento ao Senador cearense pelo Acre, Geraldo Mesquita Júnior, bem como aos Senadores Inácio Arruda e Tasso Jereissati, admiradores de O Povo e subscritores desta sessão. Referimo-nos, mais uma vez, igualmente, ao Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente desta sessão solene e desta Casa, que gentilmente nos concedeu a palavra. Aos demais Parlamentares, aos cearenses que aqui compareceram, também o nosso muito obrigado.
Em nome da memória do nosso fundador, Demócrito Rocha, do seu sucessor, Paulo Sarasate, de Albanisa e Creusa Rocha, que, durante anos seguidos, lideraram, com prudência e pertinência, a direção da nossa empresa jornalística, reafirmo a continuidade do nosso compromisso de continuarmos firmes na luta por uma imprensa cada vez mais livre, mais atuante.
Na oportunidade, dirijo-me também à Jornalista Wânia Dummar, minha mulher, diretora de O Povo, aqui presente, e não poderia esquecer D. Lúcia Dummar, filha de Demócrito Rocha. Do alto dos seus 91 anos, é arquiteta de uma ponte que nos liga do passado ao presente e do presente ao futuro. Em nome deles, reafirmo essas mesmas propostas.
Para finalizar, dirijo-me aos sucessores, à quarta geração, nas pessoas de Luciana Dummar Azevedo, presidente executiva do jornal, João Dummar Neto e Demócrito Filho, diretores da casa em plena atividade na liderança do jornal e que manterão incólumes a confiança de que a chama inaugural será certamente levada à frente e de que voltaremos aqui daqui a alguns anos, se Deus quiser, para comemorar a evolução do Ceará, a evolução do nosso País.
Quero ainda consignar que é possível, apesar de todas as dificuldades manifestas pelo Senador Inácio Arruda e pelo Senador Tasso Jereissati, manter-se uma imprensa íntegra, sadia, comprometida com o crescimento e com o desenvolvimento do País. Farei chegar em seguida as assinaturas dos nossos funcionários, dos nossos redatores e dos nossos diretores às mãos da Senadora Patrícia Saboya em agradecimento à sua iniciativa, que nos comove e que também nos inspira a continuar a luta, a continuar fazendo um bom jornalismo em favor dos cearenses, em favor dos nordestinos e dos nortistas que aqui se manifestaram de forma tão efetiva, em favor de uma sociedade mais justa, mais equânime, em favor de uma imprensa livre e soberana, fortalecendo cada dia mais a democracia brasileira.
Senadora, em nome de todos os que fazem O Povo, faço chegar às suas mãos esta lembrança.
Esta homenagem ficará em nossa memória, não a esqueceremos e tudo faremos para honrá-la a cada dia, a cada edição.
(Palmas.)

SAIBA MAIS


E nos blogues...
NOTA DE PESAR

Morreu, no início da tarde desta sexta-feira, o presidente do O POVO, Demócrito Rocha Dummar (63). O fato deixa em profundo pesar a todos nós que fazemos o Sistema O POVO de Comunicação e a família não quis ainda se manifestar.

O que dizer numa hora dessas? Que o jornalismo do Ceará perdeu um homem empreendedor, de espírito arrojado, ousado e de um diálogo empolgante e de empolgar a todos que conviviam com seus projetos.

Demócrito foi-se embora no ano em que O POVO ficou 80 anos mais velho. E foi deixando o legado da obstinação, do destemor diante de tantos desafios.

Mas bom mesmo será lembrá-lo como um sonhador. Ou melhor, um fazedor de sonhos.

Eis nota divulgada pela Direção do Grupo:

"É com imenso pesar que o Grupo de Comunicação O POVO informa o falecimento de seu presidente, Demócrito Rocha Dummar, no início da tarde desta sexta-feira, 25. A família e todos os colaboradores desta empresa ainda estão profundamente abalados com a repentina perda.
A família não quer se pronunciar neste momento de dor e pede a todos que guardem na lembrança não só o jornalista que durante quase 45 anos esteve à frente do jornal O POVO. Mas, acima de tudo, o homem que inspirou gerações de cearenses. E que continuará inspirando."

VELÓRIO - A partir das 8 horas deste sábado, no hall da Assembléia Legislativa do Estado. e a partir das 12h no hall de recepção do jornal; SEPULTAMENTO - Previsto as 16 horas, no Cemitério Parque da Paz, após missa (ecumênica) de corpo presente.
Postado por Eliomar de Lima às 15:09 25/04/08


PERDA IRREPARÁVEL

Baluarte e guardião



O falecimento do presidente do Grupo de Comunicação O Povo, Demócrito Dummar, abala a imprensa cearense

O diretor-presidente do Grupo de Comunicação O Povo, Demócrito Rocha Dummar, 63 anos, faleceu no início da tarde de ontem. A notícia de sua morte repentina consternou e trouxe perplexidade ao meio empresarial e à imprensa cearense. O corpo será velado na Assembléia Legislativa do Ceará a partir das 8 horas de hoje. E, ao meio-dia, levado para os jardins da sede do O Povo, na Avenida Aguanambi. O enterro ocorre às 16 horas, no Cemitério Parque da Paz.

Neto de Demócrito Rocha, fundador do jornal O Povo e filho de Lúcia Dummar e João Dummar, Demócrito Dummar era bacharel em Direito. Ingressou no O Povo aos 17 anos e assumiu a presidência em maio de 1985.Demócrito Dummar era casado há 30 anos com Wânia Cysne Dummar e tinha quatro filhos: Georgiana, Luciana, Demócrito Filho e João Dummar Neto, e três enteados: Ronaldo Cysne, Lisiane e Tatiana.O governo do Estado do Ceará decretou luto oficial de três dias em virtude do falecimento do presidente do grupo de Comunicação O Povo. As solenidades marcadas para a próxima segunda-feira foram adiadas para a terça-feira.

Ainda na tarde de ontem, a direção do Grupo divulgou uma nota oficial sucinta sobre o falecimento. No início da noite, mais uma nota na qual explicava: “a família não quer se pronunciar neste momento de dor e pede a todos que guardem na lembrança não só o jornalista que durante quase 45 anos se dedicou ao jornal O Povo. Mas, acima de tudo, o homem que inspirou gerações de cearenses. E que continuará inspirando”.

Comunicação
Além do jornal O Povo — fundado em 7 de janeiro de 1928 —, pertencem ao grupo ainda três rádios AM, uma FM, a Fundação Demócrito Rocha e a TV O Povo, a mais recente.Ontem, por volta das 16 horas, coube ao colunista político Fábio Campos, em nome da família, falar para imprensa sobre a morte de Demócrito Dummar, no pátio de acesso da empresa. Explicou que integrantes da família estavam viajando. Com o olhos marejados, como muitos dos funcionários ali, Fábio Campos respondeu, pacientemente, a todas as perguntas dos jornalistas.Ele informou que Demócrito Dummar faleceu em sua residência, no Bairro Aldeota. Ressaltou que a família passa por um momento de profundo pesar, “com essa tragédia que abala, frontalmente, a todos nós”, ressaltou.Fábio Campos lembrou que no período da manhã, como costumava ocorrer, trocou idéias com o presidente do jornal sobre o conteúdo da coluna Política que assina.“Ele acompanhava de perto o jornal, sempre com muito entusiasmo”, disse, reafirmando que uma das marcas de Demócrito era a luta pela liberdade de imprensa e de expressão.“Ele só pedia ponderação e era, antes de tudo, um entusiasta”, ratifica Fábio Campos, acrescentando que o diretor-presidente lia o jornal O Povo “com olhos do leitor”.

Para o colunista, a surpresa maior com a morte do proprietário de O Povo registra-se “porque este era o momento dele”. Fábio Campos disse isso referindo-se à alegria do empresário com as comemorações e as homenagens que o grupo vinha recebendo por conta dos 80 anos de existência do jornal.

A morte do proprietário do jornal O Povo atraiu aos jardins da empresa, além dos funcionários, curiosos e políticos. O deputado Nelson Martins, líder do governo na Assembléia, também esteve presente e destacou a grande importância da empresa para o setor de comunicação no Estado do Ceará.“A forma de fazer jornalismo de Demócrito Dummar e a maneira como O Povo tratava as questões cotidianas da cidade não podem deixar de ser reconhecidas”, disse.


CONSTERNAÇÃO
Funcionários lamentam a perda

Na mais antiga empresa do grupo, o jornal O Povo — que este ano completou 80 anos — , o clima era de intensa tristeza na tarde ontem. Jornalistas admitidos há anos, na empresa e os recém-chegados ao O Povo, funcionários de diversos setores, políticos e alguns poucos curiosos se aglutinaram no pátio de entrada. A dimensão da perda daquele por muitos considerado “o comandante” de O Povo estava ali, indubitavelmente, retratada no semblante dos presentes.

Visivelmente abalado, o ombudsman de O Povo, Paulo Verlaine, admitiu que o corpo de jornalistas da empresa estava em estado de choque com a morte de Demócrito Dummar.“Ele foi uma pessoa que sempre estimulou o trabalho da gente, em todos os setores”, disse Paulo, lembrando que o cargo de ombudsman só existe no jornal por iniciativa de Demócrito Dummar. “Ele criou e fortaleceu o cargo”, ratificou, adiantando ainda, que o presidente da empresa não interferia em seu trabalho. “Fui eu que, em um momento, o alertei que iria criticar o editorial por considerá-lo muito elogioso e, noutro, quando fiz uma crítica durante a realização do Vida e Arte”, depõe Verlaine.

“Estamos transtornados”, disse, em tom de tristeza, Gualter Jorge, editor executivo de Conjuntura de O Povo. Segundo Gualter, o relacionamento de Demócrito Dummar com a redação era o melhor possível. “Ele trocava idéias, apresentava pautas”, comentou. Ao final, declarou: “Vamos tentar agora nos reorganizar”.

Repórter policial e um dos funcionários mais antigo, Landry Pedrosa referiu-se ao chefe, ou melhor “ao comandante”, como uma pessoa amiga. “Tomei conhecimento de sua morte às 14 horas. Foi uma surpresa, um choque”, enfatizou.


Mozarly Almeida, repórter (jornal Diário do Nordeste)


O QUE ELES PENSAM
O luto das personalidades

"É com pesar que o Governo do Estado se solidariza com a família Rocha Dummar nesse momento. A perda de Demócrito é irreparável pelo cidadão e profissional brilhante que sempre foi. Sua história deixa um legado de luta em defesa dos direitos e da liberdade de expressão, na construção de uma sociedade democrática. Que o Grupo O Povo consiga superar esse momento e continue sendo forte na construção de um Ceará mais verdadeiro."

Cid Gomes, governador do Estado


"Como prefeita e jornalista me solidarizo com a família Rocha Dummar e colaboradores d´O Povo. Demócrito foi grande líder e deixará a marca do seu trabalho. Em mais de 40 anos, assumiu a luta pela cidadania e desenvolvimento político, cultural e econômico de Fortaleza e do Ceará. Honrou a tradição de um Grupo de Comunicação que chega aos 80 anos, mister de um dos mais importantes capítulos do jornalismo, não só regional, mas brasileiro."

Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza


"Estou muito abalada com a morte de Demócrito, tanto como presidente da ACI, entidade da qual ele participou ativamente, e também como profissional que trabalhou durante 25 anos no jornal O Povo. Tínhamos uma relação marcada pelo respeito e pelo afeto. Estou muito triste. Perdemos uma pessoa de muito valor, um homem que fez do jornal um veículo de comunicação que esteve sempre na vanguarda do jornalismo."

Ivonete Maia, presidente da ACI


"A imprensa brasileira está de luto. Demócrito foi um dos fundadores da ANJ e era um entusiasta das modernizações dos jornais brasileiros. Fez d´O Povo uma das mais vibrantes publicações do País. Era um homem generoso, que dentro da nossa entidade sempre batalhou pelas ações de caráter social, sobretudo na educação e melhoria da alfabetização brasileira. A ANJ perdeu um companheiro valoroso e eu perdi um amigo."

Nelson Sirotsky, presidente da ANJ


"Tomados pela perda de um de seus baluartes, os radiodifusores cearenses expressam imenso pesar por Demócrito Rocha Dummar. Ele marcou a história da radiodifusão pelo exemplo de empreendedorismo no setor da comunicação e como imbatível defensor da imprensa. Registra-se o profundo pesar dos radiodifusores cearenses à família Dummar. Sua partida deixa um espaço impreenchível na radiodifusão brasileira."

Edilmar Norões, presidente da ACERT


"É uma perda muito triste para mim, porque também é a perda de um amigo. Demócrito era uma pessoa que colocava amor e dedicação em tudo o que fazia. Buscava o diálogo, a troca de idéias que permitia um nível elaborado na cobertura jornalística. Como pessoa, era doce, otimista. Todos estão muito tristes com sua morte. Sinto essa perda como empresário e amigo da família. A ele rendo todas as homenagens."

Roberto Macedo, presidente da FIEC


É uma perda inestimável, não só para quem trabalhou e conviveu com ele, mas também para a empresa que ele conduzia. A imprensa brasileira e cearense hoje estão desfalcadas, num momento em que O Povo era glorificado pela sua história. Sua morte deixa uma lacuna, mas seu legado será continuado por muito tempo para que ainda possamos comemorar 100 anos de jornal, seu grande sonho.

Adísia Sá, jornalista


"Encerra-se um ciclo depois de perder-se Edson Queiroz, José Afonso Sancho e Venelouis Xavier. É uma perda irreparável. Demócrito era um homem de projetos arrojados. Suas idéias não tinham limites. Nunca se distanciava de suas bandeiras e seus sonhos. Solidarizo-me com os funcionários d´O Povo e com a família Rocha Dummar. O Povo era a menina dos olhos dele. Demócrito tinha um amor especial pelo jornal."

Deborah Lima, presidente do SINDJORCE


16 abril 2008

O ALÔ DA PERIFERIA

Pacto para (g)estarmos aqui



O discutido Plano Diretor de Fortaleza se traduz como momento ímpar no debate sobre as políticas públicas de regularização e ordenamento da cidade e seu modelo de desenvolvimento. A proposta apresentada para o debate é avançada, centrada na utilização social do solo, na preservação dos mangues e APAs, regulamentando os espaços de interesse social em sua essência e contrariando a lógica de apropriação e acumulação do capital que seguia livremente em nossa cidade, sem intervenção do poder público.

Para as comunidades da periferia de Fortaleza, o Plano vem como um freio ao apartheid que se instalou na quarta maior capital do País. Essas comunidades são recorrentemente varridas do mapa pelos empreendimentos imobiliários, muito deles chancelados e financiados com recursos públicos. Como exemplo, basta observar o que ocorre no entorno das vias expressas e a remoção das populações pobres e pretas das proximidades dos bairros mais estruturados, tais como Aldeota, Meireles e Dionísio Torres, revelando uma política de limpeza étnica e social.

As comunidades históricas de Fortaleza sofrem com um Racismo Ambiental que as impede de ter espaços para manifestar suas crenças locais. Vivenciam um exílio compulsório, sem nunca terem saído da cidade. Os grandes grupos econômicos não entendem que progresso algum paga os recursos naturais e o território, tão fundamentais para essa populações garantirem sua história, sua identidade, seus vínculos afetivos e a reprodução de sua intensa vida social e cultural.

Esse apartheid é o mesmo que garante a derrubada dos barracos e destrói a natureza para a construção de campos de golfe ou resorts. É financiado em dólar, promete progresso e emprego, no entanto os sinais de sua fatura não condizem com suas promessas. Quem duvida, basta constatar o que foi feito na conhecida Praia de Iracema, onde a comunidade local teve seu espaço ocupado pela intelectualidade emergente e, em seguida, pela burguesia ascendente, sobressaindo-se um discurso de progresso e de urbanização que foi expulsando os pobres, até restar somente o rastro de latinhas perfuradas — sinalizando que ali o crack que reside não é mais o da bola.

Defender um Plano Diretor comprometido com a natureza e com a maioria da população é enfrentar um modelo de desenvolvimento insustentável, que necessita de mais de 20 mil homens da segurança privada para poder transitar e que tem, como resultado, a existência de mais de 700 favelas, que polui e destrói os recursos naturais, impossibilitando, inclusive, o povo de desfrutar dos privilégios e serviços ambientais que a natureza oferece.

Mesmo com todos os indicadores da crise, quando se propõe a discutir uma cidade a partir de suas características locais, comprometida com as demandas ambientais e sociais de Fortaleza, grandes grupos econômicos se levantam para continuar garantindo a manutenção desse apartheid.

Um alerta fica para as comunidades do lado Leste da cidade, onde ainda restam alguns recursos naturais e a presença de pobres e pretos é ainda bem expressiva em bairros como Água Fria, Edson Queiroz, Sapiranga e Sabiaguaba.

É preciso neste Plano selar um pacto comprometendo os vários setores da sociedade, em particular a Prefeitura, com um novo projeto para Fortaleza. Caso contrário, na medida em que não se dividam as riquezas e se pense um modelo diferenciado da relação homem-meio ambiente-economia, estaremos todos condenados às tragédias sociais e aos castigos da natureza.



*Preto Zezé é coordenador da CUFA-Central Única das Favelas do Ceará e membro do Conselho de Leitores do jornal O Povo.


SAIBA MAIS

14 abril 2008

O GESTOR DO FUTURO

Vendas: novas configurações



Há algum tempo, o cenário do mercado de vendas era bem diferente deste que conhecemos hoje. Antigamente, o cliente não possuía informações sobre os produtos, havia poucas opções de escolha e ele não tinha consciência dos seus direitos. O cliente era tratado apenas como “mais um” e em alguns casos era um “mal necessário”. Hoje, já existe a consciência dos direitos do consumidor, e isso faz com que ele exija e tenha opções de produtos e serviços diferenciadas.

No passado, devido à elevada demanda e baixa concorrência, o setor de vendas atuava com profissionais pouco especializados. Não existia preocupação com a concorrência direta ou indireta e tampouco se faziam planejamentos estratégicos que projetassem a empresa no curto e médio prazos. A área de marketing — com o desafio de planejar, delinear e integrar — não existia. Era mero setor de propaganda, sendo necessária apenas alguma criatividade por parte dos seus profissionais.

Hoje, porém, as empresas devem estudar e conhecer profundamente a concorrência, partindo para a atuação cada vez mais focada em nichos e fugindo das commodities. Elas devem descobrir os pontos fracos e fortes da concorrência e, de posse dessas informações, traçar suas estratégias de atuação no mercado-alvo, preparando sua equipe de vendas.

Assim, o que se exigirá do vendedor no futuro é muito mais do que conhecer o produto: espera-se que o vendedor transforme a venda em uma experiência memorável para o cliente e consiga destacar o que realmente agregará valor para ele — "valor" não é o que o produto oferece, e sim o que o cliente percebe dele: este é o novo mundo, o das percepções.

Além disso, o vendedor deve ter elevada iniciativa, motivação, atenção, organização e atualização. No futuro, o vendedor deverá ser um gestor não só de seus resultados e carteira de clientes, mas também de sua capacidade produtiva, em todas as suas abordagens: certificações necessárias para atender determinado mercado, gestão de estoque, gestão ambiental e responsabilidade social, entre outros fatores que podem influenciar direta ou indiretamente o valor percebido pelo cliente em seu produto.

E para conhecer cada vez mais o produto da sua venda, a empresa deve investir em treinamento e desenvolvimento profissional. Para motivar seus profissionais de vendas, ela pode utilizar diversos recursos, inclusive a palestra — não aquela proferida por gurus hilariantes, e sim por profissionais comprometidos com a qualidade do conteúdo —, pois a palestra tem o papel de provocar e de estimular os profissionais a repensarem a forma e o conteúdo do seu trabalho, de fazê-los avaliar as necessidades de mudanças adaptando-se aos novos tempos.

A motivação deste gestor de vendas propiciará a busca incessante por novas oportunidades de negócios. Como disse Einstein: “Não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa, dia após dia, e esperar resultados diferentes”.

A avaliação desse profissional do futuro também deverá ser diferenciada. A empresa não deve avaliar somente o resultado financeiro ou o volume de suas vendas, mas também resultados como a retenção de clientes, a captação de clientes que geram mais rentabilidade, a venda de soluções completas ou a integração de mais produtos aos que já se vendiam a um determinado cliente e a efetividade, entre outros.

A empresa do futuro deverá ter o foco do cliente, e não no cliente, e o profissional de vendas deverá ter cada vez mais o exato perfil da empresa que representa, ou ainda mais: o exato perfil do produto que comercializa, deixando de ser um simples "tirador de pedidos" para tornar-se um gestor da unidade de negócio sob a sua responsabilidade, além de um consultor amplo e interessado para atender o cliente.

Mais: este futuro do qual venho falando é hoje, agora: é preciso começar já.



*Cláudio Tomanini é palestrante, consultor e professor de MBA na Fundação Getúlio Vargas, com mais de 20 anos de experiência nas áreas de Vendas e Marketing, tendo atuado em empresas como Johnson & Johnson, ADP Systems, Grupo Verdi e VR. Atualmente, é sócio diretor da New Marketing, empresa de estratégias e resultados de mercado. Tomanini possui uma peculiar visão do mercado, criando novos conceitos e desenvolvendo soluções, utilizadas e adaptadas por diversas empresas e outros consultores.


LEIA MAIS
www.tomanini.blogspot.com

27 março 2008

AUTO-ESTIMA A MIL

Descubra-se respirando



Existe inteligência e intenção fundamentando toda a criação. Portanto, não é por acaso que você é você.

Sob a liberdade de pensar o que quer, dizer o que deseja, fazer suas escolhas e trabalhar no que lhe dá prazer, reside o direito básico: saber quem e o quê você realmente é, desenvolver sua auto-estima de modo consistente e viver a partir de sua verdadeira essência.

Este embasamento vai lhe permitir desenvolver um saudável senso de si mesmo(a), porque você tem a oportunidade de descobrir o mistério que você representa e que o(a) faz tão único(a) — e, ao mesmo tempo, o(a) une indissoluvelmente a toda a família humana.

O Renascimento (ou Terapia da Respiração, como é mais conhecido no Brasil) é uma técnica fantástica, que pode ajudá-lo(a) a processar esta descoberta. Poderosa, mas de de aplicação simples e sem qualquer contra-indicação, baseia-se em respiração consciente e conectada, que cria um “movimento energético” capaz de dissolver tensões, angústia, medo, dor e tudo aquilo que é contrário à vida em sua plenitude.

No processo do Renascimento, o primeiro fruto a ser colhido é a aceitação de que a relação primordial de cada pessoa ocorre consigo mesma. Neste percurso, ao nos tornarmos responsáveis tanto pela busca quanto pelo encontro de nossa própria felicidade, a confiança emerge como sentimento dominante, um ingrediente essencial para uma vida mais plena, consciente e realizada.

Desde que nascemos (e às vezes até ainda dentro do útero), não somos exatamente incentivado(a)s a sermos totais e a nos expressarmos espontaneamente — muito pelo contrário, desde pequeno(a)s “aprendemos” que, se nos comportarmos “de certa maneira” e se ocultarmos o que somos e sentimos, seremos “melhor aceitos” —, por nossos pais, professores e/ou pelo(s) grupo(s) social(is) a que nos vinculamos. Como resultante, tudo aquilo que não expressamos vai sendo “contraído” e "fixado" em nosso próprio corpo (conforme inclusive demonstrou, entre outros, o psicólogo austríaco Wilhelm Reich).

Na década de 1970, o norte-americano Leonard Orr desenvolveu a técnica chamada Rebirthing (Renascimento), que se confirmou assaz eficiente para liberar estes bloqueios, tensões e contrações. Orr percebeu que cada ser humano respira de forma diferenciada, segundo os padrões pessoais de condicionamento desenvolvidos a partir do nascimento e da infância — fatores que se mostraram indicativos, com acuidade, dos bloqueios emocionais e das limitações relatadas ao comportamento e à expressão criativa.

“Embora muitas correntes terapêuticas de abordagem corporal tenham centrado suas pesquisas no ciclo respiratório, definindo sua importância como chave primordial na busca de maior equilíbrio e bem-estar na vida, o Renascimento é a técnica que experimentei e transformou minha vida, por isso resolvi me especializar nela: para mim, o Renascimento atua no sentido de propiciar uma transformação concreta na vida das pessoas que a experimentam”, explica a terapeuta curitibana A. Ramyata, que periodicamente promove grupos com a técnica em Fortaleza.

A “magia” do Renascimento está justamente em podermos entrar em contato com estes sentimentos limitantes e nos descontrairmos, liberarmos nossa individualidade. “Ao fazer isto, aperfeiçoamos cada vez mais o contato com o nosso ser profundo, com a nossa essência. Conseqüentemente, passamos a viver uma vida mais consciente, mais real, mais focada no aqui-e-agora”, descreve Ramyata.


*com formação em Psicologia, A. Ramyata é terapeuta holística especializada em Renascimento. Uma das fundadoras do Osho Centro de Renascimento, coordena há 17 anos a formação de Terapeutas Renascedores em nosso País. Credenciada pela Star’s Edge International, é Avatar Master desde 1993 e Líder do Projeto Internacional de Auto-Estima, coordenando workshops, grupos e treinamentos em cidades por todo o Brasil.


WORKSHOP
Quando:
28 (à noite), 29 e 30 de março (manhã e tarde)
Aonde: Hotel Sonata de Iracema – Av. Beira Mar, 848 – Fortaleza/CE
Informações: Clube do Renascimento de Fortaleza - (85) 8883-0450 (Cristina) / 9921-9797 (Gustavo) / 9619-3050 (Mairta) / 3459-2137 ou 6621-2870 (Ricardo)

25 março 2008

DIGESTÃO PREMIADA

Haja suco gástrico



O filme Estômago arrasou no XI Festival Internacional de Cinema de Punta del Este, recentemente encerrado no Uruguai, levando os prêmios de Melhor Filme e Melhor Ator — para o protagonista João Miguel. Concorreu com outras 16 produções vindas de Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Espanha, França, China, México e Venezuela, no evento em que foram projetados quase 100 títulos entre longas-metragens, documentários e curtas.

Estômago também deu-se bem em sua estréia internacional. Em Rotterdam, recebeu o prêmio Lions Award, dedicado ao melhor filme da seção Sturm und Drang do festival, e foi o segundo lugar no julgamento do público entre 196 filmes, atrás somente de um filme de animação. O filme teve suas quatro sessões completamente lotadas, tendo sido visto, apenas neste festival, por um público de aproximadamente 2 mil pessoas.

Estômago, seguindo sua exitosa trajetória além-mar, também compareceu à mostra de Cinema Culinário do Festival de Berlim, às mostras competitivas do Jameson Dublin Film Festival (Irlanda) e ao Miami International Film Festival (EUA).

Em outubro do ano passado, Estômago foi o grande vencedor do Festival do Rio 2007. O longa-metragem do diretor Marcos Jorge brilhou na noite da premiação: além de eleito o Melhor Filme segundo o público, recebeu os troféus de Melhor Direção, Ator (dado a João Miguel), e o Prêmio Menção Especial do Júri, entregue ao coadjuvante Babu Santana. A produção de Zencrane Filmes, Indiana Production e Downtown Filmes traz no elenco João Miguel (Raimundo Nonato / Alecrim), Babu Santana (Bujiú), Carlo Briani (Giovanni), Zeca Cenovicz (Zulmiro), Paulo Miklos (Etecétera), Jean Pierre Noher (Duque) e apresenta Fabiula Nascimento (Íria), entre outros novos craques da cena. É mais um "campeão" que entrou para a seleção do Programa Petrobras Cultural.

Produzido em 2007 no Brasil por Cláudia da Natividade (que também assina a produção executiva), Fabrizio Donvito e Marco Cohen, com roteiro de Lusa Silvestre, Marcos Jorge, Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito (o argumento é de Lusa Silvestre e Marcos Jorge), Estômago tem direção de Fotografia de Toca Seabra, montagem de Luca Alverdi, direção de Arte de Jussara Perussolo e música assinada por Giovanni Venosta. Marisol Grossi responde pelo figurino e o colunista da revista Trip e ex-presidiário Luis Mendes Jr. foi o "consultor de Comportamento no Cárcere".

Já a consultoria de Comportamento na Cozinha teve o apuro de Geraldine Miraglia, sendo o agito todo livremente inspirado no conto Presos pelo estômago, escrito por Lusa Silvestre. O filme de 112 minutos recebeu da crítica excelentes notas, com expressões apaixonadas como “Belíssimo filme que sacia nossa fome de diversão inteligente” (Marcelo Janot em Críticos.com.br), “Diretor acerta a mão em fábula indigesta” (Marcos Dávila na Folha de S.Paulo) e “Muito original, muito inteligente e divertido... Promete virar uma das sensações do ano” (Luiz Carlos Merten n'O Estado de São Paulo). A jornalista Anna Accioly (ADois Comunicação) declarou: "Esse filme é maravilhoso! Meio felliniano, uma coisa! Quando o assisti no Festival do Rio, pensei: 'vai ganhar'. Ganhou os melhores prêmios!".

Sobre Estômago, assim se posicionou Jorge Jellinek, o diretor do Festival Internacional de Punta Del Este: “Em uma sociedade onde uns devoram e outros são devorados, o cozinheiro joga um papel decisivo, e pode decidir qual é o melhor bocado. Este é o ponto de partida de Marcos Jorge para lançar um olhar nada complacente sobre a realidade brasileira contemporânea. Sob a aparência de uma comédia satírica, o filme nos oferece uma aguda reflexão social, que atravessa os diferentes extratos sociais. No país do 'Fome Zero' e da 'cultura antropofágica' exposta por Glauber Rocha, a parábola traçada pelo diretor aponta para as entranhas de uma contraditória realidade”.

Já segundo Cléber Eduardo (Cinética), "é possível rir e se emocionar simultaneamente com as experiências entre as caricaturas, com a doce visão dos presidiários, com a relação entre Nonato e uma prostituta felliniana e até com a própria narração do protagonista. São forças geradas por detalhes, sutilezas, pela explosão verbal de um Babu, por um olhar de lado de João Miguel, por um resmungo, por pequenas modulações de expressões e vozes. Um filme de minúcias, de um conjunto poderoso, que merece transpor certo gueto de circulação".

Ao comentar Estômago para a Screen International, Denis Seguin explica que o filme é “uma mistura de comida, sexo e poder que não é vista no cinema desde O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante, de Peter Greenaway. Assim, o filme de estréia de Marcos Jorge é um suspense surpreendente, um mistério que gira em torno não de 'quem fez?', mas sim de 'o que foi feito?'. Como uma deliciosa refeição em um clima estrangeiro, Estômago atravessa o paladar para oferecer um inesperado, mas apropriado final. Talvez nem todos os clientes saiam satisfeitos da sala de projeção, mas é impossível assistir ao filme sem ficar com fome.”

Há muitas outras loas mais cantadas a Estômago, valendo tratar de conferir porque: a história da ascensão e queda de Raimundo Nonato, um cozinheiro com dotes muito especiais, abarca dois temas universais: a comida e o poder. Mais especificamente, focaliza a comida como meio de adquirir poder, podendo também ser adequadamente definido como “uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e culinária”.

Em sua estréia européia, no Festival Internacional de Roterdã (Holanda), em que recebeu o Lions Award, Estômago foi o segundo colocado — entre 200 longas — na preferência do público. Em sua participação especial no Festival de Berlim 2008, houve até jantar inspirado nos pratos do filme. Como adendo, vários filmes e vídeos do diretor Marcos Jorge — que estreou com Estômago na direção de longas-metragens —, já venceram mais de 50 prêmios nacionais e internacionais.

As filmagens do longa aconteceram durante cinco semanas em Curitiba e São Paulo, em fins de 2006, e toda a finalização foi realizada na Itália (Milão e Roma), em meados de 2007. Isto se justifica: Marcos Jorge viveu por lá durante a década de 90. Assim, Estômago tornou-se a primeira co-produção cinematográfica realizada a partir do acordo de co-produção bilateral Brasil-Itália, assinado no início dos anos 1970. Trata-se de um filme de dupla nacionalidade — brasileiro para o Brasil e italiano para a Itália.

Na telona, desponta o ator baiano João Miguel como protagonista, junto à curitibana Fabiula Nascimento (em sua estréia no cinema) e aos cariocas Babu Santana e Alexander Sil, bem como o italiano Carlo Briani e o rocker paulista Paulo Miklos (um dos Titãs). Seu ambiente musical tem o carisma do compositor Giovanni Venosta, que criou premiadas trilhas sonoras de vários filmes italianos: Pão e tulipas (2000), Queimando ao vento (2002) e Ágata e a tempestade (2004).

Como grande parte da história se passa dentro de uma cela de cadeia, Luis Mendes Jr. — que entrou semi-analfabeto na prisão aos 19 anos e saiu 30 anos depois como escritor e cronista, com o apoio recebido do editor da Trip Magazine, o radialista Paulo Anis Lima — atuou como consultor de vida e comportamento no presídio.

Estômago foi ainda vencedor do Prêmio de Produção de Filmes de Baixo Orçamento do MINC e seu roteiro participou do prestigioso seminário de co-produção internacional Produire au Sud, financiado pelo governo francês.

O protagonista é um dos muitos migrantes que partem em direção à cidade grande na esperança de conseguir uma vida que lhe permita, no mesmo dia, almoçar e jantar. Contratado como faxineiro em um bar, Raimundo Nonato logo descobre seu talento nato para a cozinha e, com suas coxinhas, transforma o boteco em um local de grande sucesso. É Giovanni, o dono de um conhecido restaurante italiano da região, quem primeiro intui os dotes de cozinheiro de Nonato e muda sua vida, contratando-o como ajudante de cozinheiro.

Assim acontece para Nonato a descoberta da cozinha italiana, das receitas, dos sabores — e, como não poderia deixar de ser, do vinho. Sua vida muda, e inicia-se a sua afirmação no mundo: uma casa, roupas, relacionamentos sociais — e, sobretudo, o amor de uma mulher, a prostituta de bom apetite Íria, com a qual estabelece uma ancestral relação de sexo em troca de comida.

O talento de Nonato na cozinha também é rapidamente descoberto por seus companheiros de cela. Para eles e seu violento chefe, Bujiú, a chegada do novo companheiro na cela é a salvação, pois logo o miserável rancho da cadeia logo se transforma em pratos exóticos. Nonato, à sua revelia, passa então a ser conhecido como Alecrim, e com esse apelido começa também a sua escalada ao poder.

Como e porque Nonato acabou na cadeia, isto não sabemos. Esta é uma pergunta que será respondida apenas no final da história, quando se descobrirá o delito cometido por este homem e se completará o seu aprendizado. Pois Nonato, apesar de sua ingenuidade e simplicidade, rapidamente aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados. Regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua parte — e eles sabem, mais do que ninguém, qual é a parte melhor.

Neste mês de julho, Estômago estará sendo apresentado em três festivais internacionais. O longa-metragem, que já tem nove eventos desse quilate no currículo, abre a Mostra Premiére Brazil no MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York), participa do 25.º Festival de Cinema de Jerusalém (Israel) e será visto no Festival Internacional de Cinema de Durban (África do Sul).