12 abril 2012

FELIZ ANIVERSÁRIO (ENVELHEÇO NA CIDADE)

Fortaleza: 286 anos*


Fortaleza faz aniversário com muitas conquistas e vários problemas. Completa 286 anos no próximo dia 13, com múltiplos motivos para festejar. Aguarda ansiosa obras estruturantes, assusta-se com o volume de veículos que congestionam ruas e avenidas, constata uma interminável lista de carências.


Não se muda a cidade só na aparência. Não adianta implantar prédios grandiosos, modernos e funcionais se a cidade não acolhe a todos, se a distribuição de renda é extremamente desigual. 


Fortaleza chega a essa idade com contrastes desoladores. A Semana Santa finda no último domingo escancarou as misérias de nossa cidade. Nas ruas, levas de maltrapilhos pediam esmolas. 

Eram muitos nas esquinas, situação nada condizente com a “loura desposada do Sol”. A cidade com suas mazelas expostas quer instalar um aquário grandioso, de construção cara e manutenção dispendiosa.
Na mídia os problemas da cidade aparecem e incomodam: violência, feridos e doentes acantonados em corredores de hospitais, falta de médicos e remédios nos postos de saúde, escolas pouco atraentes para as crianças, habitações precárias.

Alheia aos problemas, Fortaleza prossegue em plena expansão. A cidade camufla as péssimas condições de vida de um enorme contingente da população ostentando bairros e centros comerciais luxuosos e dinâmicos.

A incorporação de novos quarteirões e a abertura de grandes avenidas comprovam a expansão urbana desordenada com praças e parques amesquinhados em sua forma e na função, contradizendo a capacidade atrativa da cidade.


A aparência bucólica de alguns bairros, escamoteia a não valorização de seus espaços públicos. São poucas as praças e são mínimos os cuidados com a paisagem urbana. Fortaleza é pouco generosa com a rua, principal fragmento do espaço público.

A cidade contraditória relega suas áreas públicas e super valoriza espaços privados voltados à animação como as praças de alimentação dos shoppings.


O Centro, apesar dos novos investimentos como os mercados São Sebastião e Central, Dragão do Mar e novas praças é o bairro de aparência mais degradada. A migração de serviços especializados para outros setores da cidade induziu o Centro para funções não condizentes com sua expressão sociocultural.

Mesmo assim, permanece importante espaço de sociabilidade urbana. Suas ruas, praças e calçadas, mesmo que amesquinhadas, garantem ainda a riqueza cultural do encontro, da festa, reproduzida na circulação frenética da população.


Imagens de um passado recente da cidade mostram uma Fortaleza que se reduzia à atual área central, com prédios alinhados, ruas cuidadas e praças ajardinadas. Não revelam, entretanto, o intenso controle espacial regido pelos severos códigos de postura.

Hoje, malgrado as desigualdades sociais, é uma cidade mais democrática, com muitas oportunidades. Espera-se que nos 286 anos de Fortaleza, os gestores que tomam decisões que impactam a cidade tenham lucidez para repensar seu futuro. 


*José Borzacchiello da Silva é geógrafo e professor do
Curso de Geografia da UFC-Universidade Federal do Ceará.
Imagem em http://blog.manager.com.br

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